O jornalismo esportivo está de luto. Anteontem, Apolinho Rodrigues, que homenageei com o jogo de sua estreia como técnico do Flamengo, contra Vélez Sarsfield. E ontem, num dia negro que também viu o falecimento de Antero Greco, o narrador Silvio Luiz morreu aos 89 anos. Sem dúvida, Silvio Luiz está na minha Santíssima Trinidade dos narradores esportivos, junto com Luciano do Valle e Galvão Bueno. Não é nenhuma loucura de minha parte, é até admitido de forma geral que foram os três maiores. A verdadeira dificuldade seria de designar quem foi o maior dentro os 3. Talvez Galvão Bueno foi mais emblemático e Luciano do Valle mais histórico, Galvão Bueno mais completo e Luciano do Valle mais homogêneo. Mas são sinônimos, é escolher para não escolher. Eu vou então com a reposta do próprio Galvão Bueno sobre o melhor dos três: “os três”.
Mas acho que o mais genial foi Silvio Luiz. Com certeza, é meu favorito, sem tirar nada ao Galvão ou ao Luciano. Falei dos bordões de Apolinho ontem, Silvio Luiz tinha outros, e muitos. Se tem que eleger outra Santíssima Trinidade, dos bordões de Silvio, eu vou de “olho no lance”, “pelo amor dos meus filhinhos” e “pelas barbas do profeta”, este último no topo de meu Monte Olimpo para misturar as religiões e as crenças. Como Apolinho, Silvio Luiz trabalhou até o fim da vida, trabalhando ultimamente para a TV Record. Como Apolinho, era querido por quase todo mundo.
Qualquer jogo de futebol melhorava automaticamente se era narrado pelo Silvio Luiz. E ele tinha o habito de nunca gritar “gol”, o que o já deixava numa categoria de narradores onde era o único representante. O “gol”, obvio demais segundo ele, era substituído por um “éééééé” ou um “foi, foi, foi ele”. Digo de novo: com ele narrando, qualquer jogo de futebol ficava melhor. Mas para a homenagem, eu vou de um jogo do melhor time do mundo, o Flamengo de 1981, na mais bela competição, a Copa Libertadores. Flamengo começou sua história na Libertadores neste ano de 1981, com um empate 2×2 em Belo Horizonte contra o Atlético Mineiro. Para o primeiro jogo do Flamengo no Maracanã na Copa Libertadores, recebeu o Cerro Porteño, um dos maiores do Paraguai.
No 14 de julho de 1981, dia da Bastilha na França, o então técnico Dino Sani escalou Flamengo assim: Cantarele; Leandro, Mozer, Marinho, Júnior; Figueiredo, Adílio, Zico; Tita, Baroninho, Nunes. E jogo começou da forma mais bonita possível, com falta para Zico, perto da grande área, perto do gol. Dois passos, “olho no lance”, bola na rede, Flamengo na frente. Hino do Flamengo na TV Record, “confira comigo no replay”, Zico é um craque diferenciado, exaltado pelo Silvio Luiz. Zico na era só batidas de falta, também fazia de pênalti, e foi desse jeito que teve a oportunidade de fazer o segundo do dia, o segundo dele. “Olho no lance”, “éééééééé” Flamengo 2, Cerro 0, Zico 2, Fernández 0.
No início do segundo tempo, outra falta perto da grande área, só que quem bateu foi Baroninho, “é dele a camisa número 11”, é dele a cobrança, é dele o gol. Cinco minutos depois, o Cerro Porteño reagiu, num escanteio Julián Giménez pulou, cabeceou, “deu zebra”, descontou. Mas o time do Flamengo era maior que qualquer um, do Paraguai, da Liberta, do Mundo. Na hora do jogo, Baroninho na direita “pode levantar se quiser”, levantou, e Nunes pulou, cabeceou. “Olho no lance”, bola no cantinho, olha a reação do Flamengo. Esse Flamengo era bonito de ver e, com a narração de Silvio Luiz, bonito de ouvir.
E três minutos depois, o Flamengo foi bonito de ver de novo. Triangulação entre Júnior, Baroninho e Zico, que achou de volta Júnior na grande área, goleiro perdido, “olha o quinto, olha o quinto”, passe para Nunes, bola na rede, é gol do Flamengo, do “Nu-Nu-Nu-Nu-Nunes, é dele a camisa número 9”. Agora era fechar o caixão e beijar a viuvá. Só que a viúva não se deixou beijar, o Cerro fez um gol no tempo adicional, apenas para definir o placar final: 5×2 para Flamengo, que fazia uma grande exibição para a primeira de muitas noites continentais no Maraca, numa campanha que só ia se fechar com a taça nas mãos, numa noite fria e calorosa em Montevidéu. “Obrigado pela sua companhia, audiência, sintonia e mais que isso, pela sua grande amizade. O importante que é a nossa emoção sobreviva”. Obrigado senhor Silvio Luiz por ter feito o Flamengo ainda mais emocionante que ele é.








Deixar mensagem para Jogos eternos #165: Cerro Porteño 2×4 Flamengo 1981 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo Cancelar resposta