Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #4: Flamengo 2×1 River Plate 2019

    Jogos eternos #4: Flamengo 2×1 River Plate 2019

    Difícil fazer um jogo tão histórico, um jogo tão eterno que esse jogo do 23 de novembro de 2019. Só pode ter o 3×0 contra Liverpool na frente, e ainda é questão de preferência. O jogo contra Liverpool já era ganhado no fim do primeiro tempo. O jogo contra River não, bem ao contrário.

    Já falei que o consulado da Fla Paris foi fundado em 2019 e meu primeiro jogo com a galera foi o cincum, na casa do consulado do Grêmio. Para a final, agora a Fla Paris tinha sua própria casa, jogo foi na sala em baixo do Belushi, um bar gigante especializado com transmissão de eventos esportivos.

    Em Paris, tinha muita emoção e muito estresse no pré-jogo. Mas não só em Paris, em todos os lugares do mundo onde tinha pelo menos um flamenguista, tinha estresse. Porque final de Libertadores é assim, é diferente de qualquer jogo. Ainda mais quando faz 38 anos que seu time não jogou uma final de Libertadores. Era uma anomalia e também a lembrança que antes disso foram muitos anos de sofrimento, de decepções e às vezes até de vergonha.

    Mas Flamengo foi tudo diferente em 2019. Esse time obviamente merece um capítulo à parte na categoria dos times históricos. Fez coisas bonitas em muitos lugares, mas fez história em Lima. Já era um jogaço antes do primeiro minuto, contra o vencedor da última edição, River Plate. Flamengo podia ser o favorito, mas não de muito. E foi tudo pior depois de apenas quatorze minutos de jogo, com o gol de Borre. Flamengo 0x1 River Plate.

    Depois foi de novo sofrimento, medo de perder, de deixar mais uma oportunidade de gritar é campeão, de ser rei da América. No intervalo, no Belushi, nós fomos da sala de baixa para a de cima. Na sala de baixa, tinha talvez 60-70 pessoas, que já era muito bom para um consulado de 2 meses de existência. Mas quando fomos na sala principal, tinha ainda mais flamenguistas, no total talvez 200 flamenguistas doentes, estressados, mas era muito bom de ver toda essa força. Apesar da derrota parcial, esse momento foi de euforia para mim, de ver o tamanho dessa torcida. Em Paris, no RJ, em Lima.

    Em Lima, a torcida estava lá. Flamengo não era 11 homens, era muito mais. Em Paris, a sala virou um caldeirão, tinha gritos a cada lances de perigo, gritos de desespero, de esperanças, de ódio, de fé. E o milagre aconteceu. O gol de empate foi uma síntese do que aconteceu durante o ano, com a participação de cada jogador de um trio eternizado na história do futebol brasileiro. De Arrascaeta é uruguaio, não é só técnica, também é raça, e foi no carrinho que recuperou a bola dos pés argentinos. A bola foi nos pés do Bruno Henrique. Fez uma jogada de craque, esperou um pouco, driblou, acelerou, ficou entre quatro zagueiros e teve o tempo suficiente para achar de novo Arrascaeta, já uma lenda do futebol brasileiro. Nosso Arraxxxca fez o passe, caindo no chão, na raça, no coração. Não foi o gol mais difícil da carreira do Gabigol, mas com certeza foi o mais importante da carreira dele até esse momento. Flamengo 1×1 River Plate.

    Gol foi no minuto 44 do segundo tempo. Confesso que queria ser minuto 43, porque um gol tão emocionante, talvez só o do Petkovic contra Vasco na hora do tri. E confesso também que a alegria não foi total para mim em Paris, porque no final do jogo, a retransmissão do bar travou um pouco. Então alguém foi na internet, vi que Flamengo tinha empatado, gritou, a palavra foi de boca a boca, Flamengo tinha empatado antes de ver o gol na televisão. E foi a mesma coisa com o gol da virada.

