Jogos eternos #180: Flamengo 3×0 Santos 1983

Ainda para homenagear nosso eterno Adílio, volto com sua maior atuação no Flamengo, e não foi qualquer jogo, bem ao contrário. Foi final do campeonato nacional, foi recorde de público do Brasileirão, foi também último jogo de Zico antes da Itália. Assim, foi o fim da Era do Ouro do clube, que começou cinco anos antes, com título carioca em cima do Vasco, escanteio de Deus, gol do Deus da Raça.

Em 1982, Flamengo conquistou o Brasileirão no início do ano, com gol de Nunes no Olímpico, mas no final do ano, foi eliminado da Copa Libertadores contra Peñarol e perdeu o campeonato carioca contra Vasco. Precisava de algumas mudanças, Tita e Nunes saíram, Robertinho e Baltazar chegaram. Também chegou o fim para o técnico Paulo César Carpegiani, campeão de tudo com o rubro-negro. Pela primeira vez, o Violino Carlinhos assumia a função de técnico do Flamengo por alguns jogos, dirigindo seu último jogo na vitória 2×0 sobre Goiás, um jogo eternizado no Francêsguista. Carlinhos foi substituído pelo capitão do Tri, Carlos Alberto Torres, que estreou como técnico com goleada 5×1 contra o Corinthians, outro jogo eternizado no blog. E logo depois, Carlos Alberto Torres foi em busca de outro Tri, o tricampeonato brasileiro do Flamengo depois dos títulos de 1980 e 1982.

Flamengo tinha um timaço, na fase de mata-mata eliminou Vasco e o Athletico Paranaense para chegar na final, contra o Santos de Paulo Isidoro, Pita e Serginho. Santos também tinha um timaço e no jogo de ida, no Morumbi com 114.481 presentes, ganhava 2×0, gols de Pita e Serginho Chulapa. No meio do segundo tempo, Baltazar, o artilheiro de Deus, fez um gol para o Flamengo. “O mais importante foi o gol do Baltazar no Morumbi, que diminuiu a vantagem do Santos” explica Zico. A derrota não foi tão ruim, Flamengo ainda tinha o maior time do mundo e podia reverter o placar no jogo de volta. “No Maracanã, podem ter certeza, não temos como perder para o Santos” falou o técnico Carlos Alberto Torres entre os dois jogos. Tinha um porém. O Flamengo andava desfalcado, com ausências de Lico, que pouco jogou durante o ano, e de Andrade, que sofria com o menisco. Mozer se machucou no jogo de ida e estava indisponível para o jogo de volta. E pior, Zico se machucou durante um treino entre os dois jogos. Escreve Marcos Eduardo Neves no livro 20 jogos eternos do Flamengo: “Sentiu uma fisgada no músculo da coxa direita no treino da quinta-feira, padeceu com dores ao longo dos dias, mas ninguém, além do treinador e do departamento médico, sabia da contusão. A blindagem visava manter inabalável o astral do time”.

E pior, tinha outro fato em relação ao Zico escondido a imprensa, até aos companheiros do time. Zico tinha 30 anos e faltava dois anos antes de, pela lei, ele ganhar o passe livre. Para o presidente Antônio Augusto Dunshee de Abranches, era o risco de perder Zico sem compensação e achou melhor uma venda. Porém, Zico não queria sair do Flamengo, como ele explica no livro Zico conta sua história: “Havia ainda minha ligação com o Flamengo, com os jogadores, com o clube e com a torcida. Naqueles primeiros dias, quando se começou a discutir a proposta italiana, eu não conseguia me ver fazendo gols e correndo para uma torcida que não fosse a do Flamengo. Seria como chegar em casa, bater na porta e alguém estranho abri-la para mim… E não era o caso de mais dólares ou menos. Financeiramente, também, não me interessava sair do clube. Em dois anos, eu teria passe livre. Então, poderia realizar uma negociação na qual ficaria com todo o dinheiro – e não apenas com os quinze por cento de praxe, se fosse vendido e o clube ainda ficasse com meu passe”.

