Na hora de escolher o jogo eterno do dia antes da final da Copa do Brasil contra o Atlético Mineiro, fiquei na dúvida: ou o quarta de final contra o Atlético Mineiro em 2006, ou a decisão contra Vasco, também em 2006, também no Maracanã. Sem conseguir resolver o dilema, eternizo os dois, o jogo contra o Atlético Mineiro ontem, o jogo contra Vasco hoje.
Eu torcia muito por um Flamengo x Vasco na final da Copa. Um clássico dos milhões, mais chance de ganhar, mais uma possibilidade de escrever um grande capítulo da rivalidade, mais uma decisão que podia se tornar rubro-negra. Já em 2006, o Vasco vivia um longo jejum nas decisões contra Flamengo, não conquistava um título sobre o rubro-negro desde o campeonato carioca de 1988. O jejum entrava na maioridade, agora duplou, são 36 anos sem o Vasco vencer uma decisão sobre Flamengo.
Eu na França tinha apenas 14 anos de idade e conhecia poucas coisas do Flamengo. Sabia que era o Maior do Rio, o Maior do Brasil, para mim o Maior do Mundo. Eu não conhecia o histórico da Copa do Brasil, bem menor do que a Copa da França, mas sabia que Flamengo estava na final, sabia que jogava contra um rival. Acompanhava as notícias do futebol brasileiro com o site francês Sambafoot e sem qualquer esperança de assistir ao jogo, teve que esperar o dia seguinte para conhecer o placar e esperar ainda mais tempo antes de ver os melhores momentos do jogo.
No 19 de julho de 2006, o técnico Ney Franco, que assumiu o time dois meses antes, escalou Flamengo assim: Diego; Léo Moura, Renato Silva, Fernando, Ronaldo Angelim, Juan; Jônatas, Toró, Renato Abreu, Renato Augusto; Luizão. Do lado do Vasco, destaque para o capitão, um pentacampeão, Edílson.
No primeiro tempo, poucas coisas, a não ser o espetáculo do Maracanã e das torcidas. Em campo, o vascaíno Andrade cobrou uma falta de longe, mas sem conseguir achar o gol. Do lado do Flamengo, Luizão cabeceou, sem força para vencer o goleiro Cássio, nada a ver com o ídolo do Corinthians. Juan quase abriu o placar, mas seu chute apenas flirtou com a trave. No intervalo, ainda 0x0.
E no segundo tempo, o zagueiro rubro-negro Renato Silva se machucou. Ney Franco mudou o sistema e fez entrar o atacante Obina, que já tinha sido decisivo na Copa do Brasil, contra o Guarani e o Atlético Mineiro saindo do banco, contra Ipatinga como titular. Agora, de novo saindo de banco, precisou de apenas 3 minutos para entrar em ação. Renato Abreu lançou na profundidade meu ainda não ídolo Obina, que fez o corte no drible, fez outro drible e cruzou, ganhando o escanteio. O Maracanã explodiu. Segundo as estatísticas, o xG de um escanteio é de 0,02. Ou seja, um escanteio tem 2% de chance de virar gol. Talvez um pouco mais quando tem um cabeceador como Ronaldo Angelim, que se eternizará no clube 3 anos mais tarde, talvez um pouco mais quando se trata de um clássico numa decisão, quando a derrota é impossível, a vitória é obrigação.
No escanteio, na cobrança de Renato Augusto, a bola fugiu de todo mundo e, por milagre, por obra de Deus, voltou nos pés do predestinado camisa 18, do ídolo da Nação, Obina. De voleio, Obina mandou diretamente a bola na gaveta, sem chance para o Cássio vascaíno, o Cássio corintiano ou qualquer goleiro do mundo. Obina golaçou, o Maracanã explodiu, o Flamengo estava na frente.
O Maracanã explodiu e pegou fogo nos dois minutos seguintes. Obina, de novo ele, abriu na direita para o lateral Léo Moura, que cruzou até a cabeçada de um cabeceador letal, de um camisa 9 matador, de um outro artilheiro pentacampeão, Luizão. O vencedor da Copa Libertadores 1998 com o Vasco subiu, cabeceou, golaçou. Não era apenas o Maracanã que explodia de alegria, era uma Nação inteira, no Brasil inteiro, até em outros países e continentes, para quem era ou não brasileiro, para quem era flamenguista.
Em 2006, ainda não tinha visto ao vivo um jogo do Flamengo. Poucas vezes tinha assistido aos melhores momentos dos jogos. Sem falar português, morando na França, tinha pouco acesso às informações sobre o clube e por exemplo não tenho lembrança do jogo contra Paraná em 2005, um jogo agora eternizado no blog. Assim, tenho uma certeza quase absoluta que foi com esse jogo que virei fã absoluto do Obina, para sempre meu primeiro ídolo rubro-negro.
E mais, Flamengo vencia a primeira final 2×0 e já colocava uma mão no troféu. Faltava ao Vasco apenas 90 minutos para impedir a lógica, impedir a freguesia.








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