Na geral #24: Flamengo é o maior do Brasil

E no Brasil, só Flamengo é tetracampeão. O jogo de sábado valia mais que um título, valia a glória eterna e um feito inédito no Brasil. Quem vencia entre Flamengo e Palmeiras se tornava o primeiro tetracampeão brasileiro. E no final, deu tudo certo, deu a lógica, deu a glória rubro-negra.

Confesso que das quatro finais da Copa Libertadores que vivi, essa de 2025 foi a que fiquei mais tranquilo. O estresse gradual da semana da decisão, que se torna impossível no dia do jogo, foi relativamente tranquilo esse ano. Não sei se foi excesso de confiança, falta de medo ou outra coisa, mas estava bem. Por superstição – assisti a final de 2019 com a camisa de Gabigol de 2019, peguei o Manto Sagrado de 2025, com Arrascaeta e a camisa 10 nas costas. A vitória começava ali.

Fui no Belushi’s, bar gigante de Paris perto da Gare du Nord, local apropriado para tanta gente. Cheguei com quase duas horas de antecedência e já tinha mais de 100 pessoas. Até o início do jogo, tinha 500, talvez 600 pessoas. Encontrei a diretoria da Fla Paris, Cidel, Danilo e Bruno, os amigos de sempre, Piriquito, Waldez, Giu, Gio. Tinha minha namorada ao meu lado, francesa e pronta para conhecer a loucura e paixão rubro-negra, eu ensinando um “Vai pra cima deles Mengo”.

E mais, teve a felicidade de reencontrar Rodrigo. Na minha primeira viagem ao Brasil, para a Copa de 2014, ele foi meu guia para uma visita do centro de Rio. A gente ficou em contato no Instagram e ele se mudou na Noruega. Assim, a gente não se viu durante 11 anos. Na semana passada, ele me mandou uma mensagem falando que estará em Paris no dia do jogo, queria saber de um local para assistir a final. O Belushi’s com a Fla Paris era perfeito. Nós se reencontramos lá, 11 anos depois de Rio. Tinha a mesma simpatia de antes, o mesmo carinho para a gente. Nós falamos sobre minha irmã, com quem viajei ao Brasil, sobre Gabriel, outro guia carioca com quem fiquei muito amigo e estava em Lima para a final, falamos sobre o Flamengo e a vida. Lá na Noruega tem bem menos brasileiros e não tem o mesmo clima para uma final apesar de Rodrigo já ter feito uma festinha legal em casa com outros flamenguistas. Em Paris, o Belushi’s virou um Bar dos Chicos no pré-jogo, uma quadra da Roupa Suja na Rocinha, onde tinha assistido a sagrada final de 2022. Tinha amigos de muito tempo e a namorada ao meu lado, era perfeito, só faltava a vitória do Mengo.

Antes do jogo, a escalação. A dúvida era no ataque entre Samuel Lino e Éverton Cebolinha. Concordo com a escolha de Filipe Luís, acho que Lino, apesar da falta de confiança, era mais jogador para uma final. No calor do jogo se aproximando, esqueci de olhar para a zaga, outra dúvida. Léo Ortiz ficou vetado e Danilo escalado. São dois craques da defesa, não me preocupava tanto quem ia jogar. Inclusive, Danilo podia se tornar o primeiro bicampeão da Copa Libertadores e da Liga dos campeões, outra pequenina história dentro da grande História.

Jogo começou atrasado e não teve muitos lances de perigo, de emoção. Mas uma final não se joga, se ganha. E na metade do segundo tempo, teve uma sequência de lances rubro-negros, o palmeirense Khellven deixou a bola sair para mais um escanteio. Na cobrança, Arrasca, craque da competição, ídolo eterno do Flamengo já antes do jogo. Só podia se eternizar mais. Danilo subiu no céu de Lima, cabeceou e inscreveu seu nome na história do Flamengo, ao lado apenas de Zico e Gabigol. O Belushi’s explodiu. Em cada lugar do Mundo, de Rio de Janeiro até a Amazônia, de Paris até a Noruega, o mundo era rubro-negro, a festa era do Mengo.

Antes do jogo, na revista francesa em que escrevo, escrevi um papel sobre a final da Copa Libertadores de 2021 com o herói improvável Deyverson e o vilão Andreas. Confesso que temia a atuação de Andreas do lado de Palmeiras. Já no Flamengo x Palmeiras do Brasileirão deste ano, assisti ao jogo no Fleurus, local habitual da Fla Paris, e falei para Waldez que eu tinha medo de Andreas na final. O roteiro parecia apontar um grande jogo dele. Mas em Lima, tomou uma caneta de Éverton Cebolina e só.

Nos minutos finais, tive a mesma tranquilidade que no pré-jogo. Com exceção de uma bola salva pelo Danilo, talvez um herói não tão improvável, Palmeiras parecia não ter poder de reação. Era só realizar que Flamengo ia ser campeão, tetracampeão inédito. E foi. O juiz apitou o final do jogo, a consagração do Flamengo. O Belushi’s explodiu de novo. A América do Sul era rubro-negra pela quarta vez. 1981, 2019, 2022, 2025.

Um título de Copa Libertadores muda trajetórias, destinos, legados. Em destaque, os únicos tricampeões por um mesmo clube brasileiro, Arrascaeta e Bruno Henrique. Eu tinha a camisa certa, a dez de Arrasca, garçom para a final, melhor jogador do torneio e que, com certeza, será eleito Rei da América, depois de ficar no terceiro lugar em 2019 e no segundo em 2022. Não posso esquecer nosso técnico Filipe Luís, também tricampeão e um dos maiores vencedores da história do Flamengo. Ainda tem a questão do lugar deles no ranking dos ídolos do Flamengo. Zico primeiro é certeza, Leandro segundo também. Depois, tem Júnior e o trio de 2019, Arrascaeta – Bruno Henrique – Gabigol. Cada um tem seus argumentos e são muitos. Recuso-me a fazer um ranking definitivo no momento. Arrasca e BH ainda estão jogando, ainda podem conquistar outros títulos. E o próximo, o Brasileirão, pode chegar já na quarta.

O título muda o próprio Flamengo. Em 2023, quando São Paulo conquistou a Copa do Brasil e se tornou campeão de tudo, tinha argumentos para se considerar o maior clube do Brasil. Agora Flamengo é tetra da América. Sem clubismo, acho que pelos títulos, pela torcida, pelos ídolos, pelos jogadores revelados, pela consistência ao longo dos anos e das décadas, Flamengo é o maior clube do Brasil. São Paulo é o único que pode concorrer, pelo fato de ter três Mundiais. As torcidas dos outros clubes só têm o clubismo mesmo para se achar o maior. Flamengo tem outra chance de fazer história, na Copa Intercontinental, começando nas quartas contra Cruz Azul. Tem os ídolos consagrados, a torcida que vai chegar em peso, a base que vem forte, tem outros títulos para conquistar, outras alegrias para a Nação. De todas as incertezas da vida, uma é certa: Flamengo é o maior do Brasil.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”