Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #114: Flamengo 2×1 Volta Redonda 2021

    Jogos eternos #114: Flamengo 2×1 Volta Redonda 2021

    O ano de 2024 começou com uma notícia muito ruim para o Flamengo, o falecimento de Denir, histórico massagista do clube. O jogo eterno de hoje não é para o jogo mesmo, mas para Denir, que levantou neste dia de 2021 a taça de campeão, quase 40 anos depois de sua chegada no Flamengo.

    No 24 de abril de 2021, para o jogo contra Volta Redonda, Rogério Ceni escalou Flamengo assim: Diego Alves; Matheuzinho, Bruno Viana, Gustavo Henrique, Renê; Willian Arão, Gerson; Michael, Vitinho, Gabigol, Pedro. Um time misto, por causa dos jogos da Copa Libertadores no mesmo período. Porém, o jogo estava importante e decidia o vencedor da Taça Guanabara, o primeiro turno do campeonato carioca. Com dois pontos atrás de Volta Redonda, Flamengo precisava absolutamente da vitória para ser campeão.

    Num Maracanã vazio por causa da pandemia de Covid, Flamengo dominava o jogo, ainda sem marcar, apesar de duas boas oportunidades de Gabigol. No final do primeiro tempo, aproveitando de um passe muito bom de Gustavo Henrique e da semi-falha do goleiro adversário, Michael abriu o placar. Mas Volta Redonda empatou ainda antes do intervalo, Bruno Barra fazendo o gol num escanteio. Com uma hora de jogo, Matheuzinho recebeu a bola no campo do Flamengo, acelerou e ganhou 30 metros até fazer um passe para Vitinho, que teve tempo suficiente para ajustar o goleiro e fazer o gol do título com um belo chute.

    Flamengo era o campeão e quem levantou a taça foi Sr Adenir Silva, o Denir. O massagista tinha se afastado no Flamengo no final de 2020 por causa dos casos positivos de Covid no clube. Deixou muitas saudades entre os jogadores, que fizeram depois essa linda homenagem com Denir levantando a taça de campeão depois de voltar ao seu dia a dia. Um dia a dia de quase 40 anos, Denir chegou no Flamengo em 1981. Talvez não coincidentemente, Flamengo levantou sua primeira taça de campeão da Copa Libertadores menos de um mês depois da chegada de Denir.

    Denir viu de perto a geração de Zico e de todos os craques da década de 1980, depois vários ídolos passaram entre as mãos de Denir, como Romário, Sávio, Petkovic, Adriano, até a geração multicampeã de 2019, entre outros Bruno Henrique, Filipe Luís, Diego e Gabigol, que costumava beijar as mãos de Denir, em sinal de respeito e gratidão. O Denir foi campeão de tudo com o Maior de todos e ainda ganhou a Copa do Mundo 2002 com a Seleção. Mas o legado de Denir vai além dos títulos.

    No Flamengo, tudo muda, a diretoria, os jogadores, até a torcida. E às vezes, a ligação do Flamengo com o povo, traço histórico do clube, fica mais distante. Com Denir, o povo se sente representado no Flamengo. Denir tinha essa humildade que não podia ser forçada ou disfarçada, uma humildade que se vê no sorriso, na atitude simples, uma humildade que conquista todos. Por isso, era ídolo dos torcedores rubro-negros.

    Outro massagista histórico do futebol brasileiro, Mário Américo escreveu nas suas memórias: “O massagista, no futebol, tem que ser um psicólogo, porque o jogador recorre mais a ele que ao médico, e o torna seu confidente”. Por isso, Denir era amigo dos jogadores, trazia um pouco de simplicidade e autenticidade no dia a dia irreal dos jogadores. Denir trabalhou com o mesmo profissionalismo e a mesma dedicação durante 40 anos. Por isso, era respeitado até pelos torcedores rivais.

    Diagnosticado com um câncer no cérebro em 2022, voltou no Ninho do Urubu para uma homenagem depois da cirurgia em 2023. Recebeu uma placa e deveria virar busto na Gávea de tanto um patrimônio histórico do clube ele é. Hoje, Denir se juntou no céu rubro-negro ao Jorginho, outro massagista histórico do Flamengo e falecido em 2020 por causa da Covid, e aos 10 garotos do Ninho, de quem Denir vai cuidar com a mesma atenção que ele teve durante mais de 40 anos no Flamengo. Descanse em paz Denir, você vai deixar muitas saudades.

    Para fechar a crônica, deixo a nota oficial do Flamengo sobre o falecimento de Denir: “Hoje, o Flamengo chora. Perdemos um dos nossos. Adenir Silva, o nosso Deni, nos deixou aos 75 anos. Um pilar de nossos valores, um símbolo máximo do rubro-negrismo, um griô em vermelho e preto. Poucas são as palavras capazes de definir um homem que se tornou ídolo da Maior Torcida do Mundo sem jamais ter entrado em campo como atleta do clube. Desde 26 de outubro de 1981 – até a eternidade –, o Flamengo foi e é Deni. Por 42 anos, dois meses e cinco dias, o Manto Sagrado foi cuidado com o capricho, a altivez e a sabedoria de um guardião apaixonado por nossas cores e por quem somos. Que sempre nos lembremos de Deni quando nos lembrarmos do Flamengo – sempre foram e para sempre serão sinônimos”.

  • Jogos eternos #113: Flamengo 7×0 Real Sociedad 1990

    Jogos eternos #113: Flamengo 7×0 Real Sociedad 1990

    Para a última crônica do ano, vamos de uma goleada contra um adversário europeu, a Real Sociedad, num país onde Flamengo fez história, o Japão. Em 1990, Flamengo era órfão de Zico e começou o ano com uma decepção, ficando fora da fase final do campeonato carioca, disputada entre Fluminense, Vasco e Botafogo. Depois, jogou a Copa do Brasil, a maior glória do ano, e alguns amistosos em vários estados do Brasil e no Chile. No mês do agosto, atravessou o mundo e voltou para o Japão, onde escreveu a página mais gloriosa da história do clube.

    Nove anos depois do 3×0 contra Liverpool, o adversário era também europeu, a Real Sociedad, que terminou a Liga 1989/1990 num excelente quinto lugar. A competição era amistosa, a Copa Sharp, com um prêmio de 60 mil dólares. O estádio era o Tóquio Dome e o campo era sintético, coisas de japoneses. O técnico rubro-negro era Jair Batista, que, no 6 de agosto de 1990, escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Zanata, Vitor Hugo, Rogério, Nelsinho; Aílton, Júnior, Zinho, Bobô; Renato Gaúcho, Gaúcho.

    E no Japão, na frente de 56 mil espectadores, Flamengo de novo fez história. De novo, jogou bonito. Com 19 minutos, uma triangulação no meio de campo, e Bobô, um autentico craque, pena que não vingou no Flamengo, abriu na direita para Renato Gaúcho, também craque. O cruzamento foi rasteiro e preciso, e o saudoso Gaúcho concluiu a jogada coletiva com tranquilidade. No final do primeiro tempo, mais um golaço coletivo, com Zinho para Renato Gaúcho, que completou a tabelinha com um toque de calcanhar que só os gênios conseguem fazer. Zinho esperou a saída do goleira para achar de novo Renato Gaúcho, que chutou com força no gol vazio. No intervalo, dois gols a mais para o Flamengo, que ia continuar a brilhar no segundo tempo.