    Confesso que ainda fico puto com isso. Talvez escapei de uma parada cardíaca mas queria viver esse momento ao vivo, sem saber, como se estava em Lima. Sempre que tenho a oportunidade, assisto ao segundo gol. Última vez foi anteontem, dia do terceiro aniversário da Fla Paris, lá na Gávea, na loja do Flamengo. Posso assistir da TV brasileira, prefiro a versão de João Guilherme do que a do Luís Roberto, da TV argentina ou ainda melhor, da arquibancada. Tudo foi perfeito nesse gol, da bola do Diego, não importa se foi chutão ou cruzamento, foi assistência para o anjo Gabigol, que, empurrado pela torcida, chutou, com força, com precisão, com coração, para ficar marcado na história, para fazer o gol mais importante da carreira dele. Flamengo 2×1 River Plate.

    O estádio monumental de Lima agora é eternizado, sempre conectado com o espírito rubro-negro. É de arquitetura linda, mas é de história ainda maior. 23 de novembro é eterno para os rubro-negros, em 1981 com dois de Zico em Montevidéu, e em 2019 com dois de Gabigol em Lima e uma virada até hoje incrível. Flamengo, o Rei da América.

  • Na geral #5: Minha volta na Norte

    Ontem fui no Maracanã pela segunda vez desde minha chegada no RJ. Na quarta, uma vitória contra São Paulo e uma classificação na final da Copa do Brasil. Ontem, uma derrota no Fla-Flu. Odeio perder o Fla-Flu. Porém, acho que preferi o jogo de ontem. Porque na quarta estava na Oeste, e ontem na Norte. O coração do Flamengo está na tribuna Norte. Cantei, vibrei, quase chorei de emoção vendo a lindeza do Maraca, a montanha no fundo, a torcida de perto, muito perto.

    Antes do jogo, encontrei Ramon da Fla Miami, que me procurou o tão desejado ingresso na Norte. Mais um irmão flamenguista, mais um irmão dos consulados. Fizemos fotos com a bandeira da Fla Paris, aproveitando o pré-jogo nos arredores do Maraca, com o Manto Sagrado e a bandeira na mão, uma cerveja na outra mão, falando dos projetos da Fla Paris, dos próximos encontros, no Maracanã, na Gávea, no Vidigal. Acho que esse ano vai ser incrível.

    Estava com dois franceses do meu hostel, que tinham também o ingresso na Norte, e outros franceses que ajudei a entrar no estádio. Virei quase um guia do Maraca. Depois, enfim, fui na Norte. É um dos lugares mais maravilhosos do mundo. Falta palavras para descrever quanto essa tribuna é tão linda.

    Eu estava com os dois franceses, vibrando comigo, como se o Maraca era a casa deles, arriscando um “vai pra cima deles Mengo”. Era emoção no campo e nas arquibancadas, só faltava o gol do Flamengo, que dominava o jogo, sem marcar. Isso sempre é um perigo. Eu tenho um amigo carioca, Gabriel, que eu não tinha visto desde 2019, ele me falou que estava na Norte também, com a Fla Manguaça. Eu era do outro lado da cerca, olhei um pouco por lá, e incrivelmente, consegui o ver, sem camisa, vibrando. Gritei, mas ele não me viu. Era no momento do pênalti, então esperei Ganso fazer o gol para ter um momento mais calmo e ver ele. Ganso marcou, e eu subi imediatamente as escadeiras. Mas a torcida começou a gritar, a cantar o hino, eu cantando, Gabriel cantando, depois ele me viu, surpreso e feliz, então começamos a cantar juntos, só a cerca nos separando. Foi um momento maravilhoso, que não existe na Oeste.

    No segundo tempo, eu e os dois outros franceses foram no outro lado da tribuna, com a Fla Manguaça. Foram emoções ainda mais fortes, em campo e na Norte. Quando o jogo foi um pouco mais calmo, Fluminense fez o segundo. Depois teve o gol do Gabigol mas era tarde demais. Apesar da derrota, teve pelo menos um gol, esperava isso para que os novos amigos franceses podem ver como é um gol do Flamengo, na Norte. Eles adoraram o clima do Maraca e eu adoro a paixão que tem quando tem um gol, o grito, o copo de cerveja no ar, o abraço com o irmão mais próximo, o choro, o canto, a oração, a vibração.

    Ontem, tudo isso não foi suficiente para ganhar o Fla-Flu. Ficava então tempo para tirar fotos na Norte, com a bandeira da Fla Paris, aproveitando da beleza do Maraca num pôr do sol.

