
Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
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Jogos eternos #99: Cruzeiro 0x1 Flamengo 2001

Mais uma vez eu vou de um jogo de 2001, algumas semanas depois do jogo de ida da final da Copa dos Campeões contra São Paulo e do jogo contra Corinthians no Brasileirão. Nos dois jogos, o ídolo Petkovic brilhou, como brilhou no jogo eterno contra o Vasco nesse mesmo ano de 2001, gol de Pet, tri do Flamengo.
Flamengo deu em 2001 alegrias, com títulos no campeonato carioca e Copa dos Campeões, mas deu também temores, principalmente no Brasileirão. Depois do jogo vencido no Morumbi contra o Corinthians, Flamengo perdeu 3 jogos consecutivos, o último o Fla-Flu. Em 21 jogos no Brasileirão, Flamengo somava 20 pontos e corria um sério risco de rebaixamento. Mas tinha alguns craques, o goleiro Júlio César e o cérebro Petkovic.
Cruzeiro tinha também craques como Maicon e Ricardinho, além de Luisão e Jussiê, que brilhou depois na França. No 8 de novembro de 2001, com um pequeno público de 14.167 pagantes no Mineirão, Zagallo escalou Flamengo assim: Júlio César; Alessandro, Leonardo Valença, Gilmar, Anderson Alves; Rocha, Jorginho, Beto, Petkovic; Roma, Reinaldo. Zagallo tinha fé, com camisa 13 nas costas, e a fé pode trazer milagres.
Quem começou o jogo melhor foi Cruzeiro, mas Flamengo tinha um grande goleiro, Júlio César, que desviou uma falta perigosa de Ricardinho. Flamengo quase fez gol com um chute de Alessandro, mas o meia Sérgio Manoel salvou em cima da linha. Depois, foi um show de Júlio César, com várias grandes defesas, e quando estava vencido, estava salvo pela trave.
Mas Flamengo estava longe da vitória, precisava de uma jogada individual, de um lance de gênio para fazer a diferença. E foi o caso, faltando 10 minutos para o jogo acabar. O início da jogada foi muito parecido ao segundo gol do Flamengo contra o Corinthians algumas semanas antes, com passe no chão de Alessandro vindo da direita. Como contra o Corinthians, primeira intenção de Petkovic foi de chutar. Como contra o Corinthians, mudou de raciocínio durante o lance, dominou o lance abrindo ao mesmo tempo o espaço no pé direito. Contra o Corinthians, Pet chutou e fez o golaço. Talvez a defesa de Cruzeiro tinha também esse lance na memória. Abedi fechou o espaço, mas Petkovic, como gênio que era, adaptou-se mais uma vez, deixou a bola de calcanhar para Beto chutar de primeira, para fazer o gol da vitória.
No finalzinho, mais uma defesa de Júlio César, que caiu nas lágrimas na entrevista depois do jogo. Flamengo ganhava um jogo importantíssimo, e depois de mais três derrotas e duas vitórias, Flamengo garantia a permanência no Série A, com apenas dois pontos a mais do que o primeiro rebaixado. Não é nenhum exagero dizer que sem Júlio César e Petkovic, Flamengo provavelmente teria conhecido neste ano a maior vergonha que um grande clube pode conhecer.
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Times históricos #23: Flamengo 1973

O ano de 1973 viu uma das melhores linhas de ataque da história do Flamengo: Doval, Paulo César Caju, Afonsinho, Rogério e Dadá Maravilha. Tinha ousadia dentro e fora do campo, com dribladores, goleadores, rebeldes também. Cada um dos jogadores mereceria a crônica dele na categoria dos ídolos. E o Flamengo também tinha o maior reserva de todos, Zico, então com 19 anos, e que aprendeu muito como todos esses craques. Explica Zico no livro Zico conta sua história: “Naquele ataque, joguei em todas as posições. Armava, lançava, distribuía da intermediária, invadia pelos flancos e pelo meio, fazia as assistências, centrava e finalizava. Tive que aprender a fazer um pouco de tudo, a aproveitar cada oportunidade que aparecia para mostrar o quanto poderia ser útil ao time”. Zico aprendeu um pouco de tudo, aprendeu muito da bola, e se consolidou como craque.
Ainda sem Zico no time titular, Flamengo começou a temporada de 1973 com um amistoso, nada amistoso por causa do adversário, Vasco. Em jogo, a Taça Cidade do Rio de Janeiro, oferecida pela Rede Tupi. E Flamengo, com apenas um jogo em 1973, já era campeão, com uma vitória 1×0, gol de Paulo César Caju, o grande reforço do clube no ano passado, com uma transferência de um milhão de dólares, uma fortuna na época. Depois, Flamengo jogou outro torneio amistoso, o Torneio do Povo, com os clubes de maior torcida dos estados mais importantes do Brasil. A competição também era chamada de Torneio General Emílio Garrastazu Médici, eram os tempos da ditadura, que queria encher estádios e encher de ilusões as pessoas. Flamengo começou com um 0x0 contra o Corinthians e no jogo seguinte, já era o momento de Zico brilhar, ainda sem a camisa 10. Titularizado pelo Zagallo, Zico fez dois gols na vitória contra o Atlético Mineiro. Mas depois Flamengo perdeu contra Coritiba, empatou contra Bahia, perdeu de novo contra o Internacional, e não se classificou para a fase final da terceira e última edição do Torneio do Povo, torneio conquistado pelo Flamengo em 1972.
Flamengo também jogou a Taça Erasmo Martins Pedro, um quadrangular com times cariocas, começou com um empate 1×1 contra Botafogo e perdeu 1×0 contra o futuro campeão, Vasco, com último gol na carreira de um autentico craque, Tostão, que com apenas 26 anos, foi forçado a pendurar as chuteiras por causa de uma lesão no olho. Era depois a hora de começar a Taça Guanabara, a primeira fase do campeonato carioca. E Flamengo começou bem, vitória 3×0 no Maraca contra Olaria, gols de craques, Dario, Doval e Paulo César Caju. Dario, o polêmico e irreverente Dadá Maravilha, também balançou as redes contra Campo Grande, São Cristóvão, Bangu e Madureira. Também com grandes atuações do gringo Doval e do também polêmico Paulo César Caju, o time rubro-negro levou o Fla-Flu e chegou na última rodada empatado com o Vasco, justamente o último adversário do Flamengo. E deu mais uma vez título para Flamengo, vitória 1×0. Vale a pena mencionar Paulo César Caju, na sua biografia Dei a volta na vida: “Em 1973, ganhamos a final da Taça Guanabara contra o Vasco da Gama de Tostão: 1 a 0, com um golaço de falta meu em cima do grande Andrade, excepcional goleiro argentino, aquele que engoliu o milésimo gol de Pelé. Mais uma grande conquista no meu currículo. Minha popularidade cresceu muito no país. É impressionante como é enorme a dimensão do nome Flamengo. E olha que eu joguei no ‘Selefogo’!”. Detalhe, Paulo César Caju se equivoca, talvez confundindo com o primeiro jogo da temporada de 1973, mas não fez o gol nesse dia, quem fez foi Arílson. Onde não se equivoca é quando ele fala sobre a dimensão do nome Flamengo.
