Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #40: Flamengo 2×1 Botafogo 1991

    Jogos eternos #40: Flamengo 2×1 Botafogo 1991

    Eu já falei na crônica sobre o jogo contra Bangu em 1999 que eu adorava o campeonato carioca, um dos melhores do mundo durante muitas décadas. Nos anos 1990, o nível caiu, mas ainda era o campeonato raiz. Eternizei aqui também um 5×3 contra o America, também em 1991, também com elementos raízes do futebol carioca. E o jogo contra Botafogo, também em 1991, também respira a alma do futebol carioca.

    Era o último jogo da Taça Guanabara, o primeiro turno do campeonato carioca. Botafogo, ainda invicto, sonhava com o título, com 16 pontos. Flamengo, com 15 pontos, também podia ser o campeão. Mas o líder era Fluminense, com 17 pontos e que jogava nas Laranjeiras contra o America. Futebol raiz.

    Flamengo vinha de um jejum contra o Botafogo no campeonato carioca. Nas edições de 1988 e 1989, foram 5 empates seguidos e no jogo de volta da final do campeonato de 1989, Botafogo ganhou e punha fim a um outro jejum, muito mais constrangedor, 21 anos sem título no campeonato carioca. No campeonato carioca 1990, Botafogo ganhou os dois jogos contra Flamengo, ou seja, foram 8 jogos seguidos sem vencer o Botafogo para nosso Mengo entre 1988 e 1990.

    Mas no 21 de setembro de 1991, a história mudou. O palco, o de sempre, o Maracanã. Com pouco publico, apenas 10.311 espectadores, mas com uma geral antiga, um Maraca raiz. Radinho de pilha, torcedor botafoguense fumando o cachimbo, torcedor flamenguista nas costas de outro torcedor botafoguense, este voltaria a ser personagem do jogo. Para pôr fim ao jejum, o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Rogério, Piá; Uidemar, Júnior, Marquinhos, Zinho; Nélio, Gaúcho.

    Flamengo era uma máquina, com um maestro, o Vovô-Garoto Júnior, ídolo do Flamengo. Passe sem olhar, dribles curtos, dois chapéus seguidos, um passe incrível de trivela, um show de um mestre. Com apenas 5 minutos de jogo, Júnior já brilhava no Maraca. Uma falta de perna direita na pequena área, uma cabeçada de Djair, e Rogério sobe mais do que Válber. Flamengo 1×0 Botafogo.

    Depois, Valdeir empatou, com um autentico golaço, um gol de calcanhar. Ser flamenguista não impede de desfrutar um bom futebol, bem ao contrário. Flamengo 1×1 Botafogo. E no segundo tempo, Flamengo marcou, com um gol esquisito. Gaúcho errou o voleio, a bola foi nos pés de Nélio, que errou o chute, a bola foi nos pés de Gaúcho de novo, a bola foi na rede do Botafogo. Flamengo 2×1 Botafogo. Gaúcho era o artilheiro do campeonato nesse momento, com 9 gols, e seria também no fim do campeonato, com 17 gols.

    No fim do jogo, Botafogo fez o gol do empate com Vivinho, mas o bandeirinha anulou um gol que parecia legítimo. E o torcedor botafoguense que carregou o flamenguista no início do jogo, não carregou a pressão no fim do jogo. Invadiu o campo, agrediu o bandeirinha, que rebateu, com a ajuda da própria bandeirinha. O torcedor valentão foi entrevistado e depois foi preso. Futebol carioca raiz.

    No fim, Flamengo ganhou mas quem riu foi Fluminense, que conquistava a Taça Guanabara com um empate contra America. Mas quem riu por último é o Flamengo, campeão carioca 1991 em cima do Fluminense, de novo com um show de Júnior.

  • Jogos eternos #39: Independiente del Valle 2×2 Flamengo 2020

    Jogos eternos #39: Independiente del Valle 2×2 Flamengo 2020

    A lembrança de hoje é facil, com um jogo da Recopa Sudamericana, contra o mesmo adversário, Independiente del Valle, que jogou muito em 2019 e conquistou a Copa Sudamericana. Mas no continente sul-americano, ninguém jogou mais que Flamengo em 2019, ganhando em dois dias a Libertadores e o Brasileirão. E continuou a conquistar títulos em 2020, já com a Supercopa do Brasil, conquistada com um 3×0 contra o Athletico Paranaense.

    Três dias depois do título da Supercopa do Brasil, Flamengo estreou para mais uma decisão, a Recopa Sudamericana, contra o Independiente del Valle. E Flamengo estava sem Gabigol, vale relembrar que além do doblete no Milagre de Lima, Gabigol foi expulso no fim do jogo contra River Plate. Mesmo assim, como nos três primeiros jogos dele com o Manto Sagrado, Pedro, principal reforço da temporada de 2020, começou no banco. No estádio Olímpico Atahualpa de Quito, Jorge Jesus escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Gustavo Henrique, Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Éverton Ribeiro, Diego, Arrascaeta; Bruno Henrique.

    No início do jogo, dois lances, um de cada time, um chute de fora da área, fora do gol. E no 20 minuto, um golaço de falta do Independiente del Valle, Murillo achando a gaveta de Diego Alves. Em apenas 6 minutos, Bruno Henrique empatou, driblando o goleiro, mas o gol foi muito mal anulado, Bruno Henrique saindo do próprio campo para mostrar toda sua velocidade.

    No início do segundo tempo, Independiente del Valle teve três oportunidades de fazer o gol, sem conseguir. E nesse tipo de jogos, quem não faz acaba tomando. De novo, Bruno Henrique na velocidade, agora sem bandeirinha para impedir o golaço. Jogou demais, e ainda vai jogar demais nosso Bruno Henrique no Flamengo. Infelizmente, três minutos depois, machucou-se e saiu do campo.

    De novo, Independiente del Valle teve oportunidades de fazer o gol, não conseguiu e tomou o gol da virada. Na segunda trave, Éverton Ribeiro foi mais esperto para ganhar a bola dividida. Depois foi gênio para driblar o defensor com um giro à la Cruyff, e foi lucido para fazer um passe atrás. E Pedro, que tinha entrado no lugar de Bruno Henrique, fez seu terceiro gol com o Flamengo em 4 jogos, todos entrando durante a partida. Jogou e ainda joga demais nosso Pedro no Flamengo.

    No fim do jogo, mais um erro de arbitragem, o juiz dando um pênalti inexistente com uma suposta falta de Rafinha. O Independiente del Valle aproveitou do presente para empatar e deixar tudo igual antes do jogo no Maracanã. Deixo o último capítulo da Recopa Sudamericana de 2020 para a próxima semana e o jogo de volta, do novo no Maraca.

