“Ganhar Fla-Flu é normal” cantam os torcedores tricolores. Verdade que eles ganharam o primeiro Fla x Flu, no 7 de julho de 1912. Inclusive, dia de meu aniversario. Verdade também que eles ganharam muitas decisões contra o Flamengo, embora algumas não sejam verdadeiras decisões, embora perderam muitas das últimas. Verdade também que quando os dois clubes unificaram as estatísticas dos jogo, para o Fla x Flu 431 do 14 de março de 2021, Flamengo estava na frente: 158 vitórias do Fla, 139 empates, 133 do Flu.
Eu acho que ganhar um Fla-Flu nunca será normal. Fla-Flu é sempre especial. É meu clássico favorito no futebol. Apesar de a rivalidade ser maior com o Vasco, o Fla-Flu é diferente, mais charmoso. O peso da história é maior, como foi o caso em 1936, 1941, 1973, 1984, 1995 e 2022 para Flu, como foi o caso em 1963, 1972, 1991, 2017, 2020 e 2021 para Fla. E em tantos outros jogos em mais de 100 anos de história, em mais de 400 Fla-Flus. Como foi o caso em 1989.
Dia era o 2 de dezembro de 1989. Inclusive, dia do aniversario de meu pai. Um jogo qualquer do Brasileirão, os dois times não tinham nada mais a jogar, nada a ganhar, nada a perder, nada a esperar, nada a tremer. Mas Fla-Flu nunca será normal, sempre será especial. Ainda mais quando o jogo marca a despedida do Rei Arthur, do Deus Zico. Começou como profissional contra Vasco em 1971, e dezoito anos depois, acabava seu reino contra Fluminense.
Zico merece um capítulo a parte nesse blog, de tantas coisas incríveis que ele fez. Talvez sua maior façanha foi de dar aos flamenguistas um sentimento eterno de orgulho. Talvez é a ligação mais forte entre um jogador e um clube no futebol brasileiro. Com certeza, Zico será para sempre o maior ídolo do Flamengo. Com certeza, Zico não podia deixar de brilhar no seu último jogo, no seu último Fla-Flu.
Ultimo jogo de Zico merecia o Maracanã. Mas o mandante era Fluminense e mandou o jogo em Juiz de Fora, no estádio Mário Helênio, inaugurado um ano antes. O técnico Valdir Espinosa escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Josimar, Rogério, Luís Carlos, Júnior; Aílton, Bujica, Uidemar, Zinho, Zico; Renato Gaúcho. Um misto de gerações e um ídolo máximo, Zico. Com 20 minutos de jogo, deixou a bola entre as pernas de Donizete, que impediu a continuação da jogada com uma falta. Não impediu o perigo. Falta de 30 metros, bem no centro, com Zico como batedor, é muito perigo. Três passos e bola na gaveta.
No seu último jogo, Zico faz mais um gol de falta com o Manto Sagrado, o 47o dele, número impensável nos dias de hoje, ainda mais no Flamengo, que ficou num jejum de três anos. Um último golaço, de marca registrada. “Zico, Zico, Zico” canta o estádio. Mas Zico é muito mais do que os gols de falta. É os chutes bem colocados ou rasteiros, os golaços de cabeça ou de bicicleta, os dribles desconcertantes e precisos, a visão de jogo, a qualidade do passe. Maior artilheiro do Flamengo com 509 gols, Zico era camisa 10, organizador do time, dava presentes para os companheiros.
No início do segundo tempo, duas embaixadinhas e um lançamento de gênio. Só um gênio pode fazer um passe assim. Um passe para outro gênio, Renato Gaúcho, que corta com um drible e chute com força. Outro golaço. “Ei, ei, ei, Zico é o nosso rei” canta o estádio. Zico podia ceder seu lugar ao Uidemar, era seu último jogo com o Flamengo. Tudo tem um fim, menos o amor do Flamengo para Zico e o amor do Zico para o Flamengo.
Falou para GloboEsporte, Moacyr Toledo, um dos administradores do estádio: “Entre os vários jogos que foram realizados aqui no Mário Helênio, sem dúvida essa partida foi uma das mais marcantes. E olha que eu já vi muita coisa ao longo desses anos. Receber um craque como Zico, para uma partida que representou tanto para ele e para o futebol brasileiro, foi um privilégio”.
Foi um privilégio sim, como falou bem o bem nomeado Milagres, goleiro reserva do Flamengo durante o jogo, e natural de Juiz de Fora: “Eu não diria que o Zico é um grande ídolo do Flamengo. Ele é um grande ídolo mundial, e supera qualquer preferência por clubes. Pra mim, foi uma honra participar desse momento, com a camisa rubro-negra e na minha cidade. Um jogo memorável para todos que lá estiveram”.
Final do jogo não tinha mais importância, mas foi importante. Teve outros gols, outros golaços, de Luiz Carlos, Uidemar e Bijuca. E teve vitória do Flamengo de 5×0. O último jogo do Zico no Flamengo, o jogo 732, merecia um Fla-Flu e merecia uma goleada. Ainda hoje, Zico é o maior artilheiro do Fla-Flu com 19 gols. Para sempre, Zico é o maior ídolo do Flamengo.








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