Tinha algumas possibilidades para escrever sobre um Palmeiras x Flamengo, no campo deles. A rivalidade entre Palmeiras e Flamengo é bem forte desde a metade dos anos 2010 quando os dois times passaram a brigar juntos pelos títulos nacionais, mas teve jogos eternos antes, o de 1979 para Palmeiras no Maraca, o show de Sávio em 1994, o doblete de Pet em 2009 no Parque Antártica. Parece que ano que acaba com um 9 é ano de jogo eterno entre Palmeiras e Flamengo e eu vou finalmente de um de 1999, um dos últimos jogos de futebol antes dos anos 2000.
A competição era a Copa Mercosul, uma das melhores competições da América do Sul, com apenas grandes times, ou até gigantes, do continente. Já escrevi aqui sobre dois jogos da primeira fase, quando Flamengo goleou no campo de Colo-Colo, e depois quando goleou ainda mais a Universidad de Chile para conseguir uma classificação nada certa antes do jogo. Flamengo nas quartas de final, e depois de passar de outros gigantes, Independiente e Peñarol, Flamengo na final, contra Palmeiras.
Mas entre esses jogos e o da final contra Palmeiras, teve uma grande mudança no Flamengo: Romário não era mais do Mengo. Depois da eliminação frustrante do Flamengo no Brasileirão, Romário fugiu da concentração para ir num boate em Caxias do Sul e a diretoria não perdoou mais um ato de indisciplina, rompendo seu contrato. Acho que foi um erro da diretoria, mas Romário também errou antes, faltando vários treinos.
Mesmo sem Romário, Flamengo fez um grande jogo na ida da final da Copa Mercosul, com uma vitória 4×3 sobre Palmeiras no Maracanã, com apenas 13.414 espectadores, por causa de reformas no estádio. E não era qualquer Palmeiras, o time tinha conquistado sua primeira Copa Libertadores alguns meses antes e tinha muitos jogadores da Seleção brasileira, tinha campeões do mundo, tinha craques, como Marcos, Júnior, Júnior Baiano, César Sampaio, Zinho, Euller e Paulo Nunes, além do paraguaio Arce e do colombiano Asprilla. Ainda mais, muito mais, tinha como camisa 10 e cérebro do time um craque diferenciado, injustiçado na Seleção, Alex. Até injustiçado pelo próprio técnico do Palmeiras e futuro pentacampeão, Luiz Felipe Scolari.
Três semanas depois de perder a oportunidade de conquistar o Mundial, Palmeiras tinha a possibilidade de conseguir um bicampeonato continental inédito no mesmo ano. Flamengo queria concluir os anos noventa com um título, depois de várias frustrações durante a Era Romário. E sem seu maior craque, o time era menos impressionante. No 20 de dezembro de 1999, o saudoso técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Maurinho, Célio Silva, Juan, Athirson; Leandro Ávila, Marcelo Rosa, Leonardo Inácio, Caio; Leandro Machado, Reinaldo.
Jogo começou tenso, com Palmeiras dominando a partida, apoiado pelos 32.000 torcedores. Número pode parecer pequeno, mas jogo era no antigo Parque Antártica, lotado esse dia. Um estádio menor, mas mais impressionante com Palmeiras que o Morumbi ou o Pacaembu. Um estádio pronto a explodir, e que explodiu quando depois de uma tabelinha entre Júnior e Zinho, o atacante flamenguista Leandro Machado concedeu o pênalti. Sem tremer, Arce venceu um Clemer muito avançado em cima da linha, e abriu o placar para Palmeiras, igualou o placar no agregado.
Jogo continuou muito animado, com Palmeiras dominando, Paulo Nunes perdendo um gol mais difícil de perder do que fazer. Os dois times voltaram nos vestiários com um gol de diferença para Palmeiras, quase um bom placar para Flamengo, que viu o adversário ameaçar a área do gol várias vezes no primeiro tempo. Flamengo voltou diferente no segundo tempo e com apenas um minuto, Caio empatou depois de bom trabalho de Rodrigo Mendes, que entrou durante o intervalo. E depois de um quase golaço de falta de Arce, Flamengo virou, com um golaço. De novo Rodrigo Mendes, que recebeu na profundidade, cruzou, Júnior Baiano afastou o perigo, mas a bola voltou nos pés de Rodrigo Mendes, que fez um lindo drible e deu um chutaço de fora da área. Bola na gaveta de Marcos, uma pintura, alegria para a torcida flamenguista em bom número no estádio, Flamengo agora perto do título. Não muito perto, porque jogo continuava tenso, com quase uma briga entre os jogadores dos dois times.
Antes da hora do jogo, quase da mesma posição onde quase fez o golaço de falta, de novo numa falta, Arce agora fez o golaço, apesar do esforço de Clemer. No jogo, Palmeiras 2×2 Flamengo, apenas um gol de diferença no placar agregado, e depois do 4×3 na ida, a promessa de um jogo eterno virou certeza. Ainda mais quando alguns meses antes, Palmeiras, no mesmo Parque Antártica, fez uma virada histórica sobre Flamengo na Copa do Brasil, fazendo 3 gols, os dois últimos nos últimos momentos, para se classificar. No 20 de dezembro de 1999, o Parque Antártica lotado acreditava numa nova virada.
E o estádio acreditou ainda mais quando Paulo Nunes, esquecido pela zaga do Flamengo e bem servido pelo Zinho, fez o gol de cabeça, fez o gol de outra virada no jogo. Paulo Nunes comemorou com um chapéu verde de Papai Natal, e agora todo flamenguista tremia de conhecer mais uma dura decepção. Jogo ia agora forçar um jogo desempate, previsto para 23 de dezembro. Os dois times ainda tiveram lances perigos, o maior para Iranildo, que entrou no lugar de Caio e chutou depois de um drible de vaca, mas Marcos fez boa defesa. Em seguida, Oséas, que também entrou durante o jogo, quase fez o gol do título alviverde, mas Clemer também defendeu. Faltando dez minutos para um outro jogo na decisão.
E Carlinhos mostrou mais uma vez que tinha uma boa estrela, uma estrela eterna, com a entrada em campo de Lê, de apenas 20 anos. No meio de campo, Iranildo foi o mais rápido para chegar na bola, que foi nos pés de Lê, que abriu na frente para Reinaldo. De calcanhar, Reinaldo tentou, e conseguiu, a tabelinha. Lê abriu o pé e fechou o placar, fazendo um dos gols mais emblemáticos da história do Flamengo, o último dos anos 1990. Depois de dois lances defendidos pelo Clemer, o juiz apitou o fim do jogo, apitou o início da festa do campeão, mais uma vez Flamengo.








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