O Mundial de clubes começou agora de verdade. Eu estava ansioso para o torneio, apesar de não ser perfeito. Lamento o critério das vagas oferecidas, com vantagem para os europeus. Também lamento a sede ficar nos Estados Unidos, dando ao torneio um clima de torneio de pré-temporada europeia. Teria sido muito mais legal a competição acontecer no Brasil, porque os brasileiros sempre valorizaram o Mundial de clubes. E valorizam ainda mais hoje. Agora o clima é de Copa do mundo.
Estava ansioso para a competição e a possibilidade de assistir aos jogos com meu tão amado consulado Fla Paris. O sorteio ofereceu uma sorte contrastada. Com dois jogos às três da manhã, tinha apenas um jogo que era possível de assistir em Paris. Mas era contra o maior adversário, Chelsea, uma sexta-feira, véspera de festa da música. Um clima de Copa do Mundo. Porém, até o dia do jogo, eu não estava tão ansioso. Flamengo estreou bem na competição com vitória sobre Espérance de Tunis e tinha a possibilidade de se classificar na última rodada contra LA Galaxy, mesmo com derrota contra Chelsea.
No Mundial dos clubes, eu tenho uma posição esquizofrênica em relação os clubes brasileiros. Torço para ver o futebol brasileiro, e até sul-americano, brilhar. A Europa se considera muita superior ao resto do mundo e ver o futebol sul-americano lutar pela vitória, até alcançar, é uma coisa linda de ver. Mas mesmo assim, a rivalidade é forte e acho que ficaria feliz com a eliminação dos outros clubes brasileiros. Dias atrás, estava otimista com uma vitória do Flamengo sobre Chelsea, porém com um pouco de superstição, achava que a vitória do Botafogo sobre Paris pegou a vez de Flamengo e não seria possível ter duas vitórias consecutivas contra os europeus.
Assim, comecei o dia do 20 de junho sem ficar muito ansioso, nada a ver com a ansiedade antes de uma final de Copa Libertadores. Também cheguei no Fleurus, antiga sede do consulado Fla Paris e de volta para esse jogo, sem muito estresse. Mas meu amigo Waldez chegou, com uma animação de clima de Copa do mundo, de jogo decisivo. O jogo já tinha começado. Trinta minutos antes do jogo, já tinha 30 pessoas e a previsão era de casa cheia. O bar não é tão grande e ficou superlotado. No final, umas 80-100 pessoas, um dos encontros mais lindos do consulado já antes de bola rolada.
Antes do jogo, começaram os cantos como poucas vezes vi no consulado, talvez só numa final de Copa Libertadores. Bola rolando, Flamengo começou bem o jogo mas tomou o primeiro gol numa vacilada da defesa, na verdade ainda no meio de campo. Aqui era a dura realidade do futebol europeu. Um time, mesmo não jogando bem, aproveita de um erro e garante vantagem no placar. O resto do primeiro tempo, ainda com muitos cantos, viu um Flamengo jogando bem, porém sem conseguir o empate.
Com calor de verão parisiense e bar lotado, aproveitei do intervalo para respirar fora e falar do jogo. Flamengo estava bem e a esperança ainda era de virada. Se dá para empatar, dá para virar. Lá fora, o amigo Perceu perguntou quem devia entrar no segundo tempo. Fui olhar os jogadores disponíveis no banco e o nome de Bruno Henrique foi o destaque na minha cabeça, no meu coração, de tanto ídolo que ele é, de tantos jogos que decidiu. Lembro também que antes do segundo tempo começar, Waldez falou que a gente já tinha visto Flamengo fazer dois gols em 5 minutos. Claro, o Milagre de Lima, um jogo que já assisti com Waldez e todo o consulado. Na Fla Paris, Waldez tem uma fama de ser pé frio e alguns falaram disso no jogo de ontem. Cortei, hoje pé frio não tinha, a vitória era nossa.
No início do segundo tempo, Gerson invadiu a grande área e chutou. O chute foi desviado e chegou até Gonzalo Plata. O gol era tão certo que já comemorei antes da bola ir na rede, o que ela não fez. Acho que a última vez que tanto xinguei um jogador do Flamengo foi Lincoln contra Liverpool em 2019. Acho que foi muito gol perdido, um lance que poderia ter definido o jogo. Ainda mais que no minuto seguinte, Léo Pereira quase fez gol contra, a bola passando por centímetros na trave de Rossi. A sorte era do Mengo.
