Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #34: Flamengo 2×2 Palmeiras 2021

    Jogos eternos #34: Flamengo 2×2 Palmeiras 2021

    Antes do jogo de hoje, a lembrança do dia era evidente: a Supercopa do Brasil 2021, em Brasília, contra Palmeiras. Foi um jogaço entre dois supertimes. De um lado, nosso Flamengo, campeão brasileiro. Do outro lado, Palmeiras, campeão da Copa do Brasil. Um jogaço no papel, que também foi no campo.

    Considero que a rivalidade entre Flamengo e Palmeiras é a maior do Brasil desde 2016. Os dois times brigam pelo todos os títulos, no Brasil e no continente. Os dois times quase sempre no G-4, com título em 2016, 2018 e 2022 para Palmeiras, em 2019 e 2020 para Flamengo. Os dois times com os 4 últimos títulos da Copa Libertadores, dois para cada um. Números impressionantes.

    Gosto muito da Supercopa do Brasil, uma competição que foi criada em 1990 por apenas duas edições e que voltou em 2020, com as mãos do Flamengo já na taça. Em 2021, era hora de mais um clássico entre Flamengo e Palmeiras. Era infelizmente também tempo da Covid e do lockdown. O estádio Mané Garrincha era de portões fechados. Na França, o terceiro lockdown começou uma semana antes da Supercopa do Brasil e assisti ao jogo sozinho em casa. Também gosto de assistir aos jogos sozinho, mas o momento era difícil, com saudade da família, dos amigos e do consulado da Fla Paris.

    No 11 de abril de 2021, Rogério Ceni escalou Flamengo assim: Diego Alves; Isla (Matheuzinho), Willian Arão, Rodrigo Caio, Filipe Luís; Gérson (Pepê), Diego (João Gomes), Arrascaeta; Everton Ribeiro (Vitinho), Bruno Henrique (Michael), Gabigol. Um time muito ofensivo, com muita qualidade também. O Palmeiras era outro timaço, com grandes jogadores em cada linha: Wewerton, Gustavo Gómez, Felipe Melo, Raphael Veiga, Rony. Também tinha muita qualidade no banco, entraram durante o jogo Mayke, Gabriel Menino, Danilo, Gabriel Veron e Gustavo Scarpa. Um jogaço com dois timaços, um jogo eterno.

    E jogo começou muito mal para o Flamengo, muito rapidamente. Com apenas um minuto de jogo, Raphael Veiga fez de calcanhar um drible de vaca que deixou Willian Arão sem reação e finalizou, de trivela. E Flamengo empatou, também com um grande drible, agora de Filipe Luís sobre Gustavo Gómez. Filipe Luis finalizou na trave, mas Gabigol, de dreadlocks loiras, empatou. Não importa o corte de cabelo, o homem gosta de marcar nos dias de finais, nos dias de títulos, nos dias de jogos eternos.

    No minuto seguinte, Palmeiras quase desempatou. Breno Lopes driblou Diego Alves e chutou, mas Diego Ribas salvou em cima da linha, um dos lances mais memoráveis de Diego com o Manto Sagrado. De falta, Raphael Veiga teve a oportunidade do doblete, mas Diego Alves foi vigilante. E quem desempatou foi Flamengo, no tempo adicional do primeiro tempo. Desempatou com um golaço. Bruno Henrique para Arrascaeta, que driblou no centro e chutou de fora da área. Wewerton apenas olhou. No intervalo, Flamengo 2×1 Palmeiras, já um jogaço.

    Segundo tempo foi também muito animado, Gabigol também teve a oportunidade do doblete, e até fez o gol, mas o gol foi muito mal anulado, com um impedimento inexistente. O VAR não foi acionado, e estou tentando entender até hoje. Quem aproveitou foi Palmeiras, dois minutos depois, Rony entrou na área e o juiz marcou um pênalti duvidoso. Agora sim, Raphael Veiga fez o doblete. Ainda não era o momento de Diego Alves brilhar nos pênaltis. No fim do jogo, Wewerton fez duas grandes defesas contra Bruno Henrique e Gabigol. No apito final, empate, decisão de penalidades.

    No começo da disputa de penalidades, os craques Raphael Veiga e Arrascaeta fizeram. O capitão palmeirense Gustavo Gómez também fez. Filipe Luís, depois de achar a trave durante o jogo, achou o travessão durante a disputa. Gustavo Scarpa, outro canhoto, fez, ainda não era o momento de Diego Alves brilhar. Matheuzinho errou, com defesaça de Wewerton. Flamengo 1×3 Palmeiras. Relembro que considerei o jogo como perdido e que me consolei sozinho, me dizendo que a Supercopa não era um título importante. Já estava sem esperança mas agora sim, era o momento de Diego Alves brilhar.

    Diego Alves era um dos melhores goleiros do mundo quando se tratava de pênaltis, talvez o melhor. Muito ativo na linha, já tinha defendido pênalti de Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Griezmann e Diego Costa. Os melhores da Espanha, do mundo. Coisa impressionante. No calor de Brasília, com flamenguistas desesperados na televisão, Diego Alves defendeu a cobrança de Luan. A esperança ainda existia, ainda mais depois do gol de Vitinho. Ainda faltava um milagre, que Diego Alves fez, contra outro canhoto, Danilo, com defesa maravilhosa. Gabigol, quinto cobrador, não podia errar se não queria oferecer o título ao Palmeiras. Não errou, fez com tranquilidade. Flamengo 3×3 Palmeiras. Que amo o futebol, que amo o Flamengo.

    Com ainda mais estresse, Viña, outro canhoto, fez. O garoto João Gomes, 20 anos, chutou, Weverton desviou, o coração parou, mas João Gomes empatou. Outro garoto, até no nome, Gabriel Menino, chutou, Diego Alves fez outro milagre. O garoto Pepê tinha o título no pé direito, mas bateu fraco, e Wewerton defendeu. Muita emoção em Brasília, Flamengo 4×4 Palmeiras. Mais um garoto, mais um Gabriel, agora Gabriel Veron, fez. Michael, com força, empatou. Agora era a vez de Mayke, e Diego Alves defendeu mais uma vez, a quarta cobrança defendida. Defender dois já é muito, três é coisa de milagre, mas defender quatro pênaltis na mesma disputa, só Diego Alves, só nosso goleiraço.

    Rodrigo Caio foi o nono jogador do Flamengo a chutar, só faltava Isla e Diego Alves depois. Wewerton ficou no meio, Rodrigo Caio fez o gol, ofereceu o título ao Flamengo, mas o herói era de luvas e de camisa amarela, Diego Alves. Com essa disputa de penalidades eterna, Diego Alves chegou ao 40o pênalti defendido na carreira. Com Flamengo, 11 defesas nos 39 pênaltis cobrados, um aproveitamento de 28%, uma coisa realmente impressionante.