    Com a derrota, acho que é o fim da esperança para Flamengo ganhar o Brasileirão. Doze pontos atrás, não vejo como Palmeiras pode perder essa vantagem. Acho que parte da culpa está nas mãos do Dorival Júnior. Contra Palmeiras, quando foi empate, era para escalar a força máxima em campo. Os reservas foram muito bem esse ano, mas jogo decisivo é para colocar melhor time possível. Num jogo contra Palmeiras, com nove pontos de diferença, é para colocar Arrasca, Pedro e os outros, ganhar e meter pressão. Agora sim, com doze pontos em onze jogos, é focar nas finais. Que sejam dois títulos.

    O Flamengo perdeu o Fla-Flu e certamente perdeu o campeonato. Mas voltar na Norte era bom demais.

  • Na geral #4: A Fla Paris celebra três anos de existência

    Hoje é uma data muito importante para mim. O consulado Fla Paris foi criado nesse dia, um 19 de setembro de 2019, um ano de glória eterna para o Flamengo. E espero para a Fla Paris também.

    Já falei num outro artigo sobre a criação do consulado. Eu tenho um grande orgulho de ser um dos fundadores do consulado. Mas também já falei que quem é o consulado é quem vai aos encontros, vai assistir aos jogos com a galera. Agora morando no Rio, vou ter muita saudade da Fla Paris. Mesmo de longe, o consulado vai ficar no meu coração.

    Para os três anos, quero falar sobre a Fla Paris e nosso presida Cidel, que foi o idealizador do consulado. Sempre motivado para organizar encontros, para ajudar as pessoas, para fazer brilhar o nome da Fla Paris. Sempre vai fazer fotos e postar no Instagram para motivar outras pessoas a vir no consulado. O projeto dos consulados e embaixadas do Flamengo tem sorte de ter um cara como Cidel como presidente de um consulado. Dos fundadores, tem também Waldez, um baiano que promete feijoada, demora, mas honra a palavra. É o cara que vai lançar os cantos no bar, sempre que tem um lance de perigo, tem um « Mengoooo » do Waldez, como no antigo Maraca. Outro fundador é Felipe, que infelizmente não pode vir aos jogos muitas vezes, mas que é um cara de uma gentileza extrema, com uma tranquilidade contagiante.

    Agora na diretoria também tem Sammy e Danilo. Sammy foi quem achou nosso local para ver os jogos, o Fleurus, no sul de Paris. É quem falou com o pessoal do bar para organizar os jogos. Também é um dos caras mais generosos e engraçados que conheço. Num jogo no bar, a final do campeonato carioca 2020, falou que o novo bike dele ia pegar como nome o nome do jogador que faria o gol do título. Agora é fã eterno do Vitinho. Danilo também é um cara muito humilde e gentil, deixou várias mensagens me desejando uma boa viagem no Rio e me deu o contato do irmão dele para me buscar no aeroporto.

    No consulado, também tem o Piriquito, que conhecia antes, do time de futsal. São muitos anos de amizade, de cervejas e de conversas sobre Flamengo e de outras coisas. Conheço a mulher dele, a filha, o pai, a mãe, o irmão, Vini, que vem também no consulado quando pode. Acho que amigo se torna irmão quando você passa a conhecer a família dele, então Pirika é meu irmão, de verdade.

    No consulado tem também Bruno, que foi o primeiro a abrir sua casa para receber os membros do consulado e ver um jogo quando não tinha gente suficiente para assistir ao jogo no bar. O Thiago está no consulado também, me desejou uma boa temporada no Brasil de uma maneira simples mas linda, não falava com a boca, falava com o coração.

    Agora o Glen, filho de pai americano, dos Estados Unidos não o alvirrubro, e de mãe brasileira. Deixa-me contar como ele foi se apaixonar pelo Flamengo que a história é sensacional. Toda a família dele do lado do mãe é vascaína, os tios todos vascaínos. E o pai é mais football que soccer, mais beisebol ou essas coisas de americanos, mas começou a torcer pelo Flamengo só para zoar a família vascaína da mulher. Virou flamenguista e Glen é flamenguista por causa do pai americano.

