Jogos eternos #138: Atlético Nacional 0x1 Flamengo 1993

Flamengo joga hoje contra o Millonarios na estreia da Copa Libertadores de 2024 e o início do sonho do tetra. Na sua história, Flamengo jogou apenas uma vez contra o Millonarios, uma derrota 4×1 num amistoso de 1952, vamos então abrir para outros times colombianos e eternizar um jogo contra o Atlético Nacional na Copa Libertadores de 1993.

Na época, a Libertadores ainda tinha o antigo formato com grupos de 4 times, 2 times de 2 países diferentes. Flamengo caiu no grupo 4 com o campeão colombiano, o América de Cali, e o vice-campeão, o Atlético Nacional, além do campeão da Copa do Brasil, o Internacional. O Mengão começava a competição com 3 jogos fora de casa. Estreou com 0x0 no Beira-Rio e perdeu contra o América em Cali. Três dias depois, ainda na Colômbia, Flamengo precisava de uma reação para sonhar com a classificação.

No 19 de fevereiro 1993, o ídolo e técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar; Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Rogério, Piá; Júnior, Marquinhos, Nélio, Marcelinho Carioca; Nílson, Renato Gaúcho. Do outro lado, ainda era a época do narco-fútbol e o Atlético Nacional, time de Medellin e apoiado pelo traficante Pablo Escobar, foi o primeiro clube colombiano a conquistar a Copa Libertadores, em 1989. O Atlético Nacional tinha 6 jogadores que participaram da Copa do Mundo de 1994, sem contar a ausência do mítico goleiro René Higuita, não-convocado por causa de algumas polêmicas, inclusive uma amizade com Pablo Escobar.

A Copa do Mundo de 1994 virou um fiasco para a Colômbia, com eliminação e mais grave, o assassinato do defensor Andrés Escobar, que jogou contra Flamengo neste mês de fevereiro de 1993, e tinha feito um gol contra na eliminação contra os Estados Unidos. Outro jogador em campo contra Flamengo que morreu precocemente foi o Hermán Gaviria. Em 2002, com apenas 32 anos, foi atingido por um raio durante um treino de seu clube do Deportivo Cali, e não resistiu.

Como um retrato da violência da época, o jogo no estádio Atanasio Girardot começou com muitas faltas e o primeiro cartão amarelo foi para o veterano Júnior por uma cotovelada. O primeiro lance saiu dos pés do atacante colombiano John Tréllez, mas bola foi fora do gol de Gilmar. Com 19 minutos de jogo, o Atlético Nacional recuou a bola até o goleiro René Higuita, que dominou mal. Higuita, conhecido pelos seus 41 gols em carreira e a “defesa escorpião” contra a Inglaterra, tentou uma finta de chute, o também folclórico Renato Gaúcho antecipou e conseguiu tocar a bola para a deixar no gol vazio e abrir o placar. O Atlético Nacional tentou reagir ainda no primeiro tempo, Gilmar fez duas belas defesas de chutes de falta, e Júnior Baiano afastou o perigo com gesto acrobático.

No início do segundo tempo, Júnior Baiano quase concedeu um pênalti, mas o juiz não apitou. O Atlético Nacional botava pressão no jogo, num cruzamento alto o goleiro Gilmar saiu mal e deixou a bola escapar, Carlos Zúñiga chutou no gol defendido apenas pelo Wilson Gottardo, mas só conseguiu achar o travessão. Gilmar ainda fez outras defesas decisivas e virava o grande homem do jogo, mantendo Flamengo na frente no placar de forma milagrosa.

Outro retrato da violência da época, na cobrança de um escanteio, Júnior foi atingido na cabeça por uma pedra, mas seguiu em campo. Flamengo foi melhor no final do jogo, mas nem Marcelinho Carioca nem Gaúcho conseguiram fazer o gol para uma vitória mais tranquila. Finalmente não foi necessário, Flamengo, com a ajuda de René Higuita, derrotava o narco-fútbol e um mês depois fechou o grupo no primeiro lugar, antes de ser eliminado nas quartas de final pelo antigo e futuro campeão, São Paulo.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”