Em 1953, ou melhor, no início do ano de 1954, Flamengo colocou um fim a um jejum de 9 anos e conquistou finalmente o campeonato carioca, com vitória épica sobre Vasco, um jogo já eternizado no Francêsguista. “Isso foi apenas o começo”, profetizou o técnico e feiticeiro paraguaio Fleitas Solich.
Para o campeonato carioca de 1954, Flamengo começou bem também, vencendo seus oito primeiros jogos. Empatou no Fla-Flu e voltou depois com as vitórias, até as goleadas, com 5×0 sobre Madureira e Canto do Rio. E de novo não venceu o Fla-Flu. Pior, perdeu por 3×0. Os rivais já queriam a queda do líder disparado. Alguns falaram até de cavalo paraguaio. Só que Flamengo era gigante e de paraguaio tinha apenas o técnico Fleitas Solich, o goleiro García e o centroavante Benítez.
Flamengo tinha craques em campo e até no banco. O ano de 1954 foi o ano de afirmação de jovens jogadores como Tomires, Jadir, Evaristo e Zagallo. Ainda tinha Dida e Babá que esperavam a chance deles no time titular. Em 23 de dezembro de 1954, para o último jogo do ano, o técnico Fleitas Solich escalou Flamengo assim: García; Tomires, Pavão; Servílio, Dequinha, Jordan; Rubens, Joel, Zagallo, Índio, Evaristo de Macedo.
Após o tropeço no Fla-Flu, o Mengão precisava de uma reação contra o Bonsucesso. E no Maraca, num jogo noturno, Flamengo dominou o início da partida. Zagallo, titular no lugar de Esquerdinha, cruzou para o cabeceio de Joel, que abriu o placar com 29 minutos de jogo. Parecia o início da goleada. Porém, o Bonsucesso chegou ao empate no final do primeiro tempo. Os antis já queriam a virada do jogo, a queda do Flamengo. Mas Flamengo era gigante.
No início do segundo tempo, Joel fez o segundo dele, o segundo do Mengo, vencendo o goleiro Ari, que brilhou no Flamengo a partir do ano seguinte. Dez minutos depois do segundo gol, Flamengo voltou ao ataque. Escreveu no dia seguinte o Jornal dos Sports: “Acontece uma grande jogada de Índio que, alias, fez uma excelente partida, sem gols, é verdade, mas construindo nada menos de três tentos. Índio aproveitou uma falha do zagueiro no meio de campo e escapou rápido para o gol. Prevendo o perigo iminente, Ari deixa a meta mas Índio dribla-o sensacionalmente, e quando o goleiro voltava para o arco, juntamente com os dois zagueiros, Índio, já sem ângulo para finalizar, estendeu, com sangue frio admirável para Evaristo que vinha na corrida. Ari ainda corria para a sua posição quando a bola encontrou as redes”.
E no final do jogo, a dupla Índio – Evaristo voltou a funcionar: “Rubens conduz o couro, cede a Índio que entrega otimamente a Evaristo e este atira firme às redes, quarto tento do Flamengo”. Simples assim. Ainda tinha espaço para um golzinho, “possivelmente o mais belo da noite, consignado por Zagallo. A bola veio da direita, atirada por Índio. Zagallo matou-a no peito, ajeitou como quis e chutou alto, longo, sobre o gol. Ari pulou, mas estava um pouco fora da meta e não pôde evitar a entrada da bola”.
Mesmo sem fazer um gol, Rubens foi eleito o melhor do jogo pelo Correio da Manhã: “O atacante Rubens foi indiscutivelmente a grande figura da noitada futebolística. Repetiu ontem, a atuação desenvolvida na pugna com o Botafogo, revelando estar em esplêndida forma”. O Jornal dos Sports via a mesma coisa, elogiando também todo o ataque rubro-negro: “No ataque Rubens voltou a ser a maior figura, logo seguido por Joel e Índio, excelentes ambos, Joel finalizando bem nos dois gols e Índio dando passes ‘amanteigados’ para Evaristo. A ala esquerda lutou bastante, esforçou-se e garantiu nada menos de três gols. Assim, de um modo geral todo o ataque correspondeu e o ‘Rôlo’ voltou mais uma vez a funcionar”. O Rolo compressor voltava a vencer, voltava a golear e podia aproveitar as festas do final do ano antes de ser campeão, bicampeão, ainda não tricampeão. Fleitas Solich tinha razão, o campeonato carioca de 1953 foi apenas o começo.







Deixe um comentário