O adversário do Flamengo na final do campeonato carioca está definido, o Nova Iguaçu, que pela primeira vez chega na final. Vamos então para enfrentar os adversários clássicos voltar ao passado, em 1974, quando Flamengo foi campeão em cima do Vasco.
Eu já escrevi sobre o time histórico de 1974, uma marca na carreira de Zico. O técnico era Joubert, antigo zagueiro do time, que quase só jogou no Flamengo, entre 1955 e 1964. Como técnico, sucedeu ao Zagallo e lançou no time principal 11 craques da base, um time inteiro: Cantareli, Ivanir, Rondinelli, Jaime, Julinho, Léo, Ney, Paulinho, Geraldo, Rui Rei e Silvinho. E ainda mais importante, teve um papel fundamental na carreira de Zico, que estreou em 1971 mas ainda era reserva no comando de Zagallo. Com Joubert, Zico foi titular, camisa 10, cérebro do time e artilheiro. Zico fez gols, gols e ainda gols, até quebrou o recorde do ídolo Dida, que tinha feito 46 gols em 1959. “Foi uma marca quebrada contra a vontade” falou depois Zico, que fez 49 gols em 1974.
Campeão do terceiro turno, a Taça Pedro Magalhães Corrêa, Flamengo chegou no triangular final do campeonato carioca, junto com o America e o Vasco. Com um jogo “nota 10” do jovem Júnior e vitória 2×1 contra o America, Flamengo precisava de apenas um empate contra Vasco para ser campeão. E tinha o apoio da torcida, com 165.358 presentes no Maracanã, o sétimo público da história do Maraca e o segundo do Clássico dos Milhões, ultrapassado apenas para o jogo de 1976, também um jogo eterno no Francêsguista.
Mas tinha um ausente nas arquibancadas, o presidente do Flamengo, Hélio Maurício. Cardíaco, ele foi vetado para assistir ao jogo e foi no parque aquático do Fluminense, ouvindo o jogo com um (não tão) antigo radinho de pilha. Tinha também um ausente no gramado, o craque argentino Doval estava machucado e não teve condições de jogar. Assim, no 22 de dezembro de 1974, Joubert escalou Flamengo assim: Renato; Júnior, Jayme, Luís Carlos, Rodrigues Neto; Zé Mario, Paulinho, Geraldo; Zico, Julinho, Edson. Do lado do Vasco, campeão brasileiro alguns meses antes, grandes nomes como Andrada, Fidélis, Zanata, Jorginho Carvoeiro e claro, o artilheiro Roberto Dinamite, que iniciava com Zico uma das rivalidades mais lindas e limpas do esporte.
No Maracanã, calor de Natal e jogo equilibrado, Vasco querendo o gol para ser campeão, Flamengo querendo o gol para matar o campeonato. Zico quase abriu o placar, com giro de corpo para driblar um defensor, uma pisada e drible curto para eliminar um outro, e chute do pé esquerdo, apenas desviado pelo Andrada. Seria um golaço, mas um defensor salvou em cima da linha. Do outro lado, num escanteio, Roberto Dinamite matou a bola de peito e deixou atrás para o chute do companheiro, que flirtou, apenas flirtou com a trave de Renato.
No segundo tempo, Roberto Dinamite fez outro ótimo passe, agora para Jair Pereira, livre para chutar. E de novo, a bola fugia do gol rubro-negro, a taça fugia das mãos vascaínas. Não foi o melhor Clássico dos Milhões da história, mas Flamengo segurou o 0x0, segurou a taça. Zico não fez gol, ficando com 19 gols no campeonato, um a menos que o artilheiro americano Luisinho Lemos. Mas Zico tinha ali a recompensa de um duro trabalho coletivo, e também individual. Falou Deus no livro Zico conta sua história: “Procurava corresponder ao que se esperava de mim dentro de campo. Além dos treinamentos coletivos e de controle de bola, batia até 80 faltas por dia, das mais variadas posições. Chegava a bater 10 a 20 pênaltis por dia – costumava avisar ao goleiro onde ia colocar a bola, para me dificultar ainda mais. Isso, naturalmente, sem contar os exercícios físicos e de minha eterna musculação”. Zico era campeão carioca e começava uma caminhada que ia culminar até a maior idolatria da maior torcida do mundo.








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