  • Ídolos #10: Diego

    Ídolos #10: Diego

    A camisa 10 é a mais bonita do futebol, ainda mais no Flamengo, onde foi eternizada pelo Nosso Rei Zico. E para escolher um ídolo camisa 10, o nome de Zico era o mais obvio, mas ainda não me sinto preparado para escrever essa crônica. Eu quero um texto igual à carreira dele no Flamengo e não é hoje que vou atingir a perfeição. Depois, tinha outros nomes, mas Sávio já escreveu sobre ele, Petkovic guardo para a crônica 43 se eu vou até lá, Ronaldinho era outra opção, mas eu vou de nosso último camisa 10, antes de dar a camisa 10 para Gabigol, Diego.

    Escolho Diego com uma pergunta, Diego é ídolo ou não ídolo do Flamengo? Já duvidei da idolatria de Júnior, então claramente pode ser o caso para Diego. Parece-me que ele já se colocou acima do clube, o que é para mim a característica do não-ídolo.

    Diego chegou ao Flamengo em 2016. Para muitos, foi o primeiro reforço de peso do projeto de Eduardo Bandeira de Mello. Discordo. Acho que Paolo Guerrero, que chegou em 2015, foi o primeiro nome internacional. Mas a passagem de Paolo Guerrero no Flamengo foi abaixo das esperanças e Guerrerro é um nome sul-americano. Já Diego é um nome mundial, com passagens em vários clubes europeus importantes e história na Seleção. Acho também que a carreira de Diego foi abaixo das esperanças quando ele estreou no Santos com 16 anos e já com a camisa 10, mas sempre foi um jogador diferente, um jogador com muita classe.

    Diego permitiu ao projeto de EBM de crescer. Ele acreditou no projeto, e depois vieram Éverton Ribeiro, Diego Alves, Vitinho e outros até ter o time histórico de 2019. Diego foi no Flamengo numa época onde era muito difícil de contratar jogadores de peso. Estreou sem a camisa 10, já de Ederson, e escolheu a 35, em homenagem aos filhos de 3 e 5 anos. E estreou com gol, contra Grêmio. Diego foi muito bem em 2016, ao ponto de ser nomeado no time do Brasileirão pela CBF. Flamengo ficou no terceiro lugar, mas a esperança de títulos voltava.

    A esperança sim, os títulos ainda não, mesmo em 2017. Diego me deu uma das minhas maiores alegrias num estádio, no 3×3 contra Fluminense na Copa Sudamericana, um jogo que deve ser eternizado aqui. Um golaço de falta para inflamar a torcida, para mexer meu corpo e minha alma de flamenguista. Infelizmente, Flamengo perdeu a final, contra o Independiente. E nesse ano também perdeu a final da Copa do Brasil, contra Cruzeiro. E de toda a disputa de penalidades, Diego foi o único a errar. Diego bateu mal, mas só errou quem tentou, e a culpa de uma derrota dever ser dividida com o resto do elenco. Mesmo com a frustração, Diego fez mais uma ótima temporada em 2017, com 18 gols.

    Em 2018, Diego fez um dos seus gols mais bonitos com o Manto Sagrado, num amistoso contra o Atlético-GO, numa cavadinha perfeita. Mas ele não foi tão bom em 2018. Fez menos gols, jogou menos em termo de qualidade. Em 2019, ainda era titular com Abel Braga apesar da chegada de Arrascaeta. Mas Diego se machucou gravemente contra Emelec, quebrando seu tornozelo. Em teoria, a temporada dele já estava acabada. Mas Diego voltou em apenas 3 meses. Isso só foi possível graças ao extremo profissionalismo de Diego, que se dedicou muito para voltar. O profissionalismo dele é exemplar e ele voltou num jogo eterno, o cincum contra Grêmio, jogo onde voltou já com a faixa de capitão em homenagem a sua importância no grupo, mesmo longe dos gramados.

    Com Jorge Jesus, Diego ficou na reserva, não tinha mais espaço para ele no time titular com um Arrascaeta tão brilhante. Aceitou sua nova função e ainda ajudou o time. E foi decisivo num jogo eterno, o Milagre de Lima. Já falei nessa crônica que não importa se foi chutão ou cruzamento, foi assistência. Diego fez o que tinha que fazer e é eternizado na galeria dos ídolos rubro-negros só com esse lance.

    Em 2020, voltou a titularidade no fim do campeonato com Rogério Ceni, e com uma nova função, de volante. E jogou muito bem. Deu qualidade técnica ao meio de campo e também deu muita raça, o que sempre precisa quando veste o Manto Sagrado. Diego foi importantíssimo no octacampeonato. E em 2021, começou a temporada com talvez o que é seu lance mais marcante no Flamengo, a bola salvada em cima da linha contra Palmeiras na Supercopa do Brasil, outro jogo eterno do Flamengo. A ironia é aqui, um jogador tão técnico que Diego, camisa 10, com passes, dribles e gols de falta, o que sempre precisa quando veste o Manto Sagrado, é lembrado com um lance defensivo. Mas mostra a polivalência de Diego e tudo que ele deu quando estava em campo.

    O resto do ano foi difícil e já era a hora de sair do clube. Ficou em 2022, virou um peso financeiro sem destaque no campo, mas quem conseguiria sair do Flamengo quando mais um ano é possível? Teve uma ótima despedida com o Flamengo no jogo contra Avaí, onde foi merecidamente homenageado pela torcida. E deu a camisa 10 para nosso Gabigol, que está num outro patamar dos ídolos rubro-negros. E Diego se aposentou como jogador do Flamengo, deixando a história mais linda assim. Ainda poderia ajudar metade dos times do Brasileirão, mas seu último clube é nosso Mengo. Ele foi durante anos um jogador muito importante do Flamengo, um ótimo capitão mas as duas últimas temporadas foram desnecessárias. Mesmo assim, com 12 títulos, 285 jogos, 42 gols, 34 assistências e lances memoráveis, Diego faz parte sim, dos grandes ídolos do Flamengo.

  • Jogos eternos #38: Resende 0x3 Flamengo 2014

    Jogos eternos #38: Resende 0x3 Flamengo 2014

    Para o jogo de hoje, uma pequena lembrança de um jogo de 2014, um ano que ninguém gosta de lembrar, que seja pela seleção brasileira ou seja pelo nosso Mengo. Mas vamos de uma vitória fácil contra Resende, com um frango e dois golaços.

    No 22 de fevereiro de 2014, Jayme de Almeida escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Wallace, Samir, André Santos; Muralha, Cáceres, Elano, Lucas Mugni; Everton, Alecsandro. Alguns bons jogadores sim, mas vale a pena lembrar, ou não vale, que quem vestia a camisa 10 era Lucas Mugni. E no ataque, tinha Alecsandro. Um bom jogador do Brasileirão, que fez mais de 100 gols no campeonato nacional. Ganhou alguns campeonatos estaduais, uma Copa do Brasil com Vasco, um Brasileirão com Palmeiras e duas Libertadores, com Internacional em 2010 e o Atlético Mineiro em 2013. Um bom atacante sim, mas que nunca me fez realmente vibrar, e muito longe de outros centroavantes titulares no Flamengo, até nos períodos mais difíceis.