O presidente Dunshee de Abranches não queria perder Zico de graça e fez uma oferta de renovação do contrato que pode ser considerada ridícula, para forçar a saída do ídolo sem se queimar. Zico chegou a um acordo com a Adidas para completar o salário, mas o presidente do Flamengo chegou a dizer que na sua oferta inicial já estava incluída a proposta da Adidas. Continua Zico: “Nada disso era verdade, a Adidas não tinha nenhum acordo – sequer um contato – com Dunshee de Abranches, e, de todo esse episódio bastante lamentável, concluo apenas que a presidência do clube já havia decidido me vender de qualquer maneira, fosse qual fosse a solução que eu encontrasse, para impedir que eu ganhasse passe livre, ao completar dez anos de trabalho contínuo no clube e trinta e dois anos de idade, como prescrevia a lei. Como efeito, não me restou outra alternativa que não aceitar a transferência para a Udinese, na Itália”.

O Zico não era mais do Mengo, mas no 29 de maio de 1983, ninguém sabia, não os companheiros do time, muito menos os torcedores do Maracanã. E tinha muitos torcedores, todos os ingressos foram vendidos. Falou antes do jogo o presidente da federação carioca, Octávio Pinto Guimarães: “Será a primeira vez, desde que estou à frente da entidade, que assistirei à venda de todos os bilhetes colocados à disposição. Só não vamos bater o recorde do jogo Brasil x Paraguai, de 1969, porque não se pode mais colocar tanta gente no estádio”. Assim, mesmo com forte chuva no Rio na véspera, tinha no Maracanã 155.253 presentes, ultrapassando os 154.355 de outra final do Brasileirão com o Flamengo, contra o Atlético Mineiro em 1980, para se tornar, provavelmente para a eternidade, o jogo com maior público da história do Brasileirão. Era um jogo eterno antes do apito inicial.

No 29 de maio 1983, Carlos Alberto Torres escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Figueiredo, Marinho, Júnior; Vítor, Adílio, Zico; Élder, Júlio César Barbosa, Baltazar. Tinha Mozer, Andrade e Lico desfalcados e Zico lesionado. “Em compensação, Adílio vivia seu apogeu técnico e físico e estava dentro, confirmadíssimo” escreveu Marcos Eduardo Neves. Confirma Zico no livro Zico conta sua história: “Aquela decisão foi um grande show do Adílio. Com o time do Santos precisando vir para cima, o Adílio ganhou o espaço que precisava para avançar com a bola dominada e sair driblando de um jeito que há muito eu não via numa partida de futebol […] Não era só a dor no músculo que estava me preocupando naquela decisão… Ali no Maracanã, eu era praticamente a única pessoa a saber que aquela era a última partida que disputaria pelo Flamengo”.

Era um jogo eterno antes do apito inicial e virou ainda mais eterno com apenas 40 segundos de jogo. No Maracanã, nem todos os 155.253 tinham chegado quando Júlio César driblou, fintou, escapou do Toninho Oliveira antes de cruzar na grande área. De pivô, Baltazar chutou, bola foi bloqueada, voltou nos pés de Júnior, que chutou também. Goleiro defendeu e Zico chutou, marcou, comemorou. Zico conhecia pela 476a vez, quem sabe a última vez, a maior alegria no mundo, fazer um gol com o Manto Sagrado. Ainda melhor, numa final do Brasileirão, num Maracanã lotado, com geral cheia, o que ele já tinha feito no 1o de junho de 1980 na frente de 154.355 torcedores e no 18 de abril de 1982 na frente de 138.107 torcedores. Sim, Zico fez gol em 3 finais diferentes do Brasileirão, com mais de cem mil no Maraca.

