Antes do jogo de hoje, uma volta num jogo de um Flamengo campeão, contra o Internacional, o grande time brasileiro do final da década de 1970. Mas o início da década seguinte era rubro-negro. Flamengo ganhou o Brasileirão 1980, a Libertadores e o Mundo em 1981, e queria mais título em 1982. Um título que quase não veio.
O Brasileirão 1982 começou de maneira tranquila, com 8 grupos de 5 times, onde os três primeiros de cada grupo passavam na segunda fase. Tinha até repescagem para os quartos colocados. Apesar de ter São Paulo no grupo, a primeira fase não foi um problema para Flamengo que ganhou 7 de 8 jogos e cedeu o empate em casa contra Náutico. Zico já estava em grande forma com 9 gols.
A segunda fase do Brasileirão já era mais difícil, com apenas os dois primeiros de grupos de quatro que se classificavam para a terceira fase. E foi ainda mais difícil para Flamengo, que foi no grupo da morte. Tinha o Corinthians de Sócrates e Casagrande, campeão paulista nesse ano, o Atlético Mineiro de Reinaldo e Éder, campeão mineiro nesse ano e finalista do Brasileirão 1980, e o Internacional de Mauro Galvão e Rodrigues Neto, campeão gaúcho nesse ano e campeão brasileiro em 1979. Para dar uma ideia dos outros grupos, Vasco jogou contra o America de Rio, Operário e Internacional de Santa Maria, Botafogo contra Londrina, São José e Treze, e Fluminense contra Anapolina, Cruzeiro e Moto Clube. O mesmo torneio, mas uma competição completamente diferente.
E o início da segunda fase foi difícil para Flamengo, que começou com um empate contra o Corinthians no Morumbi. Depois venceu o Atlético Mineiro no Maracanã, empatou contra o Internacional, de novo no Maracanã, e perdeu contra o Atlético Mineiro no Mineirão. Quatro jogos e 4 pontos, pressão em cima do Flamengo. O próximo jogo, contra o Inter, no Beira-Rio, era imperdível.
E o pré-jogo começou com uma polêmica. No mesmo dia, Telê Santana anunciou uma das últimas listas de convocações antes da Copa do Mundo. E tinha uma surpresa. Telê chamou Leandro, Júnior, Adílio, Zico, sim, mas não Andrade. Nunca entendi porque Telê não gostava de Andrade. Acho que ele teria sido ótimo na Seleção de 1982 e, apesar de eu considerar Toninho Cerezo como craque também, acho que a história poderia ter sido diferente com Andrade no meio de campo, ao lado de Falcão, Sócrates e Zico. Mas, enfim, Telê não chamou Andrade, e ainda mais constrangido, chamou Vítor, craque também, mas menos craque, e reserva do próprio Andrade no Flamengo.
Até o técnico do Flamengo, Paulo César Carpegiani, tinha suas dúvidas entre Vítor e Andrade, ainda recuperando de uma pancada, na hora de escalar o Flamengo para o jogo decisivo contra o Internacional, mas no 17 de março de 1982, ele foi assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Anselmo, Lico. Vantagem para Andrade e, no Beira-Rio, para Flamengo. Com 23 minutos de jogo, Flamengo recuperou a bola no campo do Inter com o esforço combinado de Leandro e Júnior. Os dois craques laterais ainda tabelaram antes de Júnior lançar a bola no peito de Adílio, que dominou e achou Zico com um olhar de craque e um toque rápido. Zico chutou, Gilmar Rinaldi defendeu, mas em seguida, Zico abriu o placar de cabeça.
O Flamengo estava bem, mas ainda no primeiro tempo, o Inter empatou, com gol de cabeça de Mauro Pastor, chamado assim porque era evangélico. E no segundo tempo, o Inter virou, com gol de cabeça de Geraldo, sozinho na grande área. Agora o Flamengo estava mal, quase eliminado do Brasileirão 1982. Pior ainda, Flamengo jogava sem Andrade, que teve que ser substituído no intervalo. Entrou no seu lugar… Vítor.
Num contra-ataque, Lico entrou na grande área, fixou um zagueiro, deixou para Adílio, para Zico, com o olhar do craque e o toque rápido, para Reinaldo, que tinha entrado no lugar de Anselmo. Com força, Reinaldo empatou de trivela. Melhor para o Flamengo, mas o empate ainda deixava a situação complicadíssima para passar na terceira fase.
E no minuto 42 do segundo tempo, o milagre. Adílio de novo, para Vítor, no meio de campo. Para Zico, já na direção do gol, que abriu na esquerda para Tita, um lance similar ao segundo gol. Tita na grande área para Vítor, que dominou de pé direito e chutou cruzado de pé esquerdo. O chute, bem colocado, foi nas redes coloradas. Flamengo contra-virou, com um gol do recém-convocado e reserva de sempre, Vítor. Nessa hora, vantagem para Telê e vantagem para Flamengo, que seguia vivo no Brasileirão com essa vitória no Beira-Rio, onde ainda não tinha ganho em 4 jogos no Brasileirão.
No final, Vítor foi titular na Seleção para o amistoso contra a Alemanha, vencido 1×0 com golaço de Júnior. Vítor não foi chamado para a Copa, Andrade também não, e o Brasil não foi campeão. Mas Flamengo foi bicampeão brasileiro em 1982, com durante a campanha um gol não muito conhecido, mas um dos gols mais importantes da história do Flamengo, o gol do reserva Vítor contra o Internacional.








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