    Mas Alecsandro foi o personagem do jogo em Raulino de Oliveira, com apenas 1.786 pagantes, protestando com uma faixa contra o preço alto dos ingressos. Ainda mais com um futebol tão baixo, o Flamengo de 2014 foi um dos piores da história do clube. Mas ganhou fácil nesse dia, contra Resende.

    No primeiro tempo, um cruzamento e um erro do goleiro Mauro, que deixou escapar a bola. De cabeça, Alecsandro aproveitou para abrir o placar. Dez minutos depois, agora um golaço, um chute de longe de Alecsandro, na gaveta do goleiro, que esta vez não podia fazer nada. No intervalo, Flamengo 2×0 Resende.

    Mas a pintura do dia só chegou no segundo tempo. Num passe no chão, Léo Moura deu um chapéu espetacular com um toque só, encobrindo o defensor. Não era mais o Léo Moura da metade dos anos 2000, mas ainda era nesse time meu jogador preferido, talvez por falta de outras opções. Léo Moura completou o chapéu e deu a bola na profundidade para Alecsandro que errou o chute. O chute transformou-se em assistência para outro bom jogador, Everton, que como Léo Moura, falou algumas besteiras quando saiu do clube.

    O time de 2014 não me empolgou, mas vale lembrar que foi campeão carioca, em cima do Vasco. Até no pior, tem bons momentos.

  • Jogos eternos #37: Volta Redonda 0x3 Flamengo 2001

    Jogos eternos #37: Volta Redonda 0x3 Flamengo 2001

    Flamengo volta ao Rio de Janeiro, sem o título mundial tão desejado. Pelo menos conseguiu o terceiro lugar. Agora é focar de novo no campeonato carioca, com um jogo contra Volta Redonda. Em 2001, ano do quarto tricampeonato carioca da história do Flamengo, o rubro-negro enfrentou Volta Redonda, no antigo Raulino de Oliveira.

    No 4 de fevereiro de 2001, Zagallo escalou Flamengo assim: Julio César; Maurinho (Alessandro), Juan, Gamarra, Cássio; Leandro Avila, Jorginho, Beto (Rocha), Iranildo (Fabiano Cabral); Roma, Edílson. Um time muito boma apesar da ausência de Petkovic, Reinaldo e Adriano. E tinha uma das zagas mais fortes da história do Flamengo com Juan e Gamarra.

    Com meia hora de jogo, Edílson fintou, pedalou e achou Iranildo. Iranildo driblou um, atirou um outro e achou Roma. Roma dominou, driblou um e deixou para Beto que só tinha a fazer o gol. Um gol muito simples, graças à qualidade superior de drible e de passes dos jogadores.

    No segundo tempo, Roma é mais rápido do que a defesa de Volta Redonda. Entre dois defensores, ele transmitiu a bola para Edílson, que mostrou que ele era craque. A finalização é de artilheiro, ele não se precipitou, e também não demorou. O domínio deixou o zagueiro sem possibilidade de intervir, a finta deixou o goleiro no chão. Um golaço graças à qualidade superior de um craque.

    E Edílson também foi na construção do terceiro e último gol da partida. Ele recebeu na ala direita, invadiu a grande área, fez o drible de vaca. O adversário atrasado não tinha muita possibilidade, parar o jogador com a falta ou deixar ele completar o drible de vaca. Pênalti. Edílson foi na finalização do gol. Com a mesma tranquilidade de que na bola rolada, Edílson completou o doblete na bola parada, achando o canto do goleiro. Edílson fazia seu quarto gol em 3 jogos do campeonato carioca e seria no fim do campeonato o artilheiro máximo, acabando com o reino de Romário, penta artilheiro do campeonato carioca entre 1996 e 2000.

    Nesse 4 de fevereiro de 2001, uma vitória tranquila do Flamengo em Raulino de Oliveira, no caminho de um tri inesquecível.

  • Times históricos #11: Flamengo 1979

    Times históricos #11: Flamengo 1979

    A melhor era do Flamengo começou no final do ano de 1978, com um gol do Deus da Raça Rondinelli, numa final do campeonato carioca contra Vasco. Faltava ainda confirmar, e Flamengo fez isso, de uma maneira incrível, em 1979.

    A temporada de 1979 começou com um jogo amistoso valendo uma taça, o troféu Alencar Pires Barroso, prefeito de Nova Friburgo, onde ficava o jogo, no estádio Eduardo Guinle, industrial franco-brasileiro e pai do fundador do Fluminense. O adversário do Flamengo nesse 27 de janeiro de 1979 era justamente Fluminense. E deu goleada 4×0 de Flamengo, com um gol contra e gols dos ídolos, Júlio César, Adílio e Zico.

    A primeira competição oficial do ano foi no início o chamado I Campeonato Estadual de Futebol. Pela primeira vez, os times do interior do Rio de Janeiro disputavam o campeonato carioca, e não mais o campeonato fluminense. A nova criada Ferj convocou para a disputa os 6 melhores times do campeonato carioca 1978 e os 4 melhores times do campeonato fluminense.

    Flamengo estreou com uma vitória 2×0 contra Volta Redonda. Depois, goleou America 4×0. Nesse jogo, Zico fez um gol de falta e depois teve uma outra falta, no exato mesmo lugar do campo. “É tudo igual, parece um videoteipe. Só falta a saber se a conclusão do lance será idêntica”, falou o narrador do jogo. Foi. Zico fazia um doble de faltas mágicas. Isso, só Nosso Rei.

    Em seguida, Flamengo goleou Fluminense de Nova Friburgo 5×1, de novo com dois gols de Zico. Venceu Goytacaz 1×0, um gol de Zico, driblando o goleiro e tudo. E não era qualquer gol, Zico se tornava assim o maior artilheiro da história do Flamengo, ultrapassando o ídolo Dida com esse gol 245 com o Manto Sagrado. No livro 50 anos de Zico de Roberto Assaf e Róger Garcia, Zico falou: “Entrei para a história do meu clube do coração, foi muito bonito, muito gratificante, passei a ser o maior artilheiro da história do rubro-negro, mas nunca joguei para isso, veio com naturalidade, porque se tinha algo que eu fazia mesmo era gol, embora não tivesse a ideia fixa de superar ninguém”.

    Depois, Flamengo empatou 1×1 contra Vasco, gol de Zico. Venceu São Cristóvão 2×0, dois gols de Zico e empatou 1×1 contra Fluminense, gol de Zico. Flamengo não conseguia vencer os grandes do Rio, mas pelo menos, também não perdia. E Zico não parava de marcar, uma coisa impressionante, em 4 jogos seguidos, só Zico marcou pelo rubro-negro. Flamengo também venceu o troféu João Batista Figueiredo, com uma vitória 2×0 contra o Corinthians em Brasília.

