Na hora das últimas cronicas escritas no Brasil, eu tenho poucos arrependimentos sobre esse blog. Na verdade, apenas um, na hora de escolher um Flamengo x Emelec como jogo eterno. Eu sabia que queria escrever sobre o jogo de 2019 nas oitavas da Libertadores, quando Flamengo passou no sufoco na disputa de penalidades. Esqueci de olhar os outros confrontos contra Emelec, esqueci completamente a melhor atuação de Vinícius Jr com o Manto Sagrado.
É um arrependimento, porque Vini Jr é um de meus maiores ídolos no futebol. Dos jogadores que vi o início da carreira, e comecei a acompanhar o futebol com a Copa do Mundo 1998, acho que ele fica no meu top 3 dos jogadores favoritos, com Neymar e Gabigol. E talvez ele ainda ocupa o primeiro lugar. Vinícius Jr tem vários motivos de ser meu ídolo e o ídolo de todos os flamenguistas.
Vini Jr nasceu no 12 de julho de 2000, nasceu em São Gonçalo, nasceu flamenguista. Tem essa foto onde ele deve ter um ano de idade, com o Manto Sagrado do início do século, sorrindo, como se ele já sabia que nasceu craque. Eu tenho 8 anos e 5 dias a mais que Vinícius, mas como só comecei a acompanhar de perto Flamengo com 15 anos, ele deve ter começado a vibrar pelo Flamengo na mesma época que eu, torcendo para os mesmos times, gritando os mesmos gols, sofrendo as mesmas decepções, comemorando os mesmos títulos, tendo os mesmos ídolos. Tem também essa foto de Vini, agora um pouco maior, ao lado de Obina, também meu primeiro ídolo no Flamengo.
Além de ser flamenguista, Vini Jr quase sempre foi promessa da base, sempre foi um garoto do Ninho. Chegou numa escolinha do Flamengo em São Gonçalo com 7 anos e jogou no futsal no Flamengo com 9 anos. Passou no campo, passou de todas as fases da joia da base. Acho que comecei a ouvir sobre ele em 2016. Ele já tinha se destacado, tanto com os mirins e infantis do Flamengo que com a Seleção sub-15. Vinícius Jr também se destacou com os juvenis do Flamengo e em 2017, ele quase já era uma realidade. Acompanhei a Copinha, onde ele foi um dos destaques, e o campeonato sul-americano sub-17 com a Seleção, onde ele foi campeão, artilheiro, melhor jogador, além de fazer um dos lances mais bonitos da competição, quando ele conseguiu três chapéus em seguidas sobre três paraguaios impotentes. Nessa hora, Vinícius Júnior já era realidade para mim.
Vinícius Júnior viveu um fim de semana de sonhos no 13 de maio de 2017, quando ele fez seu primeiro jogo profissional com Flamengo, que chegou naturalmente. Jogo foi no Maracanã, um 1×1 contra o Atlético Mineiro, de um de seus ídolos, Robinho, na estreia do Brasileirão. Tinha algumas semelhanças com o início profissional de Gabigol, num Flamengo x Santos na estreia do Brasileirão de 2013, também último jogo de Neymar com Santos. A diferença era que Vinícius Júnior fechou nos dias seguintes com o Real Madrid por 45 milhões, a segunda venda mais cara do futebol brasileiro, atrás apenas de Neymar. Relembro que um de meus amigos franceses, Tintin, estranhou quando ele viu o preço de Vinícius Júnior. Ele achava isso caro demais para um jogador de apenas 16 anos, com um jogo profissional só. Tranquilamente o garanti que valia a pena, que Vinícius era tudo isso. Para mim, Vini Jr já era realidade.