    O consulado tem até o seu casal franco-brasileiro, Kevin e Sheyla. No início, ficavam mais no canto deles no bar, mas agora são da família do consulado e sempre vão nos jogos, do pré-jogo até o pós-jogo, com alegria e cervejas. Kevin é francês, é flamenguista. As vezes é bom de falar um pouco em francês sobre o Flamengo ou Rio, que ele adora também Rio e sempre é disposto a ajudar com contatos ou conselhos. Sheyla também me ajudou, me deu contatos de pessoas no RJ, e sempre tem um largo sorriso no rosto. São dois corações rubro-negros puros. Tem as outras mulheres também, que torcem juntas, com a galerinha delas e com a família do consulado, Bianka, Roberta, Carina, Gi, Vanessa, Simone.

    E tem o Davidson, que faltou alguns jogos por causa do trabalho, mas que sempre quer ir nos encontros. No meu aniversário, dia 7 de julho, convidei todo o consulado e ele não podia ir. Mesmo assim, comprou um presente para mim, ainda não sei qual é o presente porque infelizmente não o viu antes de chegar no RJ. Mas ele é carioca, e quando ele me falou que não podia ir no meu aniversário, falei pra ele que íamos comemorar juntos o próximo aniversário, mas no Rio. Isso era mais uma coisa de tipo sensação, premonição e espero muito que vai ser o caso.

    E tem ainda muito mais gente, que foram num jogo só, ou de vez em quando, que sempre vão ser bem recebidos. Outro motivo que me fez adorar o consulado é que as vezes têm turistas brasileiros, de férias em Paris e que vão assistir a um jogo no consulado. É um jogo só, mas tem flamenguistas de todos os estados do Brasil, de passagem em Paris, que vão contar a história deles, trocar dicas, gritar juntos na hora do gol. Tudo isso graças ao Flamengo e a Fla Paris. Precisamos fazer uma mapa do Brasil com todos os estados e colocar uma cruz quando temos um representante. Já tem RJ, BA, PA, SP, DF e deve ter muitos outros.

    Sobre os turistas de passagem no consulado, tenho uma história boa mas precisa de um pouco de contexto. O consulado foi criado em 2019, mas no início so tinha os jogos de Libertadores, o cincum, o milagre de Lima. Encontros muitos marcantes mas raros. Depois, por causa da pandemia, não teve uma rotina de assistir aos jogos juntos em 2020 e 2021, então o consulado realmente começou em 2022. Agora estou pensando que é incrível como em tão pouco tempo toda essa galera ficou no meu coração.

    Mas apesar de toda a alegria de se reunir para ver os jogos, também teve muita frustrações por causa dos resultados. Derrota na final do carioca, derrota na Supercopa do Brasil. No Brasileirão foi pior ainda, parecia maldição. Quando não tinha encontros no consulado, teve 6 vitórias, 1 empate, 3 derrotas. Quando tinha consulado, teve um empate contra Ceará, 4 derrotas e nenhuma vitória ! Teve busca para identificar o pé frio dentro do grupo, até teve uma reflexão para mudar de local para ver os jogos. No jogo contra Avaí, o consulado buscava sua primeira vitória no Brasileirão e teve um turista chamado José que foi ver o jogo com a gente. Foi no banheiro e teve um gol do Flamengo, foi de novo no banheiro e de novo um gol do Flamengo. Então depois do segundo gol, de própria iniciativa claro, ele ficou nas escadarias, sem ver o jogo e quando teve o apito final, pude voltar com a gente, comemorar a vitória tão esperada. Nosso pé frio, acho que é o Waldez mas ainda não tem certeza, mas nosso pé quente é o José com certeza.

    Apesar das frustrações dos resultados, a gente não vai trocar de lugar, porque no Fleurus sempre nós somos muito bem recebidos. Tem o dono do bar Ali, o cozinheiro Moussa, o garçom Djack. Djack é outro coração puro, zoador também mas gente boa. Eu dei uma camisa do Flamengo para ele, Vini deu outra, e quando tem jogo no Fleurus, ele sempre vai com o Manto Sagrado, como toda a gente. Ele faz parte da Fla Paris também.

