Jogos eternos #43: Flamengo 4×1 Fluminense 1986

Para a semana do aniversario de Zico e o Fla-Flu de hoje, vamos relembrar de um Fla-Flu histórico e um dos maiores jogos do Zico com o Manto Sagrado. Hoje, um Fla-Flu para fechar a Taça Guanabara. Em 1986, um Fla-Flu para estrear na Taça Guanabara e no campeonato carioca.

No 16 de fevereiro de 1986, para um Fla-Flu histórico, o técnico Sebastião Lazaroni escalou Flamengo assim: Cantarele; Jorginho, Leandro, Mozer, Adalberto; Andrade, Adílio, Sócrates, Zico; Chiquinho, Bebeto. Inclusive, foi o único jogo de Zico e Sócrates juntos no Flamengo. Uma pena, que uma dupla assim que brilhou tanto com a Seleção, jogou tão pouco com o Manto Sagrado. Mas os dois foram vítimas de lesões, foram convocados com a Seleção e não teve tempo de jogar mais juntos. Foi um Fla-Flu só, um Fla-Flu eterno, onde o Fluminense, tricampeão carioca entre 1983 e 1985, tinha também grandes nomes, como Ricardo Gomes, Branco e Romerito.

Flamengo entrou em campo na frente de 84.303 presentes e a torcida do Fluminense provocou Zico: “bichado, bichado”. Desde o 29 de agosto de 1985 e o atentado de Márcio Nunes, Zico tinha dificuldade para voltar ao seu melhor nível, até para voltar apenas em condições de jogo. Na verdade, a reputação de bichado começou antes de 1985, e saiu do próprio presidente do Flamengo, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, que vendeu Zico em 1983, alegando que “ele estava bichado, a verdade é essa. Zico jamais será o mesmo. Ele era o arco e a flecha. Armava e voava para finalizar. Agora, no máximo, poderá armar”. Zico foi vendido, voltou no Flamengo, foi machucado, foi operado, foi machucado de novo, voltou ao campo.

Zico voltou de maneira oficial nesse 16 de fevereiro eterno, num Flamengo reforçado por um outro craque da Seleção de 1982, Sócrates. Mas quem brilhou nesse dia foi o próprio Zico. E brilhou com poucos minutos. Apenas dez, como o número da camisa eterna. E Zico foi o arco e a flecha. Armou a jogada para Bebeto, Alexandre Torres cortou mas a bola foi nos pés de Adílio, que cruzou desde a esquerda. A flecha Zico cabeceou e fez seu gol 15 num Fla-Flu. Já não tinha mais canto de bichado, só a torcida do Flamengo que cantava “Zico, Zico”.

Alguns minutos depois, uma advertência. Uma falta sensacional de Zico no travessão de Paulo Vitor. Fluminense impedia no momento um novo gol de Zico e empatou um pouco antes do intervalo com um pênalti de Leomir. Zico brilhou muito no primeiro tempo, errando quase nada, mas ia brilhar ainda mais no segundo tempo.

Com 3 minutos de jogo no segundo tempo, Zico deu um passe sensacional atrás para Sócrates, que abriu na esquerda, Adilio achou Bebeto, que não conseguiu finalizar. Depois, mais uma advertência de Zico. Uma finta com a perna direita suspendida no ar, e um chute, no meio de gol, sem problema para Paulo Vitor. O arco Zico voltou em ação, com um passe sensacional de calcanhar para Adalberto, que parou no goleiro tricolor. No momento, jogo ficava no empate.

E depois, a obra arte de Zico, uma falta perto da grande área, uma falta perfeita, na gaveta de um Paulo Vitor que só olhou. A comemoração é icônica também, Zico, de braços para o céu, num Maracanã cheio de lenços brancos para homenagear mais uma vez o gênio de Zico. Nosso Rei não precisava desse jogo para ser eternizado no Flamengo, mas mais uma vez, ele provou a existência de Deus, apenas com essa falta. Já sem o contexto, é uma das faltas do Zico que gosto mais, a curva é sensacional. Agora com o contexto, vira uma divindade. Depois, com outra ginga, Zico quase fez o terceiro dele no jogo, mas Paulo Vitor defendeu.