    As goleadas voltaram, 6×1 contra Americano, 3×0 contra Botafogo, 6×1 contra São Cristóvão, 7×1 contra Goytacaz. Claro, os gols de Zico ficaram. Dois contra Americano, um golaço e uma assistência mágica para Carpegiani contra Botafogo e um hat-trick contra São Cristóvão. Mas Zico ia fazer ainda mais contra Goytacaz, ia brilhar ainda mais. Fez um duplo hat-trick, isso sim, 6 gols no mesmo jogo. Um gol de cabeça, um pênalti, um segundo pênalti, um terceiro pênalti, um gol de voleio, um quarto pênalti. Quem fez o outro gol foi Júlio César, de falta. Olha a ironia, Zico, um dos maiores batedores de faltas da história, não fez o gol de falta do dia, mas fez 4 pênaltis. E 6 gols num jogo só. Ainda hoje, nenhum outro jogador no mundo fez 6 gols no maior palco do mundo, o Maracanã, onde Zico também é o máximo artilheiro em carreira, com 333 gols.

    O maior artilheiro do Maracanã com a Seleção brasileira é Pelé, com a marca impressionante de 30 gols em 22 jogos. E os dois, Pelé e Zico, o Rei do futebol e Nosso Rei, jogaram juntos com o Manto Sagrado em 1979, num amistoso contra o Atlético Mineiro. O jogo já foi eternizado nesse blog, mas vale lembrar que na frente de 139.953 sortudos, Fla goleou o Galo 5×1 com três gols de Zico, nesse jogo camisa 9. “Quando fui jogar do lado dele foi outra coisa. Abri mão da camisa 10, ele era o Rei, né?”, falou Zico, que também é Nosso Rei, mas que é de uma classe e uma humildade tão gigantes que seu talento em campo. Pelé ficou nesse dia com sua camisa 10 eterna, mas agora com o Manto Sagrado, a melhor combinação possível.

    Depois, Flamengo conseguiu três vitórias no campeonato carioca, as três com um gol de vantagem só. Maior jogo, aquele contra Vasco. Roberto Dinamite abriu o placar com um golaço de voleio, Zico empatou com outro golaço de combinações de cabeça e Adilio fez o gol da virada depois de um chute de Zico. Flamengo ainda goleou o Fluminense de Nova Friburgo e fechou o campeonato com dois empates, 1×1 contra Fluminense, gol de Cláudio Adão e 2×2 contra Botafogo, 2 gols de Zico. Flamengo ganhava as duas fases do campeonato, e vencia mais um campeonato com uma campanha impecável: 18 jogos, 13 vitórias, 5 empates, 0 derrota, 51 gols pro, sendo mais da metade, 26, só de Zico, obviamente o artilheiro do campeonato. Pela terceira vez de sua história, Flamengo vencia o campeonato carioca de maneira invicta, a primeira na era profissional, porque Flamengo só tinha conseguido fazer isso em 1915 e 1920.

    Depois, a CBF achou injusto o critério de 6 cariocas e 4 fluminenses e obrigou a Ferj a fazer um novo campeonato carioca com todos os times que participaram dos campeonatos de 1978, os 12 do campeonato carioca e os 6 do campeonato fluminense. O campeonato de 1979 vencido pelo Flamengo de forma invicta virou “campeonato carioca especial”, e um novo campeonato carioca começou no mês de maio de 1979.

    Flamengo estreou com goleada 5×0 contra Bonsucesso, com dois gols de Zico, um golaço de calcanhar e um gol de cabeça. Depois venceu Serrano 1×0, gol de Zico e goleou São Cristóvão, com 2 gols de Zico. Claro, o Flamengo de 1979 não era só Zico, tinha Júnior, Adílio, Tita, Júlio César Uri Geller, Cláudio Adão e muitos outros. E claro, Zico não era só um artilheiro completo, era também o camisa 10, de dribles curtos, de canetas, de passes preciosos, de inspirações geniais, de liderança, de carisma. Zico e o Flamengo eram tudo isso também, mas as estatísticas de Zico nesse ano eram impressionantes.

    Em seguida, Flamengo venceu Campo Grande 2×1, de novo com um gol de Zico. Flamengo chegava a 52 jogos consecutivos invictos, uma série que começou no 22 de outubro de 1978, com uma vitória 2×1 contra America e um gol de Zico. Claro, Zico também fazia gols em 1978. Flamengo igualava um recorde do futebol brasileiro, quando Botafogo ficou 52 jogos sem perder entre 1977 e 1978. E o próximo adversário era justamente Botafogo. Na frente de 139.098 pessoas no Maracanã, Flamengo infelizmente perdeu a invencibilidade, com gol de Renato Sá e atuação magistral do goleiro botafoguense Borrachinha, filho do Borracha, antigo goleiro do Flamengo.

    Uma pena não ser o único clube a ter esse recorde que ainda vale hoje, mas Flamengo brilhou nesses 52 jogos, com 43 vitórias, apenas 9 empates e dois títulos, o campeonato carioca 1978 e o campeonato carioca especial 1979. Em comparação, Botafogo ganhou 31 jogos, empatou 21 e nenhum título. Esse é uma das diferenças entre os dois times, outra é a diferença de qualidade dos jogadores e do coletivo. Esse Flamengo de 1979 é histórico, imortal, mesmo que o recorde seja superado um dia.

    E depois, Flamengo voltou a fazer o que sabia: vencer, vencer, vencer. Vencer na raça ou na maestria, mas sempre vencer. Flamengo ganhou os 11 últimos jogos da Taça Guanabara, que conquistou com uma campanha quase perfeita: 16 vitórias, uma derrota. Nessa nova série, claro teve jogos eternos e atuações magistrais de Zico. No jogo seguinte da derrota contra Botafogo, Zico fez os três gols da vitória 3×1 contra Bangu. Dois de canhoto, um de cabeça, Zico um artilheiro completo. Mas Zico ia fazer ainda mais contra Niterói, ia brilhar ainda mais. Fez um duplo hat-trick, isso sim, 6 gols no mesmo jogo. Não é um erro, Zico realmente fez 6 gols em 2 jogos distintos em 1979 depois do jogo contra Goytacaz. Contra Niterói, um gol de semi-voleio, um gol de cabeça, um gol de pênalti, um gol de cabeça, um quinto gol eterno e um sexto gol de primeira. O quinto gol é eterno porque é o gol que Pelé não fez. Não o chute do meio de campo, gol que vários jogadores já fizeram. Não, é o lance de Pelé contra o Uruguai, com a finta sem tocar a bola que deixou o goleiro Mazurkiewicz sem saber o que fazer. O gol que Pelé não fez e que ninguém outro jogador fez, menos o Zico. Contra Niterói, Zico fintou sem tocar a bola, deixou o goleiro Passarinho no chão e fez o quinto dele do dia. Isso, só Deus.

    Zico ainda fez gols nos 4 jogos seguintes e após uma pequena pausa de um jogo contra Fluminense de Nova Friburgo sem marcar, voltou a brocar com um gol contra America. No 4×3 contra Goytacaz, fez os 4 gols do Flamengo. No 2×0 contra a Portuguesa, fez os 2 gols do Flamengo. Ainda deixou o dele no 3×0 contra Olaria, driblando o goleiro antes de tocar a bola nas redes. No último jogo da Taça Guanabara, Zico abriu o placar, mas herói do jogo foi Júnior, que estreou nesse ano de 1979 com a seleção brasileira, e fez 2 gols na vitória 4×2 contra Vasco. Flamengo era o campeão da Taça Guanabara, infelizmente não invicto, mas com uma campanha excepcional.