    Obrigado Diego Alves para sua passagem no Flamengo, onde honrou muito o Manto Sagrado de Raul Plassman e outros, onde nos ofereceu um título, depois de um jogo eterno contra Palmeiras.

  • Jogos eternos #33: Bangu 0x2 Flamengo 1999

    Jogos eternos #33: Bangu 0x2 Flamengo 1999

    O Bangu foi um grande clube do futebol brasileiro, jogando várias vezes no Brasileirão. E o campeonato carioca foi um grande campeonato, numa época um dos melhores do mundo. Tenho carinho para o Bangu e para o campeonato carioca, porque agora o nível é bem diferente, mas ainda é Rio, ainda é o mais charmoso do mundo.

    E em 1999 era ainda mais o caso, com um jogo que é a essência do futebol carioca. Estadio clássico, o da Moça Bonita, lá em Bangu. Bangu já foi grande, até gigante foi, quase campeão brasileiro, bicampeão carioca. Essa crônica é a número 33 dos jogos eternos, e Bangu foi campeão carioca em 1933 e 1966. Diretoria acreditava num título a cada 33 anos e par o ano de 1999, trouxe de volta aos gramados um jogador muito carioca na alma, Renato Gaúcho. Fora de forma, Renato Gaúcho saiu da aposentadoria e fez finalmente apenas dois jogos com Bangu, contra Vasco e esse contra Flamengo, o último da sua carreira. Sem brilho, e sem título para Bangu.

    Flamengo também tinha seu craque, carioca na alma, carioca no nascimento, Romário. O Baixinho vivia seu último ano com o Flamengo, talvez o melhor, apesar do fim frustrante. Era sua estreia no campeonato carioca 1999, onde era o artilheiro das 3 últimas edições do torneio. Na temporada, o gênio da grande área já tinha feito jogadas de gênio, o Amaral ainda se lembra desse elástico mortal e imortal no jogo contra o Corinthians no Pacaembu.

    Na Moça Bonita, como o estádio respirava o futebol carioca, foi o lançamento da nova camisa do Flamengo, um Manto Sagrado muito lindo, que tenho na minha coleção, com a camisa 11 de Romário. Lindo, muito lindo. O saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Luís Alberto, Fabão, Athirson (Marco Antônio); Vagner, Jorginho, Iranildo (Caio), Beto (Rodrigo Mendes); Leandro Machado, Romário. No lado de Bangu, além do Renato Gaúcho, destaque para o próprio técnico, Alfredo Sampaio, que foi o primeiro técnico de Ronaldo no São Cristóvão.

    No primeiro lance, Romário teve oportunidade de chutar, mas, acontecia, preferiu fazer o passe para Leandro, que errou no domínio. A torcida flamenguista apoiava, empurrava as barreiras e o time, tinha flamenguistas até nas árvores do estádio. Lindo, muito lindo. No segundo tempo, visão perfeita e passe sensacional de Romário, que abriu para Fábio Baiano, que chegou na bola só um pouco antes do goleiro do Bangu. Pênalti. Romário, claro, fez o gol sem tremer, e já deixava o dele na sua estreia no campeonato carioca. Romário poderia ter feito dois golaços nesse jogo, primeiramente uma falta no travessão, e depois um chute de cobertura após passar entre vários defensores do Bangu, mas o goleiro foi vigilante.

    Nesse jogo, Romário brilhou mais com os passes, e cruzou perfeitamente para Caio que marcou “um pouco do abdômen, um pouco da lateral do corpo e um pouco de braço, mas do antebraço, não da mão”. Tanto faz, numa tarde de sol em Bangu, o Flamengo ganhava mais um jogo do futebol carioca, aquele futebol lindo, muito lindo.

  • Jogos eternos #32: Flamengo 2×0 Nova Iguaçu 2012

    Jogos eternos #32: Flamengo 2×0 Nova Iguaçu 2012

    Antes do jogo de hoje, uma lembrança de um jogo contra Nova Iguaçu, em 2012, que marcou a reestreia de Vágner Love no Flamengo. Foi quase 10 anos atrás e o Flamengo mudou muito, mas o que não muda é a força da torcida, a capacidade de fazer a festa, de fazer ídolos.

    Descobri Vágner Love em 2004, quando jogou a Liga dos campeões pelo CSKA Moscou, com dois jogos e um gol contra o Paris SG. Nesse ano, ganhou a Copa UEFA, fazendo gol contra outro time francês, Auxerre, nas quartas de final, e contra o Sporting na final. Também foi chamado na Seleção brasileira, mas nunca se firmou como titular, até porque, apesar de ser um ótimo atacante, não tinha o nível suficiente para isso.

    Depois de muitos anos na Rússia, Vágner Love voltou ao Brasil, no clube de seus inícios profissionais, Palmeiras. No ano seguinte, em 2010, foi no Flamengo onde formou o Império do Amor com nosso Didico. Foi artilheiro do campeonato carioca com 15 gols, até hoje a maior marca desde Fábio em 2002, que fez 16 gols pelo Volta Redonda. Mas Vágner Love ganhou nenhum título com o Flamengo em 2010.

    A tentativa de compra definitiva fracassou com os russos e Vágner Love voltou no CSKA em 2011. E em 2012, foi emprestado de novo ao Flamengo. Foi um grande reforço, foi muito bem em 2010 com 23 gols em 29 jogos, para uma torcida que tinha grandes esperanças para o ano 2012, o ano do centenário do futebol do clube. O centenário do Clube de Regatas do Flamengo, em 1995, foi uma frustração, uma vergonha, 2012 não podia ser assim. Podia, sim.

    No 12 de fevereiro, dois dias antes do dia dos Namorados na França e em vários países do mundo, Vágner Love reestreava com o Flamengo. O rubro-negro ainda era invicto no campeonato carioca e tinha se classificado na fase de grupos da Copa Libertadores depois de passar sufoco contra o Real Potosi na pré-Libertadores. Para o jogo contra Nova Iguaçu, no estádio de Macaé tudo rubro-negro, Joel Santana escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Welinton, David Braz, Júnior César; Luiz Antônio, Willians, Renato Abreu; Ronaldinho, Vágner Love, Deivid. Um time mediano, com jogadores de qualidade, que poderia ter feito mais do que fez em 2012.

    Vágner Love vestia de novo o Manto Sagrado num dia de festa para a torcida. Porque a torcida do Flamengo é assim, sabe fazer ídolos, sabe festejar, até nos dias mais difíceis. E Vágner Love nem esperou quinze minutos para brilhar. Ganhou de um adversário na força física, ganhou de outro com técnica e drible curto, e achou Ronaldinho. Ronaldinho fez pouco, muito pouco pelo Flamengo em 2012, e seria bem melhor com o Atlético Mineiro no resto da temporada, mas ele nunca deixou de ser craque, de ser capaz de visão alucinante e toque de gênio. Com um toque absolutamente maravilhoso, o Bruxo achou de novo Vágner Love na grande área, pronto a fazer o gol. O goleiro desviou e Deivid, sozinho na frente do gol, conseguiu essa vez fazer o gol. Flamengo na frente, festa no Moacyrzão.