Antes do título, teve um dos dias mais importantes da história do clube. Zico, magoado por não ser convocado nos Jogos Olímpicos depois de fazer o gol de classificação, depois de quase desistir do futebol por causa dessa decepção, assinou, no 1o de maio de 1973, seu primeiro contrato profissional. Zico, ainda reserva, voltou a jogar três semanas depois, com uma excursão do time no Espírito Santo, quando foi titularizado no jogo contra Desportiva Ferroviária pelo técnico interino Joubert, o técnico de Zico na base e que também lançou o Galinho do Quintino nos profissionais em 1971. Flamengo ganhou o jogo 1×0, gol de quem, você já sabe, Zico, o maior de todos, agora profissional.
No segundo turno do campeonato carioca, a Taça Francisco Lapart, de apenas 7 jogos, Flamengo fechou a tabela no terceiro lugar, destaque para a goleada 8×0 sobre Bangu, com 4 gols de Dario, 3 de Doval e um de Paulo César Caju. Antes do desfecho da fase, finalmente vencida pelo Fluminense, Flamengo fez alguns amistosos, venceu o Troféu Araribóia, competição para o aniversário da cidade de Niterói, com vitória sobre Vasco, também venceu a Taça Dr. Manoel dos Reis e Silva, competição disputada em Goiânia entre 1972 e 1974, sempre vencida pelo Flamengo. Flamengo também voltou no Espírito Santo e derrotou um combinado de cachoeiro de Itapemirim, com um gol de Zico, que jogava às vezes com a camisa 9, às vezes com a camisa 7, mas ainda não com a camisa 10.
No terceiro turno do campeonato carioca, o Troféu Pedro Novaes, Flamengo começou perdendo o Fla-Flu e depois venceu Olaria, perdeu contra Botafogo, empatou contra Bonsucesso. Fluminense, vencedor da segunda fase e de seu grupo na terceira fase, se classificou diretamente para a grande final do campeonato carioca. Vasco venceu o outro grupo da terceira fase e jogou a semifinal do campeonato carioca contra Flamengo, que tinha vantagem do empate por ter vencido a Taça Guanabara. Um regulamento complicadíssimo, denunciado pelo José Inácio Werneck para o Jornal do Brasil: “São muitos turnos, muitos campeões, e há clubes, mesmo, que entram e saem de cena sem que eu perceba ao certo porque. Ah! Já não se fazem mais campeonatos como outrora, e sim fórmulas matemáticas que tornam impossível saber hoje o que vai suceder no domingo. Anunciam que o objetivo é proteger os clubes pequenos. Antigamente, contudo, o Olaria e o São Cristóvão ainda tinham torcida, e hoje me parece que a espécie de extinguiu, de todo”. Com ventagem do empate, Flamengo apenas segurou o placar no 0x0 até o final e se classificou para a final. Na final, um Fla-Flu, como um ano antes, quando Flamengo foi campeão com vitória 2×1. Em 1973, com Zico titular, Flamengo foi em busca de mais um título, com 74.073 pagantes no Maracanã, um público quase modesto para a época, mas que se explica por causa da chuva muito forte nesse dia no Rio. Apesar de dois gols de Dadá Maravilha no jogo, Flamengo perdeu 4×2 e deixou o título para Fluminense.
Quatro dias depois da perda do campeonato carioca, Flamengo estreou no Brasileirão, com vitória 1×0 sobre Comercial, gol de Sérgio Galocha. Mas logo no início do campeonato, parecia que o Brasileirão ia ser difícil, com derrotas fora de casa contra Goiás e Santa Cruz. Venceu 1×0 Olaria e Sergipe, mas perdeu contra Santos, 1×0, e Atlético Mineiro, 3×0. Depois, teve um jogo muito importante para o Flamengo, um 2×2 contra Vasco, primeiro jogo com o Manto Sagrado de mais um craque polêmico, o primeiro Doutor, Afonsinho. Falou Afonsinho nesse mesmo ano de 1973 para a Folha de S. Paulo: “Porque falo o que penso e antes penso no que vou falar, sou muito visado, muito criticado. Não sei se pela barba, pelo cabelo, por deter meu próprio passe ou por ter a cabeça no lugar. Só tem uma coisa: não abro mão de nada disso. Eu falo mesmo. E também assumo a responsabilidade de meus atos”. Mas se esse jogo contra Vasco é importante para o Flamengo é por outro motivo: foi simplesmente o primeiro gol profissional no Maracanã de Zico, cada vez mais titular. Esse é a data, 23 de setembro de 1973, primeiro gol de Zico no Maracanã, de pênalti, contra Vasco.
Depois de uma vitória 4×1 sobre Náutico no Maracanã, gols de Dario, Doval, Zico, Caju, Flamengo entrou num jejum incomodante, com 6 derrotas e um empate até um sucesso 1×0 contra Figueirense. Flamengo contratou outro craque, Toninho Guerreiro, que fez dupla de sucesso com Pelé no Santos, mas foi um fracasso: apenas 3 jogos, o último uma vitória 2×1 sobre Rio Negro, com o único gol de Afonsinho para o Flamengo. Mas já era tarde demais para Flamengo, que fechou a primeira fase na 24a colocação, 3 pontos a menos do último classificado para a segunda fase. O ano de 1973 também viu a morte precoce de um ídolo do clube, Almir Pernambuquinho, e a primeira morte de um ídolo do Brasil, Garrincha, que fez seu jogo de despedida no Maracanã. Flamengo fechou o ano com 3 vitórias sobre times cariocas, Botafogo, Olaria e America. Nos 3 jogos, Zico fez gol. E aqui estava o motivo de felicidade para a Nação rubro-negra, Zico vestia pela primeira vez a camisa 10, que antes era posse do argentino Doval. E o primeiro a dar a camisa 10 para Zico não foi técnico, Zagallo ou Joubert, mas o funcionário Ayer Andrade, que explica isso no livro Zico, 50 anos de futebol, de Roger Garcia: “Estávamos no vestiário do Maracanã. Perguntei ao gringo se ele não poderia deixar o menino entrar com a 10. E ele me falou, naquele português enrolado: ‘Ô Andrade… quem joga sou eu, não é camisa, vai lá e dá a camisa ao menino’”. Isso é talvez a maior marca da temporada de 1973 que tive decepções no campeonato carioca e no Brasileirão, mas agora sim, Zico era camisa 10 do Mengo.
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Jogos eternos #98: Corinthians 1×2 Flamengo 2001

Eu já escrevi sobre vários jogos do Flamengo contra Corinthians, inclusive algumas goleadas, o 5×1 em 1974, outro 5×1 em 1983 ou o 4×1 em 1998. Para hoje, era possível um outro 5×1, em 2020, ou outro 4×1, em 2000, ou até o 3×0 de 1999 e o elástico de Romário sobre Amaral, que um dia eternizarei aqui com certeza. Mas para hoje, eu vou de um placar mais magro, mas com a marca de um outro craque, um sérvio que brilhou muito em 2001.
