Nasci no 7 de julho de 1992, exatamente 80 anos depois do primeiro Fla-Flu da história. E para a lembrança de hoje, vamos de um Flamengo (quase) campeão e de um jogo que aconteceu no 12 de julho de 1992, 5 dias depois de meu nascimento.
O Flamengo de 1992 tinha um time muito bom, com muitas promessas que tinham conquistado a Copinha em 1990, alguns jogadores experientes e um craque veterano, o Vovô-Garoto, o Maestro Júnior. Mas Flamengo não era o favorito do Brasileirão numa época diferente do futebol brasileiro, onde tinha times como São Paulo e Palmeiras entre outros. Na campanha, Flamengo foi irregular, o Mestre Carlinhos foi criticado, mas Flamengo arrancou no final. Fala Júnior no livro 6x Mengão de Paschoal Ambrósio Filho: “A química aconteceu no momento certo. Tínhamos problemas de salários atrasados e combinamos que a galera que ganhava pouco receberia, enquanto quem ganhava mais aguardaria o final da competição. Este gesto de alguns foi o bastante para se criar um clima favorável e de fraternidade entre os jogadores. Quando chegamos para jogar a final, já estávamos com os salários e bichos em dia, devido às vitórias anteriores, principalmente porque o Maracanã lotava em quase todos os jogos”.
Um dia depois de meu nascimento, Flamengo jogou no Maracanã, com 29.149 espectadores e 29.150 almas flamenguistas, venceu Santos e se classificou para a final contra o Botafogo de Renato Gaúcho. O time botafoguense ainda tinha Márcio Santos, Carlos Alberto Dias, Valdeir e Válber, e era o favorito da final do Brasileirão de 1992. Fala ainda Júnior, agora na sua biografia Minha paixão pelo futebol: “Alguns jogadores adversários passaram a falar como campeões, na semana do jogo, e deram declarações menosprezando o Flamengo, time conhecido mais do que tudo por sua imensa raça. Estavam todos, do outro lado, se achando campeões. Esse veneno foi mortal. Recortei as entrevistas dos jornais e as colei no quadro de avisos de todos os jogadores do Flamengo. Eu as deixei ali para que lessem e arrumassem dentro da alma a motivação para a primeira partida”.
No 12 de julho de 1992, o Flamengo entrou com tudo no Maracanã, com o apoio da maioria dos 102.547 espectadores no estádio, nas arquibancadas e na geral. Carlinhos escalou Flamengo assim; Gilmar; Fabinho, Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Piá; Uidemar, Júnior, Zinho, Júlio César Garcia; Gaúcho, Nélio. Nos vestiários, Júnior deixou um recado para os jovens talentos do time: “Qual é o maior desejo de um jogador quando inicia a carreira? Não é comprar uma casa para a mãe? Então, façam de conta que nesse jogo vocês vão comprar os primeiros tijolos de uma casa que vai ficar pronta muito em breve”. E Júnior inflamou a torcida com apenas 8 minutos de jogo e um drible curto do interior do pé direito para deixar no chão Renato Gaúcho, que (quase) se recuperou, voltou de novo em cima do Júnior, e tomou de novo um drible seco, agora da parte exterior do pé direito, para voltar ao chão. Impressão na geral foi de um gol do Flamengo.
O verdadeiro gol do Flamengo não demorou a chegar. Com 15 minutos de jogo, Zinho na esquerda para Piá que cruzou atrás. Com inteligência, Gaúcho, criticado durante o ano pelo nível em campo e as festas fora do campo, deixou para Júnior, chutando de carrinho na raça, estufando as redes com um tijolo quente, fazendo a alegria da geral flamenguista. E a própria alegria dele, comemorando o gol com dois socos no ar, como Pelé, comemorando com os jovens companheiros, como o Vovô-Garoto que era. Flamengo 1×0 Botafogo.
O segundo gol, vinte minutos depois do primeiro, nasceu com a raça de Fabinho, que recuperou a bola e, chutando a bola com um solto, lançou para Nélio na esquerda. Nélio dominou e deixou a bola entre as pernas do goleiro Ricardo Cruz. Flamengo 2×0 Botafogo.
E o terceiro gol do Mengo chegou ainda no primeiro tempo. Falta na esquerda, Júnior hesitou a lançar a bola na grande área, mais deixou a bola ao seu lado para Piá, que foi na velocidade até a linha do fundo e cruzou alto. O timing e o salto do Gaúcho são perfeitos, o timing e o salto do goleiro Ricardo Cruz são os opostos da perfeição, gol de cabeça, gol de raça, gol de Flamengo. Flamengo 3×0 Botafogo.
O jogo estava (quase) ganho, a final também. A atuação do time era magistral, todos os jogadores foram em grande forma. Fala de novo Júnior: “Deu tudo certo naquela partida. Muita gente neste dia jogou o que não tinha jogado em todo campeonato, como, por exemplo, o Piá, que participou de todos os gols do time. A chuteira dele rasgou notes de entrarmos em campo e emprestei uma das minhas para ele. A galera brincava, dizendo que a que eu havia emprestado tinha ido com um ‘pouco de jogo’”. No segundo tempo, não aconteceu muitas coisas, a não ser os cantos “É campeão” da torcida flamenguista.
Todos os jogadores eram de parabéns, mas esse time tinha um líder, um Maestro, um Vovô-Garoto, que cogitou a pendurar as chuteiras depois do campeonato carioca 1991, mas continuou a vestir o Manto Sagrado em 1992. No dia seguinte, podia se ler no Jornal dos Sports: “O Flamengo ontem, foi um time de destaques. Toda a equipe mostrou um futebol de alto nível técnico. Um homem, porém, e mais uma vez, merece destaque especial. Júnior provou sua condição de líder nato, apresentando um futebol limpou, técnico e, principalmente, vigoroso, na plenitude de seus 38 anos. Como na maioria dos jogos em que o Flamengo deu início à sua recuperação neste Campeonato Brasileiro, ele voltou a ser impecável. Quis o destino que fosse dele o gol que abriu caminho para a memorável vitória. De frente para a meta, ele bateu firme, com convicção, sem chance para o goleiro Ricardo Cruz. Como um iniciante, Júnior vibrou correndo com os companheiros para os braços da galera. Foi dele ainda o primoroso lançamento para o gol de Nélio, o segundo do jogo, que praticamente definia a partida. Inacreditável? Não para o velho Júnior, que, mesmo nos piores momentos do Flamengo no campeonato, acreditou no time”. Acreditou, liderou e, uma semana depois, conquistou mais um título do Brasileirão.








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