    Depois, teve caneta de Vágner Love, cabeçada de Deivid num escanteio de Ronaldinho e não muito mais emoções no primeiro tempo. No segundo tempo, Renato Abreu conseguiu obter uma boa falta, com 30 metros de distância, bem no centro. Ronaldinho com categoria, ou Renato Abreu com força. Foi Renato Abreu, com muita força, muita precisão, muita categoria. Um golaço de um jogador, que também não fez muito em 2012, mas que eu adorava, desde meus primeiros dias de torcedor assíduo do Flamengo nos meados dos anos 2000. O Renato Abreu merece um capítulo na categoria dos ídolos e nesse quase dia dos Namorados, fez mais um golaço de falta. Flamengo com dois gols de vantagem, para a festa e o amor da torcida.

    Depois, de novo, não teve muitas emoções. Mas Flamengo ganhava mais um jogo, Vágner Love reestreou bem, apesar de não fazer um gol. Nos 5 próximos jogos, ia fazer 5 gols, deixando o dele a cada jogo. Vágner Love não ia voltar com a artilharia do campeonato carioca, apesar de ótimas estatísticas, 9 gols em 10 jogos. No Brasileirão, ia ser menos convincente, com 13 gols em 36 jogos. Fez o gol que rebaixou seu antigo clube, Palmeiras, mas mesmo assim, igual ao ano de 1995, a temporada de 2012 do Flamengo foi de muitas frustrações e para o Vágner Love, igual ao ano de 2010, sem nenhum título.

  • Jogos eternos #31: Madureira 0x2 Flamengo 2019

    Jogos eternos #31: Madureira 0x2 Flamengo 2019

    Antes do jogo de hoje, uma lembrança do melhor ano que vi como torcedor do Flamengo, o de 2019, com um jogo eterno de nosso agora camisa 10, Gabigol. Sempre gostei de acompanhar o futebol brasileiro para saber antes dos outros europeus as grandes promessas brasileiras. Primeiro, Pato, já em 2006, começo a ser antigo. Depois, Neymar, claro. Hoje, Endrick. No Flamengo, Renato Augusto, Adryan, Vinícius Junior. Alguns com muito sucesso, outro não tanto.

    E sempre gostei muito do Gabigol, já chamado de Novo Neymar na base do Santos, já extremamente promissor. Relembrei de assistir ao primeiro jogo dele como profissional, também o último do Neymar com Santos, um 0x0 contra nosso Flamengo na abertura do Brasileirão 2013, lá em Brasília. Quase dez anos atrás…

    Depois, acompanhei Gabigol no Santos, sendo artilheiro da Copa do Brasil em 2014 e 2015. Torci pelo seu sucesso na Europa, na Inter e depois no Benfica. Sucesso que não veio. Que bom. Gabigol voltou no Brasil, no seu antigo clube de Santos, e depois vestiu o Manto Sagrado. Estava muito feliz com essa contratação, sempre foi um dos jogadores que eu gostava mais no futebol de hoje. Justamente para relembrar um pouco um futebol antigo, com alegria e ginga, provocações e carisma.

    Junto ao Gabigol, veio do Santos também Bruno Henrique. Gostava menos dele, achava ele muito irregular. E era, no Brasileirão 2018, fez apenas um gol em 28 jogos com Santos. Mas no seu primeiro jogo com o Manto Sagrado, fez os dois gols da vitória contra Botafogo. Já para o Gabigol, o início foi mais difícil, o atacante de 22 anos na época passou em branco nos seus 5 primeiros jogos.

    Mas quando Gabigol começou a brocar, não parou mais. Fez um contra Americano, dois contra a Portuguesa. Na Libertadores 2019, estreou fazendo o único gol do jogo contra San José. Também deixou o dele contra a LDU Quito. No 19 de março de 2019, para o jogo contra Madureira, Flamengo foi escalado assim pelo técnico Abel Braga: Diego Alves; Pará (Juan), Rodrigo Caio, Léo Duarte, Renê; Willian Arão (Hugo Moura), Ronaldo, Diego; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique (Uribe), Gabigol.

    No Maracanã, o perigo veio no início dos pés de Bruno Henrique, mas um defensor do Madureira salvou em cima da linha, depois foi o goleiro que impediu o gol de BH27. Um outro defensor salvou em cima da linha uma cabeçada de Willian Arão, depois foi o goleiro que impediu o gol de Éverton Ribeiro. Flamengo dominava muito, sem conseguir fazer o gol. No duelo cara a cara, Gabigol perdeu para o goleiro no fim do primeiro tempo. Mas no último minuto do primeiro tempo, Diego chutou de longe, goleiro defendeu, Willian Arão cabeceou, goleiro desviou na trave, Gabigol, de pé esquerdo e de cabelo loiro, abriu o placar. No intervalo, Madureira 0x1 Flamengo.

    De novo, no segundo tempo, foi Bruno Henrique o maior perigo no início, sem conseguir fazer a assistência ou o gol. Com 33 minutos no segundo tempo, Gabigol recebeu de Renê, chutou forte, zagueiro desviou, goleiro se inclinou, doblete de Gabigol. Para o quinto jogo consecutivo, Gabigol fazia um gol com o Flamengo, uma série que ia continuar no jogo seguinte numa vitória 3×2 no Fla-Flu. Ainda não dava para imaginar quanto bonito será esse ano de 2019, mas depois de muitas frustrações, já dava para cheirar os títulos se aproximando, porque agora o Flamengo tinha um jogador muito diferenciado, artilheiro como um camisa 9, carismático como um camisa 10, Gabigol.

  • Jogos eternos #30: Flamengo 5×1 Portuguesa-RJ 2017

    Jogos eternos #30: Flamengo 5×1 Portuguesa-RJ 2017

    Para preparar o jogo de hoje, uma lembrança de 6 anos atrás, na estreia da Taça Rio, com um jogo entre Flamengo e a Portuguesa da Ilha do Governador no Raulino de Oliveira. Provavelmente o melhor jogo de Leandro Damião com o Manto Sagrado. Gostava muito do Leandro Damião no seu início de carreira com o Internacional e acho que ele tinha tudo para ser o centroavante da Seleção nos anos 2010. Mas decepcionou, e no Flamengo, ainda achei um bom reforço, decepcionou ainda mais.

    No 11 de março de 2017, para um pequeno publico de 1.301 torcedores, Zé Ricardo escalou Flamengo assim: Thiago; Rodinei, Juan, Donatti, Renê; Márcio Araújo (Ronaldo), Cuéllar, Matheus Sávio (Lucas Paqueta); Gabriel, Felipe Vizeu, Leandro Damião (Berrío). Faltava peças importantes como Réver, Diego e Paolo Guerrero, mas Flamengo mudou muito em 6 anos.