O ídolo Petkovic brilhou muito em 2001, com gol de falta contra Vasco e título carioca, com outro gol de falta e outro título, o da Copa dos campeões contra São Paulo depois de um jogo eterno na ida. Flamengo brilhou em 2001, mas também decepcionou, com um Brasileirão pífio. No 17 jogos antes da partida contra o Corinthians, Flamengo tinha 4 vitórias, 5 empates e 8 derrotas. Tinha um risco sério de rebaixamento e uma semana antes do jogo contra o Timão, tomou um 5×1 contra Vasco. Precisava de uma reação.
Do outro lado, o Corinthians, bicampeão brasileiro em 1998 e 1999 e campeão mundial 2000, também não estava bem no campeonato, com apenas 6 vitórias em 17 jogos. Um duelo de gigantes, mas com dois times em dificuldade. No 14 de outubro de 2001, o eterno Zagallo escalou Flamengo assim: Júlio César; Alessandro, Gilmar, Leonardo Valença, Cássio; Jorginho, Carlinhos, Vampeta, Beto, Petkovic; Reinaldo. Para o Corinthians, três pentacampeões do mundo, Dida, Ricardinho e Luizão além de Vanderlei Luxemburgo no banco e um ídolo flamenguista no meio de campo, Renato Abreu.
No Morumbi, quem começou melhor foi o Corinthians, que abriu o placar com apenas 7 minutos de jogo. No limite do impedimento, Ricardinho recebeu a bola depois de um lançamento de Kléber, chutou, Júlio César defendeu, mas de forma parcial, e bola foi nas redes antes da chegada de Leonardo Valença. Flamengo reagiu 5 minutos depois com uma falta a 20 metros de distância. Quando tem Petkovic no time, é muito perigo, mas Petkovic chutou para cima do travessão. Ainda não era a hora da estrela do sérvio de brilhar. Petkovic teve outra oportunidade na sequência, pedalou, chutou, mas Dida defendeu sem problema. Jogo foi animado, porém sem outros gols até o intervalo.
No segundo tempo, Zagallo fez entrar Roma, que com apenas 3 minutos de jogo, conseguiu um escanteio depois de dois dribles de Beto. Roma foi bater o escanteio curto e achou Petkovic perto da entrada da grande área. O sérvio dominou de pé esquerdo, pedalou de pé direito, e depois de duas fintas, achou Reinaldo. Sem espaço, Reinaldo chutou sem impulso, Beto desviou a bola, enganou Dida, Flamengo empatou. O Corinthians reagiu em seguida, mas Júlio César fez duas defesas em cima de Luizão e preservou o empate.
E Flamengo virou, de novo com Roma no início, que ganhou na dividida de Otacílio, fintou de corpo Otacílio, fintou de chute Marquinhos. Antes de poder chutar ao gol, Otacílio voltou para afastar o perigo, momentaneamente. Roma recuperou a bola e fez o passe atrás para Alessandro, que teve o tempo de cruzar no chão. Era a hora da estrela do sérvio de brilhar. Sozinho na grande área, Petkovic teve a intenção de chutar de primeira, mas com o raciocínio do gênio, dominou, fez uma finta de chute ao mesmo tempo fazendo o drible, abrindo o espaço. Já era tarde demais para os corintianos, com a precisão do craque, Petkovic achou a gaveta de um Dida sem recursos e sem movimentos. Um golaço de um sérvio, de um gênio, de um ídolo da Nação.
No final, Flamengo foi salvo, às vezes pela trave, às vezes pelas defesas de Júlio César, Flamengo ganhou um jogo importantíssimo num campeonato complicadíssimo até o final, Flamengo se salvando do rebaixamento no último jogo, contra outro paulista, Palmeiras. Mesmo nas horas difíceis, tinha alguém para brilhar com o Manto Sagrado.
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Jogos eternos #97: Flamengo 3×0 Bahia 1985

Ainda na ressaca da derrota na final da Copa do Brasil, com os craques atuais que decepcionaram, tem que voltar ao maior craque, Zico, que voltou em 1985 no Flamengo depois de 2 anos na Itália, que voltou para fazer a alegria da torcida flamenguista, que voltou para brilhar no Maracanã, primeiramente contra Bahia.
A história começou em 1983 quando o presidente do Flamengo, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, fez a maior loucura da vida, o maior crime contra a Nação, vendeu Zico para Udinese. Zico virou ídolo do estádio Friuli, da cidade de Údine e da Itália inteira. Fez muitos gols, quase foi artilheiro da Série A, fez golaços de falta, brilhou num campeonato cheio de craques. Mas estava longe do Flamengo, do Maior do Mundo. Depois do crime contra a Nação, Antônio Augusto Dunshee de Abranches não teve outra opção que de renunciar, e George Helal foi o novo presidente do Flamengo.
George Helal sempre acreditou no Zico, já na época quando era ainda um garoto franzino. Em 1967, na época vice-presidente do Flamengo, foi George Helal que pagou da própria bolsa um programa para ajudar Zico, que tinha 14 anos, a se desenvolver fisicamente. Nunca se arrependeu da decisão e 18 anos depois, tomou outra decisão que mudou mais uma vez a história do Flamengo. Montou o “Projeto Zico”, com a ajuda do publicitário Rogério Steinberg, da TV Manchete e do cartunista Henfil, e realizou o sonho de toda uma Nação, repatriou Zico depois de 2 anos de exílio. Zico voltou ao Rio no 7 de julho de 1985, exatamente 7 anos antes de meu nascimento, e claro, voltou com festa da torcida do Flamengo, já no aeroporto.
Zico voltou a vestir o Manto Sagrado no 12 de julho para um amistoso entre Flamengo e uma seleção chamada de Amigos de Zico, um time de craques, com Falcão, Júnior, Roberto Dinamite, Maradona e até Jacozinho, este não era tão amigo de Zico. No banco, mais craques, Zagallo para Flamengo e Telê Santana para os Amigos de Zico. O palco, claro, o Maracanã. O canal, claro, a TV Manchete. E claro, Flamengo venceu, Zico brilhou, no início com assistência, depois com gol. Claro, um gol de falta. Um golaço, sem ângulo, mas bola no ângulo de Gilmar. Um gol talvez no top 10 de Zico de gols de falta, só vi Zico fazer um gol nesse lugar do campo, gol era impossível, menos para Zico. No final, 3×1 para Flamengo, com uma torcida feliz e ansiosa para ver Zico de novo em campo com a camisa do Flamengo, agora num jogo oficial.
E a volta oficial de Zico chegou dois dias depois, no 14 de julho, de novo no Maraca, com 58.201 sortudos nas arquibancadas e na geral. Para o jogo contra Bahia, Zagallo escalou Flamengo assim: Fillol; Aílton, Leandro, Guto, Adalberto; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Chiquinho, Marquinho. Qualquer escalação do Flamengo fica melhor quando tem a presença de Zico. Contra Bahia, quem brilhou em primeiro foi Tita, com chute forte e preciso, para fazer 1×0, placar no fim do primeiro tempo.