    Com apenas dois minutos no segundo tempo, Gaúcho aproveitou da apatia da defesa espanhola para fazer o segundo dele do dia. Dez minutos depois, mais uma vez Gaúcho mais rápido do que a zaga da Sociedad, e mais uma vez Renato Gaúcho recebeu a bola sem goleiro para o gol fácil. Em seguida, Bobô, camisa 10 de Zico nas costas, driblou o goleiro e fez o quinto gol do dia. Mesmo sem Zico, Flamengo ainda era um timaço, capaz de golear até os europeus. Também porque, no papel e no campo, Flamengo era muito mais time do que a Real Sociedad.

    Na metade do segundo tempo, mais um erro da zaga espanhola, e mais uma vez Gaúcho não perdoou, com um chute preciso para completar o hat-trick. Gaúcho podia ceder seu lugar para Bujica, que fez o último gol do dia, um golaço com um chute poderoso diretamente na gaveta. No final, uma goleada 7×0, um show do Flamengo que maravilhou mais uma vez os torcedores do Japão, e até o juiz, que pediu autógrafos para os jogadores rubro-negros no fim do jogo. Nove anos depois de botar os ingleses na roda já em Tóquio, Flamengo talvez não era mais o melhor time do mundo, mas ainda era capaz de humilhar quaisquer europeus.

  • Ídolos #27: Athirson

    Ídolos #27: Athirson

    No 3 de dezembro de 2023, Filipe Luís pendurou as chuteiras e se despediu do futebol, no Maracanã. Para sua despedida, Filipe Luís convidou seu ídolo na infância, Athirson. Para Lance, Athirson explicou sobre Filipe Luís: “Ele jogava no Figueirense, na base, e pediu para ser gandula pra ficar perto de mim, me vendo jogar. E depois do jogo pediu para tirar foto comigo. É muito louco… tirei foto com um menino que depois virou uma dos maiores laterais esquerdos do país”. A referência não é à toa, entre Athirson e Filipe Luís, tem semelhanças, na classe em campo, na técnica, na identificação com o Manto Sagrado.

    Ainda fala Athirson sobre a despedida de Filipe Luís: “Quando Filipe Luís entrou em contato comigo, fiquei emocionado e muito feliz. Fico grato pelo respeito e pela lembrança. Um pedido desse não tem preço. Ele se espelhava em mim. Eu nunca imaginei que poderia atingir um talento tão grande dentro do campo. Foi um prazer imenso poder desfrutar aquele momento. Afinal, a nossa relação ainda está se estreitando. Ele fica um pouco nervoso em estar perto de um ídolo, algo que é normal. Eu também ficava com medo de ficar perto do Zico, Leonardo e Júnior”. É isso, junto com Leonardo e Júnior, também Jordan e Juan, Athirson e Filipe Luís estão na galeria dos maiores laterais esquerdos da história do Flamengo.

    Athirson nasceu no 16 de janeiro de 1977 no Rio de Janeiro. Jogou numa escolinha de Urca e com apenas 8 anos, já estava na base do Flamengo, onde aprimorou sua técnica com o futsal. Com o time principal, Athirson estreou em 1996 num amistoso contra o América de Natal no Machadão. Uma semana depois, já conhecia a maior alegria do mundo, ser campeão com o Flamengo, conquistando a Copa Ouro com uma atuação inesquecível do ídolo Sávio no jogo eterno contra São Paulo. Fez seu primeiro gol com o Manto Sagrado algumas semanas depois, contra Grêmio no Brasileirão de 1996.

    Em 1997, Athirson participou do campeonato sul-americano sub-20, estreando com gol contra a Venezuela, acabando o torneio como o único brasileiro a integrar a seleção do campeonato. No Mundial da categoria, participou dos 5 jogos do Brasil, até a eliminação nas quartas de final contra a Argentina. No Flamengo, fez um gol na estreia do campeonato carioca contra Volta Redonda, mas nos meados do ano, se machucou no púbis e ficou 3 meses fora. Voltou contra São Paulo e brilhou muito, fez o único gol do jogo, seu primeiro no Maraca. Ainda promessa, foi emprestado em 1998 para Santos, onde conquistou a torcida e mais um título, a Copa Conmebol contra Rosario Central. Volto no Flamengo em 1999, voltou como realidade, se consagrou definitivamente na lateral-esquerda. Já no início do ano, fez, talvez sem querer, um golaço no histórico 4×4 contra Botafogo. Parecia cruzamento mas a dúvida existe porque Athirson era extremamente técnico, colocava a bola onde queria. Dois meses depois, agora nenhuma dúvida. De novo contra Botafogo, soltou uma bomba de 30 metros, diretamente no ângulo do goleiro. Vitória 1×0, golaço de Athirson. E três semanas depois, Athirson fez outro golaço, também de fora da área, contra Vasco, também vencido.

    Na final do campeonato carioca, outro Clássico dos Milhões, um Flamengo x Vasco, com Vasco vice e com Flamengo campeão. E no final do ano, Flamengo mais uma vez campeão, agora continental, com a Copa Conmebol. E Athirson foi muito decisivo, assistência para Leandro Machado nas quartas contra Independiente, gol de pênalti na semifinal contra Peñarol. E no jogo de ida da final contra Palmeiras, um cruzamento perfeito para o gol do 4×3 de Reinaldo, faltando alguns minutos para o jogo acabar no Maracanã. E na volta, um jogo eterno, um 3×3 no Parque Antártica lotado, Flamengo campeão. Neste ano de 1999, também estreou com a Seleção brasileira, contra a Nova Zelândia na Copa das confederações, onde o Brasil foi finalista.

    Em 2000, Athirson viveu um de seus melhores anos. No início do ano, ao lado de Ronaldinho Gaúcho, conquistou com a Seleção sub-23 o pré-olímpico, fazendo gols contra a Colômbia e o Chile. Com a Seleção principal, jogou 22 minutos contra a Tailândia, tempo suficiente para fazer duas assistências de escanteio, para Roque Júnior e Émerson. Nos seus 13 primeiros jogos com Flamengo neste ano, Athirson fez 9 gols! Contra Friburguense, fez 3 gols com 3 belos chutes do pé esquerdo. Também fez o gol da vitória no Fla-Flu no último momento e os dois gols da virada contra Botafogo, o último um golaço. Athirson parecia jogar com facilidade, mas era a facilidade que vem de um trabalho intenso de todos os dias, virou um exímio batedor de pênaltis e também de faltas, numa época que tinha Petkovic no time. No jogo de ida da final do campeonato carioca contra Vasco, Athirson brilhou muito, abrindo o placar com sua marca, um chute de fora da área do pé esquerdo colocado no canto do gol. Flamengo estava perto do bicampeonato.