    Meu último jogo no consulado foi contra Ceará, um dia antes de minha ida no RJ. Aliás, uma outra decepção com um empate frustrante. Mas eu queria ver uma última vez todas essas pessoas que amo. Nesse dia, tinha dois flamenguistas de Paris que foram no consulado pela primeira vez. Tinha Luiz e um outro cara que agora me falta o nome. Um procurou no Instagram se tinha um consulado em Paris e outro descobriu o consulado nas sugestões de Instagram.

    Como falei antes, quem é a Fla Paris é quem vai nos jogos. E espero que vai ter muitas pessoas novas para descobrir o consulado e fazer parte do consulado. O Flamengo é imortal, foi fundado há mais de cem anos, e depois dos fundadores, foram muitas muitas muitas pessoas que fizeram a história e a glória do Flamengo. Espero que a Fla Paris também não vai ter fim. Vi o início da Fla Paris, três anos atrás, mas meu sonho é de pensar que o consulado vai me sobreviver, que vai ter outras pessoas depois para organizar os jogos, se reunir, cantar e vibrar juntos. Fazer as amizades deles, ter as histórias boas, as risadinhas, ter uma galera que se transforma em uma família de flamenguistas, que vai vibrar a 10.000 quilômetros do Maracanã, lá em Paris. É tudo isso que quero parabenizar para os três anos da Fla Paris.

  • Jogos eternos #3: Fluminense 0x5 Flamengo 1989

    Jogos eternos #3: Fluminense 0x5 Flamengo 1989

    “Ganhar Fla-Flu é normal” cantam os torcedores tricolores. Verdade que eles ganharam o primeiro Fla x Flu, no 7 de julho de 1912. Inclusive, dia de meu aniversario. Verdade também que eles ganharam muitas decisões contra o Flamengo, embora algumas não sejam verdadeiras decisões, embora perderam muitas das últimas. Verdade também que quando os dois clubes unificaram as estatísticas dos jogo, para o Fla x Flu 431 do 14 de março de 2021, Flamengo estava na frente: 158 vitórias do Fla, 139 empates, 133 do Flu.

    Eu acho que ganhar um Fla-Flu nunca será normal. Fla-Flu é sempre especial. É meu clássico favorito no futebol. Apesar de a rivalidade ser maior com o Vasco, o Fla-Flu é diferente, mais charmoso. O peso da história é maior, como foi o caso em 1936, 1941, 1973, 1984, 1995 e 2022 para Flu, como foi o caso em 1963, 1972, 1991, 2017, 2020 e 2021 para Fla. E em tantos outros jogos em mais de 100 anos de história, em mais de 400 Fla-Flus. Como foi o caso em 1989.

    Dia era o 2 de dezembro de 1989. Inclusive, dia do aniversario de meu pai. Um jogo qualquer do Brasileirão, os dois times não tinham nada mais a jogar, nada a ganhar, nada a perder, nada a esperar, nada a tremer. Mas Fla-Flu nunca será normal, sempre será especial. Ainda mais quando o jogo marca a despedida do Rei Arthur, do Deus Zico. Começou como profissional contra Vasco em 1971, e dezoito anos depois, acabava seu reino contra Fluminense.

    Zico merece um capítulo a parte nesse blog, de tantas coisas incríveis que ele fez. Talvez sua maior façanha foi de dar aos flamenguistas um sentimento eterno de orgulho. Talvez é a ligação mais forte entre um jogador e um clube no futebol brasileiro. Com certeza, Zico será para sempre o maior ídolo do Flamengo. Com certeza, Zico não podia deixar de brilhar no seu último jogo, no seu último Fla-Flu.

    Ultimo jogo de Zico merecia o Maracanã. Mas o mandante era Fluminense e mandou o jogo em Juiz de Fora, no estádio Mário Helênio, inaugurado um ano antes. O técnico Valdir Espinosa escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Josimar, Rogério, Luís Carlos, Júnior; Aílton, Bujica, Uidemar, Zinho, Zico; Renato Gaúcho. Um misto de gerações e um ídolo máximo, Zico. Com 20 minutos de jogo, deixou a bola entre as pernas de Donizete, que impediu a continuação da jogada com uma falta. Não impediu o perigo. Falta de 30 metros, bem no centro, com Zico como batedor, é muito perigo. Três passos e bola na gaveta.

