Jogos eternos #51: Flamengo 4×2 Fluminense 1991

Com uma vitória 2×0 no jogo de ida, Flamengo tem boa vantagem para vencer mais uma decisão do campeonato carioca contra Fluminense. A primeira foi em 1963, com um jogo eterno. A segunda foi em 1972, com um time histórico. Vamos então da terceira, em 1991.

O regulamento era bem simples em 1991, com uma final entre o vencedor da Taça Guanabara e o vencedor da Taça Rio. Fluminense ganhou a primeira fase, com um ponto a mais do que Flamengo, e Flamengo ganhou a segunda fase, de forma invicta, com 8 vitórias e 3 empates. Fla-Flu na final.

Na pode falar do campeonato carioca de 1991 sem falar de Júnior, maestro e ídolo da Nação. Dois anos antes, Júnior ainda jogava na Itália, onde desfilava sua classe desde 1984. A volta no Flamengo nem era uma opção. Mas a história mudou de uma forma inesperada. Fala Júnior na sua biografia Minha paixão pelo futebol: “Estava inclinado a renovar o contrato, e o faria se meu filho, Rodrigo, involuntariamente, não tivesse interferido. Certo dia, estávamos todos assistindo a alguns jogos históricos em uma velha fita de videocassete. Com a camisa de número 5, vimos passagens em que eu dava passes certeiros para os companheiros do Flamengo. Meu filho, no auge da curiosidade de seus cinco anos, disparou: ‘Pai, quando eu vou ver você jogar no Maracanã?’ Não pensei duas vezes. Desliguei a televisão, olhei para Heloísa e disse: ‘Está na hora de voltar para casa!’ Era mais do que uma decisão. Era uma promessa ao meu primogênito”. Júnior era do Flamengo, de novo.

Flamengo ganhou a Copa do Brasil 1990 e Júnior virou o Vovô-Garoto de uma garotada que ganhou no mesmo ano a primeira Copinha da história do Flamengo. E em 1991, Flamengo, que não tinha ganho o campeonato carioca desde 1986, jogou a final do campeonato carioca. Contra Fluminense, que tinha ganho dois jogos decisivos em 1983 e 1984 contra Flamengo no campeonato carioca.

No jogo de ida, um empate 1×1 com gols de artilheiros e jogadores de classe, Ézio e Paulo Nunes. Jogo de volta era marcado para o 19 de dezembro de 1991, no Maracanã, com um publico pequeno para a época, 49.975 espectadores. Mas um torcedor ilustre, o pequeno Rodrigo, o filho de Júnior, pronto ver o pai ganhar um título no Maraca, enfim para ele, de novo para muitos flamenguistas. O saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar; Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Piá; Uidemar, Júnior, Nélio (Marcelinho Carioca), Zinho; Paulo Nunes, Gaúcho. Uma mistura de jovens talentos e de jogadores experimentados.

No jogo de volta, no Maracanã, Fluminense abriu o placar com um golaço. De cabeça, Ezio achou a trave de Gilmar, mas a bola voltou no pé esquerdo de Ézio, que, com um toque leve e sutil, achou as redes de Gilmar. Os dois times voltaram no vestiário com essa vantagem de um gol para Fluminense, mas a história mudou no segundo tempo. Zinho driblou um e abriu na esquerda para Piá, na limite da linha de impedimento. O cruzamento foi ótimo, a cabeçada de Uidemar também, Flamengo empatou. E alguns minutos depois, Uidemar foi dessa vez no início da jogada, com um lançamento na esquerda, de novo para Piá. De novo um cruzamento ótimo, e dessa vez o saudoso Gaúcho na conclusão. Flamengo agora na frente.

O jogo mudou completamente e o Maracanã se inflamou. E o Maraca viu um golaço no jogo, agora do Flamengo. Outro lançamento, de Paulo Nunes para Nélio, que fez a jogada inesperada, mas a jogada certa, a jogada perfeita. Um passe de cabeça, atrás para Zinho, que chegava em plena velocidade. Um chute poderoso, um golaço, Flamengo muito perto do título. Mas com 33 minutos no segundo tempo, Ézio aproveitou de uma falha de Júnior Baiano para fazer o doblete, para deixar um pouco de esperança para a torcida tricolor. Na verdade, esse gol do Fluminense se aproximando de um possível empate só serviu para deixar a história do Flamengo ainda mais linda. A história do Flamengo e a história do Júnior.