    O segundo turno foi um pouco mais difícil, com 2 derrotas em 9 jogos. Até porque no meio do campeonato, Flamengo foi na Europa, onde disputou o Troféu Ramon de Carranza, torneio prestigio na Espanha que já foi vencido pelo Real Madrid de Di Stéfano, o Barcelona de Kocsis e o Benfica de Eusébio. Na semifinal, Flamengo estreou contra o Barcelona, vencedor da última Recopa Europeia e que tinha craques como o Krankl, o artilheiro do campeonato espanhol 1979, Rexach, também Pichichi, em 1971, e Simonsen, Ballon d’Or em 1977. Mas Flamengo não tomou conta disso e abriu o placar com apenas dois minutos de jogo e um gol do driblador Júlio César Uri Geller. E Zico fez o gol da vitória, de falta, claro. Na primeira página do Jornal dos Sports: “Flamengo botou o Barcelona na roda”. Sim, os ingleses não foram os únicos europeus a sofrer com o Flamengo.

    No dia seguinte, na final contra o time húngaro de Ujpest, Flamengo abriu o placar ainda mais rápido do que no jogo contra Barcelona. Com 13 segundos, Zico já deixava o gol dele. E foi jogada ensaiada, como falou Zico no mesmo livro 50 anos de Zico: “No vestiário, o Coutinho disse: ‘Para os húngaros, os negros são todos iguais. Eles marcavam homem a homem’, então o Coutinho pegou o Toninho e botou nele a camisa nove, pegou o Cláudio Adão e pôs nele a dois, a oito no Manguito, a quatro no Andrade… Foi tudo estudado […] O Adão se movimentou, o Júnior deu para mim e eu fiz o gol, em 13 segundos. O cara que era para marcar o Adão estava com o Toninho lá na lateral-direita e o outro com o Adão, e por aí vai”. Nosso Rei finalmente conseguiu o doblete e Flamengo conquistava um título muito respeitado na época. Para fechar a excursão, um 1×1 contra o Atlético de Madrid e uma derrota contra o Paris Saint-Germain, meu time na França. Nos dois jogos, quem marcou foi Zico. Ah Zico… falta palavras para descrever quanto gigante você foi.

    Flamengo voltou no Brasil e fechou o segundo turno do campeonato carioca no topo da tabela, com um ponto a mais do que Botafogo. Flamengo foi na terceira e última fase, com 2 pontos a mais, um para cada turno ganhado. Dois pontinhos necessários, ainda mais que com tantos jogos, Zico se machucou e ficou quase dois meses fora. Uma grande pena, porque Zico fez 36 gols nesse campeonato e tinha tudo para bater o recorde de mais gols em uma edição do campeonato carioca, que ainda pertence ao Pirillo com 39 gols em 1941. Flamengo começou o terceiro turno com 3 vitórias, mas perdeu 3×0 contra Fluminense. O jogo do título foi contra Vasco. Flamengo ainda estava sem Zico, mas tinha outros craques. No início do jogo, um cruzamento de Júlio César e a pressão de Cláudio Adão na frente do gol obrigou o vascaíno Ivan a fazer o gol contra. Tita aproveitou do erro do goleiro vascaíno para fazer o gol de 2×0. De cabeça, Roberto Dinamite marcou e ainda no primeiro tempo, Vasco empatou. No segundo tempo, um gol com a cara do Flamengo de Cláudio Coutinho, passes altas no meio de campo, de um toque só, e um cruzamento de Toninho Baiano na direita. Tita, 21 anos e com a camisa 10 de Zico nas costas, fez seu segundo gol no jogo, um gol de cabeça, o gol do título. Flamengo campeão, Flamengo tricampeão 1978 – 1979 Especial – 1979. E com 36 gols, Zico se tornava o tetra artilheiro consecutivo carioca, entre 1977 e 1979. Já tinha sido uma vez antes, em 1975, e será uma última vez em 1982.

    O Brasileirão de 1979 foi uma bagunça total, com 94 times! Flamengo, ainda sem Zico, estreou na segunda fase com uma vitória 3×0 contra XV de Piracicaba. Para sua volta, Zico marcou um gol contra Gama, mas passou os 4 jogos seguintes sem fazer um gol. Mesmo assim, Flamengo fechou o primeiro turno na liderança e invicto, com 5 vitórias e 2 empates. Na terceira fase, ficou com apenas times paulistas, Palmeiras, Comercial e São Bento. Apenas o primeiro do grupo se classificava para as semifinais do Brasileirão. No primeiro jogo, contra São Bento, Zico chutou, goleiro defendeu e Cláudio Adão aproveitou do rebote para fazer o gol. Zico fez o segundo, de falta, com muita tranquilidade. O terceiro gol foi de Reinaldo, depois de uma tabelinha com Zico. O quarto e último gol, Zico, de cabeça. Impressionante o número de gols de cabeça em 1979 de Zico, que não era só monstro com os pés. Com mais uma atuação magistral de Deus, Flamengo vencia São Bento 4×0.

    Contra Comercial, uma vitória 2×0 e mais um show de Zico, com um gol e uma assistência. O último jogo valia vaga para a semifinal, Palmeiras também tinha ganho os dois primeiros confrontos. No Maracanã, um jogo eterno, e infelizmente para nós, uma goleada sofrida, apesar de mais um gol de Zico. Flamengo perdeu 4×1 e estava eliminado de um Brasileirão que tinha tudo para conquistar.

    Mesmo com esse infeliz último jogo do ano, Flamengo fez um ano incrível, com dois campeonatos cariocas conquistados e uma série de 52 jogos de invencibilidade. E talvez ainda mais incrível, a temporada de Zico, que fez com o Manto Sagrado 81 gols em 81 jogos, sendo machucado quase dois meses. A temporada de 1979 do Flamengo foi coisa fora de série e anunciava dias ainda melhores.

  • Na geral #12: A desilusão

    Na geral #12: A desilusão

    Na última crônica sobre o jogo contra Al Hilal em 2019, falei que final do Mundial é jogo para ganhar e semifinal é jogo para não perder. E Flamengo perdeu o jogo que não podia perder, se juntou ao Internacional 2010, Atlético Mineiro 2013 e Palmeiras 2020. Roteiros diferentes, mas mesmo final, sem final. E para Flamengo, a hora do Real Madrid nem vai chegar. Uma desilusão enorme, porque acho que o Real Madrid de 2023 era mais fácil de vencer do que o Liverpool de 2019, ainda mais com as ausências de Courtois e Benzema.