    Mesmo assim, Flamengo era bem superior ao adversário e Leandro Damião abriu o placar no primeiro tempo, depois de um toque de calcanhar de gênio de um ídolo, o zagueiro e capitão Juan. Num longe cruzamento do pé esquerdo de Rodinei, Leandro Damião fez o segundo, de cabeça.

    Ainda no primeiro tempo, a Portuguesa voltou no jogo, de novo com um gol de cabeça, do zagueiro Marcão. Mas no minuto seguinte, aproveitando as hesitações e falhas de toda a defesa do time da Ilha do Governador, Leandro Damião completou o hat-trick. Três gols em um tempo, três gols em puro oportunismo, bem ao estilo do Damião. Pena que não fez mais com o Manto Sagrado.

    No último minuto do primeiro tempo, Leandro Damião quase fez o quarto dele, mas a bola saiu do lado errado da trave. O quarto gol do Flamengo não demorou a chegar, com 5 minutos no segundo tempo, teve mais um gol, mais um gol de cabeça, do nosso ídolo Juan, que também merece um capítulo na categoria dos ídolos.

    Flamengo ganhava 4×1, jogo estava ganho e o segundo tempo foi mais tranquilo. Mas com mais um gol, agora de uma promessa que deu certo. No tempo adicional, Lucas Paqueta fez um lindo gol de falta, decretando o placar final: 5×1 para o Flamengo.

    Flamengo estreava com o pé direito na Taça Rio, turno onde o time sairia invicto. Como sairia invicto e campeão do carioca 2017.

  • Times históricos #10: Flamengo 2000

    Times históricos #10: Flamengo 2000

    A última temporada do segundo milênio, a primeira temporada desde o fim da Era Romário, a última temporada da Era Umbro, a primeira temporada da Era Nike, também a primeira da dupla Petkovic – Adriano, o ano de 2000 foi histórico para o Flamengo, com de novo muitas competições e muitos jogos, algumas alegrias e muitas decepções, e muitos, muitos craques. Mesmo sem Romário, o imortal Flamengo, com o apoio da ISL, era bem servido de craques, em cada posição: Júlio César no gol, Juan e Gamarra na zaga, Athirson como lateral, Leandro Avila como volante, Lê e Denílson nas alas, Reinaldo, Adriano e Edílson no ataque.

    Mas, se o Flamengo era muito bem servido numa posição, era de uma das mais importantes no futebol do século XX, o camisa 10, o cérebro do time. E para a décima crônica dessa categoria, o Flamengo de 2000 tinha dois camisas 10, dois gênios, Petkovic e Alex. Sempre é muito difícil de jogar com dois camisas 10, dois jogadores centralizados, que precisam da bola para existir. Se alguém tem duas articulações no mesmo joelho, dificilmente ele conseguira andar sem mancar.

    A temporada do Flamengo em 2000 começou com um torneio amistoso, o troféu São Sebastião, patrão de Rio de Janeiro e celebrado os 20 de janeiro. No 20 de janeiro, também dia aniversario da morte de Garrincha, Flamengo, de calça vermelha e camisa toda preta, começou a temporada da melhor maneira, com um título, em cima do Fluminense, gol de Lúcio. A estreia oficial, no torneio Rio – São Paulo, foi mais difícil. Duas derrotas, contra São Paulo e Botafogo, depois dois empates, contra Santos e Botafogo, e depois duas vitórias, de goleada, 5×2 contra São Paulo e 4×1 contra Santos.

    O jogo contra São Paulo no Morumbi foi o palco do primeiro gol profissional de um dos maiores ídolos do Flamengo, nosso Didico Adriano. Trinta segundos depois de sua entrada no jogo, dominava a bola esquivando um defensor ao mesmo tempo, chutava com a perna esquerda e fazia um golaço contra uma outra lenda em início de carreira, Rogério Ceni. No jogo contra Santos, foi estreia de outro ídolo do Flamengo, também hexacampeão em 2009, Petkovic. O Pet estreou com golaço, duas fintas de pé direito, um chute cruzado de pé esquerdo. Em seguida, no antigo Maraca, um escanteio de Pet num canto onde voltaria a brilhar, um escanteio bem curvado, para o gol de Beto. Apesar das goleadas e do gênio dos futuros ídolos, Flamengo acabou sendo eliminado na primeira fase do Torneio Rio – São Paulo, conquistado pelo Palmeiras depois de um 4×0 contra o Vasco na final.

    No campeonato carioca, Flamengo também começou com goleada: 5×0 contra o America. Depois, outra goleada, 4×0 contra Madureira. Nos dois jogos, Reinaldo marcou um doblete. Na Copa do Brasil, estreou com empate contra River lá no Piauí, mas não tremeu no Maracanã, Athirson fazendo o único gol da partida no início do jogo. No campeonato carioca, perdeu a invencibilidade contra o Botafogo, mas conquistou outras goleadas: 7×1 contra Friburguense e 6×1 contra Bangu, com destaque para Reinaldo e Athirson, 4 gols para cada um na soma dos dois jogos. Entre as duas goleadas, uma vitória de prestígio, de virada, contra Fluminense, de novo com gol de Athirson, que faria 12 gols em 32 jogos durante a temporada.

    Depois, foi o momento da goleada sofrida, contra um arquirrival e um artilheiro bem conhecido, o Vasco de Romário. Num domingo de Pascoa, o Maraca virou centro de distribuição de chocolates, com a arrogância de Eurico Miranda, as provocações de Pedrinho e o gênio de Romário. Foi um jogo eterno, um grande jogo na história do Vasco. Parabéns para eles, ainda não era o momento da vingança para o Flamengo. Mas era para o técnico Paulo César Carpegiani a hora de sair, o técnico campeão mundial em 1981 pediu demissão no dia seguinte.

    No lugar de Carpegiani, chegou um outro ídolo, ainda mais ídolo, Carlinhos, sobre quem já escrevi aqui. Ídolo como jogador, onde só jogou no Flamengo, e ídolo como técnico, onde muitas vezes foi chamado para sair de uma crise e onde ganhou o Brasileirão de 1987 e 1992. Em 2000, ajudou o clube a voltar para cima depois da goleada sofrida contra Vasco, também com a ajuda de Petkovic, que marcava a quase todo jogo, e quando não marcava, dava assistência. Petkovic foi eternizado em 2001, mas já jogou muito em 2000.

    Flamengo conquistou a Taça Rio e encontrou de novo Vasco, agora na final do campeonato carioca. Agora sim, era hora de vingança. E chegou com juros e com título, Vasco sendo vice de novo. No jogo de ida, a goleada foi construída nos quinze minutos finais, mais um gol de Athirson, um golaço de falta de Fábio Baiano, e os vascaínos, já saindo do Maracanã, sem ter tempo de ver o terceiro gol, uma cabeçada de Beto. Sim, era a vingança de Pascoa. No jogo de volta, uma vitória de virada, com gol de empate de Reinaldo e depois Tuta roubando um gol de Juan. Flamengo bicampeão carioca, Vasco bi-vice. A vingança não era completa só porque o Vasco ia sofrer ainda mais no ano seguinte.

