Jogos eternos #190: Corinthians 1×3 Flamengo 1992

Hoje Flamengo joga contra o Corinthians no campo deles, onde já ganhou várias vezes na história do Brasileirão. Com quase dois terços do campeonato já jogados e 4 pontos a menos que o líder, Flamengo não pode tropeçar e cada jogo é importante. Para trazer sorte, vamos de um campeonato com Flamengo campeão no final, o Brasileirão de 1992.

No Brasileirão de 1992, Flamengo começou bem com 3 vitórias e 2 derrotas, mas depois passou 6 jogos sem vencer, o último uma derrota contra o Vasco de Edmundo e Bebeto. Era uma outra época do futebol brasileiro e todos os gigantes de Rio e São Paulo tinham grandes jogadores e times competitivos. Com a vitória ainda valendo apenas 2 pontos e a primeira fase de apenas um turno, o campeonato era muito, muito equilibrado. Vasco liderou a primeira fase com 26 pontos, 2 a mais que o segundo, Botafogo. E entre Botafogo e o 14o colocado, Fluminense, teve apenas 6 pontos de diferença. Os 8 primeiros se classificavam para as quartas de final, assim a vitória era muito cara, a derrota ainda mais.

Flamengo reagiu com uma vitória sobre o Athletico Paranaense antes de ir para São Paulo, no Pacaembu. No 12 de abril de 1992, o técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar; Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Fabinho; Marquinhos, Júnior, Uidemar, Zinho; Luís Antônio, Tôto. Do outro lado, tinha nomes como Ronaldo Giovanelli, Paulo Sérgio, Neto e Viola. O Flamengo ficava 4 pontos atrás do Corinthians e a classificação era longe de ser uma certeza. A vitória era obrigação.

Esse jogo tem a marca de um Maestro, não mais de Capacete mas de cabelos grisalhos, um Vovô-Garoto, um ídolo no Francêsguista e no Flamengo, Júnior. Ao pedido do filho, voltou a vestir o Manto Sagrado em 1989, conquistou a Copa do Brasil em 1990, conquistou o campeonato carioca em 1991. Faltava conquistar o Brasileirão, que nesta altura, parecia mais um sonho impossível que uma possibilidade real. Mas era Júnior, craque de sempre e para sempre. Uma prova, aos 38 anos, voltou a ser convocado na Seleção brasileira para um amistoso contra a Finlândia, marcado três dias depois do jogo contra o Corinthians.

E no Pacaembu, Júnior mostrou que ainda no tinha futebol nas pernas, com bola rolando ou na bola parada. Aos 23 minutos de jogo, uma falta a 30 metros de distância, bem no centro. O ambidestro Júnior usou a perna direita, a bola descolou, a curva foi perfeita, a bola pousou na parte interna da trave, morreu no gol. “A gente sabe da trajetória da bola, a gente sabe muitas vezes o que vai acontecer” falou simplesmente depois do jogo o veterano que sabia tudo da bola. Júnior fazia assim seu terceiro gol no campeonato, já um bom número para adicionar com as 5 assistências até então, mas a partir desse momento passou a ser ainda mais decisivo para chegar a um nível excepcional na reta final do campeonato.

Dois minutos depois, Fabinho e Zinho tabelaram na esquerda, bola caiu nos pés de Marquinhos, bola saiu forte em direção do gol. Ronaldo tocou, sem impedir o gol. Ainda no primeiro tempo, de novo uma bola parada para o Maestro Júnior. Essa vez, tocou rápido para Zinho, de pivô para Fabinho, que colocou a bola diretamente na gaveta de Ronaldo. A torcida rubro-negra, que compareceu em bom número no Pacaembu, podia comemorar e relaxar, a alegria e a tranquilidade da torcida se misturavam com as do Violino Carlinhos, Flamengo tinha 3 gols de vantagem.

No final do jogo, o Corinthians fez um gol, sem ameaçar Flamengo de perder os 2 pontos da vitória. O homem do jogo, claro, foi Júnior, que também foi o homem do campeonato. Foi tudo no Brasileirão de 1992, artilheiro e garçom, líder e capitão, Maestro e Vovô-Garoto, professor e exemplo. Liderou o time e a garotada ao penta, depois de dois jogos eternos na final contra Botafogo, 3×0 na ida, 2×2 na volta. Das bolas de ouro do Brasileirão desde 1971, Júnior fez em 1992 uma das campanhas mais marcantes, ao lado de Falcão em 1979, Zico em 1982 e Renato Gaúcho em 1987 par nós flamenguistas, Edmundo em 1997 e Romário em 2000 para os vascaínos, Alex em 2003 e Rogério Ceni em 2008 para os anos mais recentes. Com uma diferença, Júnior tinha 38 anos no passaporte, 20 anos nas pernas e séculos e séculos no conhecimento do futebol.

Uma resposta para “Jogos eternos #190: Corinthians 1×3 Flamengo 1992”.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”