Romário é o ídolo de uma geração. Para quem assistiu a uma Copa do Mundo pela primeira vez em 1994, difícil não ter Romário como maior ídolo. Uma pena que a Bola de Ouro só se abriu aos jogadores não-europeus em 1995 porque a de 1994 era dele. Minha primeira Copa do Mundo foi em 1998, aquele Copa que Romário foi injustamente descartado. Acho que com ele o Brasil poderia ter ganho a Copa. Mas enfim, mesmo assim, Romário é meu ídolo.
Relembro que na frente de minha bicicleta quando era criança, eu tinha colado a figurinha Panini de Romário. Na época, Romário ainda jogava, mas longe de meus olhos de criança que só tinha a televisão e revistas francesas para ter notícias sobre o futebol. Romário jogava em vários clubes, até vários continentes. Jogou no Brasil, Catar, Estados Unidos, Austrália. Longe, muito longe. Mas mesmo assim, Romário era meu ídolo. Eu tinha uma cassete VHS sobre as Copas do Mundo, e Romário me maravilhou com seu futebol maravilhoso. Tinha classe, técnica e era goleador.
Em 2005, comecei a acompanhar o futebol brasileiro de clubes na Internet. Romário tinha 39 anos, mas ainda era o maior artilheiro do Brasileirão, na frente de Carlos Tévez. E continuou a jogar quando comecei a assistir aos jogos. Jogava no Vasco, mas mesmo assim, era meu ídolo. Tinha esse objetivo do gol 1000, e apesar de ter jogos duvidosos na conta, ele conseguiu essa marca, como Pelé, num pênalti, como Pelé. Foi um grande momento para a história do futebol brasileiro e gostei de acompanhar essa época.
Romário jogou durante mais de 20 anos, então já é ídolo de uma ou duas gerações. E com o futebol que ele tinha, foi também ídolo dos mais velhos, de quem já tinha visto vários craques em campo, mas ninguém tão matador do que Romário na grande área. E para quem não acompanhou essa época, mas tinha cassete VHS ou ainda tem YouTube, Romário pode ser ídolo, modelo como centroavante. E não foi só o artilheiro da grande área, o Baixinho sabia fazer tudo com a bola, na grande área e no meio de campo, o gol e o passe, o drible e a finta. Romário deu ao Brasil o Tetra depois de 24 anos de espera e desespero. E seis meses depois, voltou no Brasil, no Maior do Mundo, Flamengo. Ainda hoje parece incrível que Romário, com tudo que ele jogava no Barcelona, voltou no Brasil, com 28 anos de idade, em plena auge. Mas a saudade do Rio e a vontade de vestir o Manto Sagrado foram maiores.
Romário chegou no Flamengo que tinha um time limitado e muita instabilidade. Chegou como já ídolo da Nação, que queria um título para comemorar o centenário do clube. Mas a diretoria errou feio, se focalizou em ter o “melhor ataque do mundo”, quando era melhor contratar bons jogadores em todas as linhas para acompanhar a dupla Sávio – Romário. Mesmo assim, Romário fez muito com o Flamengo. Foram muitos gols, artilharias, jogadas de gênio, e também, polêmicas, faz parte do personagem. Deveria ser muito bom para quem cresceu como flamenguista na década de 1990 de ter Romário como ídolo. Gênio da grande área como ele era, é possível para o pequeno garoto, mesmo numa casa pequena, cheia de móveis, com uma bola de papel ou de meia, imaginar ser Romário, fazer um gol como Romário.
Romário tem a alma de carioca. Quando Adriano é o carioca da favela, da Zona Norte, Romário, apesar de também crescer na Zona Norte, é carioca mais geral. Festa, praia, samba, mulherada, irreverência. Romário também é ídolo para isso, essa liberdade de ser do brasileiro e ainda mais, do carioca. Romário se colocava acima dos clubes onde ele jogava, criticando até Zico quando ainda jogava no Flamengo. Já falei que para mim isso é a característica do anti-ídolo. Mas Romário talvez é a excepção disso. Por isso que ele é ídolo no Flamengo e também no Vasco. Não maior ídolo, mas ídolo, porque tem que aceitar Romário como ele é, com as polêmicas, a irreverência e a arrogância. Porque no campo, mesmo depois de uma noite sem dormir, ele vai resolver, fazer o gol da vitória, com um toque de gênio só.
Acho que outro erro da diretoria do Flamengo, depois de não construir o time em função de Romário, foi de liberar o contrato do Baixinho por mais uma festa, depois da eliminação no Brasileirão 1999. Romário perdeu a oportunidade de jogar uma final continental com o Flamengo, a Copa do Mercosul de 1999, que ele jogou, e venceu, um ano depois com Vasco. Romário merecia esse título com o Flamengo, ele merecia grandes campanhas na Libertadores ou no Brasileirão, e apesar de todos os gols, fica essa dor de não ter um time melhor quando Flamengo tinha um dos melhores jogadores do mundo. Finalmente, as melhores lembranças são os gols, o mais emblemático, o gol contra o Corinthians, com um elástico sobre Amaral, que até hoje procura a bola.
Para fechar, acho que Romário é subestimado na Europa. Na hora de definir o melhor centroavante da história, Gerd Müller, van Basten e Ronaldo são mais lembrados quando no Brasil, o debate é sobre quem foi melhor entre Ronaldo e Romário. Eu não sei escolher, acho que Ronaldo é um pouco mais na frente, mas prefiro a carreira do Romário, mesmo jogando tanto no Vasco. Porque prefiro a liberdade e o jeito carioca de Romário, prefiro jogar no Flamengo do que recusar o Flamengo, prefiro fazer 204 gols em 240 jogos com o Manto Sagrado, ser ídolo da Nação, ídolo das crianças e dos idosos, da Zona Sul e da Zona Norte, eu prefiro, sempre, como Romário, ser ídolo do Flamengo.








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