Jogos eternos #249: Flamengo 2×2 Botafogo 2007

Flamengo volta a jogar contra o Botafogo, dez dias depois de conquistar a Supercopa do Brasil. Vamos então para um outro título em cima do Fogão, o campeonato carioca de 2007. Já escrevi em outras crônicas que meu primeiro título de torcedor “consciente” do Flamengo foi a Copa do Brasil de 2006, conquistada em cima de outro rival, Vasco. Porém, na minha França, não tinha imagens dos jogos, conhecia mal os jogadores, não tinha o prazer de os ver jogar, os ver brilhar com o Manto Sagrado. O ano de 2007 foi diferente.

Em 2007, comecei a acompanhar em vídeo os melhores momentos de cada jogo, as notícias, o calendário. Eu tinha Bruno, Léo Moura, Renato Abreu, Renato Augusto e claro, Obina, como ídolos. Tinha a chegada no Flamengo de Maxi Biancucchi, primo de Messi, e jogo a 4.000 metros de altitude na Bolívia como notícias intrigantes, diferentes da Europa. E claro, tinha a Copa Libertadores como sonho. E como decepção já. Depois de uma fase de grupos quase perfeita, três dias depois de um 2×2 no jogo de ida da final do campeonato carioca, Flamengo perdeu 3×0 no Uruguai contra Defensor, quase matando a esperança de uma classificação. Agora era vencer o campeonato carioca e acreditar na virada.

Na ida da final do campeonato carioca, Flamengo e Botafogo empataram em jogo de 4 gols e 3 expulsões. O placar mantinha todos os roteiros possíveis e, por uma vez, simples. Quem ganhava o jogo levava a taça, em casa de novo empate, tinha a disputa de penalidades temida, um pouco menos quando tem um goleiro como Bruno. No 6 de maio de 2007, o técnico Ney Franco escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Irineu, Ronaldo Angelim, Juan; Paulinho Jaú, Jaílton, Renato Abreu, Renato Augusto; Roni, Souza.

O Maracanã era cheio, com 63.614 pagantes, e vibrava diferente do que hoje. O campeonato carioca também, tinha um toque ainda raiz, dia lindo, Maraca cheio, clássico decisivo. Eu me apaixonei tão rapidamente, tão profundamente com o Flamengo, e o Maracanã, a Nação, o futebol diferente da Europa, foram tão importantes que o próprio time, que o Manto Sagrado. O primeiro tempo foi equilibrado, com vários lances de cada lado, e grande defesa de Bruno em cima de Zé Roberto, tão importante para Flamengo dois anos depois na conquista do Hexa. Do lado do Flamengo, o capitão Renato Abreu ameaçou de longe, mas chutou fora do gol. No intervalo, 0x0, a disputa de penalidades ameaçava.

Tinha antes ainda 45 minutos de futebol, de bom futebol. Nessa época, eu me afastava um pouco, até muito, do futebol europeu, e reencontrava com o futebol brasileiro minha paixão. Com o Flamengo ainda mais. Nada melhor que um gol do Flamengo, no Maracanã cheio, num clássico de decisão. E o gol chegou, com participação de ídolos só. No seu estilo particular, Léo Moura puxou o ataque rápido e num drible à la Cristiano, fez o passe para Renato Abreu no círculo central. O Urubu-Rei, batizado assim quando inflamou a reação do Flamengo no jogo de ida, abriu na esquerda de trivela para a chegada da Juan. Nenhuma dupla de laterais me deu tanto prazer no Flamengo que Léo Moura – Juan, não vi Leandro – Júnior ou Jorginho – Leonardo, e a dupla Rafinha – Filipe Luís não teve tanto destaque, tanto carinho no meu coração rubro-negro. Voltando ao Maracanã, Juan ganhou de Joílson na corrida, no duelo, invadiu a grande área e cruzou certinho. Com raça e coração, de carrinho, Souza se jogou e fez o gol, a comemoração de punho cruzado, a alegria do Maraca.