    Infelizmente, Athirson foi pego no doping com o uso do estimulante femproporex logo depois do jogo contra Vasco. Foi suspenso, perdeu o jogo de volta, também perdeu o jogo contra o Uruguai com a Seleção onde estava convocado. Athirson, mesmo assim eleito melhor jogador do campeonato carioca, foi absolvido pelo Tribunal de Justiça Desportiva, voltou a jogar quase dois meses depois, e voltou com gol, contra Grêmio. Mas depois, Athirson parecia ter perdido um pouco de seu futebol e não fez outro gol durante a temporada. Também faltou sorte quando era o momento de ir na Europa, onde era alvo do Barcelona de Guardiola, Xavi, Rivaldo e Kluivert. Explica Athirson para o GloboEsporte: “O Barcelona fez a proposta primeiro. Meu pai foi para Barcelona para ver realmente a proposta. Mas, na época, o Barcelona estava com problemas políticos e não podia contratar nem vender ninguém. Por conta disso, o empresário que levou a proposta falou que tinha um contato na Juventus e que tinha a possibilidade de fechar lá. Meu pai foi para Turim ouvir a proposta. Era para eu ter ido ao Barcelona, até pelas minhas características. Na Itália é um futebol de marcação, de comprometimento, de empenho, de força física […] Foi uma passagem de aprendizado. Eu tive muitas dificuldades porque eu era muito ofensivo. O Ancelotti me usava no meio de campo. Às vezes ele me botava no meio no lugar de Zidane, mas eu não gostava, porque eu não queria entrar no lugar do Zidane, eu queria jogar com ele”. Na Juventus, foram apenas 5 jogos na Série A 2000-2001, onde a Velha Senhora ficou com o vice-campeonato.

    Athirson voltou no Flamengo em 2002 e voltou a brilhar. Fez um golaço contra Olaria, uma bomba do pé esquerdo sim, e fez um outro hat-trick com o Manto Sagrado, contra Entrerriense. Pena que não jogou a Copa do Mundo de 2002, mas Roberto Carlos está num outro patamar, e Júnior também jogava muito, entrando bem na Copa quando teve oportunidades. No Brasileirão de 2002, Athirson brilhou já no primeiro jogo, com duas assistências no jogo contra o Inter. Também fez gol contra Goiás, de pênalti, no Fla-Flu, de pé direito, e contra Portuguesa, de novo de pênalti, depois de errar um primeiro pênalti durante o jogo. O time do Flamengo estava bem mediano e acabou o campeonato num péssimo 18o lugar. Mas o capitão Athirson jogou muito, a ponto de ser eleito Bola de Prata pelo Placar.

    Em 2003, Athirson iniciou a temporada com um doblete na virada contra Friburguense. Fez um belo gol de falta contra Cabofriense, também marcou contra Botafogo e Madureira, mas Flamengo foi eliminado na semifinal do campeonato carioca, com uma derrota 4×0 no Fla-Flu. Era realmente uma época difícil e Athirson, ao lado de Júlio César, era um dos únicos a salvar a honra rubro-negra e dar alegrias a torcida, com toda sua classe e habilidade. No Brasileirão, fez apenas um gol, contra o Corinthians, e disputou seu último jogo do ano na derrota na final da Copa do Brasil contra Cruzeiro. Voltou na Juventus, mas passou quase um ano sem jogar, entre falta de espaço no time italiano e lesão no joelho. E voltou no Flamengo nos meados do ano de 2004, quando o time já tinha conquistado o campeonato carioca. Voltou a fazer gol, contra Santo André, um gol de falta importantíssimo, para conseguir o empate no jogo de ida da final da Copa do Brasil. A volta, de novo com Athirson saindo do banco, foi uma vergonha, Fla perdeu o titulo em pleno Maracanã.

    Athirson fez seu último jogo com o Manto Sagrado na última rodada do Brasileirão 2004, uma vitória 6×2 contra Cruzeiro, também fez nesse jogo seu último gol, uma bomba de falta. Finalmente brilhou na Europa, no Bayer Leverkusen, e voltou no Brasil, onde passou pelo Botafogo, Cruzeiro, com quem jogou a final da Libertadores de 2009, e a Portuguesa. Aposentou-se em 2012, ano em qual conquistou o Mundialito de Futebol de 7. Também virou comentarista e técnico. Com sua classe e seus gols, Athirson deixa saudades aos torcedores rubro-negros até dessa época de vacas magras. Com o Manto Sagrado, foram 253 jogos e 37 gols. Nesse quesito dos laterais artilheiros, Athirson está apenas atrás de Júnior. E em termos de laterais esquerdos ídolos, tem poucos, muito poucos maiores do que Athirson, talvez apenas de novo Júnior e também Filipe Luís que tem, como muitos outros flamenguistas, Athirson como ídolo e inspiração.

  • Jogos eternos #112: Paraná 0x1 Flamengo 2005

    Jogos eternos #112: Paraná 0x1 Flamengo 2005

    A temporada 2023 de Flamengo acabou e foi a pior dos anos recentes: 7 competições e nenhum título. Mas Flamengo conheceu anos até piores, longe de brigar pelos títulos, até brigando pela permanência na Série A. E o ano de 2023 foi ainda mais difícil para outros times, como Santos, que caiu pela primeira vez de sua história na Série B. Assim, além do Cuiabá, fica só dois times que nunca conheceram a vergonha de ser rebaixado, São Paulo e nosso Flamengo. Para Flamengo, a vergonha quase aconteceu algumas vezes, talvez passamos do mais perto em 2005.

    O ano de 2005 já foi um time histórico no Francêsguista, vamos então diretamente para a 40a e antepenúltima rodada do Brasileirão. Com a chegada de Joel Santana como técnico, Flamengo respirava melhor e saiu da zona de rebaixamento. Mas ainda não estava livre do risco na hora de chegar em Curitiba, onde não tinha vencido desde 1998, seja contra o Athletico Paranaense, seja contra o Coritiba, um dos concorrentes para a permanência, seja contra o Paraná Clube, o adversário do dia. Nos últimos 15 jogos do Flamengo em Curitiba, foram um empate, 14 derrotas e nenhuma vitória! E Flamengo precisava desesperadamente de uma vitória.

    No 20 de novembro de 2005, o Papai Joel escalou Flamengo assim: Diego; Léo Moura, Renato Silva, Fernando, André Santos; Jônatas, Renato Abreu, Fellype Gabriel, Diego Souza; Ramírez, Júnior. No Pinheirão, Flamengo começou botando pressão, Renato cruzou para Diego Souza, que bateu no travessão. Três minutos depois, novo cruzamento de Renato, para Fellype Gabriel, que fez um gol com a mão mais obvio do que Maradona em 1986. O juiz corretamente anulou o gol, amarelou Fellype Gabriel. Ainda pressão em cima do Flamengo, ainda mais quando Borges, que jogou muito depois em São Paulo, Santos e Cruzeiro, quase fez um gol para Paraná, mas Diego fez grande defesa.

    Flamengo voltou a ter controle do jogo, Renato cruzou diretamente no travessão, e num outro cruzamento alto, agora de Léo Moura, o próprio Renato cabeceou, fora do gol. Flamengo tinha seus ídolos em 2005, mas estava sob risco de rebaixamento. No intervalo, ainda 0x0, Fla ainda perto do Z-4. No segundo tempo, o paraguaio Ramírez, que tinha feito dois gols no jogo anterior, também importantíssimo, contra Fortaleza, chutou, sem achar as redes. E Renato Abreu, ainda ele, chutou com força uma falta, a barreira desviou a bola, que pegou o caminho do gol, o goleiro Flávio desviou a bola, que chegou na trave. Ainda 0x0, ainda pressão no Pinheirão.