Além de milhares de torcedores rubro-negros roxos, quem presenciou Zico fazer magia na final do Brasileirão foi o Paulo Isidoro. Ainda escreve Marcos Eduardo Neves: “Vice do Brasileiro tanto em 1980 quanto em 1982, o santista Paulo Isidoro sentiu que vinha chumbo grosso pela frente. Até porque Adílio dava show. Na primeira que recebeu, o camisa 8 gingou para a esquerda e comeu Joãozinho pela direita. Na jogada seguinte, ameaçou driblar para o fundo e cortou Toninho Oliveira para o meio, estalando-o no chão. Paulo Isidoro suava frio”. Adílio, que viu seu filho Adílio Júnior nascer 20 dias antes do jogo, reinava no meio de campo, fazendo de tudo, desarmar as jogadas adversárias, armar as do Flamengo, só faltava fazer um gol. Na direita, Zico deixou Baltazar em condições ideais para fazer o gol, mas o Artilheiro de Deus chutou para fora. Em seguida, Adílio quebrou a linha defensiva de Santos, deixou para Zico, que achou na profundidade Baltazar para o gol fácil, porém anulado por impedimento.

Outra jogada típica desse Flamengo de ouro que, sem ninguém saber, disputava seu último jogo, Leandro na direita achou Baltazar, de pivô, que abriu para Élder. A ultrapassagem de Adílio permitiu ao Élder de ter espaço para chutar, mas o chute saiu fraco. Santos reagiu, sem ameaçar de verdade a meta flamenguista. E outra jogada com ADN de Flamengo, num contra-ataque, Júlio César de bicicleta achou Adílio, que percorreu 50 metros com bola nos pés, cabeça alta, pernas de fogo, sem poder ser parado pela defesa santista. O Brown mexia classe e objetividade, e achou na direita Baltazar, mas seu chute foi cruzado demais para chegar ao gol. Na direita, Zico driblou duas vezes Toninho Carlos e cruzou, bola parou na mão de um jogador santista. O Galinho reclamou muito, mas o juiz Arnaldo Cézar Coelho não apitou o pênalti. No contra-ataque, Marinho derrubou Pita na grande área, Arnaldo Cézar Coelho apitou, mas uma falta em dois lances. Ninguém estava satisfeito, talvez menos a geral, quase sempre feliz, ainda mais quando Flamengo ganha. Jogo ainda ia na prorrogação, faltava um gol para passar na frente de Santos no placar agregado.

Num outro lance, Júnior afastou a defesa do Mengo com um chute para frente e Adílio, com toda sua classe, dominou com o calcanhar, acelerou mais uma vez, pedalou, deixou mais uma vez para Zico, que alertou na profundidade mais uma vez Baltazar, mais uma vez impedido. Do lado do Santos, Camargo cruzou para a cabeçada de João Paulo, sem perigo para Raul. De novo Flamengo, na direita, com Leandro que fintou o passe, trivelou para Adílio. De primeira, Adílio cruzou, Toninho Carlos cabeceou e e bola voltou nos pés de Adílio. Bem na direita, Adílio tentou o drible, Lino o desarmou, mas Adílio não desistiu e ganhou a bola de novo. Adílio girou, escapou de Lino, obrigado a cometer a falta. A classe, o talento natural, a habilidade de Adílio não o impediram de suor a camisa, honrar o Manto, dar a vida e o sangue para o Mengo. Era o chamado pianista que carregava o piano.