    Para começar, uma palavra sobre o juiz, porque normalmente não gosto de falar sobre as atuações dos juízes. Mas acho que o juiz errou ontem. O primeiro pênalti, com apenas dois minutos de jogo, é duvidoso, discutível, alguns juízes apitaram pênalti, outros não, mas acho que foi mais falha da defesa do Flamengo do que do juiz. Agora o segundo pênalti foi falha do juiz. Gosto do VAR, acho que com o VAR o futebol é menos injusto, mas tem um defeito. Com o VAR, com câmera lenta, imagens repetidas e rerepetidas, o empurrãozinho vira empurrão, o pisinho vira pisão. Quais eram as chances do Al Hilal de fazer o gol, ou até de chutar, no lance final do primeiro tempo? Zero. Ou se considera que o impossível é possível, 0,1%, não mais. E o juiz ainda expulsou Gerson, quase acabando com as chances do Flamengo. Gerson errou no primeiro cartão amarelo sim, qual é a necessidade de cravar um pênalti quando tem VAR? Não tem, mas o juiz falhou no segundo amarelo.

    O técnico Vítor Pereira também errou no intervalo, substituindo Arrascaeta por Erick Pulgar. Não estou convencido pela explicação que precisava mais do Éverton Ribeiro para fazer a ligação entre o meio de campo e o ataque. Obvio que o Al Hilal, com um gol a mais e um jogador a mais, ia ficar na retranca e o Flamengo precisava ao menos três jogadores no ataque, Pedro, Gabigol e Arrascaeta. E Vítor Pereira também errou com a escolha de Erick Pulgar. Arturo Vidal fez algumas besteiras esses últimos dias e entrou muito mal contra Palmeiras, também entrou mal ontem, mas acho que ainda era uma melhor opção do Erick Pulgar, que nem conheço o rosto dele de tão pouco ele jogou no Flamengo. E na última cronica, também falei que Jorge Jesus errou contra Liverpool ao tirar ambos Arrascaeta e Everton Ribeiro. E O VP fez o mesmo erro ontem.

    O time estava sem ritmo e foi erro da diretoria, com falta de planejamento. Não estou um grande fã de Dorival Júnior, mas ganhou títulos e a diretoria errou também ao buscar um outro técnico. Ainda mais para trazer Vítor Pereira, que já no Corinthians não me convencia. A diretoria também errou no mercado, prometendo 3 jogadores e uma referência mundial. Gerson, ainda sem ritmo, substituiu João Gomes e Rodinei nem foi substituído. E ontem Flamengo pagou caro o preço disso, com uma atuação ruim de Matheuzinho. Dos outros jogadores, só Pedro se salvou, com mais um grande jogo e um doblete.

    A torcida no estádio também fez mais um jogo fraco numa decisão no exterior. Se dá para ser ouvido no comecinho do jogo, dá para ser ouvido o jogo todo. A torcida não empurrou o time, que também não inflamou o jogo. O segundo tempo foi de desespero, de tortura, porque já com um gol atrás só, eu não acreditava no título. O terceiro gol de Al Hilal, com falha de Erick Pulhar, matou o jogo. E nem o segundo gol de Pedro deu uma esperança total. Flamengo estava muito longe de ganhar esse jogo, de ganhar esse Mundial. Estou triste, ainda mais para os amigos que estavam ou iam no Marrocos, Cidel, o presida da Fla Paris, Ramon, da Fla Miami e que me acolheu tão bem aqui no RJ e Piriquito, o irmão do futsal, das cervejas, do Flamengo. Um sonho que acabou muito cedo, sem a hora do Real Madrid chegar.

    Eu assisti ao jogo com a Roça Fla no Caipira Top Bar, na famosa Curva do S da Rocinha. Esperava uma final para assistir ao jogo na quadra da Roupa Suja, onde já tinha assistido a final da Libertadores, um dos meus melhores momentos vividos aqui no Rio. Mas não vai acontecer. A frustração é ainda mais forte que era a última chance de ganhar o Mundial de novo. O próximo Mundial será com 32 times, a metade vindo da Europa. É possível de passar a primeira fase, de fazer um ou dois milagres na fase final, mas ganhar o Mundial é tipo uma seleção africana ganhar a Copa do Mundo hoje. 0,1% de chance. A temporada do Flamengo de 2023 quase não começou e parece que já acabou. Mas ainda tem títulos na frente, o campeonato carioca para começar, que Vítor Pereira deve ganhar se quer ficar, e depois um tetra da Libertadores, um penta da Copa do Brasil, dois títulos ganhados em 2022, e um Brasileirão que não vem desde 2020. Vai ter que aguentar as piadas dos rivais que nem chegaram no Mundial, mas apesar da desilusão enorme, ainda tem muitos jogos na frente e sempre, sempre, tem o Flamengo no coração e na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #36: Flamengo 3×1 Al Hilal 2019

    Jogos eternos #36: Flamengo 3×1 Al Hilal 2019

    O jogo eterno para a lembrança do dia era evidente, com a semifinal do Mundial 2019, contra o mesmo adversário, Al Hilal, time da Arábia Saudita. Só espero que não vai dar o mesmo azar do que a lembrança da Supercopa do Brasil vencida contra Palmeiras em 2021, perdida em 2023. Mas não estou muito de superstição, e já tem milhares de supersticiosos que têm justificações para uma possível derrota ou vitória. Então vamos desse jogo de 2019.

    2019 foi um ano de ouro. Ainda não cansei de dizer que foi meu melhor ano vivido como torcedor do maior do Mundo. Já nesse blog teve jogos eternos de 2019, contra Madureira, Santos, Ceará, Avaí, Corinthians e claro, River Plate, o Milagre de Lima. Esse jogo contra Al Hilal era no melhor dos casos o penúltimo do ano, no pior, o último. Acho que no Brasil a semifinal do Mundial é ainda mais importante do que a final. A final é um jogo que pode ganhar, a semifinal é um jogo que não pode perder, a não querer aguentar piadas dos rivais. Os torcedores do Internacional, Atlético Mineiro ou Palmeiras ainda lembram.

    E no caso do Flamengo é pior. Basta relembrar que os rivais, e os não tão rivais, mas mesmo assim antis, zoaram Flamengo por causa da derrota contra Liverpool. Uma partida onde Flamengo jogou, sim, de igual a igual contra um Liverpool invencível em 2019 durante 70 minutos. Não vale vitória, mas tinha motivos de orgulho, Bruno Henrique teve uma atuação magistral e achou que quem errou mais foi Jorge Jesus, com as substituições de Éverton Ribeiro e Arrascaeta, e a entrada de Lincoln em vez de Reinier. Mas a história é assim e nada pode mudar, só pode ter uma outra chance.

    Então o jogo da semifinal contra Al Hilal era muito importante e Jorge Jesus escalou no estádio de Doha o time ideal, o time quase perfeito: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol. No time de Al Hilal, algumas estrelas com Giovinco e o francês Gomis, e um ex que não podia fazer valer a lei do ex, Gustavo Cuéllar. Adorava Cuéllar no Flamengo, mas acho que saiu mal do Flamengo.

