Fazia tempo que eu queria escrever sobre Júnior Baiano e a crônica #33 cai (quase) perfeitamente, porque algumas fontes atribuam ao Júnior Baiano 33 gols com o Manto Sagrado. Na verdade, o clube do Flamengo e o site Flaestatística consideram que Júnior Baiano tem 32 gols pelo Flamengo. Certeza é que, ao lado de outro ídolo no Flamengo e no Francêsguista, Juan, Júnior Baiano é o maior zagueiro-artilheiro da história do Flamengo.
Raimundo Ferreira Ramos Júnior nasceu no 14 de março de 1970 em Feira de Santana, na Bahia. Começou na base do… Fluminense de Feira, o clube da cidade, e recebeu ainda nas categorias da base uma oportunidade no Flamengo. Chegou, foi aproveitado, e estreou como profissional em 1988, num jogo do Brasileirão contra Bangu, no Maracanã. Como, claro, ainda tinha a sombra do Maestro Júnior, o jovem zagueiro virou Júnior Baiano e foi lançado por um outro mestre, que Júnior Baiano chamou de segundo pai, Telê Santana. Flamengo venceu 2×0 e Júnior Baiano formou a zaga ao lado de um outro ídolo, no Flamengo mas ainda não no Francêsguista, Aldair.
Por coincidência, conheci juntamente a dupla Júnior Baiano – Aldair, dez anos depois da estreia do Baiano, com a Copa do Mundo de 1998. De meus 6 anos ainda não completados, meus olhos brilhavam para os jogadores mais ofensivos e técnicos, como Roberto Carlos, Rivaldo, Denílson e claro, o maior de todos, Ronaldo. Mas com meu coração já verde e amarelo, gostava também da zaga, confesso que gostava mais do Aldair do que Júnior Baiano. Mas os dois eram gigantes, parecia tão difícil fazer um gol neles que acreditava que o Brasil ia ganhar a Copa contra a França, que eu ia ser o único pequeninho francês feliz no 12 de julho de 1998. A realidade foi diferente.
Júnior Baiano fez apenas um jogo em 1988 e voltou a jogar no time principal em 1989 durante uma excursão na Europa. Jogou ao lado de Zico, jogou a Copa do Brasil, até a eliminação na semifinal contra Grêmio, jogou o Brasileirão, jogou a Supercopa Libertadores. E Júnior Baiano viveu um ano 1990 maior do que ele ousaria sonhar. No início do ano, ao lado de Piá, Fabinho, Nélio e Djalminha, também de Marquinhos, Marcelinho Carioca e Paulo Nunes que não participaram da final, fez parte do maior time da história da Copinha. Na final, Júnior Baiano, já criando a fama de zagueiro-artilheiro, fez o único gol do jogo. Alias, um golaço, Júnior Baiano subiu no ar para cabecear em direção de Djalminha e lançou o pique em direção ao gol para chamar a bola de volta. O passe do craque Djalminha foi perfeito, Júnior Baiano finalizou de cobertura, do pé esquerdo, o pé supostamente ruim, para fazer o golaço, a alegria da galera e encher a galeria das taças, com a primeira Copinha da história do Flamengo.
Apenas uma semana depois do título, Júnior Baiano estava em campo no Maracanã para a despedida de ninguém menos que Zico. Entrou no lugar de ninguém menos que Leandro. Quem ousaria sonhar tudo isso? No final do ano, Flamengo conquistou a Copa do Brasil, mas Júnior Baiano participou de nenhum jogo da competição. O primeiro gol como profissional chegou em 1991, quando Flamengo era dirigido por um outro mestre, Vanderlei Luxemburgo. Jogo foi um amistoso contra Figueirense no Orlando Scarpelli e não tem imagens disponíveis do gol. Também fez gol numa excursão na Suíça e jogou na minha França, na minha Cidade Luz, perdendo na final do Torneio de Paris contra o Olympique de Marselha. O primeiro gol com imagens chegou também em 1991, com mais um outro mestre no banco, o Violino Carlinhos. E foi para lembrar para sempre, falta do Maestro Júnior, cabeçada do Júnior Baiano, gol do Flamengo. Jogo foi contra Campo Grande no campeonato carioca de 1991 e no final, título do Flamengo, num Fla-Flu eterno.
O gol seguinte chegou um ano depois, da mesma forma, falta de Júnior, cabeçada de Júnior Baiano. Mais que para os gols, Júnior Baiano era conhecido no início da carreira pela valentia e raça. Com apenas 22 anos, era zagueiro raiz, o jogador que você quer como companheiro, não como adversário. Num Clássico dos Milhões bem quente, deu sem se arrepender um soco na cara do Edmundo e o canto “Baiano é mau, pega um, pega geral” virou “pega um, pega o Animal”. E Edmundo não foi a única vítima, Júnior Baiano deu socos para Gilmar de São Paulo, Carlos André de Paysandu, até agrediu um repórter, até acusou um juiz de apitar bêbado. Com Júnior Baiano, tinha para todo mundo, tinha para geral.