No início do segundo tempo, falta perto da grande área. Um roteiro visto muitas vezes durante anos pela geral, mas que foi privada disso durante dois anos longos, longe do maior ídolo do Flamengo. Agora tem que retranscrever o comentário de um então jovem Galvão Bueno: “A posição é melhor para Marquinho, mas o Zico sabe mais”. Sim, Zico sabia muito, “caprichou, bateu” e fez o gol. Saiu para comemorar com a torcida, um salto no ar, um punho no céu, a torcida nos sonhos. O que era bom de ter de volta essa imagem, Zico fazendo gol de falta para Flamengo. Como fez falta o Zico no Flamengo, era nesse momento que ele estava de volta, que dava para perceber plenamente quantas saudades ele deixou ao sair do Flamengo.
Terceiro e último gol do jogo vale para lembrar que meio de campo do Flamengo não era só Zico, tinha 3 craques, Zico, Andrade e Adílio. Quem fez o terceiro gol foi Chiquinho, mas foi Adílio que brilhou, com um toque leve de trivela para deixar Chiquinho livre para fazer o gol. Uma vitória convincente, mas o que valia era a volta de Zico, a volta da alegria da torcida. Um torcedor não resistiu e invadiu o gramado para abraçar o ídolo. Parecia sonho mas era realidade, Zico estava de volta ao Flamengo.

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Na geral #17: E Fla foi vice de novo

E mais uma vez, Flamengo perdeu um título em 2023, perdeu a última oportunidade de salvar um pouco a temporada de 2023. Mas não foi o caso, Flamengo foi vice de novo. Não sei qual eliminação foi a mais dolorosa, a mais vergonhosa, a mais perdida. Já no início do ano, teve a derrota na Supercopa, uma outra na Recopa, a desilusão no Mundial, onde nem foi vice, a vergonha do carioca. Quatro competições perdidas e Flamengo conseguiu fazer pior no segundo semestre com a chegada de Sampaoli, que nunca convenceu e pouco venceu.
No segundo semestre, mais vergonhas, foi eliminado na Libertadores já nas oitavas, contra Olimpia, que é um bom time, mas longe de ser candidato ao título, Flamengo perdendo também mais uma vez a oportunidade de um Fla-Flu na maior da América. No Brasileirão, vergonhas foram em diversos jogos, quando tinha a possibilidade de reduzir a distância com os times de cima, Flamengo perdia, fazia mais um vexame.
Faltava a Copa do Brasil para salvar um pouco a temporada, inclusive uma competição onde Flamengo era o último campeão. E para mim, era a oportunidade de fechar o ciclo. Cheguei no Rio de Janeiro em setembro de 2022 e meu primeiro jogo no Maracanã foi a semifinal da Copa do Brasil, contra São Paulo, olha a ironia. Estava no estádio quando Flamengo foi tetra em cima do Corinthians de Vítor Pereira, agora sem ironia. Em 2023, eu estava na arquibancada do Maraca na terceira fase contra Maringá, nas oitavas contra Flu e nas quartas contra o Athletico, já estava de volta na França na semifinal contra Grêmio. Vi todas as fases em duas edições diferentes e queria ganhar a duas Copas. Não foi o caso.
Antes do jogo de volta da final contra São Paulo, eu estava mais ou menos confiante, não por causa do nível do Flamengo de 2023 em campo ou das histórias fora do campo, mas porque sou de um otimismo exagerado quando se fala do Flamengo. Ainda sem apartamento em Paris, assisti sozinho ao jogo de ida na casa de meus pais. Flamengo jogou muito mal e relembro que no primeiro tempo, falei para mim que Flamengo ia tomar um gol. Dez segundos depois, Calleri abria o placar e decretava o placar final ao mesmo tempo. Nada de vidente para mim, era obvio que Flamengo ia tomar o gol, só não esperava isso tão rapidamente.
Apesar da derrota no Maracanã, o placar era reversível e a vitória do Flamengo era possível. Com um título em jogo, era impossível para mim de faltar o jogo no consulado Fla Paris. Garanti minha hospedagem em Paris com meu amigo Danilo, peguei o trem e cheguei no Fleurus, mais de um ano depois de meu último jogo no consulado, um 1×1 contra Ceará no 4 de setembro de 2022, apenas um dia antes de minha ida ao Brasil. Fui muito feliz de ver de novo Cidel, Waldez, Danilo, Sammy, Thiago, Bruno e outros flamenguistas ainda não conhecidos, mas já irmãos. A casa estava cheia e só faltava Flamengo ganhar.
E Flamengo conseguiu o primeiro lance de perigo antes do primeiro minuto, mas Pedro perdeu o ângulo. A virada era possível, Gerson teve mais uma oportunidade, mas demorou a chutar. Flamengo dominou o início de jogo, mas o início só. São Paulo passou a ter controle da bola e do jogo, e foi quase um milagre que Flamengo abriu o placar, com bom trabalho de Erick Pulgar e finalização de Bruno Henrique, com um pouco de sorte, bom oportunismo e muito talento. Os dois são quase os únicos a se salvar, durante o jogo e a temporada inteira.
A virada era possível mas Flamengo tomou um gol cinco minutos depois, alguns segundos antes do intervalo. Passo da responsabilidade individuais para a responsabilidade coletiva, é impossível tomar um gol assim. E no segundo tempo, Flamengo fez o que fez durante quase toda a temporada, nem deu a impressão que queria reverter o placar, que a virada era possível. Tomou mais uma vergonha em campo, depois de tomar outra vergonha extra-campo, com mais uma briga, a terceira em dois meses, entre Marco Braz e um torcedor. Sobre o Flamengo, não tem muito a falar mais.
Agora estou feliz para Dorival Júnior, que merecia mais essa conquista que o Flamengo inteiro. Ainda não entendo a escolha da diretoria de buscar o Vítor Pereira, e acho que é isso mesmo, não tem nada a entender, foi mais um erro da diretoria. Também estou feliz para Lucas Moura, que saiu do São Paulo com título da C opa Sudamericana e voltou mais de 10 anos depois, numa época onde muitos jogadores foram em outros lugares de menos tradição e de mais dinheiro, para conquistar um título inédito para São Paulo, um clube pelo qual tenho carinho por ser o primeiro grande time brasileiro que eu vi ao vivo, quando conquistou o Mundial em 2005.
Agora, voltando ao Flamengo, é torcer para gastar ainda mais dinheiro numa multa rescisória de mais um treinador que decepcionou, de várias formas, no Flamengo. Agora é torcer para uma classificação na Libertadores, o que vai ser nada fácil. Hoje, Flamengo está na sétima colocação, fora até da pré-Libertadores. Flamengo pode conhecer mais uma vergonha na pior temporada do clube desde que o trabalho de Eduardo Bandeira de Mello começou a ter benefícios, em 2015. Claro, na história do clube, teve times piores, lutando contra o rebaixamento, mas a frustração de hoje é de ver o elenco de 2023, de qualidade alta, de folha salarial alta, um elenco que estava acostumado a ganhar e que se acostumou, sem revolta ou questionamento, a perder.
