No 3 de dezembro de 2023, Filipe Luís pendurou as chuteiras e se despediu do futebol, no Maracanã. Para sua despedida, Filipe Luís convidou seu ídolo na infância, Athirson. Para Lance, Athirson explicou sobre Filipe Luís: “Ele jogava no Figueirense, na base, e pediu para ser gandula pra ficar perto de mim, me vendo jogar. E depois do jogo pediu para tirar foto comigo. É muito louco… tirei foto com um menino que depois virou uma dos maiores laterais esquerdos do país”. A referência não é à toa, entre Athirson e Filipe Luís, tem semelhanças, na classe em campo, na técnica, na identificação com o Manto Sagrado.
Ainda fala Athirson sobre a despedida de Filipe Luís: “Quando Filipe Luís entrou em contato comigo, fiquei emocionado e muito feliz. Fico grato pelo respeito e pela lembrança. Um pedido desse não tem preço. Ele se espelhava em mim. Eu nunca imaginei que poderia atingir um talento tão grande dentro do campo. Foi um prazer imenso poder desfrutar aquele momento. Afinal, a nossa relação ainda está se estreitando. Ele fica um pouco nervoso em estar perto de um ídolo, algo que é normal. Eu também ficava com medo de ficar perto do Zico, Leonardo e Júnior”. É isso, junto com Leonardo e Júnior, também Jordan e Juan, Athirson e Filipe Luís estão na galeria dos maiores laterais esquerdos da história do Flamengo.
Athirson nasceu no 16 de janeiro de 1977 no Rio de Janeiro. Jogou numa escolinha de Urca e com apenas 8 anos, já estava na base do Flamengo, onde aprimorou sua técnica com o futsal. Com o time principal, Athirson estreou em 1996 num amistoso contra o América de Natal no Machadão. Uma semana depois, já conhecia a maior alegria do mundo, ser campeão com o Flamengo, conquistando a Copa Ouro com uma atuação inesquecível do ídolo Sávio no jogo eterno contra São Paulo. Fez seu primeiro gol com o Manto Sagrado algumas semanas depois, contra Grêmio no Brasileirão de 1996.
Em 1997, Athirson participou do campeonato sul-americano sub-20, estreando com gol contra a Venezuela, acabando o torneio como o único brasileiro a integrar a seleção do campeonato. No Mundial da categoria, participou dos 5 jogos do Brasil, até a eliminação nas quartas de final contra a Argentina. No Flamengo, fez um gol na estreia do campeonato carioca contra Volta Redonda, mas nos meados do ano, se machucou no púbis e ficou 3 meses fora. Voltou contra São Paulo e brilhou muito, fez o único gol do jogo, seu primeiro no Maraca. Ainda promessa, foi emprestado em 1998 para Santos, onde conquistou a torcida e mais um título, a Copa Conmebol contra Rosario Central. Volto no Flamengo em 1999, voltou como realidade, se consagrou definitivamente na lateral-esquerda. Já no início do ano, fez, talvez sem querer, um golaço no histórico 4×4 contra Botafogo. Parecia cruzamento mas a dúvida existe porque Athirson era extremamente técnico, colocava a bola onde queria. Dois meses depois, agora nenhuma dúvida. De novo contra Botafogo, soltou uma bomba de 30 metros, diretamente no ângulo do goleiro. Vitória 1×0, golaço de Athirson. E três semanas depois, Athirson fez outro golaço, também de fora da área, contra Vasco, também vencido.
Na final do campeonato carioca, outro Clássico dos Milhões, um Flamengo x Vasco, com Vasco vice e com Flamengo campeão. E no final do ano, Flamengo mais uma vez campeão, agora continental, com a Copa Conmebol. E Athirson foi muito decisivo, assistência para Leandro Machado nas quartas contra Independiente, gol de pênalti na semifinal contra Peñarol. E no jogo de ida da final contra Palmeiras, um cruzamento perfeito para o gol do 4×3 de Reinaldo, faltando alguns minutos para o jogo acabar no Maracanã. E na volta, um jogo eterno, um 3×3 no Parque Antártica lotado, Flamengo campeão. Neste ano de 1999, também estreou com a Seleção brasileira, contra a Nova Zelândia na Copa das confederações, onde o Brasil foi finalista.
Em 2000, Athirson viveu um de seus melhores anos. No início do ano, ao lado de Ronaldinho Gaúcho, conquistou com a Seleção sub-23 o pré-olímpico, fazendo gols contra a Colômbia e o Chile. Com a Seleção principal, jogou 22 minutos contra a Tailândia, tempo suficiente para fazer duas assistências de escanteio, para Roque Júnior e Émerson. Nos seus 13 primeiros jogos com Flamengo neste ano, Athirson fez 9 gols! Contra Friburguense, fez 3 gols com 3 belos chutes do pé esquerdo. Também fez o gol da vitória no Fla-Flu no último momento e os dois gols da virada contra Botafogo, o último um golaço. Athirson parecia jogar com facilidade, mas era a facilidade que vem de um trabalho intenso de todos os dias, virou um exímio batedor de pênaltis e também de faltas, numa época que tinha Petkovic no time. No jogo de ida da final do campeonato carioca contra Vasco, Athirson brilhou muito, abrindo o placar com sua marca, um chute de fora da área do pé esquerdo colocado no canto do gol. Flamengo estava perto do bicampeonato.