    Na hora do jogo, Fellype Gabriel deu drible de vaca na grande área, chutou com força, a bola flirtou com a trave, mas do lado errado. Ainda 0x0, o gol parecia fugir do Flamengo. E Flamengo precisava fugir do rebaixamento. E o ainda não ídolo Obina entrou no jogo, no lugar de Ramírez. Obina tinha feito apenas um gol nos últimos 15 jogos e desperdiçou uma boa oportunidade num lance de Léo Moura. O gol também parecia fugir dos pés de Obina, alvo dos protestos da torcida.

    Mas no minuto 47 do segundo tempo, Obina recebeu a bola na esquerda, um lance visto tantas vezes pelos rubro-negros. Obina fez um drible curto para abrir o espaço, chutou cruzado, balançou as redes, virou ídolo para a eternidade. Flamengo estava quase livre do rebaixamento, precisando agora de um ponto nos dois últimos jogos para tornar a permanência na Série A oficial. Eu comecei a acompanhar o futebol brasileiro em 2005, mas ainda sem saber do risco que ameaçava a grande história do Flamengo. Mas eu sei hoje que cada flamenguista que assistiu a esse jogo relembra onde estava, relembra da angustia e da agonia durante o jogo, e relembra do livramento e do grito de alegria no fim. Em toda sua história, Flamengo nos deu muitas alegrias e tristezas, esperanças e decepções, títulos e vexames, só não deu a maior vergonha para um gigante, ser rebaixado. Flamengo, você sempre foi gigante e sempre te apoiei até o final. Amor maior, não tem igual.

  • Jogos eternos #111: New York Cosmos 3×3 Flamengo 1982

    Jogos eternos #111: New York Cosmos 3×3 Flamengo 1982

    A temporada do Flamengo de 2023 ficará marcada, além dos vices e das vexames, pela aposentadoria de Filipe Luís. Provavelmente não é um adeus, Filipe Luís tem tudo para ser um dia o técnico do Flamengo. Vamos para o jogo eterno de hoje de uma outra despedida, de um ídolo do futebol que virou técnico do Flamengo, o Capitão Carlos Alberto Torres.

    Carlos Alberto Torres fez 20 jogos no Flamengo, em 1977, já em fim de carreira. Foi ídolo do Fluminense, onde começou a carreira 1963 e conquistou o campeonato carioca de 1964. Um ano depois chegou no Santos, onde também virou ídolo, foi capitão apesar de ainda ser jovem, e conquistou muitos títulos ao lado de Pelé. Também foi capitão da Seleção brasileira, conquistou o Tri e virou para sempre o Capita. Voltou no Fluminense para fazer parte da grande Máquina Tricolor que conquistou o bicampeonato carioca 1975-1976 e mais uma vez reencontrou Pelé, agora nos Estados Unidos, com o eterno New York Cosmos. E mais uma vez foi campeão.

    No Cosmos, jogou na defesa central, o que permitiu ao também ídolo do futebol Franz Beckenbauer de jogar no meio de campo. Ao lado de outros ídolos, Chinaglia e Neeskens, conquistou 3 vezes o campeonato nacional da NASL, se desentendeu com o técnico alemão Weisweiler, foi jogar no California Surf, e em 1982 voltou ao Cosmos para conquistar mais um título da NASL. Uma carreira de multicampeão que chegava ao fim e, como Pelé e Beckenbauer, Carlos Alberto Torres teve seu jogo de despedida no Cosmos. Dez dias depois do título americano, o Cosmos estava de novo em campo para homenagear Carlos Alberto, com um jogo contra nosso Flamengo. No 28 de setembro de 1982, no também eterno Giants Stadium, Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Cantareli; Antunes, Marinho, Figueiredo, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Wilsinho, Lico, Nunes. O técnico Paulo César Carpegiani voltou a jogar no meio de campo um ano depois do jogo de despedida dele, jogo que também foi eternizado no Francêsguista, uma vitória 2×0 sobre o Boca Juniors de Maradona com dois gols de Zico.

    No Giants Stadium, o time do New York Cosmos entrou com a taça de campeão. Tinha muitos ídolos, Carlos Alberto claro, também Franz Beckenbauer, e até Sócrates, que vestiu a camisa do New York Cosmos para esse jogo. O apito inicial foi dado pelo maior ídolo do futebol, Pelé. E não tinha dúvidas que o jogo estava nos Estados Unidos, o campo, sintético, tinha as delimitações e marcas de yards do futebol americano. Flamengo dominou o começo do jogo e Paulo César Carpegiani achou Zico que, na marca dos 20 yards, mandou a bola nas redes com a ajuda da trave. Com tantas estrelas em campo, brilhava mais uma vez a maior, Zico.

    Flamengo continuou a ter controle absoluto do jogo e na direita, Wilsinho driblou dois e chutou do pé esquerdo. A bola foi desviada e enganou o goleiro, Cosmos 0x2 Flamengo. Ainda no primeiro tempo, mais um lance na ala direita para Flamengo, com Nunes para Adílio. Com um domínio de futsal, Adílio achou Júnior sozinho na grande área, que não tinha no gramado americano, e o Capacete fez o gol fácil. No intervalo, Cosmos 0x3 Flamengo.

    No segundo tempo, Flamengo relaxou, talvez até deixou o Cosmos jogar, que chegou ao empate com 3 gols de Chinaglia. Um primeiro pênalti por causa de uma mão na inexistente grande área, um gol fácil depois de frango de Cantareli, e um segundo pênalti, de novo por causa de uma mão, de novo batido pelo Chinaglia. Pena que o homenageado do dia, Carlos Alberto Torres, não cobrou o pênalti, já que era um exímio batedor de pênaltis, fazendo vários com Santos ou Fluminense. No final, 3×3, a festa foi preservada, e Carlos Alberto Torres deixou o campo sob aplausos.

    Depois, Carlos Alberto Torres ficou morando nos Estados Unidos, onde treinou crianças. Explica o próprio Capita no livro Os 11 maiores laterais do futebol brasileiro de Paulo Guilherme: “Depois que parei de jogar comecei a dar aulas de futebol para a garotada em Nova Jersey. Vi que aquilo dava resultado e decidi continuar nos Estados Unidos. Conseguia reunir mais de 1.500 garotos em um único curso”. Mas não fez isso por muito tempo. O futebol tinha planos maiores para o Capita. Seis meses depois do jogo de despedida, o presidente do Flamengo Antônio Augusto Dunshee de Abranches foi até os Estados Unidos para convencer Carlos Alberto Torres de ser o técnico do Flamengo, já na terceira fase do Brasileirão. Carlos Alberto aceitou o desafio e mudou a forma de jogar do Flamengo, como relembra Zico no livro Zico, 50 anos de futebol de Roger Garcia: “O que acontece quando troca o treinador é que quem entra faz uma ou duas alterações, modifica a forma de jogar. O Carlos Alberto, por exemplo, fez uma mudança radical. Jogávamos com dois pontas avançados. E ele puxou dois caras para o meio, escalou o Júlio César Barbosa na esquerda, botou o Élder e ficamos eu e o Baltazar na frente. Nosso time ficou sem ponta. Antes estavam jogando o Robertinho e o Édson. Então o time às vezes cria certo equilíbrio e a coisa funciona”. A coisa funcionou, Carlos Alberto estreou com goleada 5×1 contra o Corinthians, também um jogo eterno no Francêsguista, e um pouco mais de um mês depois, o Capitão do Tri conquistava o tricampeonato brasileiro com Flamengo. Assim, depois de ser ídolo do Flu e do Santos, da Seleção e do Cosmos, Carlos Alberto Torres virava ídolo do Maior do Mundo, nosso Flamengo.

