
Sempre gostei das demonstrações de torcidas quando a bola não está rolando, quando não tem jogo. Seja um treino aberto, seja uma recepção depois de um título. Ou melhor ainda, um incentivo antes de um jogo importante, lá no aeroporto. Confesso que um dos que gosto mais nem é do Flamengo. Quando o Corinthians foi no Japão em 2012, a festa no Guarulhos foi impressionante. Acho que por ser num local fechado, se tornava mais irrespirável, mais impressionante. Mas a torcida do Flamengo não cabe em nenhum aeroporto internacional do mundo. Aliás, Flamengo não tem torcida, Flamengo tem Nação.
Com o Flamengo, fiquei fascinado no AeroFla de 2016 no Santos Dumont e o de 2019 no Galeão, antes da final da Libertadores. Sempre com uma vontade só, de estar lá com os irmãos flamenguistas para torcer juntos. Em 2022, estou no Rio, posso ir para mais um AeroFla apesar do horário nada agradável, com um início as 6 de manhã no Galeão, e, pelo menos, uma hora de transporte para mim.
Procurei no Twitter a página do AeroFla e pedi para me inscrever num grupo WhatsApp para ter mais informações. Com um limite de 256 pessoas por grupo, os grupos enchem rapidamente. Tive a sorte de ficar no grupo 7. Um número que gosto já, o número de um dos meus maiores ídolos no futebol, Garrincha. O dono atual da camisa 7 no Flamengo também é ídolo, Everton Ribeiro, um dos jogadores mais antigos do clube, um craque, o melhor jogador da final da Copa do Brasil, que tive o prazer de assistir no Maracanã. Também, nasci um 7 de julho, 07/07. Esse grupo era predestinado.
O dia antes, não fui no Maraca para o jogo contra Santos. Ainda um pouco doente, e com um jogo às 21:45, sabia que não ia voltar em casa antes de uma hora da manhã, com algumas cervejas bebidas. E que talvez não ia conseguir acordar para o AeroFla. Um jogo no Maracanã é quase uma vez por semana, um AeroFla é uma vez na temporada, duas vezes no melhor dos casos. Preferi o AeroFla e fiz bem.
Dia do AeroFla, acordei às 5:45 de manhã. Muito cedo, ainda mais que agora no RJ tenho costume de não acordar antes de 9 horas. Mas Flamengo vale todos os esforços. Peguei um Uber da Rocinha até Galeão, e cheguei um pouco antes de 7 horas. Já tinha alguns flamenguistas e depois os selfies de identificação, encontrei a primeira do grupo 7 da AeroFla do WhatsApp, Ana Paula. Depois, mais pessoas se juntaram, virou uma galerinha. E chorei discretamente. Portanto, ainda não tinha tanta animação, não foi o show da torcida que me fez chorar, foi de estar lá, nesse momento presente, uma quarta-feira às 7 da manhã, para o Flamengo. Tudo pelo Flamengo, nada do Flamengo.
Depois, mais pessoas do grupo 7 da AeroFla do WhatsApp se juntaram, virou uma família. Fui muito bem acolhido, a informação que era francês se passando rapidamente. Fui batizado “gringo da sorte”. Mas quem tinha sorte era eu. Já falei que o povo brasileiro é de uma gentileza extrema, de coração puro. Claro que a paixão flamenguista em comum ajuda, mas acho que ia ser acolhido da mesma maneira em outras ocasiões. Recusei a cerveja de 7:30 da manhã, aceitei a de 8:30. Eu dificilmente fazia 100 metros sem Taynara perguntar “cadê o gringo?”, Tiffany responder “não podemos perder o gringo da sorte”, Guto abrir o caminho para mim. Tive muito sorte, fui muito feliz.
Andei com meu Manto Sagrado, a bandeira da Fla Paris na mão, cantando muito, vibrando muito. A Torcida Jovem chegou, a ponte tremeu, tremi de cair na água, a Nação estava lá, numa quarta-feira, 9 horas da manhã. Ainda cantei, ainda vibrei. Quando o ônibus dos jogadores chegou, foi de arrepiar. Talvez minha maior emoção com o Flamengo desde que cheguei no RJ, e fui no Maracanã ver o Flamengo ser campeão da Copa do Brasil. Mas no AeroFla tinha uma coisa a mais, o povo era presente, com a voz alta e o coração batendo forte, e com alguns loucos subindo o ônibus para fazer a bandeira do Flamengo voar no topo do mundo. Depois, Taynara foi me buscar que estava me perdendo um pouco de tanta emoção, perdendo o espaço, a hora, ficando o brilho no olho.
Ainda teve cantos, fotos com a bandeira da Fla Paris, abraços entre o “gringo da sorte” e novos irmãos flamenguistas, algumas cervejas, teve até entrevista na televisão, perto de 10 da manhã. E teve Flamengo, muito Flamengo, sempre Flamengo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
Depois teve a volta, a longa caminhada, a chegada de ônibus até a Penha, onde mora Guto, um cara sensacional, que ajuda quem pode ajudar, sem nenhum tipo de distinção. Fui muito sorteado de encontrar ele, o AeroFla não teria sido tão bom sem ele, tive tempo de dizer isso para ele e falo isso aqui de novo. Fomos beber uma cerveja no bar, eu queria ficar mais tempo, mas estava de cansaço forte e de bateria do celular fraca, já era meio dia, mas era um dia inteiro pelo Flamengo e com o Flamengo.
Voltei na Rocinha de trem, passando por Olaria, Ramos, Bonsucesso, Manguinhos e mais. Um recado para mim, que fica principalmente na Zona Sul. O Rio é muito lindo, o Rio é muito Flamengo, mas é de muitas desigualdades também. E no AeroFla, encontrei pessoas de Vila Cruzeiro, Vigário Geral, Cidade de Deus e de outros lugares sem saber, e quero agradecer todos pelo acolhimento que fizeram ao “gringo da sorte”. Que toda essa força se transforma em uma vitória de nosso Mengo amanhã.







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