Hoje, Flamengo pode conquistar seu 38o título do campeonato carioca. Escrevi há pouco sobre um título carioca conquistado em cima do Vasco, em 1974, eu vou então para hoje de um título em cima do Botafogo, o 30o da história do Flamengo. A época ainda é recente e parece ao mesmo tempo ser de mil anos atrás. Em 2008, um ano histórico no Francêsguista, Flamengo tinha um time completamente diferente, mas eu já sonhava alto com meu Flamengo.
Eu já falei que comecei a acompanhar Flamengo no final de 2005, vibrei com a Copa do Brasil de 2006, mas comecei a assistir realmente aos jogos e aos melhores momentos em 2007, vibrando de novo com o título do campeonato carioca de 2007, já contra Botafogo. E eu já tinha a consciência da importância da Copa Libertadores que, como todo rubro-negro, achava que ia ser do Mengo em 2008. Eu queria a Copa Libertadores, mas queria o campeonato carioca também, porque ser o Rei do Rio me dava a sensação de ser o Rei do Mundo.
Em 2008, com um time cheio de ídolos, Flamengo chegou a final contra Botafogo para a revanche de 2007. E na ida, vitória 1×0 do Flamengo, passe de Diego Tardelli, gol de Obina, meu primeiro ídolo no Flamengo. E três dias depois, um passo na frente na Copa Libertadores, com vitória 4×2 no México. Só faltava vencer de novo Botafogo e gritar “É campeão” pela 30a vez.
No 4 de maio de 2008, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Ronaldo Angelim, Fábio Luciano, Juan; Jaílton, Cristian, Toró, Ibson; Marcinho, Souza. Adorava a defesa inteira, foi uma das melhores que vi no Flamengo, na história recente apenas a de 2019 pode competir. Também tinha no meio de campo Ibson, que eternizei como ídolo no blog, e Souza na frente, um centroavante às vezes limitado na técnica, mas nunca na raça. E meu maior ídolo, Obina, estava no reserva, como já foi na ida, quando saiu do banco para fazer o gol da vitória.
E o Maracanã estava cheio, com público de 78.716 pessoas. Eu me apaixonei com o Flamengo, não sei exatamente porque, não sei exatamente quando e não sei exatamente quanto o Maracanã foi decisivo para isso. Certeza é que o Maracanã estava uma festa na época, respirava rubro-negro, mesmo sem a geral, era o templo do futebol, a alma do Flamengo, a essência do futebol carioca. Porém, em 2008 quem gritou primeiro foi a torcida do Botafogo. Na metade do primeiro tempo, Lúcio Flávio cobrou falta na grande área, ninguém tocou, Bruno falhou, Botafogo abriu o placar. Assim, como foi o caso em 2007, o título ia ser decidido nos pênaltis. O Papai Joel não queria. No intervalo, sacou dois meios, Cristian e Ibson, para a entrada de dois atacantes, Diego Tardelli e Obina, meu ídolo.
E com apenas 4 minutos no segundo tempo, Joel Santana mostrou que tinha estrela. Numa falta bem parecida a de Lúcio Flávio no primeiro tempo, Juan cobrou na grande área, Obina, de forma acrobática, empatou no jogo, deu vantagem ao rubro-negro no placar agregado. Com hora de jogo, Bruno fez grande defesa num chute de voleio de Jorge Henrique e na contra-ataque Diego Tardelli perdeu o gol de cobertura, com defesa de Renan. Cinco minutos depois, Marcinho –, eu adorava Marcinho e a ginga dele, achou o travessão. Flamengo estava melhor, mas ainda não tinha matado o jogo. Precisando da vitória para forçar a disputa de penalidades, Botafogo levou tudo no ataque, o chute de Lúcio Flávio parou nas mãos de Bruno, o chute de Alessandro passou atrás do gol.
Faltando 15 minutos para o fim do jogo, Renato Silva recebeu o segundo cartão amarelo e deixou o Botafogo com 10 homens em campo para a alegria da quase geral do Maraca. Jogo ficou mais fácil para Flamengo, mas ainda faltava o gol para assegurar a vitória, o título. A torcida esperou cinco minutos. Num mais outro contra-ataque, Léo Moura lançou na direita Kléberson, que também entrou no decorrer do jogo. Kléberson mudou tudo e achou do lado esquerdo Obina, que voltou no meio com passe para Souza. Cercado por três defensores, Souza se deportou na esquerda e deixou para Juan. O Juan esperou cinco segundos. Deu drible desconcertante ao Leandro, invadiu a grande área e cruzou atrás. Bola foi levemente desviada e chegou até o Tardelli, que chutou rasteiro, chutou bonito, chutou no gol. Flamengo tinha 2 gols de vantagem, Flamengo estava quase o campeão.
Já tinha o grito de campeão no Maraca, mas ainda faltava mais um gol para aliviar definitivamente a imensa torcida do Fla, mais de 60 mil no estádio, mais de 30 milhões no Brasil e mais um torcedor de 15 anos na França. E o gol chegou com Obina, o maior ídolo da época, não só do pequeno torcedor francês, mas de quase toda a Nação. Com mais um contra-ataque, Diego Tardelli driblou na esquerda e arrancou. O gol foi quase uma repetição do gol da ida, com filtro inverso. Diego Tardelli cruzou sem deixar possível a intervenção do goleiro ou do zagueiro, Obina meteu o pé e enviou a torcida rubro-negra ao delírio da vitória, ao grito do campeão, ao paraíso do futebol, sem saber que ia voltar três dias depois ao inferno, ao grito do ódio, a dor da eliminação. Enfim, no momento, Flamengo igualava Fluminense com um 30o título carioca e ia ultrapassar o Tricolor no ano seguinte, de novo vencendo na final Botafogo. E desde lá, Flamengo nunca deixou de ser o Rei do Rio.








Deixar mensagem para Ídolos #34: Kléberson – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo Cancelar resposta