O Flamengo de 2023 foi ridículo. Ainda não tenho o Manto Sagrado do ano e, como gosto de colocar o nome de um jogador nas costas, esperava a final da Copa do Brasil para escolher o herói da decisão. Não teve, mas vou colocar o nome de Bruno Henrique, porque incrivelmente ainda não tenho a camisa dele, e foi um dos únicos que se salvou esse ano, voltando de uma lesão muito grave, voltou a jogar muito, com raça, amor e paixão, como sempre deveria ser o caso quando alguém veste o Manto Sagrado. Mas Flamengo hoje é mais perto de acomodação, ódio e desgosto.
Mas Flamengo é Flamengo, na vitória ou na derrota, sempre sou Flamengo. Valia a pena o esforço, ir no consulado, rever os amigos da Fla Paris, torcer juntos, esperar dias melhores. Afinal, torço pelo Maior do Mundo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
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Jogos eternos #96: Flamengo 3×1 São Paulo 1996

Com a derrota 1×0 no Maracanã, Flamengo está numa posição muito difícil e fica bem longe de conquistar a Copa do Brasil 2023. Mas, apesar do futebol fraco em campo, das histórias inacreditáveis extra-campo, estou de um otimismo exagerado quando o tema é Flamengo. Tem que acreditar, Flamengo pode vencer uma Copa nacional em cima do São Paulo, como foi o caso em 2001, quando Flamengo conquistou a Copa dos campeões, depois de uma vitória 5×3 na ida. Flamengo até derrotou São Paulo numa final continental, a Copa de Ouro 1996, por coincidência a crônica #96 dos jogos eternos.
A Copa de Ouro era uma espécie de Recopa Sudamericana, ou uma Supersupercopa Libertadores, com os vencedores de várias competições continentais numa época onde a CONMEBOL não parava de inovar. A Copa de Ouro era também chamada de Copa de Oro Nicolás Leoz, do nome do presidente da CONMEBOL de 1986 até 2013, quando renunciou ao cargo aos 84 anos por causa das acusações de corrupção durante o FIFAgate.
A Copa de Ouro começou em 1993, voltou em 1995 e foi disputada pela última vez em 1996. Neste ano, tinha Grêmio, vencedor da Copa Libertadores 1995, São Paulo, vencedor da Copa Máster de CONMEBOL 1996, Rosario Central, vencedor da Copa CONMEBOL 1995 e Flamengo. Infelizmente, Flamengo não conquistou um título continental nessa época, mas se classificou como finalista da Supercopa Libertadores 1995 depois da desistência do campeão, Independiente.
A Copa de Ouro 1996 se disputou no mês de agosto em Manaus. Na semifinal, Flamengo derrotou 2×1 Rosario Central com um doblete do jovem Fábio Baiano. Do outro lado, São Paulo se classificou para a final também com uma vitória 2×1, contra Grêmio. Para a grande final, no 16 de agosto de 1996, Joel Santana escalou Flamengo assim: Roger; Paulo César, Fabiano, Ronaldão, Gilberto; Márcio Costa, Mancuso, Fábio Baiano, Nélio; Sávio, Marques. Do lado do São Paulo, um técnico campeão do mundo no banco, Carlos Alberto Parreira, e alguns futuros pentacampeões, como Rogério Ceni, Edmílson e Belletti.
No antigo Vivaldão, estádio de Manaus demolido em 2010, primeiro lance saiu dos pés de Mancuso. Na verdade, o gringo fez toda a joga, foi no início, no meio, na finalização. Com uma dupla tabelinha, Mancuso invadiu a área, antecipou a saída de Rogério Ceni, sofreu um pênalti. Sem Romário, que foi transferido no Valencia dois meses antes, Sávio cobrou a penalidade máxima. E cobrou muito bem, com força e precisão, abriu o placar para Flamengo. Com apenas 15 minutos de jogo, o ídolo Sávio já brilhava, mas ele tinha ainda mais estrela.
No fim do primeiro tempo, o colombiano Víctor Aristizábal empatou depois de bom cruzamento de Guilherme. Mas esse jogo tinha a estrela e o talento de Sávio. Com dois passes de 40 metros, Flamengo passou de sua área até o cara a cara entre Sávio e o goleiro, até o já meio gol. Sávio chegou com velocidade e calma, as duas coisas são difíceis de combinar, mas não para um craque como Sávio. Com uma finta, Sávio deixou a bunda de Rogério Ceni no chão, abriu o caminho do gol, colocou de novo Flamengo na frente. Mais uma jogada e um golaço de Sávio com o Manto Sagrado.
E no finalzinho, mais uma vez Sávio. No meio de campo, Iranildo, que entrou durante o jogo, abriu para Sávio, que já no domínio da bola, se posicionou para fazer o gol. Ainda ajustou o corpo para abrir o ângulo, chutar de pé esquerdo, ajustar o goleiro. Um gol fácil para um craque, mas um gol quase impossível a fazer para o jogador comum. Mas para a sorte do Mengo, Sávio era craque, sempre foi craque, nunca deixou de ser craque.
Já falei numa outra crônica que Sávio fazia ao menos um jogo eterno a cada ano. Teve o jogo contra Grêmio um ano antes, o jogo contra o Real Madrid um ano depois. Ainda não eternizei o jogo contra Palmeiras em 1994, mas Sávio brilhou em outros jogos eternos no francêsguista, contra Juventude e Vélez Sarsfield em 1995, Vasco e Internacional em 1996, também Goiás em 1997. Sávio brilhou nos campos e conquistou títulos, um em cima de São Paulo. Ainda não é tarde demais Flamengo de 2023…
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Jogos eternos #95: Goiás 0x4 Flamengo 1986

O confronto Goiás x Flamengo é sinônimo de saudade para mim. Há um ano, eu voava pelo Brasil, para realizar o sonho de um vida, morar na cidade mais linda do mundo, Rio de Janeiro. Criei esse blog para escrever sobre minha maior paixão, Flamengo, e o primeiro jogo eterno foi um jogo contra Goiás, uma goleada 4×1 em 1997 com gol de Sávio e hat-trick de Romário. Hoje, eu vou de outra goleada na Serra Dourada, em 1986.
O Brasileirão de 1986 é talvez o mais complicado da história, anunciando a necessidade de uma mudança no futebol brasileiro, que aconteceu de forma parcial no ano seguinte, com o Clube dos 13 e a Copa União. A Copa Brasil, como era chamado o Brasileirão em 1986, teve 80 times, contando os 36 do Torneio Paralelo, uma espécie de Série B. Na primeira fase, Flamengo fechou seu grupo de 11 times no primeiro lugar e se classificou para a segunda fase, agora com 9 times, com os 4 primeiros classificados para as oitavas de final.