  • Na geral #18: Francêsguista virou livro

    Na geral #18: Francêsguista virou livro

    O jogo contra Cuiabá no domingo foi o último do ano com o consulado Fla Paris. Fui na casa de sempre, o Fleurus, já sem esperança do título. Foi o pior ano desde 2016, quando Flamengo voltou a brigar por taças. Esse ano é só comparável ao de 1995, quando Flamengo tinha muitas esperanças e teve ainda mais decepções. Foram, em 1995 e 2023, muitos vices, muitas vergonhas. Culpo tanto a diretoria, que errou ao liberar Dorival Júnior e contratar Vítor Pereira, que o técnico Jorge Sampaoli, que foi um fracasso completo. Culpo também os jogadores, poucos se salvaram esse ano, e outros caíram de rendimento de uma forma dramática. Agora, é só esperar dias melhores, com Tite no banco e contratações em campo.

    Mas o jogo contra Cuiabá teve bons momentos também, com a despedida de Filipe Luís e Rodrigo Caio. O Filipe Luís está na galeria dos grandes laterais esquerdos da história. E teve vários, Jordan, Paulo Henrique, Leonardo, Athirson, Juan. Mas acho, até tenho certeza, que, por causa dos títulos, da inteligência e classe em campo, também fora do campo, por causa da ligação com a torcida e da identificação com o Flamengo, Filipe Luís é só superado pelo Júnior. O mosaico da torcida com a foto do garoto Filipe Luís e seu Manto Sagrado ao lado do avô foi foda. Também, vale dizer que a torcida lotou em 2023 o Maracanã apesar de todas as decepções, batendo até o recorde no século XXI de média no Maracanã, superando a marca do ano histórico de 2019. Outro homenageado foi Rodrigo Caio, também na galeria dos grandes zagueiros da história do clube. Pena que o joelho não ajudou, mas em forma, foi um dos zagueiros mais limpos que teve, também um dos mais vencedores.

    E em Paris, o jogo contra Cuiabá também foi a oportunidade de apresentar para os amigos do consulado meu livro Francêsguista. Juntei num livro em autopublicação todas as crônicas que escrevi quando estava no Brasil, de setembro de 2022 até julho de 2023. E foram muitas crônicas: 16 na categoria Na geral, 81 jogos eternos, número bom na história do Flamengo, 20 ídolos, 20 times históricos. No total, mais de 500 páginas sobre nosso Flamengo. O objetivo não é de fazer dinheiro, só ter um formato físico de minha temporada no Brasil, e de achar uma maneira completa de contar a história incompleta do nosso grande amor. Fiquei feliz de ter o livro nas mãos e depois de mostrar para os amigos.

    E fiquei feliz com os irmãos interessados para o comprar o livro. Waldez era o primeiro interessado, mas faltou o jogo, e meu primeiro cliente foi Cidel, nosso presidente. Dedicatória, foto e abraço, Flamengo tem esse poder de ligar as pessoas, de criar amizades além do futebol. Também seria bom de ter o livro disponível no Brasil, mas agora de volta na França, fica difícil para mim de cuidar disso. Precisa de tempo, e prefiro dedicar esse tempo à escrita. Porque, mesmo de volta na França, continuou a alimentar o blog e escrever crônicas. Adoro escrever sobre Flamengo, pesquisar sobre Flamengo, seus jogos eternos, seus ídolos, seus times históricos. Tenho poucos leitores, mas minha recompensa é quando alguém me parabeniza para uma crônica, ou agora, o livro. E tem ainda melhor recompensa, é quando uma crônica traz lembranças para um irmão flamenguista desconhecido, quando ele responde a crônica com um “tava no Maracanã nesse jogo” ou um “meu pai me falava desse jogador, falava que jogava de terno”. Cada um de nós ama o Flamengo de seu jeito, e esse blog é uma oportunidade de lembrar esse amor.

    Como já falei, o objetivo não é dinheiro, o objetivo é escrever sobre Flamengo, ressaltar sua história. Deixo então aqui o PDF do livro, para quem tem curiosidade de ler e não está na França, para quem quer saber mais sobre nosso Flamengo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Times históricos #24: Flamengo 1944

    Times históricos #24: Flamengo 1944

    Os primeiros anos do profissionalismo no futebol carioca foram divididos entre Flamengo e Fluminense. O Tricolor foi tricampeão carioca entre 1936 e 1938, com o rubro-negro vice nos três edições. Flamengo conquistou o título em 1939, Fluminense o bicampeonato 1940-1941, de novo com Flamengo como vice nas duas edições. Flamengo perdeu o ídolo Leônidas, vendido pelo presidente Gustavo de Carvalho, mas conquistou o bicampeonato 1942-1943.

    Depois, outro ídolo saiu do clube, Domingos da Guia, que ainda hoje pode ser considerado como o maior zagueiro da história brasileira. Esta vez, foi o presidente Dario de Melo Pinto que mandou Domingos embora. Em 1971, Domingos falou para Placar que Dario de Melo Pinto era “o único dirigente que nunca conseguiu me compreender”. Já em 1941, quando Domingos reclamou da cama pequena durante uma excursão, Dario de Melo Pinto lhe respondeu: “Eu vou te arranjar um clube que tem uma cama maior para você”. Uma loucura. Outra loucura de Dario de Melo Pinto foi vender outro ídolo, Zizinho, em 1950. Enfim, como Leônidas, Domingos foi fazer sucesso em São Paulo, no Corinthians, e Flamengo também perdeu em 1943 o argentino Válido, que pendurou as chuteiras com 29 anos. Em compensação, Flamengo contratou já no final de 1943 um futuro ídolo, que já tem a crônica dele no Francêsguista, o paraguaio Modesto Bría.

    Flamengo iniciou o ano de 1944 com vitória 3×1 sobre Canto do Rio, gols de Zizinho, Nilo e Quirino. Depois, perdeu duas vezes no Pacaembu contra o Corinthians de Domingos, que já mostrava que ia fazer muita falta na defesa do Flamengo. Mas a venda de Domingos, a maior do futebol sul-americano, permitiu ao Flamengo de quitar as dividas e ampliar a capacidade do estádio da Gávea para quase 25 mil pessoas. Nessa época, não tinha ainda o torneio Rio – São Paulo, muito menos o Brasileirão. Fora alguns amistosos, o futebol era exclusivamente estadual. E antes do campeonato carioca, tinha alguns torneios com times cariocas. O Torneio Relâmpago foi disputado pelo cinco times, Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco e o America. E o campeão foi Vasco, que conquistou o titulo graças a uma vitória 5×2 sobre Flamengo na final. No Torneio Início, torneio disputado em apenas um dia com jogos de 20 minutos e final de 60 minutos, Flamengo chegou na final, mas perdeu 3×1, de novo contra Vasco. E no Torneio Municipal, agora com os mesmos 10 times que inscritos no campeonato carioca, de novo o campeão foi Vasco, de novo com último jogo contra Flamengo, agora um 2×2. Parecia que tinha um novo dono da cidade, o Vasco de Augusto, Lelé, Isaías e Jair Rosa Pinto.