Adílio conseguiu a falta, quase um mini escanteio para o maior de todos, nosso ídolo e Rei, Zico. O Galinho fez um passo, deu uma bolinha que era doce, doce como o som da rede vencida, da geral que explode de alegria. Leandro chegou, cabeceou, brocou, o Peixe-frito fritou o Peixe. Flamengo na frente no placar agregado, o Maracanã lotado feliz, felizão, como Leandro: “Foi muita emoção. A gente tinha perdido o primeiro jogo em São Paulo e precisávamos de dois gols de diferença. Nunca fui de fazer muitos gols, mas o Zico me dizia que, quando eu marcava, era sempre um gol importante. Foi o caso deste dia”. Era a recompensa para um time que jogava futebol como poucos, muito poucos, para um grupo que se entendia tão bem no campo como fora. Ainda Leandro no livro 6x Mengão de Paschoal Ambrósio Filho: “Nós tínhamos uma família na Gávea. Parece até que é combinado, pois todos do time daquela época falam a mesma coisa. Ficávamos satisfeitos de estar no clube de manhã à tarde. Nossa segunda casa sempre foi o Flamengo”.

Ainda no primeiro tempo, Leandro ganhou uma bola, acelerou, cortou no meio e soltou a bomba do pé esquerdo. Impressionante a habilidade com os dois pés de nossos dois grandes laterais da época, Júnior e Leandro. A bola explodiu no travessão e quase entrou no gol, mas passou um pouco na frente da linha. Uma pena, para quem fez apenas 14 gols em 414 jogos com o Manto Sagrado, 2 gols em 2 minutos numa final tão importante teria sido um grande feito. Mesmo assim, Leandro não é o maior ídolo do Flamengo só por causa do Zico. O primeiro tempo acabou quase numa briga provocada pelo polêmico Serginho Chulapa e com o placar de 2×0 em favor do Flamengo. O rubro-negro era tão superior que no Maraca, quase ninguém duvidava do tricampeonato que chegava.

O segundo tempo viu Flamengo fazer o que sabia fazer. Os desarmes de Figueiredo, a classe de Leandro, as subidas de Júnior, a magia de Zico. E Adílio, reinando no meio de campo. Ainda Marcos Eduardo Neves no seu livro 20 jogos eternos do Flamengo: “No segundo tempo, como o Santos precisando sair, Adílio ganhou mais espaço para criar. Com o diabo no corpo, o meia levantou a galera ao de calcanhar dar linda bola a Júnior. Em uma das maiores partidas de sua vida, presenteava a torcida com dribles desconcertantes, cruzamentos certeiros e muita disposição”. Num lance, na sua própria grande área, Adílio subiu no ar para ganhar a bola de cabeça, e em seguida subiu no campo voando com a bola nos pés, ganhando 40 metros, sendo muito aplaudido pela torcida. A geral e as arquibancadas sabiam do valor do craque.

E Flamengo quase fez outro golaço, com Leandro na direita, para Élder, com um toque para Zico, bem ao estilo do Flamengo. Zico girou, deixou um pra trás, acelerou, deixou outro na direita, quando ia para a esquerda. Mesmo com replay e câmera lenta, Zico é rápido demais para descrever o lance, entender a magia que fez, ter certeza de entender como ele passou. Apenas sei que driblou mais um e fez o passe atrás, e acho que a chegada de Élder atrapalhou Adílio, que chegava melhor na bola. Teve confusão na grande área, mas nem toda a raça de Zico e Adílio foram suficientes, a defesa santista conseguiu afastar o perigo. Ainda 2×0 e o ponta-direita santista João Paulo cruzou, Serginho quase chegou na segunda trave para fazer o gol. A geral tomou um susto, relembrava que mesmo com um Flamengo reinando no jogo, o título ainda não era assegurado.

E Adílio, ainda Adílio, sempre Adílio, fazia de tudo no meio de campo. Cercado por dois adversários, Adílio passou a bola entre as pernas de Toninho Oliveira e seguiu jogando. Na continuidade do lance, Vítor, com camisa 6 de Andrade, ganhou uma bola e lançou Júlio César, que cruzou atrás no chão. Adílio chegou e quase fez o gol que ia consagrar uma atuação de gala, mas o goleiro Marolla defendeu em dois tempos. A palavra agora do também eterno Galvão Bueno, que narrava o jogo: “Marolla pega milagre no Maracanã, o que poderia ter sido o gol do título no lance do Adílio”. O gol ainda não chegou, como não chegou nos pés de Robertinho depois de tabelinha entre Adílio e Zico, o bandeirinha anulou o gol por impedimento.