Bruno Henrique entrou no jogo e estranhei. Não por causa de BH, falei que queria o ver em campo, mas porque o substituído foi Arrascaeta. Nessa hora, já queria Gonzalo Plata sair do jogo, talvez até do Flamengo. Também tinha medo de perder a criatividade de Arrascaeta, o poder de decisão, mas verdade que o craque uruguaio apareceu pouco no jogo. Um amigo na minha esquerda, não lembro quem, falou que tinha que confiar no trabalho de Filipe Luís. Concordei, tinha que confiar, confiei. Na hora de jogo, cinco minutos para Bruno Henrique, Gerson tabelou com Bruno Henrique e abriu na esquerda para Plata, que dominou, cortou na direita e chutou atrapalhado. Não foi gol perdido, mas também não foi bonito e eu tinha tanta raiva que o xinguei ainda mais.
E um minuto depois, a consagração. No início da jogada, ainda Gerson, que aproveitou da ultrapassagem de Wesley para ter espaço e cruzar. E no cabeceio, Plata foi perfeito, fora de alcance do goleiro ou da zaga dos Blues, perfeito para a chegada de um ídolo, Bruno Henrique, quase na mesma posição de Plata no gol perdido. Só que agora era Bruno Henrique, com uma carreira de muitos gol e títulos, com uma idolatria de poucos. Bruno Henrique fez o gol, fez a alegria da Nação, de Filadélfia a Rio de Janeiro, de Paris a qualquer lugar do mundo. Poucas vezes comemorei tão forte, tão intensamente, um gol. Era mais que um clima de Copa do Mundo, porque agora tinha meu maior amor, o Flamengo.
E três minutos depois, a eternidade. Uma jogada semelhante, agora de escanteio, na esquerda, agora Bruno Henrique virando garçom, de cabeça, na segunda trave, agora para Danilo, no fundo da rede. Em três minutos, Flamengo virou, já escrevendo um dos capítulos mais lindos de sua história. Com a luz do sol e a arquibancada rubro-negra, o estádio de Filadélfia virou Monumental de Lima, o Fleurus virou Maracanazinho. Abracei os amigos e os não conhecidos, cantei, gritei, quase chorei, tinha uma felicidade que quase virava insanidade.
Nicolas Jackson, atacante de Chelsea, facilitou o jogo para o Mengo com uma expulsão e quase não tremei no resto do jogo. E Filipe Luís confirmou que tem estrela como técnico do Flamengo. Wallace Yan entrou no jogo e no minuto seguinte, combinou com Plata, com um pouco de sorte (a sorte do campeão?), foi sozinho na frente do gol, botou a bola no gol e a alegria no meu coração. O consulado Fla Paris tinha uma noite de sonho e já um canto: Em junho de 2025, botou os ingleses na roda, 3×1 contra Chelsea, ficou marcado na história.
Além da vitória, a noite foi um sucesso, com o final da campanha de alimentos, um pilar do projeto das embaixadas e consulados, abraçado pelo povo parisiense e rubro-negro. Outro pilar é reunir flamenguistas, reunir pessoas com uma mesma paixão. E até quem ainda não é apaixonado. Um de meus amigos franceses, Mathieu, foi ver o jogo no Fleurus. Apaixonado pelo Brasil e a América do Sul, falou antes do jogo que ainda não tinha time de coração no Brasil. Ao se despedir, me falou que agora tinha um time, Flamengo. Já escrevi que a paixão do rubro-negro é contagiante e ontem foi mais uma prova.
Depois do jogo, entre sorrisos bobos de felicidade, algumas cervejas, risadas e sonhos. Antes do jogo, eu só tinha antecipado as oitavas de final, com o desejo de escapar do Bayern. Agora com a classificação garantida, e o primeiro lugar, ainda tem a esperança de jogar contra Benfica ou Boca Juniors, dois adversários que Flamengo pode vencer, e já vejo mais longe. Com a vitória do Botafogo, tem a possibilidade de escapar do Paris Saint-Germain nas quartas de final, tem a possibilidade de sonhar com uma semifinal, talvez ainda mais. Ainda tem jogos, ainda tem Flamengo, ainda tem um Mundial, em que entrei de vez.








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