    Mas o Flamengo desses tempos sofria de transtorno bipolar, era de uma alegria pura e no instante seguinte, os torcedores sofriam com a derrota mais dura. Nas quartas de final da Copa do Brasil, foi goleado 4×0 pelo Santos, em pleno Maracanã. Flamengo acabou eliminado depois de mais uma derrota contra Santos, 4×2 no Vila Belmiro. Em mais uma outra competição, a Copa dos campões regionais, também caiu nas quartas de final, contra Palmeiras. Na disputa de penalidades, Reinaldo foi o único a errar e o Flamengo foi eliminado.

    Depois era tempo de mais uma competição, o Brasileirão, nesse ano chamado de Copa Jõao Havelange, com viradas de mesa, (des)organização do Clube dos 13 e da CBF e 116 clubes participando, apenas isso. E mais uma vez no Brasileirão desses tempos bipolares, Flamengo começou mal, com apenas uma vitória em 6 jogos. De nova, era hora de estrear em mais uma competição, a Copa Mercosul, competição em alta e de qual o Flamengo era o último campeão, com vitoria na final de 1999 contra Palmeiras. Apesar de um gol de Petkovic, Flamengo estreou com derrota no Maracanã, 2×1 contra River Plate, jogou que marcou a estreia de Edílson com o Manto Sagrado.

    E mesmo com tantos jogos, tantas competições, Flamengo teve o tempo de fazer uma excursão na Europa. E Flamengo tinha mais um reforço de peso, um jogador que eu adorava em 1998, Denílson. A ISL dava recursos para o Flamengo ter um timaço. Flamengo perdeu o Troféu Villa de Madrid, disputado a cada ano pelo Atlético de Madrid, apesar de um gol de Edílson, que achou de novo as redes no segundo e último jogo na Europa, uma vitória 2×1 contra Betis, jogo onde Adriano também marcou. O Flamengo prometia no Brasileirão 2000.

    De volta ao Brasil, o Flamengo enfrentava o Atlético Mineiro de Cláudio Caçapa, Mancini, Valdir Bigode e Guilherme. No Mineirão, Flamengo ganhou de virada com gols de Petkovic e Edílson, e grande atuação de Adriano. Quatro dias depois, no Estadio Nacional de Santiago, Flamengo goleava o Universidad de Chile por 4×0. O Flamengo prometia, nesse jogo Edílson abriu o placar num escanteio de Petkovic, e fez mais um no segundo tempo, agora ignorando completamente Petkovic, sozinho na frente do gol. Já dava para perceber que esse Flamengo prometia brigas de ego e vaidade também.

    Flamengo goleou o Santos do Edmundo e venceu Gama, num jogo eternizado aqui. Depois, foi a vez de Alex de estrear com o Manto Sagrado, mas o craque do Palmeiras fez muito pouco pelo Mengo. Na Resenha de Primeira, Alex explicou: “Primeiro, eu fiquei 45 dias. Isso já resume tudo. O Flamengo tinha sérios problemas estruturais e eu encontro um grupo de muita qualidade individual, mas que ninguém queria nada. E quando eu digo que ninguém queria nada, eu também me incluo nisso porque eu poderia ter feito ‘N’ coisas diferentes e acabei não fazendo, entrei no ‘oba-oba’ que existia naquele momento e aí o rendimento do time foi muito abaixo”. No 10 primeiros jogos do Alex, Flamengo ganhou apenas um, empatou apenas um e perdeu 8. Coisa improvável vendo a qualidade do time. Flamengo perdeu 5 jogos consecutivos no Brasileirão, uma série fatal para o técnico Carlinhos, substituído por um outro ídolo, Zagallo.

    Para o primeiro jogo de Zagallo, Flamengo precisava de um empate contra Vélez Sársfield para passar da primeira fase da Copa Mercosul. E fez mais, Adriano abriu o placar depois de jogada de Petkovic, e saiu para a entrada de Roma, que fez um golaço cheio de ginga. E três dias depois, um jogo eterno contra o Vasco, na frente de mais de 60.000 torcedores no Maracanã. Antes do jogo, um cumprimento entre os antigos desafetos, Zagallo e Romário. No jogo, um golaço de falta de Petkovic, na gaveta de Helton, quase um flashforward. No segundo tempo, um gol de Adriano, um outro golaço de Petkovic, agora driblando dois jogadores do Vasco e por fim, um pênalti de Edílson. Flamengo 4×0 Vasco, mais uma vingança, ainda não completa, ainda não era o 27 de maio de 2001. Mas nesse fim do segundo milênio, a esperança voltava na Gávea, o Flamengo podia realizar um ano histórico.

    Mas o Flamengo dessa época é assim, meio feliz, meio infeliz, com uma esperança na mesma altura do que a decepção. Flamengo empatou contra Fluminense, com gol de outro craque, agora zagueiro, o paraguaio Carlos Gamarra, e perdeu contra o Internacional e o Cruzeiro. Entre esses jogos, perdeu duas vezes contra o River Plate, e acabou eliminado nas quartas de final da Copa Mercosul, apesar de gols de Edílson, Juan e Petkovic no jogo de volta. Um timaço, que não saiu do papel.

    Flamengo não passou da primeira fase do Brasileirão e viu o arquirrival Vasco conquistar a Copa Mercosul e o Brasileirão. Os dois últimos jogos, vitórias contra o Corinthians e Vitoria, só serviram para ver os três primeiros gols de Alex, os únicos, golaços de canhoto, e um pouco mais do gênio de Petkovic e Edílson. Só serve para se lamentar, pensando o que poderia ter feito o Flamengo de 2000.

  • Jogos eternos #29: Flamengo 1×1 Fluminense 1985

    Jogos eternos #29: Flamengo 1×1 Fluminense 1985

    Ainda não falei muito nesse blog sobre Leandro, para mim o segundo maior ídolo do Flamengo. Recentemente, escrevi um pouco sobre ele, na crônica sobre o time histórico de 1983, onde ele fez gol na final do Brasileirão contra Santos. No livro 6x Mengão de Paschoal Ambrosio Filho, Leandro falou: “Nunca fui de fazer muitos gols, mas o Zico me dizia que, quando eu marcava, era sempre um gol importante. Foi o caso deste dia”. Vamos então de um outro dia importante, o 11 de dezembro de 1985, contra Fluminense.

