Em 1980, Flamengo vinha de um tricampeonato carioca 1978-1979-1979 Especial, mas também vinha de uma decepção no Brasileirão com uma eliminação nas quartas de final contra Palmeiras. No 9 de dezembro de 1979, Flamengo foi goleado 4×1 pelo Palmeiras na frente de mais de cem mil pessoas no Maracanã e teve que esperar mais um ano para ser enfim o campeão brasileiro.
Na verdade, menos de um ano, porque teve uma mudança do calendário e o ano 1980 começou com o Brasileirão e não mais o campeonato estadual. No 24 de fevereiro de 1980, Flamengo estreou no Brasileirão com vitória 1×0 sobre Santos, gol de Zico. Em seguida, venceu o Internacional, de novo 1×0, de novo com gol de Deus, um jogo eterno no francêsguista. Depois, Fla perdeu contra Botafogo de Paraíba, a única derrota do Flamengo nos 9 jogos da primeira fase. Flamengo fechou o grupo na segunda colocação e se classificou para a segunda fase, num grupo de quatro times, com outro carioca, Bangu, e também Santa Cruz e Palmeiras.
No grupo J, Flamengo estreou com empate 0x0 contra Santa Cruz, e Palmeiras perdeu em casa 3×2 contra Bangu. Mas os dois favoritos eram bem Flamengo e Palmeiras e se reencontravam para uma vingança do Brasileirão 1979, quatro meses antes. No 13 de abril de 1980, Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Raul; Toninho Baiano, Rondinelli, Marinho, Júnior; Andrade, Paulo César Carpegiani, Zico; Tita, Júlio César, Nunes. Do lado de Palmeiras, mesmo sem o técnico Telê Santana, agora na Seleção, e o craque Jorge Mendonça, agora no Vasco, ainda tinha um time poderoso e grandes jogadores, como Beto Fuscão, Mococa e Baroninho, que seria emprestado ao Flamengo no ano seguinte.
Com 70.389 pagantes no Maracanã, Flamengo abriu o placar no primeiro tempo com um cruzamento vindo da esquerda de Júlio César, o goleiro Gilmar falhou, Tita cabeceou e fez o primeiro gol do dia, não o último. O segundo gol também começou dos pés de Júlio César, que achou na esquerda o ambidestro Júnior, que cortou no meio e achou a falta muito perto da área, quase um pênalti. E para Zico, uma falta perto da grande área é quase um pênalti sim. Três passos, uma curva de estrela, uma bola na gaveta, mais um golaço de Zico pelo Mengo.
E Zico fez ainda mais, agora no segundo tempo, com uma dupla tabelinha com Tita para invadir a grande área, conseguir o pênalti. Com força, com precisão, com categoria, Zico fez o segundo dele, o terceiro do jogo, desenhava a goleada. Zico pediu para sair por causa de uma lesão e vale a pena destacar a atitude de Gilmar, que jogou diretamente a bola na lateral para fazer a substituição. Tita passou a organizar o time mas o quarto gol chegou numa jogada de laterais, Júnior achou um passe sensacional na grande área para Toninho Baiano, que chegou em velocidade e soltou a bomba para queimar as redes do Palmeiras.
E Flamengo tinha ainda mais nos cofres, com mais um gol, típico do Flamengo dessa época, o maior e mais brilhante de todos. Carpegiani de trivela para Tita, que devolveu para Carpegiani com um toque só. Carpegiani, agora na grande área, esperou dois defensores chegar para fazer o toque leve de cobertura, de novo para Tita, que dominou de joelho e, sem deixar a bola cair, mandou a bola nas redes para fazer o quinto gol do dia, o terceiro golaço do jogo.
Palmeiras finalmente conseguiu reagir e voltou a 5×1, depois 5×2, com pênalti de Baroninho e gol de Mococa. No finalzinho, mais uma jogada com DNA do Flamengo 1978-1983 e participação dos jogadores que saíram do banco. Júnior abriu o espaço do outro lado para Toninho Baiano, que avançou de 30 metros para Adílio, que devolveu para Toninho Baiano, que achou na direita para Reinaldo, que tinha substituído Zico. Reinaldo cruzou alto, Nunes dominou de barriga, chutou e decretou o placar final, Flamengo 6×2 Palmeiras. Era a goleada flamenguista, a vingança de 1979 e mais um passo para o título inédito do Brasileirão, que veio um mês e meio depois.
Para fechar, deixo a palavra para o maior de todos, Zico, que volta no livro Zico, 50 anos de futebol, de Roger Garcia, sobre o 1×4 de 1979 e o 6×2 de 1980: “Na realidade, foi um jogo equilibrado, não foi um domínio tão grande quanto sugere o placar, porque os dois últimos gols deles, o terceiro e o quarto, saíram no finzinho da partida, depois que o Beijoca arrumou lá uma confusão. Mas o fato é que o Telê acabou indo para a Seleção Brasileira por causa daquele jogo. Aí no ano seguinte veio o jogo do 6 a 2. Eu só joguei o primeiro tempo. No início do segundo tempo marquei um gol e tive um problema muscular. Quando saí estava 3 a 0. Acho que vingança é mais papo de torcedor, mas lembro que no 4 a 1 o centroavante deles, o Carlos Alberto Seixas, fez lá uma gracinha de dançar, e isso mexe com quem está no jogo. Você quer devolver a goleada e dizer – vai lá dançar agora… Às vezes você mete cinco ou seis e não acontece nada, é do jogo. Tanto que quando o time estava ganhando de goleada, eu mesmo chamava a atenção do companheiro que quisesse fazer alguma coisa. Eu não deixava não. Eu falava: ‘Vamos meter nove, dez, mas nada de driblinho, ficar passando pé por cima da bola, porque depois quem leva porrada somos nós mesmos’. É claro que se a jogada tem um objetivo aí vale tudo. O próprio Garrincha fazia o diabo e se você bobeasse ele ia embora, até dentro do gol”.








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