Jogos eternos #351: Flamengo 3×1 Chelsea 2025

Flamengo tem um retrospecto equilibrado contra o Paris Saint-Germain: uma vitória, um empate e uma derrota. No Mundial de clubes de 2025, estava louco para ver um Flamengo x Paris SG nas quartas de final, mas não aconteceu. Assim, aproveitei, meses depois, do dia aniversário para eternizar no blog a vitória do Flamengo sobre o PSG em 1975. Fechei a crônica assim: “Com um retrospecto equilibrado, o quarto jogo ainda se fez esperar”. E agora, chegou a hora.

Sem opção de jogo contra Paris, eu vou de um confronto contra outro clube europeu, no já falado Mundial de clubes. Na época da eliminação do Mundial de clubes de 2023 contra Al-Hilal, eu tinha escrito que “a frustração é ainda mais forte que era a última chance de ganhar o Mundial de novo. O próximo Mundial será com 32 times, a metade vindo da Europa. É possível de passar a primeira fase, de fazer um ou dois milagres na fase final, mas ganhar o Mundial é tipo uma seleção africana ganhar a Copa do Mundo hoje. 0,1% de chance”. E a história provou que eu estava certo. Alguns times fora da Europa, Flamengo incluindo, foram bem, Flu chegando até a semifinal, mas na final, foi um duelo europeu, entre Chelsea e Paris.

Só que o antigo Mundial continuou a existir, virou Copa Intercontinental, com um calendário anual e um formato próximo do que era. Para Flamengo, virou três jogos em vez de dois. Para o europeu, apenas um jogo, a final. De novo, tem a possibilidade de ser campeão mundial vencendo apenas uma vez um gigante europeu. De novo tem a possibilidade de ser bicampeão mundial. Assim, eu vou de um jogo eterno contra Chelsea, o atual campeão mundial, vencendo Paris na final.

No Mundial de 2025, Flamengo estreou bem, com vitória sobre o Espérance de Tunis. Assim, tinha uma certa tranquilidade antes do jogo contra Chelsea, podia até perder e seguir vivo na competição. Mas tinha a possibilidade de terminar no primeiro lugar com uma vitória e ter uma tabela teoricamente mais fácil na fase final. Flamengo jogava para vencer, como sempre. Em 20 de junho de 2025, o técnico Filipe Luís escalou Flamengo assim: Rossi; Wesley, Danilo, Léo Pereira, Ayrton Lucas; Erick Pulgar, Jorginho, Gerson, Arrascaeta; Luiz Araújo, Plata.

Flamengo começou bem o jogo, com um chute de longe de Ayrton Lucas. Chelsea respondeu logo depois com Delap, Rossi fez a defesa. Com tranquilidade, Flamengo aplicava seu jogo de passes e jogava de igual para igual. Porém, o realismo era inglês. Numa dupla falha, Wesley deixou Pedro Neto no cara a cara com Rossi, o português não falhou e abriu o placar para Chelsea. O jogo se complicava. No final do primeiro tempo, Colwill salvou uma bola em cima da linha e impediu o empate rubro-negro. Flamengo estava bem no jogo, mas estava atrás no placar. Precisava mudar, precisava mexer.

No início do segundo tempo, teve um lance quase igual ao do gol de Chelsea, mas para o Flamengo. Gerson ganhou a bola no campo dos Blues, mas perdeu um pouco de tempo, um pouco de espaço. O chute foi desviado. No rebote, Plata tinha o gol aberto, mas pegou mal e chutou para fora. O realismo era do Chelsea, o lamento do Flamengo. Eu assistia ao jogo no Fleurus com meu amado consulado Fla Paris e xingava com todo meu ódio o Gonzalo Plata. Logo depois, Filipe Luís mexeu com a saída de um ídolo, Arrascaeta, para a entrada de um outro ídolo, Bruno Henrique.

