Times históricos #1: Flamengo 1981

Para o primeiro capitulo da categoria dos times históricos, eu vou começar com o maior time da história do Flamengo, um time campeão do mundo, um time que inspirou a Seleção de 1982, o time de 1981, que se recita como um poema : Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes, Lico.

Esse time começou em 1978 com um gol de Rondinelli, contra o Vasco. Foi tricampeão em 1979. Ganhou o campeonato carioca e o campeonato carioca especial, porque esse time era especial e porque a CBD interferiu no primeiro campeonato reunindo times cariocas e times fluminenses. Mudou o formato, ficou o campeão, Flamengo. Em 1980, Flamengo foi campeão brasileiro, corrigindo uma anomalia : a Copa Libertadores nunca tinha acolhido o Mengão.

Zico passou em branco no primeiro jogo da Liberta, fez gol de falta e de pênalti no segundo. O jogo contra o Galo foi polêmico, mas a classificação do Flamengo não foi desmerecida – guardo esse jogo para um outro momento. Na final no Maraca, Zico fez dois, garantiu a primeira vitória. O jogo de volta, contra Cobreloa, foi lá no Chile. “O Flamengo entrou em campo com seu uniforme número dois. Algumas daquelas camisas brancas seriam tingidas de sangue ao longo do jogo” escreve Eduardo Monsanto no seu livro 1981, o ano rubro-negro. Foi na violência, e para Mário Soto, com pedra na mão, literalmente, que o time chileno ganhou esse jogo.

Jogo de desempate, num estádio cinquentenário, palco da primeira final da Copa do Mundo, o Centenário de Montevidéu. Mário Soto ficou na violência, Zico fica gênio da bola. Dois gols de Zico – um de falta, claro – dois a zero Flamengo, jogo podia acabar. Ainda não, o técnico Paulo César Carpegiani fez entrar o jovem Anselmo com uma missão bem simples : acertar em cheio o Soto, um soco no rosto. Missão cumprida : “O soco do Anselmo foi tão forte e certeiro que parecia ter sido dado por todo o time do Flamengo” falou Lico no livro 20 jogos eternos do Flamengo de Marcos Eduardo Neves. Anselmo expulso, Soto também, Anselmo novo herói da Nação.

Flamengo 1981 não foi só Libertadores. No campeonato carioca, se vingou do 6 a 0 sofrido contra Botafogo em 1972, com uma goleada contra o mesmo Botafogo. No intervalo, 4 a 0, “queremos seis” cantou a torcida. E foram seis, com um do Rei Arthur e no finalzinho, um de Andrade, camisa 6. O 6 a 0 do Flamengo de 1981 nunca foi vingado pelo Botafogo. A final, contra o Vasco, começou dois dias depois de um drama : Cláudio Coutinho, técnico campeão brasileiro de 1980 com o Mengão, morreu afogado, com suas duas paixões : a pesca submarina e o Flamengo. No livro de Eduardo Monsanto, o amigo Bruno Caritato lembra-se da descoberta do corpo : “O pessoal da lancha da Marinha me chamou: “É ele?” Aí eu vi o pé de pato dele. Era vermelho e preto. Ele era flamenguista, então… Sabe o pé de pato? Vermelho e preto”.

Campeão da Taça Guanabara e da Taça Sylvio Corrêa Pacheco, Flamengo só precisava de um empate nos dois primeiros jogos contra Vasco para gritar “É campeão”. Perdeu os dois, Roberto Dinamite marcando todos os gols do Vasco. No terceiro jogo, Flamengo fez dois em cinco minutos mas no fim do jogo, Vasco marcou um, se aproximou da prorrogação. Muita tensão para os 169 989 torcedores do Maracanã. Um deles, Roberto Passos Pereira entrou no campo, para esfriar a reação do Vasco. Aí o jogo ficou conhecido como “jogo do ladrilheiro”, com Roberto novo ídolo da Nação. Roberto ganhou a camisa do Zico, e em 1996, quando sua casa foi destruída por causa da chuva, procurou o Zico para assinar a camisa e a vender em leilão. Zico assinou a camisa, recusou a venda, ofereceu ao Roberto um cheque para uma vida nova. Zico ídolo de sempre da Nação.

Campeão carioca, campeão da América, Flamengo queria e merecia o mundo. Hoje, todos os grandes times brasileiros têm seu Mundial, ou quase. Em 1981, não era o caso, na verdade, só o Santos de Pelé tinha. Para ser campeão do mundo, Flamengo precisava bater o Liverpool, que tinha vencido três Taças dos Clubes Campeões em quatro anos. Flamengo só precisou de um tempo para botar os ingleses na roda. Nunes fez dois gols, ganhou definitivamente o apelido de Artilheiro das Decisões. Adílio marcou um, com a ajuda espiritual do Cláudio Coutinho. Zico, alguns anos antes de se tornar uma divindade no Japão, deu duas assistências e ficou com o carro Toyota. “Fiquei meio frustrado porque não participei do jogo. Só veio uma bola. O Flamengo podia ter jogado sem goleiro, que seria 3 a 1” lamentou-se o goleiro Raul. Em apenas 45 minutos, Flamengo deu um espetáculo no mundo, inscreveu-se na eternidade como um dos maiores times do Brasil e do Mundo.

