A camisa 11 também é um pouco menos emblemática do que a 9 ou a 10 no Flamengo, mas também é cheia de história. A escolha obvia era Romário, que brilhou durante muitos anos com a camisa 11. Brilhou não só com a camisa 11 no Flamengo, até fez história nos clubes rivais, mas com o Manto Sagrado, foram muitos muitos gols, 204 exatamente, muitas artilharias e um pouco menos de títulos. Outro ídolo do coração é Renato Abreu, artilheiro durante muitos anos do Flamengo no século XXI. Brilhou quando comecei a assistir aos jogos, brilhou no meio do campo, com raça e carisma, brilhou fora da área, com muitos gols de falta. Romário e Renato Abreu são ídolos do Flamengo e terão um dia a crônica deles aqui. Mas hoje eu vou de um outro ídolo camisa 11, Zinho.
Zinho, ou Crizam Cézar de Oliveira Filho de nome completo, nasceu no 17 de junho de 1967 no estado de Rio de Janeiro, em Nova Iguaçu. Craque de casa, estreou com o Manto Sagrado no campeonato carioca 1986 e logo já se tornou campeão pelo Flamengo. O ano seguinte, em 1987, foi ainda mais mágico, com a Copa União. Foi um dos times mais fortes da história do Flamengo, com antigos craques como Zico, Andrade e Leandro e a nova geração, com Zinho, Leonardo e Jorginho. E entre as duas gerações, um jogador diferenciado, que jogou muito nesse ano, Renato Gaúcho. Um time cheio de craques, com muitos jogadores tetracampeões em 1994 e apenas um titular que nunca jogou na Seleção, mas jogou muito com o Manto Sagrado, Aílton. Um título muito marcante, que alguns podem desmerecer se quiseram, mas que vale ouro, com um time de ouro.
Em 1988, o canhoto Zinho fez um golaço contra o Atlético Mineiro na Copa União. Uma matada da bola alta, uma caneta entre as pernas de Carlão e um chute cruzado entre as pernas de um outro defensor, um golaço. Em 1989, foi convocado pela primeira vez na Seleção, num amistoso contra Equador. E os títulos voltaram com o Flamengo, a Copa do Brasil de 1990 e o campeonato carioca 1991. Zinho agora fazia a ligação entre os jovens da base e os craques mais consagrados. Marquinhos, Djalminha e Marcelinho de um lado, e do outro, Gilmar Rinaldo, Wilson Gottardo e Gaúcho, e claro, o mestre, o Vovô-Garoto Júnior. Na final do Brasileirão, contra Botafogo, Zinho foi o craque do primeiro tempo no jogo de ida. Inclusive, foi ele que provocou a falta eternizada pelo Júnior. No 19 de julho de 1992, doze dias depois de meu nascimento, Zinho se tornava bicampeão e, no aniversario da mãe, cedia a faixa de campeão para ela. Um craque dentro e fora dos campos.
Era a hora de sair do Flamengo e Zinho foi no supertime do Palmeiras da Era Parmalat. Foi campeão brasileirão mais duas vezes, completando um tricampeonato consecutivo que poucos fizeram. Também foi bicampeão paulista e ganhou o Torneio Rio – São Paulo 1993. Em 1994, foi nos Estados Unidos para ser mais uma vez tetracampeão, agora com a Seleção de Romário, a quem cedeu a sua camisa 11 para pegar a 9. Zinho foi criticado pela falta de apoio ofensivo numa seleção bem organizada e defensiva. “Vendo o povo na rua, louvei a Deus. Essa Copa não foi boa para minha carreira, mas tenho certeza de que dei a minha contribuição para a conquista do título. Dar essa alegria ao povo foi muito mais importante do que os interesses profissionais e a reputação do Zinho” falou Zinho sobre a recepção da torcida no Brasil no livro Quem venceu o tetra escrito pelo Alex Dias Ribeiro e que fala sobre a história dos Atletas do Cristo, de quem Zinho faz parte. E sim, hoje Zinho é relembrado como tetracampeão, como campeão de tudo.
Depois, Zinho seguiu o caminho aberto pelo Zico e foi jogar no Japão, no Yokohama Flügels. Voltou ao Palmeiras, tempo de ganhar ainda mais títulos, uma nova Copa do Brasil e títulos continentais, a Copa Mercosul de 1988 e ainda mais, a Copa Libertadores 1999. Um supercampeão. No Grêmio, ganhou em 2001 a Copa do Brasil e o campeonato gaúcho. Depois, foi reserva do Alex no Cruzeiro de 2003, que conquistou a tríplice coroa inedita, o campeonato mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileirão. No jogo do título do primeiro campeonato da era de pontos corridos, Zinho substituiu um Alex suspenso e jogou muito na vitória contra Paysandu. Com esse pentacampeonato pessoal, igualou-se como maior vencedor do Brasileirão a outro craque do Flamengo, Andrade.
Zinho ganhou tudo, mas para ter uma carreira completa, precisava voltar ao Flamengo. E 18 anos depois do primeiro título carioca, Zinho voltou a ser campeão com o Maior do Rio em 2004, jogando no meio de campo com outros craques, Ibson e Felipe. Em 2005, entrou em conflito com Cuca e saiu do Flamengo. 2005 também foi o ano que comecei a acompanhar o Flamengo, mesmo de longe, mesmo com poucas informações, mas com muito coração. Não tenho lembranças do Zinho com o Manto Sagrado, mas relembro da camisa desse ano, então Zinho é o craque da época antiga que me sinto próximo, quase como se tinha o visto jogar em campo. Depois, ainda jogou no Nova Iguaçu, o time de sua cidade de nascimento, e encerrou a carreira nos Estados Unidos, no Miami, com 40 anos.
Zinho era esse jogador carismático, com essa mecha de cabelos brancos e sobretudo com muitas qualidades, um pé canhoto brilhante, um jogador que podia fazer tudo, defender e atacar, recuperar a bola nos pés adversários, avançar no campo, fazer o drible, dar a assistência ou fazer o gol. Só com o Flamengo foram 470 jogos, 247 vitórias, 121 empates, 102 derrotas e 63 gols. E, talvez ainda mais impressionante, ao longo de uma carreira de 20 anos, ganhou 29 títulos, quase a metade com nosso Flamengo.
E para fechar, vale dizer que Zinho é o padrinho do meu tão amado Consulado Fla Paris, onde ele deixou vários vídeos e mensagens para apoiar campanhas de ajuda do consulado, na França e no Brasil. Obrigado por isso Zinho, e obrigado para tudo que fez com o Manto Sagrado.








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