Eu não precisava de Vini Jr para acompanhar mais o Flamengo, já assistia a todos os jogos, mas passei a olhar mais para o lado esquerdo que o lado direito, a olhar o banco, porque ele começou naturalmente como reserva. Passei a viver todos os passos deles como meus próprios sucessos. O primeiro jogo profissional contra o Galo, o segundo, contra o Atlético-GO, quando ele deu um drible de vaca na grande área, a primeira titularidade, contra Avaí, o primeiro gol, contra Palestino na Ilha do Urubu, quando ele marcou apenas um minuto após sua entrada em campo, o primeiro doblete, um 2×0 contra o Atlético-GO, quando ele mostrou toda sua velocidade e fez um gol que lembrou, não só a mim, o gol decisivo de Romário contra o Uruguai nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Vinícius era uma realidade para muitos.
Não sei bem porque Vini é tão meu ídolo. Acho que ele tem o Flamengo na pele, quando outros são flamenguistas disfarçados, flamenguistas até um certo prazo, até a saída deles do clube. Vinícius Júnior sempre é Flamengo. Gosto também do estilo de jogo, ele tem essa ousadia brasileira, joga um futebol alegre, driblador e veloz. Ele fez apenas 69 jogos com Flamengo, mas tive a sorte de o ver em campo, no Maracanã, num Fla-Flu eterno. E ele foi decisivo. Nas quartas de final da Copa Sudamericana, entrou em campo na metade do segundo tempo, quando Flamengo tinha 2 gols de atraso. Fez um bom passe na jogada do gol do 3×2, e provocou a falta no gol do empate, no gol da classificação. Vini entrou e desequilibrou o Fla-Flu, talvez ainda hoje minha maior emoção num estádio de futebol.
Vini jogou a final da Copa Sudamericana, de novo como reserva. Flamengo perdeu contra Independiente e perdeu outra final, a da Copa do Brasil contra Cruzeiro, com Vini Jr jogando só o jogo de ida. Talvez com ele no Mineirão a história teria sido diferente. Faltou um título, não considero a Taça Guanabara, vencida pelo Flamengo em 2018, como um título. Mas Vini melhorou muito nesse ano de 2018. Obvio que com apenas 17 anos, ele tinha defeitos, na utilização da bola, na finalização também. Mas ele passou a ser titular, fazendo o único gol do jogo na estreia da temporada contra Cabofriense, com a camisa 10 de Zico. Fez ainda alguns gols no campeonato carioca até seu maior jogo com o Manto Sagrado, na Copa Libertadores, em Guaiaquil. Contra Emelec, Flamengo perdia 1×0 até os últimos 15 minutos do jogo, até o show de Vinícius. Parecia num outro planeta nesse dia, fez 2 golaços do pé esquerdo para virar o jogo. Se precisava escolher um gol, eu teria muito dificuldade para eleger um, mas felizmente não precisa escolher, Vini Jr fez dois golaços e virou o jogo. Para a América, Vinícius Jr era realidade.
Eu torci muito para ele ficar no Flamengo até o mínimo no fim do ano de 2018. Não ia atrapalhar seu desenvolvimento, ao contrário, ele ia ter mais jogos como titular, jogos importantes, com responsabilidades para ele. Ele também queria ficar no Flamengo, mas infelizmente, ele foi para a Espanha e o Real Madrid no dia de seu 18o ano, como um craque diferente. Se despediu do Maracanã com lágrimas e com vitória, 2×0 contra Paraná. Flamengo estava na liderança, com 6 pontos a mais que o Atlético Mineiro. Acho que com Vinícius, Flamengo teria conquistado o Brasileirão 2018. Também teria ido mais longe na Libertadores. Mas o futebol é às vezes cruel e Vini Jr não era mais do elenco do Flamengo. Flamenguista, ele sempre será.
