Flamengo fechou o primeiro turno do Brasileirão 2024 no segundo lugar, três pontos atrás do Botafogo, e tem boa esperança de conquistar o eneacampeonato brasileiro. O Mengão joga hoje contra o Atlético-GO e teve poucos jogos contra o Dragão no Maracanã, apenas 4 no Brasileirão. O retrospecto é favorável ao Flamengo com 3 vitórias e um empate, mas prefiro eternizar hoje um jogo contra o rival goianense, Goiás, em 2019.
Eternizei aqui muitos jogos do Flamengo de 2019, um ano histórico. No blog, já são 12 jogos eternos de 2019, mas escrevi a última crônica deste ano, o Fla-Flu na semifinal do campeonato carioca, há mais de 4 meses. Vamos voltar então a esse ano inesquecível, com um dos jogos mais memoráveis da temporada, contra Goiás, na 10a rodada do Brasileirão.
O Flamengo x Goiás de 2019 já estava na história do clube antes do apito inicial. Era a estreia no Brasileirão de Jorge Jesus, que começou no Flamengo 4 dias antes, fora de casa, sem vitória, um empate 1×1 contra o Athletico Paranaense, na Copa do Brasil. Eu não gostava nem um pouco de Abel Braga no Flamengo e eu estava otimista com a chegada de Jorge Jesus, com boa passagem no Benfica. Me encantava a exigência de Jorge Jesus, o profissionalismo dele e as homenagens a nosso maior patrimônio, nossa torcida. Chegou ao Brasil um mês antes de estrear e algumas coisas mudavam já antes do primeiro jogo.
Jorge Jesus teve um mês de preparação com a parrada do Brasileirão por causa da Copa América. Inclusive, eu estava no Brasil para cobrir a competição para a revista francesa Lucarne Opposée. Queria prolongar a temporada para assistir a um jogo do Flamengo no Maracanã, mas não foi possível. Então, no 14 de julho de 2019, uma semana depois de meu aniversário, do Brasil ser eneacampeão e de minha volta na França, Jorge Jesus escalou Flamengo pela primeira vez no Brasileirão assim: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Léo Duarte, Trauco; Willian Arão, Diego, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol. E começou a escrever a história mais linda, de papel e caneta rubro-negros.
Para seu primeiro jogo com o Manto Sagrado, Rafinha preciso de apenas 3 minutes para acender o Maracanã, com 2 chapéus e 3 embaixadinhas de cabeça, antes de um chute de longe do Gabigol, defendido pelo goleiro Tadeu, que apenas começava seu duro trabalho do dia. No escanteio curto, uma combinação rápida e um cruzamento perigoso, mas Rodrigo Caio chutou para fora. E com 6 minutos, Éverton Ribeiro achou na grande área Gabigol, de pivô para o chute cruzado de Arrascaeta, para o gol flamenguista, para a alegria do Maraca. Começava o show do Mengo, esfriado 6 minutos depois, com falha de Rodrigo Caio e gol do empate de Kayke.
Mas o dia estava quente, com partida de futebol às 11 horas. Tenho uma teoria muitas vezes provada que jogo às 11 horas da manhã rende jogo fraco. O ritmo é baixo, as movimentações são difíceis, o calor atrapalha todo mundo. Menos o Flamengo de Jorge Jesus. Mesmo depois do gol do empate de Goiás, com um início de jogo tão bom, a única vontade era de recuperar a bola, recomeçar o jogo, assustar a defesa adversária. Goiás quase virou, Michael, no seu estilo particular que funcionou depois no Flamengo, driblou Rafinha e Léo Duarte na mesma finta e chutou na trave. Mais um frio no Maracanã. Mas era dia de calor no Rio de Janeiro e no Maraca.