Infelizmente, Athirson foi pego no doping com o uso do estimulante femproporex logo depois do jogo contra Vasco. Foi suspenso, perdeu o jogo de volta, também perdeu o jogo contra o Uruguai com a Seleção onde estava convocado. Athirson, mesmo assim eleito melhor jogador do campeonato carioca, foi absolvido pelo Tribunal de Justiça Desportiva, voltou a jogar quase dois meses depois, e voltou com gol, contra Grêmio. Mas depois, Athirson parecia ter perdido um pouco de seu futebol e não fez outro gol durante a temporada. Também faltou sorte quando era o momento de ir na Europa, onde era alvo do Barcelona de Guardiola, Xavi, Rivaldo e Kluivert. Explica Athirson para o GloboEsporte: “O Barcelona fez a proposta primeiro. Meu pai foi para Barcelona para ver realmente a proposta. Mas, na época, o Barcelona estava com problemas políticos e não podia contratar nem vender ninguém. Por conta disso, o empresário que levou a proposta falou que tinha um contato na Juventus e que tinha a possibilidade de fechar lá. Meu pai foi para Turim ouvir a proposta. Era para eu ter ido ao Barcelona, até pelas minhas características. Na Itália é um futebol de marcação, de comprometimento, de empenho, de força física […] Foi uma passagem de aprendizado. Eu tive muitas dificuldades porque eu era muito ofensivo. O Ancelotti me usava no meio de campo. Às vezes ele me botava no meio no lugar de Zidane, mas eu não gostava, porque eu não queria entrar no lugar do Zidane, eu queria jogar com ele”. Na Juventus, foram apenas 5 jogos na Série A 2000-2001, onde a Velha Senhora ficou com o vice-campeonato.
Athirson voltou no Flamengo em 2002 e voltou a brilhar. Fez um golaço contra Olaria, uma bomba do pé esquerdo sim, e fez um outro hat-trick com o Manto Sagrado, contra Entrerriense. Pena que não jogou a Copa do Mundo de 2002, mas Roberto Carlos está num outro patamar, e Júnior também jogava muito, entrando bem na Copa quando teve oportunidades. No Brasileirão de 2002, Athirson brilhou já no primeiro jogo, com duas assistências no jogo contra o Inter. Também fez gol contra Goiás, de pênalti, no Fla-Flu, de pé direito, e contra Portuguesa, de novo de pênalti, depois de errar um primeiro pênalti durante o jogo. O time do Flamengo estava bem mediano e acabou o campeonato num péssimo 18o lugar. Mas o capitão Athirson jogou muito, a ponto de ser eleito Bola de Prata pelo Placar.
Em 2003, Athirson iniciou a temporada com um doblete na virada contra Friburguense. Fez um belo gol de falta contra Cabofriense, também marcou contra Botafogo e Madureira, mas Flamengo foi eliminado na semifinal do campeonato carioca, com uma derrota 4×0 no Fla-Flu. Era realmente uma época difícil e Athirson, ao lado de Júlio César, era um dos únicos a salvar a honra rubro-negra e dar alegrias a torcida, com toda sua classe e habilidade. No Brasileirão, fez apenas um gol, contra o Corinthians, e disputou seu último jogo do ano na derrota na final da Copa do Brasil contra Cruzeiro. Voltou na Juventus, mas passou quase um ano sem jogar, entre falta de espaço no time italiano e lesão no joelho. E voltou no Flamengo nos meados do ano de 2004, quando o time já tinha conquistado o campeonato carioca. Voltou a fazer gol, contra Santo André, um gol de falta importantíssimo, para conseguir o empate no jogo de ida da final da Copa do Brasil. A volta, de novo com Athirson saindo do banco, foi uma vergonha, Fla perdeu o titulo em pleno Maracanã.
Athirson fez seu último jogo com o Manto Sagrado na última rodada do Brasileirão 2004, uma vitória 6×2 contra Cruzeiro, também fez nesse jogo seu último gol, uma bomba de falta. Finalmente brilhou na Europa, no Bayer Leverkusen, e voltou no Brasil, onde passou pelo Botafogo, Cruzeiro, com quem jogou a final da Libertadores de 2009, e a Portuguesa. Aposentou-se em 2012, ano em qual conquistou o Mundialito de Futebol de 7. Também virou comentarista e técnico. Com sua classe e seus gols, Athirson deixa saudades aos torcedores rubro-negros até dessa época de vacas magras. Com o Manto Sagrado, foram 253 jogos e 37 gols. Nesse quesito dos laterais artilheiros, Athirson está apenas atrás de Júnior. E em termos de laterais esquerdos ídolos, tem poucos, muito poucos maiores do que Athirson, talvez apenas de novo Júnior e também Filipe Luís que tem, como muitos outros flamenguistas, Athirson como ídolo e inspiração.








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