Flamengo começou a segunda fase com um empate 1×1 contra Grêmio, em seguida venceu o Atlético-GO, empatou contra Fluminense, perdeu contra Central e fez mais um empate, contra Guarani. Com 5 pontos em 5 jogos, ainda tinha tempo com jogos de ida e volta, mas Flamengo já precisava de uma reação na Serra Dourada contra Goiás, que tinha perdido seus dois únicos jogos feitos até aqui.
No 2 de novembro de 1986, Sebastião Lazaroni escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Aílton, Leandro, Aldair, Jorginho; Andrade, Sócrates, Zinho, Júlio César Barbosa; Bebeto, Kita. Um time excepcional, mesmo sem Zico, que ainda se recuperava da terrível lesão no joelho. O Flamengo contava com a volta de Sócrates, que por causa da preparação para a Copa do Mundo e de várias lesões, não tinha jogado com o Flamengo desde o mês de fevereiro e um Fla-Flu inesquecível, com goleada 4×1 e hat-trick de Zico, um jogo eterno no francêsguista.
E Sócrates brilhou já no primeiro tempo, com meia hora de jogo e jogada iniciada no meio de campo nos pés de Júlio César, camisa 10. Passe para o antigo e ainda craque Leandro, que achou Sócrates entre vários defensores. Antes mesmo de receber a bola, Sócrates se posicionou em direção ao gol e de um toque só, de trivela, deixou para Kita, que venceu o goleiro de cobertura. Cinco minutos depois, o antigo e ainda craque Andrade achou na direita Bebeto, que já no domínio da bola, levou vantagem sobre o defensor. Bebeto cruzou e de cabeça, Kita, número 9, fez o doblete.
Kita, gaúcho de nascimento, iniciou sua carreira no Juventude antes de ir no Internacional, onde foi artilheiro do campeonato gaúcho 1983. Mas foi no pequeno Inter de Limeira, interior de São Paulo, que ele se revelou. Em 1986, Inter de Limeira conquistou seu primeiro campeonato paulista, Kita foi artilheiro da competição, fazendo gol na final contra Palmeiras. Ganhou o interesse de grandes clubes e no segundo semestre de 1986, Flamengo venceu a disputa com o Corinthians e levou Kita, que no seu primeiro jogo com o Manto Sagrado fez 2 gols contra… o Corinthians.
No segundo tempo, Sócrates brilhou mais uma vez. Seu carrinho limpo na bola iniciou um contra-ataque para Bebeto, que puxou a bola e deu para Júlio César conseguir uma falta perto da grande área. Sem Zico, bola parada para outro craque, Sócrates. Dois passos e com a precisão e a tranquilidade do craque, Sócrates achou a gaveta para fazer seu primeiro gol com Flamengo, um golaço. Pena que chegou um pouco tarde no Flamengo e não jogou mais tempo com Zico, uma dupla que elevou o futebol-arte com a Seleção brasileira e que poderia ter feito ainda mais jogando no mesmo clube.
No final do jogo, numa jogada rápida, Kita driblou o goleiro, completou o hat-trick, fechou a goleada. Kita jogou ainda no Flamengo em 1987, mas sem o mesmo brilho de antes. Sócrates também deixou Flamengo em 1987, pouco depois da eliminação de Flamengo nas oitavas de final do Brasileirão 1986 contra o Atlético Mineiro. Infelizmente, Kita teve um triste fim, em 2011, depois de uma infecção durante uma cirurgia, teve o pé esquerdo amputado. Quatro anos depois, morreu de câncer com apenas 57 anos. Quem também morreu aos 57 anos é o próprio Sócrates, que morreu de um choque séptico de origem intestinal causado pelo consumo excessivo de álcool, o único inimigo a sua genialidade. Ah Doutor, que saudade eu tenho de você…
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Jogos eternos #94: Flamengo 5×3 São Paulo 2001

Antes do jogo de ida da final da Copa do Brasil entre Flamengo e São Paulo, vamos de uma outra final nacional entre os dois times, a Copa dos Campeões em 2001. A competição foi criada um ano antes e reunia os campeões de torneios regionais, como o Torneio Rio – São Paulo, a Copa Nordeste, a Copa Sul-Minas, a Copa Norte e a Copa Centro-Oeste. Tinha também o campeão paulista, o Corinthians, e o campeão carioca, Flamengo, aliás o tricampeão carioca, depois de um golaço de falta imortal de Petkovic.
Um mês depois do jogo eterno contra Vasco, Flamengo estreou na Copa dos Campeões com vitória 4×2 sobre Bahia, campeão da Copa Nordeste. Na semifinal, Flamengo passou de Cruzeiro, campeão da Copa Sul-Minas e enfrentou na final São Paulo, vencedor do Torneio Rio – São Paulo e que tinha eliminado Sport e Coritiba. Além de um título nacional, a Copa dos Campeões valia a última vaga brasileira na próxima Libertadores.
No 8 de julho de 2001, o eterno Zagallo escalou Flamengo assim: Júlio César; Alessandro, Juan, Gamarra, Cássio; Leandro Ávila, Beto, Rocha, Petkovic; Reinaldo, Edílson. Um time com ídolos em cada linha e uma dupla de ataque que brilhou muito durante a competição, com 5 gols para Reinaldo e 4 para Edílson. Do lado de São Paulo, muitos jogadores que vestiram a camisa amarela, Rogério Ceni, Belletti, Luís Fabiano e França, e até no banco, com a entrada em campo de Kaká e Júlio Baptista no decorrer do jogo.
No Almeidão, estádio de João Pessoa na Paraíba, primeiro lance de perigo veio no primeiro minuto com uma falha da zaga tricolor, mas nem Edílson nem Reinaldo conseguiram fazer o gol. Com 4 minutos, uma falta para Flamengo com 25 metros de distância, um pouco na direita, um lugar que trazia lembranças ótimas para os flamenguistas, ainda mais apenas um mês depois do gol de Pet. Mas Petkovic não cobrou e foi Beto que chutou uma bomba no ângulo, muito bem defendida pelo Rogério Ceni. Mas 10 minutos depois, Rogério Ceni foi driblado pelo Reinaldo, que passou atrás para Edílson, que só teve a empurrar nas redes. Festa no Almeidão, que durou pouco tempo, três minutos depois do gol de Edílson, Luís Fabiano, o artilheiro da Copa dos Campeões, empatou com um gol bem parecido ao de Edílson.
Mas a festa, e o título, deviam ser do Mengo. Com 25 minutos de jogo, Petkovic cobrou uma falta na segunda trave, quase na terceira trave na verdade. Gamarra, como o craque que era, deixou a bola viva, e Edílson, também craque, bicicletou. A bicicleta transformou-se em presente para Reinaldo, que fez o gol de cabeça.
E quem fazia o gol se tornava garçom para o gol seguinte. Dez minutos depois do segundo gol, Beto achou Reinaldo, a 30 metros de distância. Beto invadiu a grande área, e Reinaldo fez um passe que enganou toda a defesa do São Paulo, deixando Beto livre para fazer o terceiro gol. No intervalo, vantagem de dois gols para o Mengo.