Faltando um minuto para o fim do tempo regulamentar, a torcida rubro-negra já cantava “é campeão”, sem ter certeza do desfecho final. “O Santos ainda acreditava, quer jogo e quer lutar” para Galvão Bueno, e Vitor lutou, chegou dois pés na frente para matar o Peixe. Ganhou a bola e Robertinho partiu numa série de dribles para entristecer o Gilberto Sorriso, ganhar espaço e cruzar para a chegada majestosa do Brown Adílio, que cabeceou, brocou, delirou. Era finalmente a recompensa de um jogo eterno, do Flamengo e do próprio Adílio, que falou depois da partida: “Quando vi a bola entrando na rede, na minha cabeça veio a imagem do meu filho. Senti um nó na garganta e fiquei emocionado. Felizmente deu tudo certo. Acho que foi a minha melhor atuação neste campeonato. Não vou dizer que foi a melhor do Flamengo, mas sei que estive bem. Estou certo disso”.

O 3×0 consagrou o Flamengo pela terceira vez em 4 anos e alegrou toda a Nação, mais de 155 mil no Maracanã, e milhões nos becos e condomínios de Rio de Janeiro, nas ruas, florestas e sertões do Brasil inteiro. Isso, só Flamengo. “O Santos não resistiu e 3 a 0 foi pouco. Deu Flamengo na raça” manchetou o Jornal do Brasil e o técnico Carlos Alberto Torres confirmou: “O Flamengo com garra é campeão em tudo, pois na técnica não é superado por ninguém. O grupo tudo esteve bem. Não vou elogiar ninguém particularmente. O mérito do título é todos deles. Mostraram luta e disposição para ganhar a bola em cada pedaço do campo. O time se aplicou do início ao fim na ocupação dos espaços. Não deixamos o Santos jogar. Na preleção pedi aos jogadores para entrarem em campo com o objetivo de não deixar o adversário andar. Jogamos com garra e determinação os noventa minutos”.

Mais do que o time, talvez o mais impressionante foi a própria torcida do Flamengo. Na sua crônica, o grande jornalista botafoguense João Saldanha explicou: “Um fator importante para o título foi o entusiasmo da torcida. Aquele gol logo de cara e à torcida incentivando, realmente foi uma parada. Ninguém segura”. Zico acrescenta: “Foi a confirmação da nossa superioridade no cenário do futebol brasileiro. Lembro que aquela final contra o Santos foi talvez a menos complicada de todas que disputamos. Fiz um gol logo no início do jogo e isso trouxe muita tranquilidade para a equipe. Logo depois, o Leandro fez 2 a 0, o que nos deu a certeza de que o título não escaparia. Ainda mais se levando em consideração que tínhamos o apoio de mais de 150 mil torcedores. Foi mais um público fantástico, que não se vê mais nos dias de hoje. Não podíamos decepcionar tanta gente”. Ao longo do campeonato 1983, Flamengo atraiu em media 59.332 torcedores, sendo ultrapassado apenas pelo próprio Flamengo, em 1980 e 1982.