    Relembro que assisti a semifinal do Mundial de 2019 com a Fla Paris no Bellushi’s, onde também tinha assistido ao jogo contra River Plate. Por causa das férias do final do ano, tinha bem menos pessoas no local, mas mesmo assim, foi lindo. O que não foi lindo foi o início do jogo do Flamengo, que começou mal o jogo e tomou um gol no 18 minuto, um gol aliás similar ao gol tomado contra River Plate, de Borré, também no início do jogo. Flamengo estava perdendo o jogo que não podia perder.

    O gol tomado provocou a reação do Flamengo, que teve algumas oportunidades de fazer o gol, sem conseguir fazer. Al Hilal vencia 1×0 no intervalo, mas já no início do segundo tempo, Flamengo empatou, com o trio mágico de 2019, já em ação para o gol de empate contra River Plate. Dessa vez, a ordem foi diferente, Gabigol para Bruno Henrique, para Arrascaeta sozinho, para o gol do empate, para a alegria dos flamenguistas, em todos os lugares do mundo.

    Mas Al Hilal é um bom time e o empate persistia até os quinze minutos finais, até um cruzamento perfeito de Rafinha e uma finalização letal de cabeça de Bruno Henrique, o melhor jogador do Flamengo nesse Mundial. Flamengo estava na frente no placar, e estava quase na final quatro minutos depois, quando Bruno Henrique, de novo ele, forçou o zagueiro Ali Al Bulayhi a fazer o gol contra, que fazia para sua infelicidade o gol 150 na temporada 2019 do Flamengo. De novo Flamengo estava na decisão do Mundial, 38 anos depois, de novo contra Liverpool, infelizmente não com um final tão feliz. A história é assim e não pode ser mudada, mas pode ter uma outra chance.

  • Ídolos #9: Nunes

    Ídolos #9: Nunes

    A camisa 9 é muito especial no futebol. Acima, só a camisa 10, ainda mais no Flamengo. É a camisa do centroavante, do artilheiro, do goleador. E Flamengo teve muitos na sua história. Para o ídolo de hoje, vamos de um artilheiro das decisões, e jogou muitas decisões, ganhou muitos títulos, fez muitos gols. Nunes, o João Danado, camisa 9 da maior geração do Flamengo.

    João Batista Nunes de Oliveira nasceu no Nordeste, em Sergipe, em Cedro de São João. Chegou com 14 anos no Rio de Janeiro e chegou bem, já no infantil do Flamengo. Mas não funcionou e Nunes voltou em Sergipe, na Confiança. Nome de predestinado, faltava confiança no Flamengo, foi achar de novo a confiança no Nordeste. Ficou depois no Nordeste, num clube maior, Santa Cruz. Foi tricampeão pernambucano e estreou na Seleção brasileira num jogo não-oficial contra uma seleção fluminense em Niterói. Fez um gol, Brasil ganhou 7×0, Zico fez cinco. Estreou oficialmente no 1o de abril de 1978 contra minha França, no meu Parque dos Príncipes. Era nome quase certo para a Copa do Mundo de 1978 mas infelizmente se machucou um pouco antes da Copa.

    E Nunes voltou ao Rio, infelizmente para nós flamenguistas, no Fluminense. Jogou muito bem no Fluminense, mas viu o Flamengo ganhar o tricampeonato carioca entre 1978 e 1979. E Nunes voltou no time da infância, no maior do Rio, no maior do Mundo, nosso Flamengo. Craque, o Flamengo faz em casa e o bom filho a casa torna. Nunes era do Mengão.

    Nunes estreou no último jogo da primeira fase do Brasileirão de 1980, contra a Ponte Preta. E voltou com estilo, com um gol e uma assistência para Zico depois de passar vários adversários, no 2×2 contra a Ponte Preta. Fez um outro na goleada 6×2 contra Palmeiras e também marcou um contra Bangu. E Nunes não era só goleador. No 3×0 contra a Desportiva Ferroviária, ele fez as três assistências do jogo. Zico fez os três gols. Uma dupla de ouro.

    No jogo de volta da semifinal, Coritiba abriu 2×0, igualando o placar agregado. Em 4 minutos, Nunes fez dois e empatou o jogo de volta. Flamengo ganhou 4×3 e se classificou para sua primeira final do Brasileirão. Era a hora de Nunes brilhar ainda mais. Flamengo perdeu 1×0 o jogo de ida, mas na volta no Maracanã, foi diferente. Zico lançou em profundidade Nunes, que abriu o placar. Reinaldo empatou, Nosso Rei Arthur marcou, Reinaldo empatou de novo. No fim do jogo, Nunes fez um dos gols mais emblemáticos do Flamengo. Uma finta sensacional sobre Silvestre, uma finalização perfeita, uma comemoração eterna. “Senti o estádio dentro da minha camisa, como se cada pessoa fosse um Nunes e eu fosse cada um daqueles torcedores”, falou depois Nunes para Manchete.

    O Flamengo era campeão brasileiro pela primeira vez e Nunes se tornava um ídolo da Nação. “Acho que também mereço ter o meu dia de ídolo, pois isso com Zico já é rotina”, explicou Nunes depois desse jogo. Sim Nunes, para esse dia e para sempre, você é ídolo do Flamengo. No Jornal dos Sports, Nunes desabafou: “Eles disseram até que sou maconheiro. A reposta foi no campo e não na violência. Fizemos três gols e essa é a minha reposta. Estou muito feliz com a notícia que recebi agora da diretoria, de que serei comprado em definitivo. Isso é a prova do futebol que venho jogando e uma reposta aos que não me queriam. Futebol se ganha dentro de campo, com humildade, acima de tudo coragem, sangue, raça e muita vibração. Foi o que procurei fazer o jogo todo”. Repito Nunes, você é ídolo da Nação para sempre.

    Em 1981, Nunes continuou a brilhar. Na goleada 8×0 contra Fortaleza, fez apenas 5 gols no jogo. Dois de cabeça para começar, um de pênalti, e por fim, dois de perna esquerda, a “perna ruim” que ele não tinha. Um artilheiro completo. Flamengo foi eliminado nas quartas de final do Brasileirão contra Botafogo, sem Nunes, expulso no jogo de ida. Talvez o jogo teria sido diferente com Nunes, que foi o artilheiro do Brasileirão nesse ano com 16 gols. Nunes voltou a brilhar no campeonato carioca. Contra Americano, fez 3 gols na goleada 7×0, e também jogou muito no Jogo da Vingança contra Botafogo, abrindo o placar no eterno 6×0. Na final da Libertadores, não marcou nos três jogos contra Cobreloa. Na final do Carioca, foi expulso no primeiro jogo. Flamengo perdeu os dois primeiros jogos da final contra Vasco e podia perder um campeonato considerado como quase já ganhado. No último jogo da final, Nunes fez o gol do 2×0, outro gol emblemático, outra comemoração eterna com uma cambalhota para a alegria da maioria dos 161.989 pagantes no Maracanã. Nunes se transformava como o goleador das finais.