    O jogo foi a estreia no triangular final do campeonato carioca. Fluminense era bicampeão, e Flamengo bi vice-campeão. Acontece também para o nosso Mengo. Flamengo queria o título carioca, que não vinha desde 1981. Uma anomalia para um time cheio de craques. Até Zico tinha voltado ao time, mas estava fora do jogo, por causa de uma entrada criminosa do Márcio Nunes, jogador do Bangu. No 11 de dezembro de 1985, Sebastião Lazaroni escalou o Flamengo assim: Cantarele, Jorginho, Leandro, Mozer, Adalberto; Andrade, Adilio, Waltinho (Gilmar Popoca); Chiquinho, Marquinho (Júlio César Barbosa), Bebeto. Um time de craques, só faltava Zico para liderar o time.

    Flamengo dominou o jogo, mas no fim do primeiro tempo, Washington abriu o placar para Fluminense com um gol de cabeça. Flamengo sofreu muito com o Casal 20, a dupla Assis – Washington nos triangulares finais do campeonato carioca em meado dos anos 1980. Flamengo estava fora do título, até o último minuto, até o brilho de Leandro.

    Leandro é o maior lateral-direito da história do Flamengo. E os flamenguistas consideram o Leandro como o maior lateral-direito da história, não só do Flamengo claro, mas do futebol mundial. Tem candidatos já no Brasil: Djalma Santos, Carlos Alberto, Cafu, Dani Alves. Todos com ótimos argumentos, mas a meu ver, Leandro, de uma maneira geral, supera todos. No mundo, ainda tem Javier Zanetti ou Philipp Lahm. Leandro supera eles também. Talvez explicaria isso mais em detalhes na crônica sobre Leandro na categoria dos ídolos, mas Leandro é criminosamente esquecido nesse debate do maior lateral-direito, no mundo e até no Brasil. Não explicaria isso mais em detalhes porque não tem explicação.

    Leandro não foi apenas o maior lateral-direito da história do Flamengo, também foi um dos maiores zagueiros da história do clube rubro-negro. Na segunda parte da carreira, brilhou na zaga, com a mesma classe, a mesma técnica, a mesma eficiência de sempre. E brilhou no triangular final de 1985, com um chute de 30 metros, um chute poderoso e preciso, um dos gols mais bonitos da história do Flamengo. Salvou o Flamengo, que infelizmente perdeu no jogo seguinte contra Bangu, com Márcio Nunes, sem Zico. Fluminense ficou com o tricampeonato.

    Um final infeliz, mas valia a lembrança para o golaço de Leandro, um dos maiores nomes da história do Flamengo e do futebol mundial.

  • Jogos eternos #28: Flamengo 2×2 Vasco 1975

    Jogos eternos #28: Flamengo 2×2 Vasco 1975

    Infelizmente, uma semana depois da homenagem ao Rei Pelé e o jogo eterno contra o Atlético Mineiro em 1979, uma nova homenagem a um ídolo do futebol brasileiro, Roberto Dinamite. Roberto Dinamite nunca vestiu a camisa do Flamengo, mas fez Zico vestir a camisa do Vasco. Isso basta a mostrar quanto foi tão grande o Roberto Dinamite.

    Roberto Dinamite foi uma espécie de Zico para os vascaínos. A classe em campo, os gols, de falta ou de voleio, mas também a classe fora dos gramados, honrou a camisa de seu clube de sempre, e sempre respeitou os outros clubes, as outras torcidas. Por isso Roberto Dinamite e Zico são tão respeitados no mundo do futebol.

    Durante quase duas décadas, Zico e Roberto Dinamite fizeram do Flamengo x Vasco um dos maiores clássicos do Rio, se não o maior. Foram muitos duelos entre Zico e Roberto Dinamite, desde a base, o Zico é apenas um ano mais velho do que Roberto Dinamite. No profissional, ainda mais jogos, com pequena vantagem para Roberto Dinamite: 42 jogos, 13 vitórias do Vasco, 17 empates, 12 vitórias do Flamengo, 22 gols do Roberto Dinamite, 14 gols do Zico.

    Foram muitos duelos, uma rivalidade muito grande. No site Eusoumengao, Zico explica: “Tinha uma rivalidade nossa, de Flamengo e Vasco, dentro do campo, mas existia uma amizade muito grande. Nossas mães assistiam os jogos juntas. E acho que desde a época de juvenil a gente já jogava contra. Então a gente nunca precisou ficar falando um do outro para motivar e levar mais de 100 mil pessoas ao Maracanã”. Tive muitos duelos, era só escolher o jogo certo para mais um jogo eterno. Pensei, como Pelé contra o Galo, a um jogo de 1979. Um jogo do campeonato carioca especial, com golaços de Roberto Dinamite e Zico. Um voleio de Roberto Dinamite, e um gol de cabeça de Zico, depois de toques de cabeça de outros dois companheiros. Foi um jogo qualquer do segundo turno, a quinta rodada, mas com 122.596 presentes no Maracanã. Não era um jogo qualquer, era um jogo entre o Flamengo de Zico e o Vasco de Roberto, mas 122.596 pessoas para um jogo não-decisivo é coisa de outros tempos. Coisa de Zico e Dinamite. Mas Flamengo finalmente ganhou esse jogo e achei feio homenagear Roberto Dinamite com uma derrota.

    Pensei então num jogo do Brasileirão 1975, com um gol de Zico e dois gols de Roberto. Um ano antes, Zico se tornava titular absoluto do Flamengo, maior craque do time. Roberto Dinamite fazia ainda mais, com apenas 20 anos, foi campeão brasileiro e artilheiro do torneio. No Flamengo – Vasco do Brasileirão 1975, Roberto Dinamite deu a vitória ao Vasco com um golaço de falta. Nesse aspecto do jogo, não era tão bom que o Zico – e quem seria?, mas com muito trabalho, Roberto foi um exímio batedor de faltas. Coisa de outros tempos. Também pensei no hat-trick de Dinamite no 4×2 contra Flamengo no campeonato carioca 1979, mas eu sou de um clubismo intenso e imenso, porém necessário e moderado. Não quero ver aqui Flamengo perder do Vasco.

    Fui então de um jogo do campeonato carioca, também em 1975. Zico e Roberto Dinamite fizeram a história do campeonato carioca, com gols, títulos e jogadas de gênio. Na estreia do campeonato carioca 1975, Flamengo enfrentou Vasco. Na verdade, Vasco já tinha disputado um jogo antecipado, contra Portuguesa, Roberto Dinamite fazendo o primeiro gol do torneio. No 2 de março de 1975, Joubert escalou Flamengo assim: Renato, Júnior, Jaime, Luís Carlos, Rodrigues Neto; Liminha, Geraldo, Edson (Julinho); Paulinho, Zico, Doval. Do outro lado, Mário Travaglini escolheu nomes conhecidos como o goleiro Andrada, que tomou o gol 1000 de Pelé, Paulinho, que como Geraldo, que também disputou esse jogo, faleceu precocemente, com 23 anos de uma leucemia em 1977, e Edu Coimbra, irmão de craque, sim o irmão do Zico. E claro, no ataque, o camisa 10, Roberto Dinamite.

