Jogos eternos #341: Flamengo 3×1 Fluminense 1996

O Fla-Flu já foi tudo na história do futebol carioca, do futebol brasileiro, até no mundo inteiro. Na minha França, não há clássico brasileiro mais conhecido, mais bonito, mais histórico. O Fla-Flu já foi tudo, foi decisão e título, foi suor e lágrima, foi dor e alegria, foi ídolos consagrados e heróis improváveis. Foi tudo, até foi medo.

Líder do Brasileirão, Flamengo vem hoje no Fla-Flu com a obrigação de vencer. Fluminense também precisa ganhar se ainda quer acreditar numa vaga para a Copa Libertadores. Em 1996, o roteiro era diferente, o sentimento era medo. Flamengo precisava da vitória para se classificar na próxima fase, Fluminense para escapar de um rebaixamento que parecia inevitável.

Em 17 de novembro de 1996, dia aniversário da fundação do clube, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Rivera, Juan, Ronaldão, Athirson; Pingo, Mancuso, William, Caíco; Sávio, Marco Aurélio Jacozinho. Destaque para Sávio, que voltava na competição após um mês fora por causa de uma lesão no joelho.

No Maracanã, tinha apenas 7.280 pessoas, um do Fla-Flu com menos público na Era Maracanã. E Flamengo foi superior desde o início. Marco Aurélio pegou a bola no meio de campo e percorreu 50 metros antes de chutar, mas Adílson defendeu em dois tempos. Fluminense tentou reagir e vale repetir o comentário da Globo: “O chute de Hugo é igual à campanha do Fluminense: fraco”. Aos 14 minutos, a superioridade do Flamengo em campo se traduziu no placar. Caíco cruzou, o pequeno Marco Aurélio Jacozinho, de 1,69 m de altura, levou o melhor sobre Lima e César, tocou de cabeça e abriu o placar.

De volta em campo para alegrar a geral, mesmo em pequeno número, Sávio fazia tudo em campo. Driblava, cravava a falta e cobrava ele mesmo a falta, que apenas flirtou com a trave. Do lado do Fluminense, Paulo Roberto também cobrou bem uma falta, o saudoso Zé Carlos espalmou para escanteio. Sávio, ainda ele, cruzou para Marco Aurélio Jacozinho, sozinho na grande área. O atacante se precipitou e chutou para fora. A dupla Sávio – Marco Aurélio voltou a funcionar ainda no primeiro tempo, agora com defesa de Adílson. No intervalo, Flamengo dominava inteiramente, mas tinha apenas um gol de vantagem.

O segundo tempo começou com um fato inusitado, Fluminense teve que trocar de camisa por causa da semelhança com a do Mengo. Para mim, o Fla-Flu é rubro-negro contra tricolor. Sem isso, o Fla-Flu perde sua cor, quase sua alma. Só que essa vez as cores eram muito parecidas e Fluminense jogou o segundo tempo em branco. Foi a única mudança no jogo. A defesa de Fluminense era horrível e jogou muito mal o impedimento. Sávio ficou sozinho na frente, driblou o goleiro com calma e colocou a bola no gol com categoria. Golaço de Sávio, que fazia seu primeiro gol no campeonato, aliás o único. Que saudade tinha a torcida de seu Anjo loiro.

Logo depois, Fluminense conseguiu um pênalti, Paulo Roberto bateu firme e o Tricolor voltou a acreditar ao menos ao empate, quem sabe a vitória, até a permanência na Série A. Fluminense tentou, Flamengo contra-atacou. Iranildo, que entrou no lugar de Caíco, deixou Alexandre no chão com um drible de vaca e fez passe na profundidade para Marco Aurélio Jacozinho. Outro drible de vaca, outro jogador no chão, agora Lima. O goleiro saiu, o baixinho fez outro toque leve, para tirar o goleiro da jogada e só não entrou com bola e tudo porque teve humildade. Uma pintura para definir o Fla-Flu. O resultado deixava o rebaixamento do Fluminense quase certo, só uma virada de mesa da CBF podia o impedir, isso é outra história.

A história do dia é de Marco Aurélio Jacozinho, que fez apenas 6 gols em 48 jogos com o Manto Sagrado. Era o dia dele, chegou 40 minutos antes do nada para mudar sua trajetória, era mais um herói improvável do eterno Fla-Flu.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”