Tinha um porém, uma dor no coração e na alma. Foi o último jogo da geração de ouro 1978-1983, a maior da história do Flamengo, uma das maiores do futebol em geral, não só brasileiro. Ali no Maracanã cheio, Zico conhecia a maior alegria do mundo e ao mesmo tempo o pior pesadelo. Era campeão pelo Flamengo, mas tinha que deixar o Flamengo, parar de vestir o Manto Sagrado. Procurei uma comparação, mas não tem, é a maior alegria, o pior pesadelo. No templo do futebol, tinha todo mundo para compartilhar a alegria, mas ninguém para aliviar a dor. Fala Zico no livro Zico, 50 anos de futebol de Roger Garcia e Roberto Assaf: “O duro foi você ser campeão, ver a torcida gritando o teu nome e você sabendo que não ia ter mais aquilo, que aquilo tinha acabado, aí foi brabo. Foi assim que comemorei o título. Sabendo que era o último. Não passava pela minha cabeça que eu ia cumprir o contrato e voltar”. E, quando o Dunshee de Abranches foi obrigado a deixar a presidência diante do crime de vender a maior joia da Nação, Zico voltou dois anos depois, voltou a fazer jogos eternos, marcar golaços, conquistar títulos, conhecer a maior alegria no mundo, ser campeão pelo Flamengo.

Para fechar, a palavra para o maior jogador em campo contra Santos, nosso eterno Adílio, no livro Grandes jogos do Flamengo, da fundação ao hexa, também de Roger Garcia e Roberto Assaf: “Esse é o jogo da minha vida. Hoje tenho a certeza de que foi a melhor atuação da minha carreira. Jamais havia me sentido tão motivado para uma partida. Meu filho tinha nascido 20 dias antes. Aquele monte de gente no estádio. Foi pensando neles também que botei para fora tudo que tinha. Logo, a vontade de acertar era tanta que fui mais combativo, destruí muito, ajudei na marcação e até gol acabei marcando. Na hora da decisão, temos que jogar como o técnico quer. E tenho a impressão de que cumpri bem a minha missão. Aliás, depois que vi a bola entrando senti uma sensação estranha, vi o estádio girar, com as bandeiras passando rapidamente na minha frente. Durante alguns segundos perdi a noção do que estava acontecendo, tão forte era a minha emoção. Eu estava mesmo impossível”. Adílio estava impossível e Flamengo era tricampeão brasileiro, na frente do maior público.

6 respostas para “Jogos eternos #180: Flamengo 3×0 Santos 1983”.

  1. Avatar de Jogos eternos #182: Flamengo 7×1 Blooming 1983 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] depois, com vitória contra Santos, recorde de público, show de Adílio e despedida de Zico, um jogo eternizado no Francêsguista na última […]

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  2. Avatar de Jogos eternos #197: Internazionale 1×2 Flamengo 1983 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] 29 de maio de 1983, Flamengo derrotou Santos e conquistou seu terceiro Brasileirão em 4 anos, um jogo eterno no Francêsguista. Mas a torcida não sabia, os jogadores também não, Flamengo perdia ali seu maior craque, sua […]

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  3. Avatar de Psicométrica

    Será que li rapidamente e não achei? Por favor, senhoras e senhores, quem fez o cruzamento para o Adílio na final do brasileiro 1983 que o artilheiro (o Adílio) deu uma cabeçada certeira contra o Santos no gol matador 3 a 0 aos 44 do segundo tempo? Pergunto pois o cruzamento foi perfeito, mas não identifiquei o ponta direita que cruzou. Grazie. Valeusss

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    1. Avatar de francesguista

      Bom dia, foi Robertinho: “Robertinho partiu numa série de dribles para entristecer o Gilberto Sorriso, ganhar espaço e cruzar para a chegada majestosa do Brown Adílio, que cabeceou, brocou, delirou.”

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  4. Avatar de Psicométrica

    Belíssimo texto, parabéns, Franceguista! Será que li rapidamente e não achei? Por favor, senhoras e senhores, quem fez o cruzamento para o Adílio na final do brasileiro 1983 que o artilheiro (o Adílio) deu uma cabeçada certeira contra o Santos no gol matador 3 a 0 aos 44 do segundo tempo? Pergunto pois o cruzamento foi perfeito, mas não identifiquei o ponta direita que cruzou. Grazie. Valeusss

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  5. Avatar de Psicométrica

    *Francêsguista, corrigindo minha referência.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”