Em agora quase, quase 350 crônicas dos jogos eternos, eternizei quase só vitórias do Flamengo, no pior dos casos, empates. Ou derrotas com sabor de vitória, como foi o jogo contra São Paulo para conquistar a Copa dos campeões de 2001 ou contra Peñarol para chegar na final da Copa Mercosul de 1999. Hoje, Flamengo joga um dos jogos mais importantes da temporada, quem diria de sua história, contra Cruz Azul, aliás um clube conhecido por sua maldição. Assim, abro uma meia exceção no blog, lembrando uma vitória com sabor de derrota, contra outro clube mexicano, o Club América.
Em 2008, eu ainda era um torcedor novo do Flamengo. Comecei a realmente acompanhar em 2005, vibrei com o título da Copa de 2006 contra Vasco, mesmo sem imagem. Em 2007, conhecia melhor o time, os jogadores e vivi meu primeiro título carioca. Também minha primeira decepção na Libertadores, uma derrota dura 3×0 contra Defensor na ida, acreditei na volta, mas Flamengo apenas venceu 2×0, uma vitória com sabor de derrota. Aprendi ali que o amor pelo Flamengo, o orgulho de ser rubro-negro, era às vezes maior nas tragédias, nos momentos ruins.
Em 2008, foi bis repetita. Uma final do campeonato carioca contra Botafogo, um gol de meu primeiro ídolo no Flamengo, Obina. A campanha na fase de grupos da Copa Libertadores foi quase perfeita, a segunda melhor da edição, atrás apenas de Fluminense. Jogava nas oitavas contra a segunda pior campanha, do Club América do México, que quase ficou de fora no último jogo da fase de grupos. Times mexicanos jogaram na Copa Libertadores entre 1998 e 2016 e elevavam ainda mais o nível da competição.
Em 30 de abril de 2008, o técnico Joel Santana, já de saída do clube para comandar a seleção da África do Sul, escalou Flamengo assim: Bruno; Luizinho, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan; Jaílton, Cristian, Kleberson, Ibson; Marcinho, Souza. O palco do jogo era o mítico estádio de Azteca. A Seleção brasileira nunca venceu a Copa do Mundo no Maracanã, mas venceu no Azteca, com brilho de Pelé. Agora era a vez do Flamengo de fazer história lá.
Bola rolando, vamos diretamente para o final do primeiro tempo, com uma bola longa do goleiro Bruno, diretamente para Marcinho. O ponta vivia uma grande fase e com sua ginga habitual, pedalou, fintou, chutou na rede para abrir o placar. Porém, talvez um anúncio da tragédia, o Club América conseguiu empatar ainda no primeiro tempo, com um cabeceio letal de Cervantes.
No intervalo, Joel Santana mexeu com a entrada de Léo Moura e Obina. O lateral-direito se infiltrou na defesa mexicana e quase fez o gol, mas tocou na trave. Papai Joel mexeu certo e deu um presente para a torcida do Flamengo. Na metade do segundo tempo, Obina jogou na frente com Marcinho. O camisa 22 pegou de primeira, chutou cruzado e fez o segundo dele no jogo. E de novo, nos minutos seguintes do gol, Flamengo cedeu o empate. O ainda não maldito Cabanãs cruzou para Esqueda, esquecido pela zaga rubro-negra, e que não se esforçou para empatar.
No Azteca, o placar de 2×2 ainda era bom para o Flamengo, com jogo de volta marcado no Maraca. Mas era um grande time, capaz sim, de vencer a Liberta. E Joel Santana ainda mexeu certinho para o Mengo, com a entrada de Tardelli nos dez minutos finais. Léo Moura, na sua ala direita, fintou o chute e deixou no meio para Obina, que abriu o pé, cobrou com categoria, tocou na trave. Lance seguiu vivo, bola voltou para Léo Moura, mais uma finta de chute e ao mesmo tempo o passe para Diego Tardelli, sozinho na pequena área, para colocar de novo o Mengo na frente.
Flamengo fazia o terceiro e de novo teve um gol nos instantes seguintes. Só que essa vez era rubro-negro. Léo Moura, ainda ele, driblou um e acelerou, tocou para Ibson e já pediu de novo a bola. Com a visão e a habilidade do craque, Ibson completou a tabelinha, lançando uma bola em cima da zaga mexicana. Léo Moura já viu a saída do goleiro Ochoa e, sendo também um craque, tocou de cobertura para o golaço do dia, no mesmo gol em que o lateral-direito Carlos Alberto Torres tinha feito o quarto gol da Seleção em 1970. Era o quarto do Mengo, o gol da vitória no Azteca – ninguém duvidava, da classificação. O jogo de volta ainda dói na alma de flamenguista. Foi um dos maiores vexames do Flamengo, um segundo Maracanaço, um jogo para esquecer, porém impossível de esquecer.
Na minha França, torço pelo PSG e a vitória do Mengo em México é igual ao jogo de ida contra Barcelona em 2017. Uma goleada histórica, um show de bola parisiense com uma vitória 4×0, porém impossível de lembrar, de esquecer, por causa da remontada uma semana depois. Hoje, com uma dose de superstição e de orgulho rubro-negro mesmo ferido, lembro do jogo contra América porque em 2025, precisa vencer apenas uma vez o time mexicano.







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