Antes da final da Copa Libertadores, o jogo eterno do dia só pode ser uma outra final da mais bela das competições. Já eternizei os títulos de 1981, 2019 e 2022, eu vou então do primeiro jogo da final de 1981, aliás a única final do Flamengo no Maracanã até aqui.
Por mais incrível que pareça hoje, a Copa Libertadores de 1981 foi a primeira participação de Flamengo, e também de Cobreloa, na competição. O time chileno, fundado apenas quatro anos antes, tinha o apoio financeiro de uma empresa estatal de mineração de cobre, daí o nome do time. Para simplificar as coisas, era o time da terrível ditadura de Pinochet. O Flamengo era bem mais tradicional e o grande favorito do jogo, com um time cheio de craques. O técnico do Cobreloa, o argentino Vicente Cantatore, temia em particular Júnior, Adílio e Zico e queria neutralizá-los, com violência se necessário.
Flamengo tinha mais uma opção no seu esquema tático. Cinco dias antes da final, o ponta Lico foi escalado no lugar de Baroninho. Contra Botafogo, um jogo eterno no Francêsguista, Flamengo goleou 6×0, com grande partida de Lico, que se impunha no time titular. Explica Zico no excelente livro 1981 de André Rocha e Mauro Beting: “Com o Andrade, Tita e Lico no time, eu ficava mais liberado para criar e atacar. Com Chiquinho ou Reinaldo numa ponta e Baroninho na outra, eu e o Adílio voltávamos mais, tínhamos uma responsabilidade diferente na marcação. Quando jogávamos com pontas abertos, os laterais não precisavam apoiar tanto. Ou então passavam por dentro. Com Tita e Lico, Leandro e Júnior passavam mais por fora. Nós ganhávamos ainda mais variações de jogadas”.
Assim, em 13 de novembro de 1981, para a primeira final da Copa Libertadores do Mengão, o técnico Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Figueiredo, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Lico, Nunes. No Maraca, com apenas 5 minutos de jogo, o trio de ouro do meio de campo já entrou em ação. Andrade leu perfeitamente a jogada chilena e ganhou a bola. Deixou de trivela para Zico no círculo central. O Galinho dominou e fez o passe para Adílio. Brown acelerou com bola no pé, e no meio de quatro defensores, achou Zico de volta, já na grande área. Zico chutou bem com a parte externa do pé, mas o goleiro Wirth fez grande defesa.
Sete minutos depois, um quase replay do primeiro lance. Zico na frente para Adílio, que dominou, girou e devolveu para Zico, chegando em velocidade na grande área. Dessa vez, Zico abriu o pé e colocou a bola fora do alcance do goleiro, dentro do gol. O Maracanã, cheio de 93.985 almas, explodiu. Com apenas 12 minutos, Flamengo já fazia a diferença, com seu maior craque de todos os tempos, Nosso Rei Zico.
Flamengo continuou a dominar, com chute de Zico, falta de Nunes, dribles de Júnior, que por pouco não fez um golaço. Do lado esquerdo, Zico para Lico, que acionou Adílio. Brown tabelou em um toque antes da chegada violenta de Rojas. Lico avançou com cabecinhas, chegou na grande área e sofreu falta de Mario Soto. Pênalti. O técnico Cantatore tinha razão de tremer Adílio e Zico, só esqueceu de Lico. Flamengo era um time completo, cheio de craques. Antes da cobrança, o goleiro Wirth fez catimba durante longos 90 segundos, levando desnecessário tempo para bater as chuteiras na trave, até lançando grama na bola na marca de pênalti. Tudo para perturbar Zico. Não funcionou. O capitão e camisa 10 bateu firme e preciso, no contrapé do irritante goleiro. Era o segundo gol de Zico, o segundo do Mengo.
Flamengo continuou a dominar, com o característico jogo coletivo. Numa sequência de passes curtos e bonitos, Zico quase fez o terceiro, mas Wirth defendeu. Júnior fez outro quase golaço, Wirth espalmou para escanteio. Depois de um primeiro tempo brilhante, o segundo ato foi violento, uma pré-visualização do jogo em Santiago uma semana depois. “No segundo tempo, o time do Cobreloa colocou as unhas de fora e distribuiu pontapés. Os rubro-negros começaram a revidar e Carpegiani saiu do banco para pedir que não entrassem na pilha chilena. Não adiantou muito. Mozer, Andrade e Lico foram os que mais bateram”, escreveram Arturo Vaz, Paschoal Ambrósio Filho e Celso Júnior no livro 100 anos de bola, raça e paixão. Flamengo se cansou, Mozer afastou mal a bola e Lico cometeu uma falta na grande área com a falta de jeito de um ponta. Imitando Zico, Merello pegou Raul no contrapé e colocou a bola na rede. O jogo se complicava.
Com tantas faltas, teve algumas situações perigosas de bola parada, mas nada de gol. No final do jogo, Nunes perdeu gol feito em dois tempos. Não era a vez do Artilheiro das decisões. Era a vez do craque de sempre, Zico, que fazia dois gols para conseguir a difícil vitória rubro-negra no Maracanã. “Complicamos um jogo fácil… Temos feito várias partidas e ainda teremos muitas mais”, lamentou o técnico Carpegiani depois do jogo. De fato, tinha ainda algumas partidas para ser o Rei da América, o maior time do mundo.








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