A alegria durou pouco tempo. Quatro minutos depois do gol do Flamengo, Lúcio Flávio cobrou uma falta, Juninho cabeceou e empatou. Nem teve tempo para antecipar a disputa de penalidades. Quatro minutos depois, numa dupla tabelinha entre Jorge Henrique e Dodô, o artilheiro dos gols bonitos antecipou a saída de Bruno, fez o golaço do cobertura, virou para o Fogão. Botafogo dominava e parecia perto do terceiro gol. Na altura da marca de penalidade, Dodô chutou forte, Bruno espalmou, bola até quicou no travessão. Logo depois, na grande área, Joílson chutou para fora, em seguida Bruno fez outra defesa depois de chute de Dodô. A Nação aliviada, Flamengo ainda respirava.

O jogo era complicadíssimo, a torcida esperava o empate antes de pensar na vitória. Aos 28 minutos do segundo tempo, o zagueiro botafoguense afastou o perigo, chutando na bola. “Acaba de chegar São Judas Tadeu” teria dito Apolinho. Renato Augusto, que tinha completado 19 anos no início do ano e já era titular absoluto e camisa 10, fazendo até gol na decisão da Taça Guanabara, matou de peito aos 35 metros do gol do Botafogo. Fixou Leandro Guerreiro, abriu um pouco de espaço no pé direito, arriscou de longe. Golaço. A bomba foi morrer na rede de Max, matou o torcedor botafoguense, quase matou de alegria o torcedor do Flamengo. No placar, 2×2, antes de pensar na vitória, tinha de pensar na disputa de penalidades.

O jogo tinha mudado, agora era Flamengo que dominava, Renato Abreu até quase fazendo gol olímpico. Tudo podia acontecer, no contra-ataque, Lúcio Flávio recebeu sozinho na grande área, chutou de primeira, Bruno fez outra defesa milagrosa. Dodô também chegou na grande área, até driblou Bruno, mas Léo Moura chegou, salvou, tomou a pancada de Dodô, que tomou o cartão amarelo justo. Aos 45 minutos do jogo, o último suspiro, Dodô foi lançado na profundidade, em condição de gol. O bandeirinha, que já tinha errado no primeiro tempo marcando impedimento inexistente de Souza, errou de novo e marcou outro falso impedimento. Frustrado, Dodô chutou no gol e levou o segundo cartão amarelo severo porém compreensível, impedindo assim sua participação na disputa de penalidades que se aproximava. Começava ali o chororô botafoguense.

Apesar da reclamação dos botafoguenses, o técnico Cuca falando até exageradamente de uma “covardia”, o juiz apitou o final do jogo, o início da disputa de penalidades. O rubro-negro tinha a vantagem psicológica por causa do goleiro Bruno, que tinha defendido dois pênaltis na semifinal da Taça Guanabara contra Vasco, começando ali uma idolatria que acabou tristemente em 2010. Ainda mais que Botafogo jogava com seu goleiro reserva depois da expulsão de Júlio César na ida. No Maracanã, era a hora do bicampeonato para Botafogo ou do início do tricampeonato para Flamengo. Na primeira cobrança, Lúcio Flávio. No gol, Bruno, que fez o primeiro milagre, saindo do lado certo, defendendo uma primeira cobrança. O Urubu-Rei Renato Abreu pegou muita distância antes de cobrar, mas chutou mais colocado que forte, chutou no gol, colocou Flamengo na frente. Em seguida, outro capitão, agora do Botafogo, Juninho, cobrando aos gritos “Bruno” do Maracanã. Bruno saiu bem, desviou a bola, que parou no travessão. Bruno fazia a segunda defesaça, já era quase a hora de gritar “É campeão”.

No contrapé, Maxi colocou dois gols de vantagem para o Mengo. Em seguida, Túlio Guerreiro fez, Juan igualmente fez. Já com cobrança valendo título, Juninho chutou forte e adiou um pouco o título rubro-negro. De um pouco só. Léo Moura, outro que perdeu a idolatria para mim, ainda que por motivos bem menos graves do que Bruno, cobrou, chutou, decidiu o título. Quem segurava a respiração podia respirar, quem rezava podia agradecer o Deus rubro-negro, quem exultava podia gritar, quem chorava podia chorar mais, de alegria para o flamenguista, de ódio e raiva para o botafoguense. Rio vibrava com seu campeonato, o Maracanã respirava rubro-negro, Flamengo era o campeão.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”