    No seu último jogo, Zico faz mais um gol de falta com o Manto Sagrado, o 47o dele, número impensável nos dias de hoje, ainda mais no Flamengo, que ficou num jejum de três anos. Um último golaço, de marca registrada. “Zico, Zico, Zico” canta o estádio. Mas Zico é muito mais do que os gols de falta. É os chutes bem colocados ou rasteiros, os golaços de cabeça ou de bicicleta, os dribles desconcertantes e precisos, a visão de jogo, a qualidade do passe. Maior artilheiro do Flamengo com 509 gols, Zico era camisa 10, organizador do time, dava presentes para os companheiros.

    No início do segundo tempo, duas embaixadinhas e um lançamento de gênio. Só um gênio pode fazer um passe assim. Um passe para outro gênio, Renato Gaúcho, que corta com um drible e chute com força. Outro golaço. “Ei, ei, ei, Zico é o nosso rei” canta o estádio. Zico podia ceder seu lugar ao Uidemar, era seu último jogo com o Flamengo. Tudo tem um fim, menos o amor do Flamengo para Zico e o amor do Zico para o Flamengo.

    Falou para GloboEsporte, Moacyr Toledo, um dos administradores do estádio: “Entre os vários jogos que foram realizados aqui no Mário Helênio, sem dúvida essa partida foi uma das mais marcantes. E olha que eu já vi muita coisa ao longo desses anos. Receber um craque como Zico, para uma partida que representou tanto para ele e para o futebol brasileiro, foi um privilégio”.

    Foi um privilégio sim, como falou bem o bem nomeado Milagres, goleiro reserva do Flamengo durante o jogo, e natural de Juiz de Fora: “Eu não diria que o Zico é um grande ídolo do Flamengo. Ele é um grande ídolo mundial, e supera qualquer preferência por clubes. Pra mim, foi uma honra participar desse momento, com a camisa rubro-negra e na minha cidade. Um jogo memorável para todos que lá estiveram”.

    Final do jogo não tinha mais importância, mas foi importante. Teve outros gols, outros golaços, de Luiz Carlos, Uidemar e Bijuca. E teve vitória do Flamengo de 5×0. O último jogo do Zico no Flamengo, o jogo 732, merecia um Fla-Flu e merecia uma goleada. Ainda hoje, Zico é o maior artilheiro do Fla-Flu com 19 gols. Para sempre, Zico é o maior ídolo do Flamengo.

  • Times históricos #2: Flamengo 2015

    Times históricos #2: Flamengo 2015

    Todos os times do Flamengo são históricos, todas as escalações fazem parte da história do Flamengo. Claro, tem times mais históricos e menos históricos, o de 2015 não é o melhor, mas tem sua importância na história do clube.

    Para mostrar a qualidade do elenco de 2015, basta dizer quem jogou mais partidas durante o ano: Márcio Araújo (56 jogos), Pará (53), Héctor Canteros (53), Wallace (48) e Everton (47). Basta dizer que o camisa 10 era Lucas Mugni. Basta dizer que o principal nome das contratações do início do ano era Marcelo Cirino. Um time muito limitado, que vinha de um ano 2014 muito difícil, onde o rebaixamento foi uma possibilidade real.

    Desse time, odiava entre outros Márcio Araújo e Gabriel, que jogou muito no Flamengo, mas só em termo de números de jogos. Incrível que Gabriel vestiu mais de 200 vezes o Manto Sagrado e muitos poucos jogos foram realmente bons. Mas confesso que desses perebas todas gostava muito do Anderson Pico. A aparência física, o chute poderoso nas faltas, era quase um Roberto Carlos, só faltava a técnica, a rapidez, a inteligência de jogo e muitas outras coisas. Mas gostava dele, acho que todo mundo tem um carinho para algumas perebas, que tinham espaço no Flamengo.

    2015 começou com a saída de um ídolo, Léo Moura, que teve até jogo de despedida, que depois mostrou que não merecia. Mas pelo tudo que fez no Flamengo, os 519 jogos, os 47 gols, os 8 títulos, merecia no momento. Foi uma festa linda no Maraca.