    No campeonato carioca, o Flamengo de Flávio Costa estreou com derrota sobre o America. Flamengo fechou o primeiro turno com mais uma derrota contra Vasco, agora 2×1 apesar de um gol de Pirillo, que substituiu Leônidas em campo mas não nos corações rubro-negros. Flamengo fechou o primeiro turno com 5 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. E pior, perdeu o atacante Perácio, “o homem do chute mortal” por causa da guerra. Perácio foi um dos 25.334 soldados da Força Expedicionária Brasileira que foi lutar na Itália. Flamengo contratou três argentinos, Coletta, Sanz e De Terán, sem muito sucesso. E pior, no início do segundo turno, Flamengo perdeu 5×2 contra Botafogo no “Jogo do Senta” quando os jogadores do Flamengo, depois do quinto gol botafoguense litígio, sentarem-se em campo e recusaram-se a jogar. Com 7 pontos a menos do que o líder, o título estava muito longe da Gávea.

    Mas Flamengo se recuperou, venceu São Cristovão, venceu Canto do Rio, venceu Bonsucesso, venceu Madureira. No General Severiano, goleou Bangu 7×1 e voltou a acreditar ao título. E um pedido inocente mudou a história do Flamengo. O aposentado Valido foi pedir ao Flávio Costa o empréstimo do campo da Gávea para uma pelada com o time da companhia dele. Já contei em detalhes essa história na crônica sobre o jogo eterno contra Vasco. Valido, que nem devia jogar a pelada, acabou jogando, e jogou muito, a ponto de Flávio Costa lhe pedir para jogar o jogo decisivo contra Fluminense. Inscrito como amador e depois de apenas dois treinos com o time, Agustín Valido jogou muito na goleada 6×1 sobre Fluminense. Jogou e se cansou, parecia impossível jogar o último jogo, contra Vasco. “Passei a semana com febre […] Eu estava magro, abatido, mas me obrigaram a entrar” explicou depois Valido. Flávio Costa tinha outras opções com Jacir, Nilo e Tião, mas queria Valido. O elenco queria Valido também, para validar o tricampeonato. Contra Vasco, Valido jogou e se cansou, com 39 de febre. Quase fez apenas número em campo, lá na ala direita. No final do jogo, numa falta de Vevé, Valido, sem forças, se apoiou nas costas de Argemiro e fez o gol de cabeça, o gol do título, o gol da glória eterna num estádio de Gávea cheio desde o meio-dia, agora cheio de alegria.

    Valido se apoiou sim, para fazer um gol que os vascaínos reclamam até hoje. Mas como falou o grande compositor flamenguista Ary Barroso: “Ele se escorou sim. E teria sido melhor ainda se estivesse impedido e feito com a mão”. Ary Barroso, também ator, fez sucesso nos Estados Unidos e trabalhou até com Walt Disney. Escreve Roberto Sander no seu livro Anos 40, viagem à década sem copa: “Ari acabou sendo convidado pra se radicar no país. Não precisou muito tempo para recusar. É que nos Estados Unidos não tinha Flamengo. E não tendo Flamengo, nenhum lugar, mesmo com muitos dólares no bolso, tinha graça, pois aí não tinham transmissões aos domingos e, por consequência, não tinha a alegria de ver o rubro-negro vencer […] Sem dúvida, o Flamengo deve muito da sua popularidade ao incrível Ari Barroso. Mas também a seus próprios méritos e feitos inesquecíveis. Com certeza, o tricampeonato em 1942, 1943 e 1944 contribuiu e muito para que o rubro-negro caísse de vez nas graças do povão”.

    Flamengo ficou definitivamente no coração do povo e eu não resisto a citar mais uma vez Valido sobre esse gol, que falou para Roberto Assaf 50 anos depois do jogo: “Eu não estava me sentindo muito bem, pelo menos para jogar, mas aqueles eram outros tempos, a gente tinha sobretudo amor à camisa e eu não ia deixar uma chance daquelas passar. Além disso, os companheiros insistiram e o Flávio Costa acabou me escalando. Naquele dia, quem me ajudou foi Deus. Mas também devo tudo isso ao presidente José Bastos Padilha, o maior que o clube teve em todos os tempos, que me contratou. Aquele gol e o tricampeonato representaram um fecho de ouro para mim, pois desde a Argentina sempre sonhei em atuar no Brasil, onde só encontrei felicidade e glórias. Depois do jogo, tive uma crise nervosa tão grande que fui obrigado a sair do Rio para me recuperar. Muita emoção. Então, resolvi dar um adeus, aí, sim, definitivo, ao futebol. Mas olha, na verdade nunca consegui me desligar completamente do Flamengo”. No dia seguinte, o Jornal dos Sports manchetou: “Profissionais com alma de amadores”. E mais, além da alma, Valido era realmente registrado como amador para um dos jogos mais importantes da história do Flamengo. Continua Roberto Sander: “Se o clube já era popular, com essa conquista obtida na base de heroísmo, ficou ainda mais, pois, a partir daí, se criou a mística da camisa rubro-negra de buscar as vitórias na pior adversidade”.

    Também não resisto a vontade de mencionar outra vez o escrito José Lins do Rego, que eternizou: “Para o Brasil, o tri do Flamengo é mais importante que a Batalha de Stalingrado”. A alegria da Gávea se estendia para Rio, para o Brasil inteiro, até para os campos de guerra na Europa. O Perácio podia sorrir de alegria e de felicidade, junto com alguns dos 25.333 companheiros. Para fechar, cito o tenente José Carlos Teixeira Coelho, também membro da Força Expedicionária Brasileira na Itália, que escreveu para um amigo uma carta, depois publicada pelo Mário Filho no seu livro Histórias do Flamengo: “Geraldo, até parece que eu estava no Brasil, vibrando com todas as forças do meu coração flamengo, pela vitória do team mais querido. É impossível descrever a alegria da nossa turma flamenga aqui, neste teatro de operações na Itália. Éramos mais de uma dezena em torno do rádio, ávidos de emoções e exultantes de alegria. Comemoramos a vitória de maneira espetacular, pois, além de tanto representar para nós, ainda coincidiu com a espetacular vitória de nosso team no ‘front’ que, com bola e tudo, varou as redes do inimigo”.

  • Jogos eternos #110: Atlético Mineiro 2×3 Flamengo 1987

    Jogos eternos #110: Atlético Mineiro 2×3 Flamengo 1987

    O jogo de hoje é um dos mais importantes do ano para Flamengo. Ainda não é uma final, mas é um jogo decisivo, como foi a semifinal da Copa União em 1987. Como já falei na crônica sobre o time histórico de 1987, a Copa União foi o Brasileirão deste ano, e o Módulo Amarelo foi a segunda divisão, no máximo um torneio paralelo organizado por uma entidade decadente, a CBF.

    Vamos então diretamente para a semifinal da Copa União entre o Atlético Mineiro e Flamengo. O Atlético Mineiro precisava de uma vitória no Maracanã para se classificar diretamente na final. Sob pressão, Flamengo jogou mal. Mas com o apoio de 118.162 torcedores e gol de Bebeto, Flamengo ganhou e forçou um jogo de volta no Mineirão. No 2 de dezembro de 1987, com a suspensão de Jorginho, Carlinhos escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Leandro Silva, Leandro, Edinho, Leonardo; Andrade, Aílton, Zinho, Zico; Renato Gaúcho, Bebeto. Um timaço.