O jogo contra Liverpool ficou na história, virou canto da torcida. Até para torcedores dos outros times, o Flamengo de 1981 é especial. “Cada brasileiro, vivo ou morto, já foi Flamengo por um instante, por um dia” dizia Nelson Rodrigues. Além dos títulos inumerosos, o Flamengo de 1981 foi bola, foi tradição. “Craque, o Flamengo faz em casa” diz o lema. Zico, Adílio, Andrade no meio de campo, Leandro, Júnior nas laterais, até Tita e Nunes voltaram no Flamengo para fazer história, marcar gols, ganhar troféus, fazer a alegria dos torcedores no Maracanã. Esse time é lembrado pelos títulos e amado pela maneira de jogar. Sempre com a vontade de ir no ataque, de procurar o gol, de fazer a jogada bonita. “Eu queria ter tido um clone pra ficar la de cima vendo o Flamengo de 1981 jogar” disse uma vez Zico. Eu também queria ver, no Maraca, o Flamengo de 1981.

13 respostas para “Times históricos #1: Flamengo 1981”.

  1. Avatar de Jogos eternos #5: Flamengo 4×2 Uberaba 1981 – Francesguista

    […] matar a saudade do Mengo com um jogo eterno, de um time histórico, o de 1981, de quem já falei aqui. Faz parte dos melhores times da história, com o Santos de Pelé, o Ajax de Cruyff, o Milan de van […]

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  2. Avatar de Times históricos #3: Flamengo 1972 – Francesguista

    […] um 15 de novembro, Flamengo perdeu 6×0 contra Botafogo. Graças a Deus e ao talento time de 1981, o 6×0 foi vingado, mas não totalmente esquecido. Como o time de 1972, com a ginga de Paulo […]

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  3. Avatar de Jogos eternos #15: Flamengo 2×0 Cobreloa 1981 – Francesguista

    […] também já escrevi sobre o time histórico de 1981, o maior time da história do Flamengo. Vamos então diretamente para a final, contra Cobreloa, […]

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  4. Avatar de Jogos eternos #20: Flamengo 2×1 Colorado 1981 – Francesguista

    […] Vamos voltar ao tempo, 4o de abril de 1981, com um jogo no Maracanã, Modesto Bria escalando Flamengo assim: Raul; Carlos Alberto, Luís Pereira, Marinho, Júnior; Vitor, Adílio, Zico; Tita, Ronaldo Marques, Nunes. Um timaço, que fez muita história em 1981, apesar de não ganhar o Brasileirão. Até tinha esquecido que Luís Pereira, um verdadeiro craque, ídolo do Palmeiras e do Atlético de Madri, tinha jogado num time tão histórico. […]

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  5. Avatar de Ídolos #6: Andrade – Francesguista

    […] pediu vingança por muitos anos. Teve várias goleadas, mas nada de um 6×0. Até 1981, um ano histórico para o Flamengo. No campeonato carioca, no Maracanã, um jogo eterno. No intervalo, Flamengo 4×0 Botafogo. Mas […]

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  6. Avatar de Jogos eternos #23: Flamengo 3×0 Liverpool 1981 – Francesguista

    […] assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Lico, Nunes. Um time histórico, o melhor da história, para um jogo eterno, o maior da […]

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  7. Avatar de Ídolos #23: Modesto Bría – Francesguista

    […] em 1967, 1971 e 1981. Depois voltou a ser assistente de Carpegiani quando Flamengo ganhou tudo no ano histórico de 1981. Também foi assistente de outro ídolo, no campo e no banco, o Violino Carlinhos, e de um ídolo […]

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  8. Avatar de Jogos eternos #107: Flamengo 2×0 Boca Juniors 1981 – Francesguista

    […] ano de 1981 foi histórico, o maior da história do Flamengo, com 3 títulos em 3 semanas, a Libertadores, o carioca, o […]

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  9. Avatar de Ídolos #29: Tita – Francesguista

    […] time campeão de tudo em 1981, todos os titulares são ídolos. Claro, Tita não é exceção. Misturava como poucos raça e […]

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  10. Avatar de Jogos eternos #145: Jorge Wilstermann 1×2 Flamengo 1981 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] com apenas 2 vitórias. Por coincidência, as vitórias foram no primeiro e no último jogo, em 1981 e 2019, dois anos históricos para o Flamengo. Vamos começar então com o primeiro jogo, contra […]

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  11. Avatar de Jogos eternos #153: Flamengo 5×2 Cerro Porteño 1981 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] jogo de futebol ficava melhor. Mas para a homenagem, eu vou de um jogo do melhor time do mundo, o Flamengo de 1981, na mais bela competição, a Copa Libertadores. Flamengo começou sua história na Libertadores […]

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  12. Avatar de Jogos eternos #165: Cerro Porteño 2×4 Flamengo 1981 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] vou então hoje para o jogo de volta, no histórico estádio do Paraguai, o Defensores del Chaco. O ano de 1981 do Flamengo muitas vezes rima com Zico, e foi mais uma vez o caso nesse […]

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  13. Avatar de Jogos eternos #237: São Paulo 0x2 Flamengo 1981 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] que esperamos de sonhos e títulos. Vai jogar um amistoso contra São Paulo em Fort Lauderdale. No maior ano da história do clube, em 1981, começou justamente a temporada com um amistoso contra São Paulo, há exatamente 44 […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”