    E foi Roberto Dinamite que abriu o placar, com um golaço. Recebeu um cruzamento de Luís Carlos, matou a bola de peito, e sem deixar a bola cair, empurrou as redes de Renato. No segundo tempo, Flamengo empatou, com outro golaço. Jogada começa nos pés de Zico, para o calcanhar de Edson, a trivela de Liminha e o golaço de Paulinho. Um golaço coletivo, e apenas dois minutos depois, um golaço individual, com Zico, que depois de um passe de Geraldo, driblou toda a defesa do Vasco, goleiro incluído, para virar o jogo. No final do jogo, aproveitando uma falha de Rodrigues Neto, Luís Carlos empatou e decretou o placar final: 2×2.

    Um empate para a alegria ou a frustração de 55.715 torcedores presentes no Maracanã. No final do campeonato, o Fluminense de Rivelino foi campeão, e pela primeira vez, Zico se tornava o artilheiro do campeonato carioca, com 30 gols, 5 a mais do que o segundo, Roberto Dinamite, o que anunciava duelos disputadíssimos durante muitos anos. Quase 50 anos depois, fica a magia dos lances de Roberto Dinamite e Zico, fica agora na memória o gênio de Roberto, ficam pensamentos para a família dele e para o Zico, que perdeu o maior rival que o futebol lhe deu, mas que também perdeu um grande amigo, que ajudou a fazer do Flamengo x Vasco o Clássico dos Milhões e que deixou agora milhões de pessoas, vascaínos, flamenguistas ou apenas amantes de futebol, com muita tristeza.

  • Jogos eternos #27: Flamengo 5×3 America 1991

    Jogos eternos #27: Flamengo 5×3 America 1991

    Com a aproximação do reinicio do campeonato carioca, vamos de um jogo de um campeonato carioca, o de 1991, contra o time que não joga mais na elite do futebol carioca, mas um time histórico do Rio, o America da rua Campo Sales.

    Em 1991, o jogo foi no Maracanã, justamente para a estreia do campeonato carioca daquele ano. No 14 de agosto de 1991, para um pequeno publico de 3.506 pagantes, Vanderlei Luxemburgo escalou o Flamengo assim: Gilmar; Fabinho, Wilson Gottardo, Rogério, Pia; Júnior, Marquinhos (Djalminha), Zinho, Marcelinho; Paulo Nunes, Gaúcho. Um time com veteranos, promessas e muitos craques. Um time digno do Flamengo.

    E o Flamengo não esperou muito para brilhar no campeonato carioca 1991. Com apenas três minutos, numa falta, Júnior achou a gaveta do goleiro, de pé direito. Já falei isso na crônica sobre nosso ídolo Júnior, mas me impressiona a categoria de Júnior com os dois pés, parece que o pé direito é igual ao pé esquerdo, dois pés de um craque só, que nem sabe com qual perna joga melhor. Nesse jogo contra o America, começou a brilhar de pé direito. Flamengo deixou America igualar ao placar e no intervalo, era um decepcionante 1×1 para a pouca torcida presente no Maracanã. No segundo tempo, será bem melhor.

    De novo no início do tempo, Pia cruzou para Marcelinho, para o gol do 2×1. De novo, America empatou, com erro grosseiro de Rogério, que tentou cabecear para o goleiro Gilmar. E o America até virou, com Nando sendo mais rápido do que Gilmar. Mas boas coisas iam acontecer no segundo tempo para o Flamengo, que empatou com assistência de Júnior e gol de Gaúcho.

    E no fim do jogo, o saudoso Gaúcho provocou um pênalti. E provocou a fúria dos jogadores do America contra o juiz Jorge Emiliano. Outros tempos do futebol, o Gaúcho, não nosso Gaúcho rubro-negro mas um outro jogador do America, até agrediu o juiz. O America ficou com apenas oito jogadores em campo, e o próprio Gaúcho, nosso ídolo rubro-negro, fez o pênalti depois de uma meia-hora de paralisação do jogo, de ameaças da diretoria do America de retirar o time do campo, de ameaças do juiz de expulsar todo mundo. Tudo isso na frente das câmeras. Realmente, outros tempos do futebol.

    Com ampla vantagem numérica, Flamengo fez mais um gol, Djalminha definindo um placar de 5×3 para o Mengo. No fim, o presidente do America falou de uma vergonha do futebol brasileiro, para um clássico histórico do futebol carioca, ainda furioso com a marcação de um pênalti que para mim, mesmo clubismo a parte, me parecia legítimo. Enfim, o Flamengo estreava com o pé direito no campeonato carioca, um campeonato onde o Flamengo ia perder apenas um jogo, e ia conquistar depois de uma final emocionante contra o Fluminense, de novo com a maestria de Júnior.

  • Times históricos #9: Flamengo 1996

    Times históricos #9: Flamengo 1996

    Eu acho que o Flamengo de 1996 foi o melhor time da Era Romário, junto com o ano de 1999. Foi um ano de muitas competições, muitos jogos e até títulos. Um time que tinha como craque Romário claro, mas também o goleiro Zé Carlos, um jovem Athirson, um muito jovem Juan, um meio campo com o argentino Mancuso e as promessas Rodrigo Mendes e Iranildo, e um ataque impressionante, que não tinha só Romário, longe disso. Em 1996, jogaram no ataque craques como Sávio, Bebeto, Nélio, Aloísio Chulapa e Amoroso. Joel Santana tinha nas mãos um time de muita qualidade, que podia brigar para todos os títulos.

    Flamengo começou a temporada com um torneio amistoso, a Copa Euro-América, junto com Borussia Dortmund e Palmeiras. Seria muito legal ainda ter esse tipo de torneios amistosos hoje. No primeiro jogo, 1×1 contra o Borussia, gol de Romário. No segundo jogo, 1×1 contra o Palmeiras, gol de Romário. Nesse início de temporada, o Baixinho já mostrava o que ele sempre foi: um goleador nato, um artilheiro, o gênio da grande área. Mas quem levou o título foi o Palmeiras, com uma goleada 6×1 contra o Borussia, último campeão da Alemanha.

    Depois, Fla jogou a Taça da Cidade Maravilhosa, que o vencedor, o Botafogo, considera como campeonato carioca especial. Bem. O Flamengo foi invicto, com 3 vitórias e 4 empates, mas não foi campeão. Nessa competição, Flamengo chegou a jogar na Gávea, um de seus últimos jogos de sua história nesse estádio. Não é a prioridade, mas gostaria de uma reforma da Gávea para jogar alguns jogos, do time principal ou dos outros times do Flamengo.

    Flamengo estreou em competição oficial na Copa do Brasil, contra Linhares no Espirito Santo, com a primeira polêmica do ano de Romário. O Baixinho só queria chegar lá no dia do jogo. Perdeu o voo, voluntariamente ou não, perdeu o jogo também. Flamengo não perdeu, ganhou 1×0 e disputou o jogo de volta no antigo estádio Mané Garrincha de Brasília. Flamengo é do Brasil. E Flamengo aplicou uma goleada, com show do nosso ídolo Sávio, que fez um golaço depois de um drible de vaca no pobre goleiro.