    Apesar do nível do time do Flamengo, o favorito ainda era o Atlético Mineiro, o único a derrotar Flamengo nos 11 últimos jogos. E Flamengo nunca tinha vencido o Atlético Mineiro no Mineirão num jogo oficial. Escreve Paschoal Ambrósio Filho no seu livro 6x Mengão: “Mesmo pode do simplesmente empatar no Mineirão, fora a torcida rubro-negra, ninguém acreditava que o time da Gávea seria finalista. O Atlético seguia como franco favorito. O técnico Carlinhos decidiu colocar o time jogando pra frente, marcando pressão, como se estivesse em casa. Isso acabou desnorteando a equipe dirigida por Telê Santana, que esperava um Flamengo fechado na defesa, buscando explorar a velocidade nos contragolpes”. E para ficar ainda mais clássico, tinha um duelo no jogo, não entre dois mestres, Carlinhos e Telê Santana, mas entre Telê Santana e um jogador polêmico, Renato Gaúcho. Um ano antes, Telê Santana deixou de fora da Copa do Mundo Renato Gaúcho, que voava no futebol brasileiro, por causa de uma escapada noturna. Agora, era a hora do reencontro.

    Jogo começou tenso e primeiro lance de perigo foi para o Atlético Mineiro, com chute de Marquinho, que passou só um pouco em cima do travessão. Renato teve outra oportunidade para o Galo, mas Andrade defendeu bem. “O time deles jogou no desespero de sua torcida. Entrou em campo para resolver a partida em dez minutos. Bastava prestar atenção na fisionomia de alguns jogadores para sentir que não aguentariam a pressão emocional” explica Zico no livro 1987, a história definitiva, de Pablo Duarte Cardoso. Na metade do segundo tempo, Nosso Rei Zico abriu na direita para Bebeto, que cruzou e achou de novo Zico. Claro, Zico é principalmente elogiado pela técnica, habilidade, objetividade, inteligência de jogo e muitas outras coisas, mas o jogo aéreo não vem regularmente quando se fala das qualidades de Deus, olha a ironia. Porém, Zico voou no céu e fez um toque de cabeça, que foi como Zico foi, além da perfeição. Flamengo 1×0 Atlético Mineiro.

    Dez minutos depois, como todas as jogadas, lance começou nos pés de Zico. A defesa atleticana falhou, mas Renato Gaúcho foi perfeito no pique, Zico foi perfeito no lançamento. No limite do impedimento, Renato Gaúcho saiu na direita e cruzou. Batista falhou, Bebeto chutou de pivô, Flamengo 2×0 Atlético Mineiro. No minuto seguinte, loucura da época, um torcedor invadiu o campo para agredir o jogador flamenguista Leandro Silva, Renato Gaúcho deu um chute no torcedor, outros torcedores foram no gramado, policia interveio, jogo foi paralisado por cinco minutos. Jogo recomeçou e, outra loucura da época, Paulo Roberto deu uma entrada mais criminosa que o torcedor do Galo, com as duas pernas no tornozelo de Zico, que escapou de pouco de reviver o pesadelo de 1985. Paulo Roberto foi justamente expulso, Flamengo tinha um homem a mais e dois gols a mais, estava perto da final. Mas era jogo decisivo da Copa União, era jogo emocionante, era jogo eterno.

    No mesmo lance, Bebeto e Renato Gaúcho tiveram duas oportunidades claras de gol, mas o placar ficou no 2×0 para Fla. Num outro cruzamento da direita, Renato Gaúcho achou Bebeto, mas João Leite saiu bem. Zico fez um drible sensacional e deixou em boa posição Aílton, que chutou fraco. Flamengo estava muito próximo de fazer o terceiro gol, sem fazer o gol. E nessas condições, quem não faz, acaba levar. Renato, não o Gaúcho mas o atacante do Atlético Mineiro, provocou um pênalti, Chiquinho chutou com força, e a geral do Mineirão voltou a acreditar. Quatro minutos depois, de novo Chiquinho, numa falta curta para Sérgio Araújo, que driblou dois, chutou colocado, empatou. Loucura no Mineirão, o Galo estava a um gol de ver a final, e na sequencia, Zé Carlos salvou Flamengo com uma defesa com o pé. E pior para o Flamengo, com muitas dores no joelho, Zico tive que ceder seu lugar e desabafou na saída de campo: “Fica perdendo gol demais, agora tá sofrendo. Podia ter definido o jogo. Não definiu, agora é sufoco”. Confirmou depois Renato Gaúcho para TV Globo: “O Mineirão estava lotado e o Atlético ainda não tinha perdido nenhuma partida; a não ser a primeira da semifinal pra gente, no Maracanã. Nós começamos bem e fizemos 2 a 0. Durante a partida eu já tinha xingado o Bebeto, o Zico tinha xingado o Bebeto, porque ele havia perdido duas ou três oportunidades para matar o jogo e isso fez com que o Atlético reagisse e empatasse em 2 a 2. O Zico foi substituído por Henágio e saiu bravo e preocupado, mesmo sabendo que o empate era nosso. Numa dividida entre o Aílton e um jogador deles, a bola caiu no meu pé, no círculo do meio de campo, e eu arranquei. Pensei: é agora ou nunca”. É agora ou nunca.

    Ainda longe do gol atleticano, Renato arrancou, ganhou na corrida de Batista, escapou do desesperado carrinho, driblou o goleiro e empurrou nas redes. Um golaço, um dos gols mais importantes da história do Flamengo. “Este é um gol, para mim, que está entre os três gols mais importantes da minha carreira” opinou Renato Gaúcho. Para Nosso Rei Zico, “O Renato jogou demais aquela partida. Ele foi vaiado pela primeira vez pela torcida contra o Santa Cruz e não tinha atuado bem no jogo contra o Atlético, no Maracanã. Ele entrou super motivado. Não acho que tenha sido por causa do Telê Santana especificamente. O que eu sei e que ele arrebentou o jogo. Pra nossa sorte, ele estava do nosso lado”. Depois do jogo, Renato Gaúcho falou sobre Telê Santana: “Não me preocupei com ele. Um ano antes ele matou meu sonho, eu estava voando. Em 1985, fui considerado o melhor jogador das eliminatórias. Faltando seis meses, ele me cortou da Copa do mundo. A reposta que tinha que dar a esse senhor, dei em campo”.

    Tinha mais importante que uma Copa do mundo com a Seleção, tinha um Brasileirão com Flamengo, e Renato Gaúcho fez um dos gols mais marcantes de toda a história do clube. No seu livro 1987, a história definitiva, Pablo Duarte Cardoso escreve: “Desafia-se o torcedor do Sport a referir, um, um só momento assim de sua campanha de 1987”. Não tem mesmo, se tem poucos gols assim na história do Flamengo, imagina então na história do Sport. Flamengo venceu o Atlético Mineiro com grande atuação de Zico e Renato Gaúcho, depois derrotou o Inter na final com gols de Bebeto e foi campeão. Um time histórico, um time campeão brasileiro. Para fechar, a palavra para o grande jornalista palmeirense Mauro Beting, no livro Flamengo 1987, no campo e na moral, de Gustavo Roman: “Foi o melhor jogo do campeonato e um dos melhores que eu já vi. Não só pela partida em si, mas por tudo que envolvia o confronto. Uma rivalidade que marcava, Renato versus Telê Santana, o ressurgimento de Zico. Quem assistiu, não irá jamais esquecer. Ali, pintou o campeão brasileiro de 1987. O fato é que o Renato jogou demais naquela noite, no Mineirão. Talvez tenha sido a melhor partida dele, depois da atuação em Tóquio, pelo Grêmio, na decisão da Copa Intercontinental, em 1983”.