No início de segundo tempo, como foi no início do primeiro tempo, uma falta muita perigosa para o Flamengo. Mas de novo, Pet não cobrou, o chute de Cássio foi na direção do ângulo, mas de novo Rogério Ceni fez grande defesa. E Beto, que fez o terceiro gol, fez uma quase assistência no quarto gol. Jogada começou com Petkovic, que ganhou uma bola dividida no meio de campo. Abriu na direita para Beto, que com um toque tentou a triangulação para Edílson na esquerda. O zagueiro Jean chegou primeiro, mas chutou a bola na perna de Edílson, que fez o gol sem querer. Não importava para a maioria do Almeidão, Flamengo fazia mais um gol e se aproximava do título.
Num escanteio, Rogério Pinheiro descontou, São Paulo passou a dominar, Júlio César fez grandes defesas, mas se inclinou mais uma vez num outro escanteio da direita, agora com gol de Luís Fabiano. São Paulo inflamava o jogo, fazia tremer a torcida do Mengão, que finalmente saiu do chão no último gol do jogo. Edílson, que tinha feito o quarto gol, voltou a ser decisivo com um drible de vaca na grande área e um chute forte no gol, desviado pelo Rogério Ceni na perna de Rogério Pinheiro, que fez o gol contra. Flamengo ganhava 5×3 num jogaço e três dias depois, apesar de uma derrota, mas com outro golaço de falta de Pet, Flamengo passava em cima do São Paulo e era o campeão nacional.
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Ídolos #24: Juan

Juan é outro jogador que conheci na Europa, no Bayer Leverkusen e na Roma, também vi jogar com a Seleção, mas além de tudo, Juan é rubro-negro, desde seu nascimento, no 1o de fevereiro de 1979.
Criado de Humaitá, na Zona Sul de Rio de Janeiro, Juan já era flamenguista antes de ser jogador do Flamengo. E antes de ingressar a base do clube, já conhecia outro ídolo do Flamengo, Júlio César, com quem jogava futsal no Grajaú Country Club. Chegou no Maior do Mundo com 9 anos, como meio-campista, mas rapidamente se destacou na zaga. Passou por todas as categorias da base e estreou profissionalmente no 5 de julho de 1996, com vitória 1×0 num amistoso contra Desportiva Ferroviária. Juan tinha apenas 17 anos, precisa muita personalidade para jogar na zaga do Flamengo sendo ainda um menor.
A estreia no Brasileirão aconteceu um mês depois, no Maracanã, com vitória sobre Atlético Mineiro e fim de um jejum de 5 jogos sem vencer o Galo. Juan era sinônimo de sorte e de gol também, o primeiro chegou em 1997 contra o Internacional numa vitória 1×0. Também fez o gol da vitória 3×2 contra Grêmio, para o fim de um outro jejum ainda mais incomodante, Flamengo não vencia Grêmio no Maracanã no Brasileiro há 8 jogos!
Juan também fez um gol num Fla-Flu no Torneio Rio – São Paulo 1998, mas foi em 1999 que ele começou a ser o ídolo na Nação, com golaço contra o Internacional no dia do aniversário do clube, e mais importante, com título da Copa Mercosul, fazendo gol na ida, conquistando a taça na volta, um jogo eterno no francêsguista. Com o título, se firmou definitivamente como titular depois de não jogar o campeonato carioca.
Em 2000, formou uma das maiores zagas da história do Flamengo com o gringo Gamarra e levou o campeonato carioca, conquistado em cima do Vasco. Fez outros gols, inclusive nos dois jogos contra River Plate nas quartas de final da Copa Mercosul, infelizmente não foram suficiente para conquistar o bicampeonato. O bi para Juan veio no campeonato carioca em 2001, quando Flamengo derrotou Vasco com o gol eterno de Petkovic. Fla também conquistou nesse ano a Copa dos Campeões, com mais um gol de Juan na final contra São Paulo. Juan sabia fazer duas coisas, conquistar títulos e fazer gols, além de também, claro, cumprir o papel principal de um zagueiro, impedir muitos gols e anular muitos atacantes.
Em 2001, além do campeonato carioca e da Copa dos Campeões já conquistados, Flamengo jogou de novo a Copa Mercosul, de novo com gols de Juan. Um golaço de trivela conta San Lorenzo na fase de grupos, mais um gol na volta, e ainda mais impressionante, um doblete no 4×0 contra Independiente nas quartas de final. O adversário na semifinal foi Grêmio, e com apenas 5 minutos no Maracanã, Juan fazia mais um gol, seu quinto na competição. E com um detalhe incrível, nos 5 gols quem deu a assistência foi Petkovic! Flamengo tinha uma jogada armada na época, falta de Pet, cabeçada de Juan, gol do Fla. Contra Grêmio, 2×2 na ida, 0x0 na volta, e nos pênaltis, Petkovic e Juan fizeram, Reinaldo e Beto também, e Flamengo voltava na final. Três dias depois, Juan fazia mais um gol, no Brasileirão contra Palmeiras, como você já sabe, falta de Petkovic, cabeçada de Juan, realmente o zagueiro artilheiro.
Na final contra San Lorenzo, Flamengo fez um 0x0 na ida e o jogo de volta, previsto no 19 de dezembro, foi adiado para início de 2002 por causa de protestos na Argentina. No 24 de janeiro, Flamengo fez 1×1 na Argentina, Juan iniciou na disputa de penalidades, mas perdeu seu pênalti e Flamengo perdeu o título. Claro, não dá para saber, mas acho que se Flamengo tinha jogado a partida no fim da temporada de 2001 como era previsto, teria sido o campeão.
Juan ainda jogou no Flamengo no primeiro semestre de 2002, mas com tantas qualidades, o destino obvio era a Europa. Jogou 5 temporadas no Bayer Leverkusen, mais 5 na Roma, fazendo outros gols e conquistando a Copa da Itália em 2008. Com a Seleção, conquistou duas Copas das confederações, sendo reserva, e duas Copas América, sendo titular. Também jogou duas Copas do Mundo como titular, em 2006 e 2010, seu último jogo com a Seleção sendo na eliminação contra a Holanda em 2010. Na Seleção, foram 79 gols e 7 gols, o primeiro contra o Costa Rica na Copa América 2004 e o último contra o Chile na Copa do Mundo 2010, dois gols que mostram o repertório de Juan, um jogador mortal no jogo aéreo, mas também capaz de dar apoio ao ataque com aceleração na defesa adversaria e precisão no cara a cara com o goleiro.
Depois de 10 anos na Europa, era o tempo de volta ao Brasil, em 2012, com já 33 anos, mas o destino não foi Flamengo. Não o culpo, a diretoria do Flamengo era na época uma bagunça, quase uma várzea. Às vezes o lado profissional é mais determinante que o amor pelo clube. Juan chegou no Internacional, conquistou o tricampeonato gaúcho entre 2013 e 2015 e, claro, fez gols. Um primeiro de cabeça já na estreia com a camisa do Inter, um doblete contra Lajeadense, um gol contra o próprio Flamengo, que não comemorou e até chamou de “gol triste” e o último contra Santa Fé nas quartas de final da Libertadores de 2015, para relembrar que Juan era decisivo nos jogos importantes.
