Jogos eternos #171: Flamengo 3×0 Costa do Marfim 1988

Sem jogo do Flamengo esse fim de semana eu vou aproveitar da data de hoje, 14 de julho, festa nacional na minha França e dia de finais continentais, a Eurocopa e a Copa América, para escolher um jogo de festa, entre Flamengo e uma seleção nacional, a Costa do Marfim. O jogo serviu para festejar o tetracampeonato brasileiro do Flamengo, polêmico mas legítimo.

Eu escrevi sobre os detalhes do Brasileirão 1987 na crônica sobre o time histórico de 1987, então não vou repetir isso aqui, apenas que eu considerar o Flamengo campeão brasileiro de 1987 não se trata de um clubismo de minha parte. Para mim, o que vale é o reconhecimento da entidade que organiza o torneio, no caso o Clube dos Treze. Assim, o Flamengo foi tetracampeão brasileiro em 1987, como considero o Corinthians campeão mundial em 2000 e o Atlético Mineiro, mesmo que discordo com a decisão, campeão brasileiro de 1937. O Palmeiras fica sem mundial.

No 20 de janeiro de 1988, um mês depois de Flamengo ser campeão em campo contra o Internacional, o vice-presidente da CBF, Nabi Abi Chedid, confirmou para quatro dias depois o cruzamento entre os módulos verde e amarelo por causa do liminar do juízo federal de Pernambuco. Vale a pena lembrar que no seu artigo 48 a FIFA proíbe os clubes de recorrer a justiça comum, como fez o Sport. Assim, Flamengo foi campeão em campo, Sport no tribunal. Vale a pena também destacar a atitude do Internacional, que podia ter aproveitado da confusão para jogar o cruzamento e ser considerado campeão pela desacreditada CBF. Mas na época, menos a CBF, a justiça pernambucana e os idiotas do clubismo cego, todo mundo sabia quem era o verdadeiro campeão brasileiro.

Assim, no 24 de janeiro, em vez de afrontar o Guarani no Brinco de Ouro – o local foi trocado na última hora para escapar de uma viagem inútil ao Maracanã, o Flamengo recebeu a Costa do Marfim numa Gávea em festa, com 5 mil torcedores. No preliminar, a participação em campo de algumas celebridades, alguns tricolores, como Chico Buarque e Evandro Mesquita, ambos vestiram o Manto Sagrado. “Hoje é festa, vale tudo” falou Chico Buarque. Com bateria e Evandro Mesquita falando de um Flamengo “supercampeão legítimo”, os jogadores do Flamengo receberam as faixas de campeões brasileiros e ofereceram faixas aos vencedores de outros títulos do Flamengo. Assim, Renato Gaúcho ofereceu uma faixa ao Valido, herói do tricampeonato carioca em 1944 com gol no jogo eterno contra Vasco. O Flamengo era gigante, era multicampeão, era tetracampeão brasileiro.

Antes do jogo, Zico falou sobre a pena dos jogadores do Guarani de ser obrigados a ir em campo para tentar conquistar um campeonato ilegítimo. Na Gávea, local da verdadeira festa, Carlinhos escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo; Andrade, Aílton, Flávio; Zinho, Alcindo, Renato Gaúcho. Mesmo sem Zico em campo, um timaço, uma seleção, um campeão brasileiro. E no início do jogo, Renato Gaúcho, principal nome do tetracampeonato ao lado de Zico, ganhou a bola de um zagueiro, chegou na área, cruzou e o outro zagueiro cometeu o pênalti com uma mão bem evitável. Na cobrança, Andrade foi perfeito e deixou Flamengo na frente no placar.

O caráter amistoso do jogo era evidente, a superioridade do Flamengo também. Aílton deu um passe lindo no espaço para Jorginho, que também foi bonito na finalização. Flamengo 2×0, e no segundo tempo, Flávio, pouco antes de ser expulso, fez o terceiro e último gol do jogo. Flamengo vencia fácil, a torcida invadiu o campo no som da bateria, a festa era completa. Enquanto isso, sem atenção da mídia ou do público, Sport e Guarani podiam jogar o cruzamento de um lado só, já que o Modulo Amarelo acabou num vergonhoso 11×11 nos pênaltis na Ilha do Retiro. Repito, ninguém ligava, o campeão brasileiro era rubro-negro, morava no Rio, era Flamengo.

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  1. Avatar de Ídolos #36: Jorginho – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] início do ano 1988, Jorginho fez outro gol com o Manto Sagrado, no jogo das faixas, contra a Costa do Marfim, outro jogo eternizado no Francêsguista. No campeonato carioca, Flamengo chegou na final, mas foi derrotado pelo Vasco, alias até hoje a […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”