Times históricos #36: Flamengo 2006

Nesse momento de final de Copa do Brasil, volto para uma temporada com Flamengo conquistando a Copa nacional, a segunda da história do clube. Em 2006, Flamengo saía de anos lutando contra o rebaixamento. Um título nacional não vinha desde a Copa dos campeões de 2001. Eram anos difíceis, de poucas alegrias.

Em 2005, Flamengo, apesar de ainda lutar pela permanência na Série A até o último momento, começou a mudar, com a chegada de ídolos: Léo Moura, Renato Abreu e Obina. Em 2006, teve os reforços de Juan e Ronaldo Angelim. O goleiro Bruno também chegou, mas assim como Léo Moura, contudo por motivos bem mais graves, também perdeu a idolatria. A diretoria contratou o pentacampeão Luizão e ainda teve a volta do ídolo Sávio, porém sem brilho: 10 jogos e nenhum gol. Teve até o filho de Zico, Thiago Coimbra, que fez apenas um jogo com o Flamengo. Mas era muita pressão, muitas comparações e o filho não vingou no futebol, muito menos no Flamengo. Zico, só tem um, até na família.

A temporada de 2006 começou mal e Flamengo teve que esperar a quinta rodada do campeonato carioca para finalmente vencer um jogo! Em amistosos no Uruguai, Fla perdeu tanto contra Peñarol que contra o Nacional. De volta no campeonato carioca, empatou 3×3 contra Friburguense. Na estreia da Copa do Brasil, também empatou, 1×1 contra ASA. Porém, o gol foi marcado por Ronaldo Angelim. Flamengo começava a mudar na temporada.

Uma nova derrota no campeonato carioca, contra Madureira, foi o fim da linha para o técnico Valdir Espinosa, substituído por Waldemar Lemos. O time não melhorou e foi eliminado depois de uma derrota contra Vasco. Com apenas duas vitórias em 11 jogos, Flamengo terminou o campeonato carioca na penúltima posição. Depois do estadual, teve outras contratações, contrações ruins, com provavelmente o pior pacote da história do Flamengo. O trio Léo Medeiros – Walter Minhoca – Diego Silva chegou junto de Ipatinga. A foto dos três juntos ainda dá pesadelos. Eram anos difíceis, de poucas alegrias.

No segundo semestre, tinha basicamente dois Flamengos: o Flamengo do Brasileirão e o Flamengo da Copa do Brasil. Na estreia do Brasileirão, perdeu contra o São Paulo, logo depois também perdeu contra o Internacional e Cruzeiro. Na Copa do Brasil, goleou ABC, também goleou Guarani. E mais, goleou 4×1 o Atlético Mineiro, um jogo eterno no Francêsguista, com mais um show de Renato Abreu. A semifinal contra Ipatinga foi mais difícil, mas teve gol de meu ídolo Obina na ida, gol de Renato Abreu na volta, já o sexto dele na competição. E no final, Flamengo na final.

Na criação do blog, escrevi que eu era brasileirão no coração e flamenguista na alma. Minha primeira lembrança de futebol é a Copa de 1998, na França onde nasci. Mas me apaixonei pela amarelinha, pela magia de Ronaldo Fenômeno. Tinha 6 anos recém-completados e na final, entre meu país natal e meu país de adoção, torci pela Seleção. Torcia tanto que chorei copiosamente com a derrota do Brasil. Na verdade, não lembro direito, foi minha mãe que contou, falando que ela até chorou também de me ver tão triste.

Depois disso, foi só Brasil, apenas Brasil, sempre Brasil. Também queria saber do futebol de clubes, dos ídolos ainda jogando no país. Mas na França, numa época sem Internet ainda, tinha quase nada sobre o futebol de fora de Europa. De tanto rara que era, lembro das pequenas coisas que tinha sobre o Brasil, uma matéria de Onze Mondial sobre Vasco, as imagens das pedaladas de Robinho em 2004 no Telefoot, os resultados do Brasileirão na revista France Football. Lembrava que olhava especificamente os resultados do Flamengo, sem saber ainda o nome dos jogadores, as regras do campeonato, a luta contra o rebaixamento.

Em 2005, já com Internet, descobri o site francês Sambafoot, que falava sobre a Seleção, os jogadores brasileiros na Europa e um pouco sobre o futebol local. Mas Flamengo estava mal e minha primeira lembrança forte é do São Paulo que venceu o Mundial contra Liverpool. Em 2006, teve outro França x Brasil na Copa, outra atuação magistral de Zidane, outras lágrimas de tristeza para mim. Na minha França, eu era só Brasil. E no Brasil, eu era só Flamengo. No mesmo mês de julho, teve a final da Copa do Brasil entre Flamengo e Vasco. Já sabia que Vasco era rival, já conhecia alguns nomes do time, meu primeiro ídolo Obina, o meia artilheiro Renato Abreu, talvez a dupla de laterais Léo Moura e Juan. É difícil de lembrar exatamente, só lembro de minha ansiedade na casa de meu padrinho acessando ao Sambafoot, talvez para saber o placar, talvez no pré-jogo ainda, talvez no jogo de ida, quem sabe no jogo de volta.

Certeza que Flamengo venceu os dois jogos contra Vasco. Na ida, gols de meu ídolo Obina e de Luizão, que jogou pouco tempo no Flamengo, mas honrou o Manto. Na volta, gol de Juan, para efetivar o título, para consagrar o Flamengo, para deixar mais uma vez o Vasco no vice. A invencibilidade do Flamengo sobre Vasco em decisões chegava à maioridade. Fazia 18 anos que Flamengo não perdia uma decisão contra Vasco. E a série ainda tá viva, chegando agora aos 37 anos. De minha vida, de flamenguista consciente ou só na alma, nunca vi Flamengo perder uma final contra Vasco.

Flamengo era o bicampeão da Copa do Brasil, chegando ao título em cima do maior rival. A temporada já era um sucesso. Teve no Brasileirão algumas alegrias, alguns jogos memoráveis, até eternizados no blog: um 2×2 contra São Caetano com dois golaços de falta de Renato Abreu, uma vitória 4×3 sobre Fortaleza com hat-trick de Obina, uma goleada 4×1 no Fla-Flu com dobletes de Obina e Renato Abreu. Basicamente, a temporada de 2006 foi isso, o brilho de Obina e Renato Abreu, os artilheiros do time no Brasileirão, respectivamente com 11 e 10 gols. O último gol de Obina no campeonato foi um golaço com homenagem a filha recém-nascida e comemoração à la Bebeto para vencer o Góias 1×0 e escapar de qualquer risco de rebaixamento. Foi um Brasileirão modesto, mas bem menos sofrido que os últimos.

Flamengo ainda teve três derrotas consecutivas, sem nenhum gol marcado, e fechou a temporada com uma goleada 4×1, de virada, sobre São Caetano. Hélder fez dois gols, seus únicos com o Manto Sagrado. Ronaldo Angelim também fez um, de um cabeceio mortal, ainda não imortal. Como um símbolo, o último gol da temporada foi marcado por Renato Abreu, o jogador que mais jogou e marcou no Flamengo em 2006, 18 gols em 53 jogos. Flamengo fechou o Brasileirão no 11.o lugar, bem no meio da tabela. Mas tinha mais importante, tinha o título em cima do Vasco, tinha a volta na Copa Libertadores. E eu na França, como torcedor rubro-negro ainda novo nos olhos e na cabeça, raiz no coração e na alma, tinha muitas coisas a descobrir com o maior amor de minha vida.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”