Na última crônica, escrevi sobre um torneio que não existe mais, a Copa Mercosul, e a final de ida contra Palmeiras, no 16 de dezembro de 1999. Antes do jogo contra São Paulo, faço um passo de 52 dias e volto para uma outra competição que não existe mais, o Torneio Rio – São Paulo. Mesmo sem assistir ao vivo aos jogos do Torneio Rio – São Paulo, gosto muito da competição, que estreou em 1933, ano do início do profissionalismo. Voltou em 1950, ano da Copa do Mundo no Brasil e se firmou durante 15 anos, sendo um dos ancestres do Brasileirão. Voltou em 1993 e foi disputado até 2002, um ano antes do Brasileirão virar um campeonato de pontos corridos, com mais jogos. Hoje não tem mais espaço para o Torneio Rio – São Paulo, e com a decadência dos clubes cariocas e a boa forma de clubes fora do eixo Rio – SP, o torneio não tem mais sentido. Mas ainda tem espaço para voltar ao passado, exaltar os jogadores antigos e alegrar os adeptos do saudosismo.
Flamengo conquistou apenas uma vez o Torneio Rio – São Paulo, em 1961 com Carlinhos, Gérson, Joel, Dida e Henrique, depois de uma vitória 2×0 sobre o Corinthians, um jogo eterno no Francêsguista. Em 1997, perdeu a final contra Santos, dentro do Maracanã. Decepcionou em 1998 e 1999 com eliminação na primeira fase. Pouco depois de conquistar a Copa Mercosul 1999 contra Palmeiras, Flamengo iniciou o ano 2000 com o Torneio Rio – São Paulo, estreou com derrota contra São Paulo e conquistou apenas 2 pontos nos 3 jogos seguintes. Estava quase eliminado, precisava de um milagre e de uma combinação de resultados para ver as semifinais.
O técnico não era mais Carlinhos, mas era outra lenda do clube, Paulo César Carpegiani, campeão da Liberta e do mundo em 1981. No 6 de fevereiro de 2000, Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Clemer; Maurinho, Juan, Fabão, Leonardo Inácio; Leandro Ávila, Rocha, Fábio Baiano, Iranildo; Rodrigo Mendes, Leandro Machado. O São Paulo tinha mais time, com grandes jogadores, além de Marcelinho Paraíba e Evair, tinha os campeões do mundo Raí, Rogério Ceni, Belletti e Edmílson.
No Morumbi, Flamengo começou muito mal o jogo. A Globo atrasou na retransmissão do jogo por causa de um jogo do pré-olímpico e Flamengo já tinha tomado 2 gols nos 10 primeiros minutos! Felizmente, Flamengo reagiu rapidamente, depois de uma série de dribles de Leandro Machado, bola caiu nos pés de Rodrigo Mendes, que chutou entre as pernas de Rogério Ceni. A Globo começou a retransmissão do jogos aos 20 minutos e não viu mais gols no primeiro tempo, Rogério Ceni salvando o São Paulo duas vezes depois de chutes de Leandro Machado e Iranildo.
No intervalo, o lateral-direito Maurinho saiu e no seu lugar entrou o jovem atacante Adriano, ainda não o Imperador. Adriano estreou no Flamengo 4 dias antes, contra Botafogo no Maracanã, e ia fazer seu 18o aniversário 11 dias depois. Ainda era menor, mas já sabia muito da bola. E precisou de apenas 27 segundos, não minutos, segundos mesmo, para demostrar isso. Recebeu uma bola longa, sua primeira bola do jogo, e já no domínio do pé esquerdo, abriu espaço na frente de Edmílson. Fez mais um toque para abrir mais ângulo e chutou com precisão e força, sem chance para Rogério Ceni, que nem se mexeu. Um golaço do camisa 14, combinando força e técnica, uma antevisão de sua carreira. Antes dos 18 anos, Adriano, o garoto da Penha, Nosso Didico, já brilhava com o Manto Sagrado.
E 5 minutos depois, Flamengo virou, São Paulo saiu mal, bola chegou nos pés de Leandro Machado, também combinando força e precisão para fazer o gol. E 4 minutos depois, Flamengo fez o quarto, Rodrigo Mendes cruzou, Leandro Machado dominou na grande área, tentou o drible, mas na frente de dois adversários, não tinha espaço. Voltou atrás para a chegada firme de Iranildo, que chutou de primeira, na entrada da grande área. A bola foi desviada pelo Wilson, enganando o Rogério Ceni. Flamengo fazia o quarto do jogo, o terceiro nos 10 primeiros minutos do segundo tempo e se aproximava da vitória.
Os dois times tiveram oportunidades, sem fazer gol, até o 33o minuto do segundo tempo. De novo, a defesa são-paulina saiu mal, agora dos pés do próprio Rogério Ceni, ainda de cabelos. Bola foi diretamente nos pés de Rodrigo Mendes, aos 30 metros do gol do São Paulo, um pouco na esquerda. E Adriano brilhou mais uma vez, agora numa inteligência incomum para um jogador de 17 anos. Imediatamente, se livrou do zagueiro e chamou a bola na esquerda, em posição de chutar. No mesmo gesto, fez a finta de chute e o verdadeiro passe, no espaço. Nem Rodrigo Mendes nem Rogério Ceni chegaram na bola, que sobrou até os pés de Leandro Machado, que fez o doblete, definiu a goleada e o placar final, 5×2.
Foi a primeira vitória do Flamengo no torneio e obviamente um grande jogo. Mas o jogo está eternizado agora apenas por causa de um homem, um grande homem e jogador, um ídolo da Nação, Adriano Imperador.








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