E finalmente, Juan voltou no Maior do Mundo, 14 anos depois de sair do Flamengo, e assinou um contrato de um ano. Em 2016, foi titular durante o campeonato carioca mas jogou pouco no Brasileirão, apenas 9 jogos. Renovou e voltou a se destacar em 2017, no jogo contra a Portuguesa, um jogo eterno no francêsguista, fez uma linda assistência de calcanhar par Leandro Damião e depois voltou a fazer um gol com o Manto Sagrado, 15 anos depois do último. Também marcou contra a Chapecoense nas oitavas de final da Copa Sudamericana. Na semifinal da Copa Sudamericana, empatou contra o Junior Baranquilla para o delírio do Maracanã. O gol era importante e decisivo, e tinha uma marca ainda mais especial, com esse gol, Juan fazia seu 32o gol para o Flamengo e igualava Júnior Baiano para se tornar o maior zagueiro-artilheiro da história do Flamengo. Um fato impressionante e Juan merece muito esse recorde.
Juan foi campeão carioca em 2017, mas merecia um título mais importante nesse ano. Infelizmente, Flamengo perdeu a final da Copa Sudamericana e também a Copa do Brasil, onde Juan, com 38 anos, jogou muito nas duas finais contra Cruzeiro, sendo eleito o melhor do jogo na ida e fazendo gol com categoria na disputa de penalidades na volta. Em 2018, Juan renovou seu contrato mais uma vez por um ano e foi titular na Copa Libertadores. Infelizmente, teve uma lesão muito grave durante um treino, uma ruptura do tendão de Aquiles, que necessitava uma cirurgia. O grupo sentiu muito essa ausência e vale relembrar a classe de outro ídolo, Diego, que mostrou para o Maracanã a camisa de Juan depois de fazer um gol contra a Chape.
A direção também fez o certo, renovou o contrato até abril de 2019 para deixar Juan o tempo de recuperar. E Juan mostrou mais uma vez, com 39 anos, que era um jogador, um ser humano diferente. Fez todos os esforços para voltar e conseguiu jogar de novo, vale também relembrar a atitude de Abel Braga, que o fez entrar no fim do jogo contra Madureira, onde claro, Diego lhe cedeu a faixa de capitão. Na abertura do Brasileirão, Juan fez sua despedida e entrou no último minuto no lugar de Éverton Ribeiro que, claro, lhe cedeu a faixa de capitão. Teve festa dos jogadores, da comissão técnica, volta olímpica, festa da torcida. Impressionante como Juan é unanimidade no Flamengo, não tem um torcedor que duvide de seu amor e compromisso pelo rubro-negro.
Este minuto ofereceu ao Juan o título de campeão brasileiro. Pena que não é campeão da Libertadores. Fica então os números, 332 jogos e 32 gols com o Manto Sagrado, fica as imagens, desarmes e cabeçadas, gols e gritos de capitão, gritos do peito rubro-negro. Fica para mim outras imagens, quando apresentou ao Maracanã a taça do campeonato carioca, junto com Adriano que tinha a do Brasileirão e Adílio a da Libertadores, uma imagem que simboliza o ano histórico de 2019 e toda a tradição do Flamengo. E tenho na memória uma entrevista do Juan quando era bem pequeno, ainda na base, uma entrevista de 14 segundos e 3 perguntas. Quando crescer, Juan queria ser “jogador de futebol”, um jogador “comum”, olha a humildade do garoto, e gostava mais de “Zico”. Bem Juan, você nunca foi jogador comum, e mais, você é ídolo do Flamengo.
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Jogos eternos #93: Flamengo 1×0 Athletico Paranaense 2016

Enfim, Flamengo está de volta em campo, não no Maracanã, que precisa descansar depois de tantos jogos do Flamengo, Fluminense e até do Vasco. Jogo de hoje está no Kleber Andrade, em Cariacica, no Espírito Santo, terra de flamenguistas. Afinal, o Espírito Santo está no Brasil e o Brasil inteiro é Flamengo, em maioria ou em boa proporção. Confesso que gosto muito do estádio Kleber Andrade, da arquitetura e das várias cores da arquibancada. Flamengo fez vários jogos no Kleber Andrade como mandante e já enfrentou o Athletico Paranaense no estádio, em 2016.
Pela primeira vez, o jogo eterno no francêsguista é de 2016, um ano de transição para Flamengo. O Maracanã não estava disponível por causa dos Jogos Olímpicos e Flamengo mandou o último jogo do primeiro turno no Kleber Andrade. No 6 de agosto de 2016, um sábado, Zé Ricardo escalou Flamengo assim: Alex Muralha, Pará, Réver, Rafael Vaz, Chiquinho; Willian Arão, Márcio Araújo, Mancuello; Fernandinho, Éverton, Guerrero. Um time longe do nível do time de 2019, mas também longe do time de 2014 ou 2015. Três semanas antes, Diego assinou com o Flamengo, e se ele ainda não estava em condição de jogar, a esperança voltava nas ruas de Rio, do Espírito Santo e do Brasil inteiro.
Flamengo começou pressionando o Athletico Paranaense, Paolo Guerrero teve uma oportunidade de gol, mas errou feio. Numa falta, o canhoto argentino Federico Mancuello quase fez o gol, mas o goleiro Santos, que jogava no lugar do titular Weverton, convocado no último minuto com a Seleção olímpica, fez a defesa. O Athletico Paranaense reagiu e Walter quase fez um golaço, com um chute de longe que explodiu na trave. Num escanteio de Mancuello, uma confusão na área e um chute de Réver, que flirtou com a trave. No segundo tempo, foi uma cabeçada de Paolo Guerrero que flirtou com a trave. Em dois tempos, Fernandinho chutou, a rede balançou, mas no exterior do gol. Com um passe perfeito de Mancuello, Guerrero antecipou a saída, quase só faltava fazer o gol, mas o peruano demorou muito, e o empate ficou. O gol estava muito perto, o Kleber Andrade estava perto de explodir, mas não tinha gol ainda.
Não tinha gol até a hora de jogo quando Fernandinho ganhou uma bola, preservou a pelota usando sua força física e chutou cruzado. Mancuello mostrou sua técnica, mostrou que, se não era sempre titular era um jogador muito bom, e fez um golaço de letra. Explosão no Kleber Andrade, que continuou a vibrar até o fim do jogo, com vários lances dos dois times, mas não teve outro gol. Flamengo ganhava pelo placar mínimo, conquistava a décima vitória do campeonato com golaço de um gringo. E, antes dos jogos do domingo, Flamengo passava da 5a colocação até o posto de líder. Flamengo finalmente fechou o primeiro turno no quarto lugar e no fim, o título não veio, mas durante alguns jogos, Flamengo fez vibrar o Kleber Andrade e acreditar o Brasil inteiro, menos alguns, que o Maior do Brasil podia voltar a ser o campeão.