Mas sim, Júnior Baiano não era apenas carrinhos violentos e tapas, era talento, dedicação, era uma raça que não o permitia apenas de destruir atacantes de forma limpa e menos limpa, mas também, do outro lado do campo, de fazer gols, de virar zagueiro-artilheiro. Apenas no ano de 1993, foram 7 gols, e Júnior Baiano não era apenas raça, também tinha técnica suficiente para fazer gol de falta contra Bragantino, gol de pênalti contra Olimpia, um jogo eterno no Francêsguista. Para fechar o ano de 1993, nada melhor que um gol num clássico contra Botafogo no Maracanã, também de pênalti.
Em 1994, Júnior Baiano assinou com o São Paulo, onde reencontrou o técnico que o lançou como profissional, Telê Santana. O Mestre odiava o jogo violento e avisou o Júnior Baiano: “Se você arrumar confusão aqui, te mando embora e ligo para todo mundo para não te contratar”. Com Telê, graças a Telê, Júnior Baiano virou outro jogador, mais calmo, mais seguro, sem perder a capacidade de defender, de ganhar bolas. Conquistou a Recopa Sudamericana, chegou na Europa, no Werder da Alemanha, e voltou em casa, voltou na Gávea em 1996.
A volta no Flamengo não foi ideal, com derrota 4×1 contra o Vasco de Edmundo. Mas no seu 4o jogo, já voltava a fazer um gol com o Manto Sagrado, contra Colo-Colo na Supercopa Libertadores. Também fez um gol, com passe de Romário, na goleada 7×0 contra Madureira, um jogo que ainda devo eternizar aqui. O ano de 1997 novamente foi muito bom para Júnior Baiano, com 10 gols no Flamengo. Dos 10 gols, 3 foram de pênalti, outros três de falta, assim qualquer um chamando Júnior Baiano de perna de pau parece ou louco ou burro, e ainda teve dois gols com passe de Romário. Como capitão, Júnior Baiano levou uma taça, a Copa dos Campeões Mundiais contra São Paulo e foi eleito no time ideal do Brasileirão pelo Placar. Também em 1997, estreou na Seleção brasileira, contra a Correia do Sul. Poderia ter começado antes, mas era um época de muitos craques e concorrência na Seleção, até na zaga. Três dias depois do primeiro hino, Júnior Baiano já fazia um gol com a amarelinha, de cabeça contra o Japão. No final do ano, esquecendo de mais uma eliminação no Brasileirão contra o Vasco de Edmundo, conquistou a Copa das Confederações, fazendo um golaço contra o México.
Júnior Baiano ainda fez alguns jogos com Flamengo em 1998, sem fazer gols, e disputou a Copa do Mundo na minha França. Ficou marcado por cometer um pênalti contra a Noruega, aliás um pênalti muito severo, talvez até inexistente. Fez seu último jogo com o Brasil na final contra a França e em seguida assinou com Palmeiras, onde conquistou a Copa Mercosul em 1998. Mais importante, no ano seguinte conquistou a Copa Libertadores, mais impressionante, foi o artilheiro do Palmeiras durante o torneio, apenas a um gol de ser o artilheiro geral da competição. E fez seu último jogo no Verdão no final de 1999, um jogo eterno aqui, quando Flamengo levou a Copa Mercosul. Com a saída da Parmalat, Palmeiras tinha que vender, Júnior Baiano até esperou uma proposta de Flamengo que não chegou e cedeu as chamadas de Romário e Edmundo para assinar com o Vasco, onde conquistou a Copa Mercosul (sua terceira final consecutiva) e o Brasileirão.
Passou pela China e pelo Internacional, voltou mais uma vez no Flamengo, em 2004, 16 anos depois da estreia. Confesso que gosto muito quando os ídolos de outras épocas voltam a vestir o Manto Sagrado em fim de carreira, apesar de hoje parece ser mais difícil acontecer, até pelo momento do Flamengo e falta de ídolos na metade da década de 2010. Já no seu primeiro jogo na volta no Flamengo, Júnior Baiano voltou a fazer um gol, contra o CFZ, time fundado pelo próprio Zico. Júnior Baiano conquistou o campeonato carioca e fez 5 gols no Brasileirão 2004, os mais bonitos um chute sem ângulo contra Grêmio e um gol de falta contra Guarani. Mas o campeonato foi difícil e Flamengo fechou num vergonhoso 17o lugar.
Em 2005, o zagueiro-artilheiro virou famoso para os gols contra, até bonitos mas na meta errada, durante o Brasileirão, contra São Paulo e Vasco. Fez seus últimos gols pelo Flamengo contra Juventude, seu único doblete no Mengão e fez seu último jogo com o Manto Sagrado em outubro de 2005, numa derrota 2×1 contra Vasco, 2005 também foi um ano difícil para Flamengo. No jogo contra Vasco, tinha jogadores como Léo Moura, Diego Souza e Obina. Isso mostra a longevidade de Júnior Baiano, que começou a carreira jogando ao lado de Leandro, Júnior e Zico. No total, 337 jogos com o Manto Sagrado e 32 gols, o que ainda lhe vale, ao lado do Juan, a honra de ser o maior zagueiro-artilheiro da história do Flamengo.
Para fechar, deixo a participação do Júnior Baiano na Resenha do Galinho, com o maior de todos, Zico.








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