No final do jogo, com um carrinho generoso, Piá desarmou Márcio e ainda no chão, passou a bola para a maestria de Júnior. Júnior achou na profundidade Zinho, que fixou o goleiro e deixou para Júnior de volta. De pé direito e firme, Júnior fez o gol do 4×2, o gol do título, o gol da emoção. Fala Júnior, agora no livro Os dez mais do Flamengo, de Roberto Sander: “Naquela final com o Fluminense, fiz o último gol na vitória por 4 a 2. Quando o juiz apitou o fim do jogo, o Rodrigo já estava no gramado. Ter proporcionado a ele a alegria de ter me visto jogar no Maracanã, como ele me pedira na Itália, e ainda sendo campeão e marcando gol, foi sensacional. Quando nos abraçamos, ele me disse: ‘Nós ganhamos, pai!’ Foi emoção demais”. Uma emoção e um Flamengo campeão, depois de mais um Fla-Flu vencido, o clássico mais charmoso do Rio.

6 respostas para “Jogos eternos #51: Flamengo 4×2 Fluminense 1991”.

  1. Avatar de Jogos eternos #67: Flamengo 4×1 Fluminense 1976 – Francesguista

    […] goleada na estreia do carioca com música de Zico, já foi goleada na despedida de Zico, já foi falta com a maestria do Vovô-Garoto Júnior, já foi virada com a maestria do Vovô-Garoto Júnior, já foi minha maior emoção num estádio, […]

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  2. Avatar de Jogos eternos #81: Flamengo 3×2 Fluminense 2011 – Francesguista

    […] Na verdade, um pouco menos, já que escrevi muito sobre o Fla-Flu: 1963, 1976, 1985, 1986, 1989, 1991, 1993 e 2017. Ainda assim, ficavam muitas, muitas […]

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  3. Avatar de Jogos eternos #115: Flamengo 1×0 Goiás 1990 – Francesguista

    […] jovens craques da casa não foi mais longe, mas deu alegrias e títulos, a Copa do Brasil de 1990, o campeonato carioca de 1991 e o Brasileirão de […]

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  4. Avatar de Jogos eternos #123: Flamengo 3×0 Volta Redonda 1993 – Francesguista

    […] que essa geração promissora, campeão da Copinha 1990, da Copa do Brasil 1990 contra Goiás, do campeonato carioca 1991 contra Fluminense, do Brasileirão 1992 contra Botafogo, foi desmontada assim. Acho que com outro craque da base, […]

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  5. Avatar de Ídolos #33: Júnior Baiano – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Apenas uma semana depois do título, Júnior Baiano estava em campo no Maracanã para a despedida de ninguém menos que Zico. Entrou no lugar de ninguém menos que Leandro. Quem ousaria sonhar tudo isso? No final do ano, Flamengo conquistou a Copa do Brasil, mas Júnior Baiano participou de nenhum jogo da competição. O primeiro gol como profissional chegou em 1991, quando Flamengo era dirigido por um outro mestre, Vanderlei Luxemburgo. Jogo foi um amistoso contra Figueirense no Orlando Scarpelli e não tem imagens disponíveis do gol. Também fez gol numa excursão na Suíça e jogou na minha França, na minha Cidade Luz, perdendo na final do Torneio de Paris contra o Olympique de Marselha. O primeiro gol com imagens chegou também em 1991, com mais um outro mestre no banco, o Violino Carlinhos. E foi para lembrar para sempre, falta do Maestro Júnior, cabeçada do Júnior Baiano, gol do Flamengo. Jogo foi contra Campo Grande no campeonato carioca de 1991 e no final, título do Flamengo, num Fla-Flu eterno. […]

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  6. Avatar de Jogos eternos #190: Corinthians 1×3 Flamengo 1992 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] do filho, voltou a vestir o Manto Sagrado em 1989, conquistou a Copa do Brasil em 1990, conquistou o campeonato carioca em 1991. Faltava conquistar o Brasileirão, que nesta altura, parecia mais um sonho impossível que uma […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”