O Sávio é um ídolo de uma geração no Flamengo. Comecei a acompanhar o Flamengo de perto entre 2005 e 2006, meu primeiro ídolo foi Obina, de quem já falei aqui. Mas para quem começou a acompanhar o Flamengo em 1994, o nome de Sávio como primeiro ídolo é evidente.
Sávio Bortolini Pimentel nasceu no Espírito Santo no 9 de janeiro de 1974, e em 1988, com 14 anos, já era do Flamengo. Torcedor do clube, foi observado pelo Flamengo num torneio em Vitória: “No meio tempo, o meu pai disse que o diretor do Flamengo me pediu. Eu falei: ‘Pai, pelo amor de Deus é meu sonho’. Em 92, eu subi e o saudoso Carlinhos, que eu sempre tive um carinho grande, me efetivou no profissional. Eu participei de todo processo. Tinha o Júnior, o Zinho e outros craques”, relembra Sávio para Colunadofla. Começou no Flamengo, com o coração já flamenguista.
O ano de revelação foi 1994 com um dos melhores jogos, não só de Sávio, mas de um jogador com a camisa do Flamengo, o 2×0 contra Palmeiras no Maracanã. Um dia, falarei mais em detalhes desse jogo. Nesse momento, Sávio já era da Seleção, estreando contra a Islândia. Ele tinha habilidade e muita classe, ao ponto de ser comparado ao Zico. Apenas isso. Chegou a ser nomeado Diabo Loiro, mas depois virou eternamente Anjo Loiro. Sávio explica: “Anjo ou Diabo Loiro? Hoje é Anjo. Quem me deu esse apelido foi o Januário de Oliveira, um dos maiores narradores do futebol brasileiro. Tinha bordões incríveis, improvisos muito legais. Teve um momento no Carioca, acho que em 94, que eu fiz gol e ele disparou ‘Diabo Loiro da Gávea’. Mas a avó da minha esposa é muito católica, e o ‘Diabo’’ incomodava muito ela. Ela dizia: ‘Sávio, eu sei que é com carinho, mas eu não gosto desse apelido!’. Ela se encontrou com o Januário uma vez, foi pedir pra ele, ‘não chama mais meu Savinho de Diabo? Pra mim ele é um anjo!’. E, no jogo seguinte, eu fiz o gol e ele trocou o meu apelido pra Anjo Loiro da Gávea”.
Em 1995, se firmou na Seleção e buscava um título com o Mengão, ano do centenário. Sávio foi artilheiro da Copa do Brasil, fazendo um jogo eterno contra o Grêmio mas Flamengo foi eliminado pelo próprio Grêmio nas semifinais. Flamengo também não ganhou o campeonato carioca, não ganhou o Brasileirão, não ganhou a Supercopa Libertadores. Sávio merecia um título esse ano, Flamengo merecia um título. Um time que tem Sávio e Romário no ataque é um pesadelo para os adversários. Acho que contratar Edmundo foi um erro. Um time que tem Edmundo e Romário no ataque juntos é um pesadelo para o próprio time. O Flamengo ganhou nada no ano do centenário e Edmundo saiu. Sávio falou depois sobre essa época, mostrando que ele era muito flamenguista, nunca se colocando acima do clube, que é a qualidade indispensável do verdadeiro ídolo: “Criaram essa coisa de melhor ataque do mundo e isso sempre atrapalhou. Era realmente um grande ataque, mas o resto do time era muito fraco. É só pegar o elenco e olhar. Além disso, era muita bagunça. O fracasso em campo era apenas um reflexo de tudo que acontecia do lado de fora. Todo mundo via aquela zona. Não tinha como dar certo. As principais peças do time não entendiam que a instituição Flamengo estava acima dos interesses pessoais. Era muita vaidade, muita individualidade. O ego atrapalhou o que o time tinha de melhor”.
Flamengo voltou a ganhar em 1996, Sávio sempre jogando bem. Foi campeão invicto do campeonato carioca, com 18 vitórias e 4 empates, inclusive o jogo do título, um 0x0 contra Vasco. Conquistou também a Copa de Ouro, um torneio organizado pela CONMEBOL, que convidou quatro times: Rosário Central, Grêmio e São Paulo também participaram. Na final, Flamengo venceu São Paulo 3×1, com três gols de Sávio. Apenas isso. Mas a Taça foi levantada em Manaus, na frente de apenas 4.680 torcedores e o título não faz parte das grandes conquistas da história do Flamengo.
Quem faz parte da história do Flamengo é o próprio Sávio. Jogou ainda em 1997, onde fez um jogo eterno contra o Real Madrid, sendo decisivo nos três gols da vitória por 3×0. Sávio jogou tão bem que acabou contratado pelo Real Madrid. Minhas lembranças de criança apaixonado pelo futebol com Sávio começam nesse momento. Eu era fã do Real Madri, virei fã do Sávio, que virou tricampeão da Liga dos campeões, campeão mundial em cima do Vasco. Eu ainda tive o prazer de ver ele jogar na França, no Bordeaux. Não me marcou tanto que outros jogadores brasileiros do campeonato francês, mas o que me marcou já nessa época era a classe dele em campo. Futebol virava uma coisa delicada com ele.
Voltou ao Flamengo em 2006, mas eu não me relembro muito, até porque jogou pouco. Mas no seu jogo de volta, contra Goiás, fez uma jogada para provocar uma falta, de onde saiu o único gol da partida, marcado pelo Obina. O ciclo dos ídolos estava completo. Faltava fechar o ciclo do Sávio no Flamengo, o que foi feito numa vitória 3×0 contra o Corinthians em 2006. Foram 95 gols e 261 jogos com o Manto Sagrado. Na Seleção, também conquistou uma Copa de Ouro em 1996, fazendo dois gols durante o torneio. Por causa da concorrência absurda da época, não disputou uma Copa do Mundo mas foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos, também em 1996. Na seleção principal, foram 6 gols e 24 jogos, mas foi com a camisa rubro-negra que Sávio fez história, sendo o ídolo principal da geração 94, encantada pela classe dele e o futebol mágico que saía de seus pés. Sávio, o Anjo loiro, para sempre.








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