Flamengo voltou a dominar, Bruno Henrique bicicletou nas mãos de Tadeu, Gabigol chutou para fora, Arrascaeta cobrou a falta sem fazer o gol, sem desfazer o empate. E antes do intervalo, Arrascaeta inflamou o Maracanã, com um toque de artista, uma bola depositada de sola, entras as pernas de Yago Fernando, perfeitamente na movimentação de Miguel Trauco, que cruzou de primeira. Bruno Henrique quase fez na segunda trave, um zagueiro salvou, Bruno Henrique de novo, agora no chão, estendeu a perna para recolocar Flamengo na frente. E dois minutos depois, ainda no primeiro tempo, Gabigol cruzou atrás no chão, a defesa de Goiás se atrapalhou, Arrascaeta estendeu a perna e de bico fez mais um gol pelo Flamengo, mais uma vez a alegria do Maracanã, cheio com 65.154 almas rubro-negras.
E ainda no primeiro tempo, “Flamengo não tira o pé”, “será que vem outro aí?”, Gabigol abriu na esquerda para Arrascaeta, com o toque de gênio, talvez de sortudo se foi cruzamento, toque de cobertura, colocadíssimo na gaveta, sem chance para Tadeu. Antes do meio-dia, Flamengo já fazia o quarto do dia, um golaço de Arrascaeta, um gol reservado aos poucos craques de verdade, o cruzamento foi mentira. Me incomodava muito a situação de Arrascaeta com Abel Braga, que via o craque uruguaio apenas como um reserva de Diego. Um absurdo, provado pelo Arrasca em apenas 45 minutos. E finalmente o juiz apitou o intervalo, muito bem-vindo para o time de Goiás e até para a torcida do Flamengo. Infelizmente, faltei esse jogo no Maracanã, mas já vi no templo do futebol goleadas do Flamengo, sequências de muitos gols em poucos minutos e de tanto comemorar na arquibancada, de tanto vibrar, gritar, cantar, você precisa de um tempo de recuperação, para respirar, aliviar o coração, avaliar a alegria de ser flamenguista. Ainda mais num dia de tanto calor.
E Flamengo voltou no segundo tempo, com as mesmas intenções, com o mesmo ritmo, com a mesma vontade de fazer o gol. Isso que adorava, obviamente não apenas eu, no Flamengo de Jorge Jesus. Sempre buscava o gol, o jogo na frente, mesmo com vários gols de vantagem. Flamengo jogava para fazer o gol e jogava para a torcida. E com 10 minutos no segundo tempo, mais uma jogada de craque de Arrasca, uma finta, um cruzamento lindo, um doce, quase um beijo até a segunda trave, para o gol de cabeça de Gabigol, que curiosamente ainda não tinha feito o gol dele durante o jogo.
E 10 minutos antes do apito final, depois de várias jogadas do Flamengo e defesas do Tadeu, Flamengo poderia ter chegado aos 10 gols no jogo, um lance entre Éverton Ribeiro, Arrascaeta e Gabigol, no meio de 6 jogadores de Goiás. Flamengo tinha a metade dos jogadores goianienses, mas Flamengo era melhor, mais forte, mais técnico, mais preciso. Tudo no lance foi perfeito, o passe na profundidade de Éverton Ribeiro, o toque de Arrascaeta para tirar o goleiro da jogada, a finalização de Gabigol, a festa da torcida.
No final, uma goleada 6×1 num Maracanã lotadíssimo, um espetáculo completíssimo. Arrascaeta foi o destaque da partida com 3 gols e 2 assistências, mais uma participação direita no outro gol, e agora uma condição de titular absoluto. Mas também teve a grande participação de Bruno Henrique e Gabigol, lembro que tinha escalado os três no Cartola e mitei como nunca antes, como nunca depois. Foi o início de um trio, mais Éverton Ribeiro que também jogou muito contra Goiás, que ia trazer muitas alegrias ao Flamengo e a sua torcida em 2019 e nos anos seguintes. Um 14 de julho, dia da Revolução na França, marcou o início da Era Jorge Jesus, de um Flamengo avassalador, que assustava todos os adversários, alegrava todos seus torcedores. Se soubesse, talvez teria procurado um jeito para assistir a esse jogo no Maraca, mas mesmo sozinho na França, de ressaca, o Flamengo de Jorge Jesus foi lindo, lindíssimo, desde o início.








Deixar mensagem para Jogos eternos #267: Flamengo 3×1 Grêmio 2019 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo Cancelar resposta