    E no fim do ano, o maior jogo da história do Flamengo, o 3×0 contra Liverpool. Ou mais exato ainda, o maior primeiro tempo da história do Flamengo. Porque Flamengo liquidou o jogo ainda no primeiro tempo. Em dezembro de 1981, no 3×0 contra Liverpool, Nunes ficou marcado na história. Com 13 minutos de jogo, um passe genial de Zico para Nunes, para um gol emblemático do Flamengo, uma finalização perfeita, uma comemoração eterna. Flamengo 1×0 Liverpool, depois falta de Zico e gol de Adílio, Flamengo 2×0 Liverpool. E ainda no fim do primeiro tempo, posicionamento perfeito de Nunes, novo lançamento genial de Zico e chute de Nunes sem chance para o goleiro inglês, que na verdade nasceu na África do Sul e jogou na seleção do Zimbábue. Enfim, o gol só foi possível por causa do entendimento perfeito entre Zico e Nunes. E no Rio não tem outro igual, só o Flamengo é campeão mundial e Nunes, meu povo, era batizado como o Artilheiro das Decisões pelo narrador do jogo, o eterno Galvão Bueno. E para a eternidade também, Nunes era o Artilheiro das Decisões.

    Como artilheiro do jogo, Nunes ganhou uma Toyota Carina. Nunes ficou com o carro, mas dividiu o valor com os companheiros campeões mundiais. Foi o fim de um ano de ouro para Nunes, que foi artilheiro do clube com 48 gols. Em 1982, jogou menos, fez menos gols, mas não perdeu a condição de Artilheiro das Decisões. Fez apenas 5 gols no Brasileirão, mas fez o mais importante de todos, no último jogo da final contra Grêmio, no Olímpico. De novo, quem fez a assistência foi o Rei Zico. A cumplicidade entre os dois era mortal para os adversários, imortal para os rubro-negros. Zico falou: “Quando eu pego na bola, a primeira coisa que faço é olhar o centroavante, que é quem está mais perto do gol. O Nunes fica sempre esperando. Na hora do gol, recebi na lateral, dei uma caneta no Vilson Taddei, ele ficou sem pai nem mãe, procurei então alguém e meti a bola entre os dois zagueiros. O Nunes entrou por ali e bateu firme”. Outro gol emblemático, outra finalização perfeita e outra comemoração eterna, agora para a filha Lívia, de três meses de idade. “Se é final, sempre apareço para conferir. Nunca me senti tão predestinado como nesta decisão”, falou depois Nunes. Sim, Nunes era predestinado.

    No dia seguinte, Telê anunciou a lista dos pré-convocados para a Copa de 1982, com Nunes. Infelizmente, como em 1978, Nunes se machucou antes do torneio e foi cortado. Meu ataque de sonhos para 1982 era Reinaldo e Roberto Dinamite. Mas talvez com Nunes na frente do ataque, o tetra na Espanha teria sido realidade. Nunes não jogou mais com a Seleção, onde fez 8 gols em 13 jogos entre 1978 e 1980. Ótimos números.

    Nunes foi emprestado ao Botafogo em 1983 e voltou ao Flamengo em 1984 onde de novo fez gols, o último justamente contra o antigo clube do Botafogo, com assistência de Bebeto. Foi a transição para uma outra geração de ouro, que ia ser tetracampeão brasileiro em 1987. Nunes ainda jogou no Náutico, no Santos, no Atlético Mineiro e até no Portugal, no Boavista. Mas o bom filho a casa torna e Nunes voltou ao Flamengo, justamente para a Copa União 1987. Não fez gol em 8 jogos, mas ainda assim, é tricampeão brasileiro pelo nosso Mengo. Com o Manto Sagrado, jogou 214 partidas e fez 99 gols, muitos muito importantes. Em fim de carreira, ainda jogou no Flamengo EC, em Varginha no Minas Gerais. O Artilheiro das Decisões era muito Flamengo.

    Para fechar, duas lembranças mais pessoais. Com a Fla Paris, tinha oportunidade de comprar camisas autografadas de jogadores do Flamengo: Júnior, Raul Plassmann e Nunes. Comprei apenas a do Nunes, a branca do Mundial de 1981, com o nome Nunes e a camisa 9, a camisa da eternidade e da glória eterna. Outra lembrança foi na sede da Gávea, quando fui entrevistado pela Júlia Corson, que depois me ligou para me dizer que Nunes estava aqui e que podia o encontrar. Falei um pouco com o Artilheiro das Decisões e tiramos fotos. Estava perto de um ídolo eterno da Nação.

  • Jogos eternos #35: Flamengo 2×0 Boavista 2008

    Jogos eternos #35: Flamengo 2×0 Boavista 2008

    Para hoje um texto pequeno porque ainda estou de ressaca da derrota contra Palmeiras na Supercopa do Brasil. Flamengo já ganhou um título em cima de Boavista, a Taça Guanabara 2011, mas guardo esse jogo para um outro Flamengo x Boavista. Hoje vai ser um texto rápido, de dois lances só, dois gols, um jogo de 2008.

    O jogo foi a estreia do ano 2008, um time já histórico nesse blog. Apesar de frustrações, tenho muita saudade desse time, com muitos ídolos, meus primeiros no Flamengo. No 20 de janeiro de 2008, dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, Joel Santana escalou Flamengo assim: Diego; Léo Moura, Ronaldo Angelim, Fábio Luciano, Juan; Jaílton, Cristian (Obina), Ibson, Toró, Renato Augusto (Marcinho); Souza. Ao menos 6 ídolos nesse time e outros jogadores para quem tenho muito carinho até hoje.

    No Maracanã, ainda antigo, ainda fervente, jogo ficou sem gol no primeiro tempo. No segundo tempo, Papai Joel mexeu e fez entrar Marcinho e Obina. Com 20 minutos, Marcinho acelerou no meio de campo e abriu para Obina, que esperou um pouco, e achou de volta Marcinho. Com dois toques, o segundo de trivela, Marcinho deixou Souza livre, que de primeira, abriu o placar. Era o primeiro jogo de Marcinho com o Manto Sagrado e adorei a temporada dele no Flamengo. Um jogador rápido e driblador, ideal para fazer a diferença nos fins dos jogos. Obina é um dos ídolos mais carismáticos do Flamengo e já escrevi sobre ele aqui. Souza era irregular mas um ótimo goleador e fez grande dupla com Obina. Adorava o Flamengo de 2008, ainda mais no Maracanã, sempre pronto a explodir.

    No final do jogo, numa falta do ídolo Juan, Toró brigou para a bola, e o capitão Fábio Luciano aproveitou para fazer o gol. Fabio Luciano também era um ídolo muito carismático e também fez uma grande dupla, agora na zaga, com outro ídolo, Ronaldo Angelim. No fim, Flamengo 2×0 Boavista e um feriado lindo no Maracanã.

    Os jogos passam, os títulos passam, as vitórias passam, as derrotas passam, os jogadores passam, mesmo os ídolos, mesmo o Maracanã passa. O que fica é a torcida, o Manto Sagrado, o Flamengo. Te amo Flamengo, para sempre. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”