A torcida do Flamengo cantou, cantou forte, cantou bonito. E Flamengo fez mais um gol, agora sem a participação de seu maior jogador, do dia e da história. Chiquinho para Sócrates, de novo para Chiquinho, em seguida para Bebeto, que fazia nesse dia seu 22o aniversario, e com uma bola no fundo das redes, quase matava o jogo. E o jogo acabou com mais um gol de Zico, de pênalti, que fazia assim seu gol 700 na sua carreira. Números surreais para um jogador fora de série. E o juiz apitou o fim do jogo com a bola nos pés de Zico, que fez nesse dia uma das suas partidas mais memoráveis de uma carreira de ouro. De novo, falta palavras para descrever o gênio do Nosso Rei. Quem ficava também sem palavra era a torcida do Fluminense, que não podia engolir o próprio canto de “bichado” no início do jogo.

Quem também não falou nada foi o próprio Zico, demostrando mais uma vez a mesma classe em campo e fora do campo. No livro Zico: 50 anos de futebol, de Roberto Assaf e Roger Garcia, Zico voltou a falar desse jogo eterno: “Foi duro ouvir a torcida do Fluminense me chamando de bichado antes do jogo. Mas não fiquei com raiva da torcida deles. O problema é que quando fui vendido para a Udinese o Antônio Augusto, numa festa em que estava meio alegre, jogou a merda no ventilador. E para justificar a minha saída do clube disse que eu estava bichado. Ainda bem que Deus me ajudou naquele dia. Acho que foi um jogo em que não consegui errar nenhuma jogada. Dava tudo certo… bicicleta, passe de calcanhar, tudo, tudo… Eu não sei como a torcida do Fluminense deve ter voltado para casa. Mas eu não abri meu braço, minha boca, não fiz nada, fiz os gols, fui sempre para a torcida do Flamengo, para a torcida do Fluminense eu não disse um aí para ela”. Ah Zico, você nos deu tanta alegria e tanto orgulho de ser flamenguista…

4 respostas para “Jogos eternos #43: Flamengo 4×1 Fluminense 1986”.

  1. Avatar de Jogos eternos #67: Flamengo 4×1 Fluminense 1976 – Francesguista

    […] Já foi recorde de público para um jogo entre clubes, já foi golaço de Leandro, já foi goleada na estreia do carioca com música de Zico, já foi goleada na despedida de Zico, já foi falta com a maestria do Vovô-Garoto Júnior, já […]

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  2. Avatar de Ídolos #19: Zico – Francesguista

    […] cedo para trabalhar, para sofrer na academia. Zico voltou no final do ano de 1985 e fez mais um Fla-Flu eterno em 1986, com hat-trick, com música nas redes, com golaço de […]

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  3. Avatar de Jogos eternos #81: Flamengo 3×2 Fluminense 2011 – Francesguista

    […] e 138 empates. Na verdade, um pouco menos, já que escrevi muito sobre o Fla-Flu: 1963, 1976, 1985, 1986, 1989, 1991, 1993 e 2017. Ainda assim, ficavam muitas, muitas […]

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  4. Avatar de Jogos eternos #95: Goiás 0x4 Flamengo 1986 – Francesguista

    […] No 2 de novembro de 1986, Sebastião Lazaroni escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Aílton, Leandro, Aldair, Jorginho; Andrade, Sócrates, Zinho, Júlio César Barbosa; Bebeto, Kita. Um time excepcional, mesmo sem Zico, que ainda se recuperava da terrível lesão no joelho. O Flamengo contava com a volta de Sócrates, que por causa da preparação para a Copa do Mundo e de várias lesões, não tinha jogado com o Flamengo desde o mês de fevereiro e um Fla-Flu inesquecível, com goleada 4×1 e hat-trick de Zico, um jogo eterno no francêsguista. […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”