Já falei que a categoria dos jogos eternos será para relembrar os grandes jogos do Flamengo, seja por uma goleada, uma virada, a grande atuação de um jogador, um golaço, servir de pré-jogo, mas tem coisa ainda melhor, que é conquistar um título. Como vai ser o caso para a lembrança de hoje.
Vamos falar de um título brasileiro, no Maracanã, após 17 anos de espera. Em 2009, eu tinha 17 anos, nasci com o Flamengo campeão. 17 anos é longo, foram 5.831 dias sem o Flamengo ser campeão brasileiro.
Em 2009, o time era bom, com dois craques, que já brilharam no Flamengo no início do século. Petkovic, o Rambo, camisa 43, que relembre um outro jogo eterno, uma virada, um golaço de falta. Em 2009, fez gols de falta contra Coritiba e Vitória, mas ainda é mais lembrado para os gols olímpicos contra Palmeiras e Atlético. Outro craque, Adriano, o Imperador, camisa 10 depois de ser camisa 29, 27, 92, 90, 100, 9 na temporada. Em 2009, fez três gols na goleada contra o Inter, fez um gol na virada contra Santos, fez uma grande atuação no Fla-Flu, fez um golaço contra Coritiba. Ganhou o título no final.
O campeonato de 2009 parecia perdido. O clube era na 11a colocação, 11 pontos atrás do líder. Imaginar o Flamengo campeão era motivo de piadas. Não para o presidente em exercício Delair Dumbrosck, que trouxe de volta no banco um ídolo do clube, Andrade. Flamengo se recuperou, ganhou jogos e posições na tabela. Afinal, São Judas Tadeu, o patrono das causas impossíveis, também é o padroeiro do Flamengo.
Para o último jogo da temporada, Adriano era de volta depois de se queimar o pé, com uma moto, um churrasco, uma lâmpada, sei lá. Pela primeira vez, o Flamengo era o líder e só precisava de uma vitória contra Grêmio para gritar “É campeão”. Grêmio só precisava perder para agradecer seus torcedores porque o grande rival, o Internacional, ainda podia ser campeão, no ano do seu centenário, 30 anos depois do último título. Para o Inter, é muita espera também, são 15.606 dias de espera. 15.607 dias amanhã.
No Maracanã, no dia 6 de dezembro de 2009, foram 84.848 almas, esperando só um gol para vibrar. Na verdade, foram mais do que 84.848 torcedores. Não tem o número exato, mas vendo o jogo, dá para perceber que tem muito mais gente, que tem torcedores em lugares onde não tem cadeiras. Se puder voltar no passado e escolher um jogo para assistir no Maracanã, provavelmente seria aquele Flamengo x Grêmio. Nunca conheci e nunca vou conhecer de perto o antigo Maraca, mas esse Maracanã, da reforma para os Pan-Americanos de 2007, é meu Maraca, era aquele estádio quando comecei a assistir aos jogos.
Eu não assisti ao jogo ao vivo, porque na época ainda era difícil para mim de achar um streaming e claro, o jogo não era retransmitido na televisão francesa. A solução foi de ir no site da Globo, para ver o placar ao vivo, a descrição escrita de alguns lances, vibrar com a atualização às vezes automática, às vezes forçada, da página. Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo.
Quando era de esperar um jogo fácil, Aírton fez tremer o Maracanã, abrindo o placar pelo Grêmio. No minuto seguinte, Alecsandro abria o placar no Beira-Rio. Flamengo não era mais o virtual campeão. Mas dez minutos depois, na grande área gremista, Adriano levou a mão, reclamou de uma mão e queria o pênalti. O quase desconhecido David Braz, jogando apenas por causa da suspensão do Álvaro, continuou o lance e deu um pouco de alívio ao Maraca, empatando o jogo. Ainda não era suficiente, no intervalo, o Internacional ganhava agora 3×0 e era o megacampeão. Agora a palavra é para o futuro herói do jogo, Ronaldo Angelim, no livro 20 jogos eternos do Flamengo, de Marcos Eduardo Neves: “No intervalo, pela primeira vez vi o Andrade chateado. Concordamos com ele. Tinha que ser na raça. Precisávamos pressionar de alguma forma”.
Flamengo voltou na raça no segundo tempo e no escanteio de Petkovic, que ia ser substituído, Ronaldo Angelim, o único Ronaldo rubro-negro, foi lá no céu do Rio, realizando a premonição de sua mulher. De cabeça, o Magro de Aço, flamenguista desde criança, virou o jogo, fez o Flamengo campeão, depois de 5.831 dias de espera. Ronaldo Angelim fez apenas um gol no Brasileirão 2009, mas só com esse gol só, e muita raça claro, se eternizou como um dos grandes ídolos do Mengão. O Flamengo, enfim, era o campeão do Brasil.
Para fechar, duas citações das duas grandes figuras do hexacampeonato, Petkovic e Adriano, do livro 6x Mengão de Paschoal Ambrósio Filho:
“Dizem que minha chegada levantou o grupo, mas foi o contrário. Foi esse grupo que me levantou e me fez seu líder em campo. É fácil ser líder com o respaldo de um grupo de guerreiros. Dizem que sou velho, sinto orgulho em ser comparado com o Júnior, que comandou o Mengo no título de 1992, com 38 anos de idade. Posso ser velho na idade, mais ainda sou muito jovem na força de vontade. O Flamengo merece ser campeão todo ano. Essa torcida merece” Petkovic
“Não acordei deste sonho. Nem vou acordar tão cedo. Para mim esse título vale muito mais. Voltei ao Brasil muito mal. Estava triste e queria voltar a sorrir. Vejo que tudo que fiz valeu a pena. Essa conquista é muito importante para mim e para a minha família, que ficou ao meu lado quando eu estava sendo criticado por muita gente” Adriano








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