  • Jogos eternos #109: Flamengo 3×1 América 2007

    Jogos eternos #109: Flamengo 3×1 América 2007

    Hoje, Flamengo joga contra o América Mineiro, ultra-rebaixado e lanterna do Brasileirão, em Uberlândia. Então para o jogo eterno vamos em outra cidade mineira, Juiz de Fora, contra outro América, de Natal, um jogo de 2007 deslocalizado em terras mineiras por causa dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro.

    E na época, quem era a lanterna do Brasileirão era o próprio Flamengo. Estreou no Brasileirão de 2007 com derrota contra Palmeiras, venceu em seguida Goiás, e depois ficou 8 jogos sem vencer! Flamengo estava na última colocação da tabela, dois pontos atrás do America. Era um jogo de perigo, principalmente para o técnico Ney Franco, que tinha o cargo ameaçado. No 25 de julho de 2007, Ney Franco escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Moisés, Thiago Gosling, Ronaldo Angelim, Juan; Jaílton, Cristian, Léo Medeiros, Renato Augusto; Obina. Um time de ídolos e de perebas.

    No estádio Mário Helênio, com 10.854 pagantes, Flamengo precisou de 18 minutos para abrir o placar. A falta da promessa Renato Augusto bateu na trave, a bola bateu em vários jogadores na pequena área, voltou para o ídolo Ronaldo Angelim que, com uma inusitada mas apropriada camisa 9, tocou de bico e fez o primeiro gol da partida. Mas eram tempos de crise, e Flamengo estava dominado no jogo, apesar do América chutar muito longe do gol. Até uma falta, colocada na cabeça de outro zagueiro, Carlos Eduardo, que empatou dez minutos antes do intervalo. Nos acréscimos, Ronaldo Angelim quase fez uma assistência para Obina, que chutou cruzado, a bola flirtou com a trave, mas do lado errado. No intervalo, Flamengo 1×1 América.

    No início do segundo tempo, Obina teve outra oportunidade, fez a jogada de pivô, mas sem espaço para chutar com força e o goleiro fez a defesa fácil. Jogo ficou animado, com lances de dois lados, o maior para Obina, de novo de pivô, agora com mais força, mas sem precisão. E o gol chegou na hora de jogo, Jaílton teve espaço na direita, com 25-30 metros de distância, para chutar. O chute saiu bonito e certinho, pegou de surpresa o goleiro Renê, que tocou a bola com a mão, mas não suficientemente para impedir o gol, a alegria rubro-negra.

    Flamengo continuou a dominar e o terceiro gol chegou com jogada de ídolos, cruzamento de Juan para a cabeçada de Obina, que foi comemorar o gol abraçando o técnico Ney Franco. No final, uma vitória 3×1, Flamengo saía da lanterna mais ficava na zona de rebaixamento, um alívio para Ney Franco, de pouco tempo, o técnico caiu na rodada seguinte depois de um empate 2×2 contra Corinthians. Mas chegou um técnico ídolo, Joel Santana, e um outro ídolo, Ibson, e depois de mais duas derrotas, Flamengo arrancou, arrancou, até chegar no final do campeonato a uma inesperada vaga na Libertadores. Vamos arriscar mais uma vez, aprendre Flamengo de 2023.

  • Jogos eternos #108: Flamengo 4×1 Red Bull Bragantino 2022

    Jogos eternos #108: Flamengo 4×1 Red Bull Bragantino 2022

    Antes do jogo atrasado entre Flamengo e Red Bull Bragantino, um jogo eterno de um ano só, e de muita saudade para mim. No meu primeiro mês morando no Brasil, fui ao meu terceiro jogo do Flamengo no Maracanã, depois da semifinal da Copa do Brasil contra São Paulo e o Fla-Flu no Brasileirão, minha volta na Norte. E para o jogo contra Red Bull Bragantino, encontrei meu amigo Gabriel antes da partida e fomos na Norte com a Fla Manguaça, o início para mim de uma rotina de muitos, muitos jogos.

    Flamengo estava longe do título e não vencia no Brasileirão há 4 jogos, mais de um mês sem vitória. No 1o de outubro de 2022, Dorival Júnior escalou Flamengo assim: Santos; Rodinei, Fabrício Bruno, Pablo, Ayrton Lucas; Thiago Maia, Vidal, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Gabigol, Pedro. Contra Bragantino, o Maracanã precisou de apenas 3 minutos para explodir, Gabigol, no cara a cara com o goleiro, foi puxado por um desesperado Luan Cândido, justamente expulso pelo Daronco. Na cobrança, Gabigol achou, não a rede, mas a trave. Incrível como Gabigol também perdeu o lado matador nos pênaltis quando antes era um dos melhores, se não o melhor, batedores de pênalti no Brasil. Enfim, primeira decepção no Maracanã, mas era só o início do jogo.

    Finalmente, Gabigol nem precisou de 10 minutos para achar o caminho do gol e da alegria da torcida. Tabelinha entre Arrascaeta e Vidal, Arrascaeta invadiu a grande área no estilo de Bruno Henrique contra River Plate em 2019, e achou Gabigol na esquerda, como BH27 tinha achado o próprio Arrasca na final de 2019. Essa vez, Gabigol chutou diretamente no gol, chutou cruzado, chutou bonito, 1×0, explosão no Maraca.

    No incio do segundo tempo, com uma jogada boba de Arturo Vidal, Daronco apitou o pênalti para Bragantino e Helinho empatou. Tensão no Maraca. Mas o segundo tempo pertencia a um homem, Pedro. Ou melhores, 5 minutos do segundo tempo. Com 20 minutos no segundo tempo, depois de bom cruzamento da esquerda de Éverton Cebolinha, que entrou em campo após o intervalo, Pedro fez o gol de um toque só, com o pé esquerdo. Com 24 minutos, outro bom cruzamento, agora da direita, agora de Arrascaeta, outro gol de Pedro de um toque só, agora do peito. Festa, cantos, emoção no Maracanã.

    E menos de dois minutos depois, Ayrton Lucas fez toque leve para Pedro, perto da marca do pênalti. Com um toque só de novo, agora de pé direito, Pedro mandou de novo a bola para as redes, pela terceira vez em cinco minutos. Como é bom de comemorar um gol após o outro, o Maracanã fica mais cheio, mais bonito, mais caloroso. E Pedro é goleador, é artilheiro completo, artilheiro nato. Seu hat-trick só não foi o mais rápido da história do Flamengo porque Bruno Henrique fez 3 contra o Corinthians em 2019 em 4 minutos. Mas entre o segundo e o terceiro gol de Bruno Henrique, teve o intervalo, então acho o de Pedro mais especial ainda. E mais, eu estava lá no Maraca para cantar, para gritar, para vibrar.

    No final, hat-trick e bola do jogo para Pedro, goleada do Flamengo, e para mim uma volta inesquecível de metrô até a Rocinha, o que ia se tornar rotina em dias de vitória. No metrô, foram muitos cantos com Gabriel e outros irmãos flamenguistas desconhecidos, porque duas horas de jogo, mesmo com 4 gols, não são suficientes para cantar todo meu amor pelo Flamengo.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”