    Na estreia do campeonato carioca, nova vitória, contra Volta Redonda. A fase da Taça Guanabara foi quase perfeita, 11 jogos, 10 vitórias e um empate, contra Fluminense. Um ano depois do jogo eterno de 1995, infelizmente perdido pelo Flamengo, Renato Gaúcho fez dois gols para o Fluminense, mas Romário empatou no fim do jogo e se envolveu em mais uma polêmica, provocando a torcida do Fluminense e o próprio Renato Gaúcho na comemoração. Na opinião de Romário claro, ele comemorava os gols como ele queria, gols eram deles. E foram muitos gols. Só na Taça Guanabara, Romário fez 17 gols em 10 jogos! Apenas no primeiro jogo o Baixinho passou em branco. Depois, fez contra todos os grandes do Rio, Botafogo, Fluminense, Vasco. Também fez 5 gols contra Olaria, onde jogou quando ele era jovem, e 4 gols contra o America, time de coração de seu pai. O Romário era sinistro.

    Na Copa do Brasil, Flamengo passou do Inter nas quartas de final. Depois de uma derrota no Beira-Rio na ida, um jogo épico no Maracanã na volta. Nélio abriu o placar, depois foi show de Sávio, que começou para obter um pênalti. Romário perdeu. Acontece às vezes, Romário falando na televisão de uma “sensação estranha”. De novo Sávio, com um drible curto, um chute seco, um gol para deixar Flamengo na frente no placar. De novo Sávio, provocando mais um pênalti. Romário fez, aconteceu muitas vezes. De novo Sávio foi derrubado na grande área, agora sem pênalti apesar de a marcação ser evidente. Enfim, Flamengo na semifinal, com mais um grande show de Sávio.

    Na Taça Rio, a segunda fase do campeonato carioca, mais jogos e mais gols de Romário. Dois contra Itaperuna, um contra Barreira, quatro contra Olaria durante mais um jogo na Gaveá. Olaria pode ter pesadelos de seu antigo jogador, em dois jogos, O Baixinho fez 9 gols. Romário ainda fez dois gols no 2×2 contra Botafogo. Depois, sem gol de Romário, Flamengo foi eliminado na semifinal da Copa do Brasil pelo futuro campeão Cruzeiro, e de forma surpreendente, O Baixinho não marcou nos quatro últimos jogos do campeonato carioca. Mesmo assim, Flamengo, após um 0x0 contra Vasco no Maracanã, conquistou a Taça Rio com 8 vitórias, 3 empates e nenhuma derrota. Assim, Flamengo se livrou de uma final para já conquistar o campeonato carioca, pela primeira vez de forma invicta desde 1979. Mesmo não marcando nos últimos jogos, Romário fez 26 gols em apenas 19 jogos, sendo evidentemente o artilheiro do campeonato carioca.

    Depois, mais uma competição. A Copa dos Campeões Mundiais, apenas com times brasileiros: Santos, Flamengo, Grêmio e São Paulo, nesse momento os únicos brasileiros campeões mundiais, isso não é um debate. Flamengo empatou 0x0 contra São Paulo e venceu Grêmio 2×0, com gol e assistência de Romário. Fla também venceu Santos para se classificar na final, contra o São Paulo de Muricy Ramalho. Claro, Romário deixou o dele, de pênalti, mas não foi suficiente e Flamengo foi vice-campeão. Foi o último jogo de Romário, até voltar, com o Manto Sagrado. Quando seu antigo parceiro do Tetra de 1994, Bebeto, voltou no Flamengo, Romário voltou na Espanha, agora no Valência. O fim de uma era, graças a Deus, não um fim definitivo. Flamengo ainda precisava do Baixinho e o Baixinho ainda precisava do Flamengo para ser feliz.

    Depois, mais uma competição. O Brasileirão, com estreia também de Bebeto, contra o Atlético Mineiro, com vitória 2×1 no Maracanã. Cinco dias depois, mais uma competição, a Copa Ouro, entre os diferentes campeões da Conmebol em 1995: Grêmio da Libertadores, Rosário Central da Copa Conmebol, São Paulo da Copa Master da Conmebol. Independiente, vencedor da Supercopa Libertadores, desistiu e o vice-campeão Flamengo foi chamado. Fla venceu na semifinal Rosário Central, com dois gols de Fábio Baiano. Na final, uma vingança da final da Copa dos Campeões Mundias contra o mesmo São Paulo. E mais um show do Anjo Loiro. Contra um jovem Rogério Ceni, Sávio fez apenas os três gols do Mengo, sempre com muita categoria. Mais um título para o Flamengo de 1996.

    Depois, uma excursão na Europa. Realmente um calendário incrível, e muitos jogos, em 1996 foram 81 jogos! Um número de alegria para a torcida, mas realmente desgastante para os jogadores, ainda mais com tantas competições e jogos em vários continentes. Na Europa, Flamengo jogou o Troféu Naranja de Valência, parte de acordo da transferência de Romário, um troféu que Flamengo já tinha conquistado no ano histórico de 1964, e também em 1986, outro ano histórico, mas ainda não nesse blog. Goleou o time italiano de Venezia por 5×2, mas perdeu contra Valência por 2×0. Romário nem participou no jogo.

    Como foi muitas vezes o caso nessa época, Flamengo decepcionou no Brasileirão. Entre a segunda e a quarta rodada, perdeu os três jogos. Depois perdeu quatro jogos consecutivos, inclusive com goleadas sofridas: 1×4 contra São Paulo, 1×4 contra Vasco, 1×3 contra Grêmio, 1×4 contra Paraná. Uma decepção, um sofrimento, uma vergonha, vendo a qualidade do time. Estreou numa outra competição, a Supercopa Libertadores. Estreou com empate 0x0 contra Independiente, mas conseguiu se classificar no jogo de volta com uma vitória 1×0 no Mané Garrincha, gol de Fábio Baiano. Nas quartas de final, foi eliminado contra Colo-Colo. Mais uma decepção.

    A alegria voltou junto com um velho conhecido, um ídolo, Romário. O Baixinho brigou com o técnico espanhol Luis Aragonés e voltou no Rio, ao Flamengo, voltou a vestir o Manto Sagrado. Mas a alegria durou pouco. Para o primeiro jogo da dupla Romário – Bebeto no Flamengo, contra o Internacional, Romário saiu por contusão com apenas 39 minutos do jogo, e Flamengo foi derrotado no Maracanã. No fim do ano, já sem Bebeto, Romário voltou a jogar os dois últimos jogos do campeonato. Sem gol para ele, e com duas derrotas para o Flamengo, fora das quartas de final. Um final decepcionante, mas que não faz esquecer o início de ouro, com campeonato carioca invicto e artilharia impressionante de Romário.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”