Eu sou fã do Real Madrid desde a Liga dos campeões 2000 e estava feliz com a escolha dele. Longe do Flamengo, mas ao menos, no Real Madrid. E como eu fazia na base do Flamengo, no time principal ou na Seleção sub-17, passei a acompanhar cada passo de Vini Jr, da promessa até a realidade. Começou com o segundo time, a Castilla, e jogou bem, mas odiava o fato de ele jogar nesse time, quando podia brigar para o Brasileirão ou a Libertadores com Flamengo. No time principal do Real Madrid, fez alguns bons jogos, mas ainda era muito novo e faltava às vezes objetividade nos lances. Torci também para uma convocação dele na Copa América 2019 depois da lesão de Neymar, queria ver ele com a camisa 10 da Seleção, mas Willian foi chamado no lugar de Neymar. O primeiro jogo com a Seleção chegou alguns meses depois, quando jogou 15 minutos contra o Peru, mais uma conquista para ele, mais uma alegria para mim.
Na temporada 2019-2020, minha maior alegria foi quando ele decidiu El Clásico, fazendo gol contra Barcelona. Teve ainda muitos momentos difíceis, dribles errados, bolas perdidas, finalizações fracas, e um vídeo constrangedor, quando Benzema pediu para Mendy não dar bolas para Vinícius Jr, sob o motivo que ele jogava contra o próprio time. Vinícius foi inteligente na resposta, diminuiu o fato, continuou a trabalhar, continuou a melhorar. A recompensa veio alguns meses depois, quando fez um doblete contra Liverpool na Liga dos campeões, tornando-se o jogador mais jovem da história do Real Madrid a fazer um doblete num mata-mata da Champions. Mais uma alegria para mim, e Vini Jr foi convocado para a Copa América 2021. Infelizmente, passou em branco nos 4 jogos que participou e o Brasil perdeu a final contra a Argentina.
Vini explodiu na temporada 2021-2022. Nas três primeiras temporadas com o Real Madrid, fez 15 gols e 18 assistências em 118 jogos. Na quarta temporada, com 21 anos de idade, ele fez 22 gols e 16 assistências em 52 jogos. Ele fez muitas grandes atuações, mas nenhuma supera o gol na final da Liga dos campeões, quando fez o único gol da partida contra Liverpool. Vini me deu nesse dia minha maior alegria no futebol de 2022, até o Flamengo ganhar a Copa do Brasil, ganhar a Copa Libertadores. Vinícius jogou bem na Copa de 2022, mas infelizmente, o hexa não veio. Acho que o hexa virá com Vini Jr como maior protogonista da Seleção. A temporada de 2022-2023 foi mais uma vez uma grande temporada para ele, com quase os mesmos números do ano passado: 23 gols e 19 assistências em 55 jogos, o que deveria ser suficiente para ser mais uma vez no top 10 do Ballon d’Or. Para o mundo inteiro, Vini Jr é uma realidade.
Eu admiro o jogador Vinícius Jr e também admiro o homem. Ele é flamenguista e não esqueceu de onde ele vem. Sempre que volta no Rio de Janeiro de férias, ele aparece no Maracanã num jogo do Flamengo, agradece a torcida pelo carinho de sempre, a torcida fazendo festa para ele. Ele também criou o Instituto Vini Jr em São Gonçalo, que ajuda muitas crianças. E não é para a imagem dele, ele realmente tem essa preocupação social e faz tudo que é possível para fazer uma diferença. Também, infelizmente, tornou-se um símbolo da luta contra o racismo. Na Espanha, ainda muita racista, foi várias vezes vítima de racismo, de torcedores adversários e até de periodistas na televisão. Nesse combate, apesar da juventude, Vini Jr é também exemplar. Espero que ele não teria a lutar tanto no futuro e não seria mais vítima desse crime.
Fica então uma esperança, um desejo, um sonho: ver Vinícius Júnior vestir de novo o Manto Sagrado. Ele falou recentemente que ele queria voltar, quando terá 35 anos de idade. Espero que será antes. Faltou tempo no início da carreira para conquistar um título com Flamengo, não pode faltar no fim da carreira. Vini precisa ainda ganhar o hexa com a Seleção, algumas Champions com o Real Madrid e depois voltar no Flamengo, fazer a alegria de sua maior torcida para sempre, conquistar o Brasileirão, pintar a América de vermelho e negro, ser o ídolo da Nação.








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