Na sua primeira bola, depois de boa triangulação na direita, Bruno Henrique tabelou com Gerson, que achou do outro lado Gonzalo Plata. O equatoriano tinha espaço para chutar, mas se precipitou e pegou mal de novo, permitindo a defesa de Sánchez. E eu xingava ainda mais, com mais ódio, era um jogo de emoção. No escanteio, Luiz Araújo cobrou mal, mas se precipitou para evitar a saída da bola no rebate da defesa inglesa. A bola foi do lado esquerdo até o direito com troca de passes curtos. Luiz Araújo, Ayrton Lucas, Pulgar, Wesley, Gerson. O capitão cruzou bem, na segunda trave, para o Plata que eu não parava de xingar. Mas essa vez Plata viu o que eu, confortavelmente sentado no Fleurus, não tinha visto. Plata fez um passe de ouro, de cabecinha, do outro lado do gol, para a chegada do ídolo Bruno Henrique, para o gol fácil. Com todo meu amor, comemorei o gol de empate e já queria mais emoção, já queria a virada.

E três minutos depois, outro escanteio, agora da direita. De novo, Luiz Araújo na cobrança, agora bem batida. De novo na segunda trave, de novo o artilheiro Bruno Henrique, que virou garçom. Outro passe de cabecinha, de novo para o outro lado do gol, para a chegada consagrada de um futuro ídolo, Danilo. De novo bola na rede. O Fleurus em Paris explodiu, o estádio na Filadélfia explodiu, o Brasil inteiro explodiu, a América do Sul, quase o mundo inteiro. Em três minutos, Flamengo virou, escreveu história. Vale citar o narrador francês da DAZN, em versão original, na hora do gol: “Le corner de Araújo, cette fois il a réussi, il est prolongé! En deux minutes, ils ont tout retourné, parce que c’est Flamengo, un monument du football brésilien”. Tradução livre: “O escanteio de Araújo, essa vez conseguiu, foi prolongado! Em dois minutos, viraram tudo, porque é Flamengo, um monumento do futebol brasileiro”. Era Flamengo, um gigante do futebol, um campeão mundial.

Na sequência da virada, Jackson deu pisão em Ayrton Lucas e foi diretamente expulso. A vitória parecia cada vez mais real. E de novo o predestinado Filipe Luís mexeu perfeitamente com as entradas de Varela e Wallace Yan. Na sua primeira bola, Varela abriu na direita para Plata, que jogou com Wallace Yan. Na sua também primeira bola, Wallace Yan tocou de sola para completar a tabelinha em um toquinho, enganando completamente o campeão europeu Cucurella. Plata entrou na grande área e achou de novo Wallace Yan. E de novo a tabelinha, com um toque de gênio do jovem de 20 anos, agora de calcanhar. Plata recuperou e chutou. Com a sorte de campeão, a bola tocou nos pés de Wallace Yan e seguiu viva. O jovem craque não perdeu tempo, chutou, golaçou. Era o gol do 3×1, da vitória inesquecível, da virada histórica.

E 44 anos depois de Tóquio, Flamengo marcava de novo a história, contra outro time inglês. Só que agora vencer um europeu não era suficiente para se tornar campeão mundial. Pior ainda, com a vitória, Fla fechou a fase no primeiro lugar, mas com outras surpresas em outros grupos, pegou uma tabela bem mais difícil na fase final. O que era para ser Benfica, Palmeiras e Fluminense, virou Bayern nas oitavas, depois teoricamente Paris Saint-Germain e Real Madrid. Era possível de passar a primeira fase, de fazer um ou dois milagres na fase final, mas ganhar o Mundial é tipo uma seleção africana ganhar a Copa do Mundo hoje. 0,1% de chance. Só que hoje, depois de conquistar o Derby das Américas e derrotar o campeão da Copa África-Ásia-Pacífico, Flamengo precisa vencer apenas uma vez um gigante europeu para conquistar de novo o Mundo.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”