    No campeonato carioca, foi ruim o Flamengo, eliminado contra Vasco, com Wallace cometendo um pênalti bobo. Esse dava raiva. Mas teve um outro Flamengo x Vasco histórico nesse campeonato carioca. Foi o jogo da chuva, quando o jogo foi interrompido durante 50 minutos por causa da chuva. Alecsandro fez um gol, aproveitando da bola parada por causa da chuva na saída de bola do goleiro, Alecsandro fez um outro de pênalti, teve comemoração de guarda-chuva, teve briga generalizada. Até um time ruim pode fazer história.

    Na Copa do Brasil, foi ruim o Flamengo, eliminado de novo contra Vasco, com Wallace expulso no primeiro jogo. Esse dava muita raiva. No jogo de volta, foi Pará que foi expulso. Também dava raiva. Vasco foi o carrasco do Flamengo nesse ano, mas quem foi rebaixado no fim do ano foi o próprio Vasco.

    No Brasileirão, foi ruim o Flamengo, perdendo os dois clássicos contra o rebaixado Vasco. Flamengo esperou o sexto jogo para enfim ganhar, já com Cristóvão Borges no lugar do Vanderlei Luxemburgo. Até de técnico Flamengo era ruim. Depois, teve Oswaldo de Oliveira, bem melhor, que ganhou seis jogos seguidos, fez Flamengo voltar ao G-4, uma coisa inesperada, não vista desde 4 anos e 137 rodadas. Mas o time caiu de novo de produção com 2 vitórias, 2 empates e 9 derrotas nos últimos jogos. Pelo menos, não foi rebaixado, contrário ao Vasco.

    Mas não foi tudo ruim. Durante o ano, Flamengo contratou Pablo Armero, Ederson, Emerson Sheik, Alan Patrick, Paolo Guerrero. Nomes de peso, destaque para o Guerrero, internacional peruano, ídolo do Corinthians. No campo, esses reforços não foram tão bom, mas a politica de austeridade do presidente Eduardo Bandeira de Mello se aproximava do fim. Salários em dia, nova administração, novas fontes de renda, Flamengo se profissionalizava, tinha mais credibilidade. No site Colunadofla, Bandeira de Mello explicou: “Acredito que 2015 já é melhor que 2014, que foi melhor que 2013. É possível que este ano a gente já possa, não diria ousar, porque tudo que a gente faz é extremamente responsável, mas já possa pensar em jogadores que, talvez, não conseguisse pensar no ano passado. Agora, 2016 e 2017, com certeza, vão ser bem mais confortáveis”. Em 2016, vieram Réver, Cuellar, Diego, em 2017 Diego Alves, Everton Ribeiro, Conca. Não só sucessos, mas o ano de ouro de 2019 se aproximava. E por isso, valia a pena de viver o ano de 2015.

  • Na geral #3: Mais uma final

    Ontem foi minha volta ao Maracanã. Desde 2019 que não estava no templo do futebol. Um 7 de julho, dia de meu aniversario, quando o Brasil conquistou a Copa América contra o Peru. Mas era de verdade minha volta ao Maraca desde 2017, porque em 2019 faltava uma coisa, faltava o Flamengo.

    Antes do jogo de ontem, fui em quatro jogos do Flamengo, três no Maracanã. O primeiro foi no Pacaembu, só fui em São Paulo porque Flamengo estava lá. Depois, tive muita sorte, no Maraca, foram um Clássico dos Milhões e dois Fla-Flu, os da Sudamericana de 2017. Uma primeira vitória 1×0 na ida, gol de Everton, para chorar de emoção. E um empate 3×3 na volta, para vibrar como nunca, cantar, gritar, rezar, sonhar. Esse jogo merece um capítulo na categoria dos jogos eternos. E tive muita muita sorte, nos três jogos, estava na tribuna Norte.

    Ontem, minha volta ao Maraca não foi completa, porque não estava na Norte. Só ficava ingressos na Oeste quando meu plano de sócio-torcedor abriu. Flamengo no Maraca para mim é tribuna Norte, é frustrante de olhar a tribuna de lá, de ver eles cantar quando tenho pessoas conversando ao meu lado. Ontem, a menina perto de mim passou a metade do jogo sentada, sem nem ver o jogo. Fica na sua casa menina, que o seu sofá deve ser mais confortável. Mas mesmo na Oeste, a entrada dos times em campo foi emoção, o clima depois do gol do Arrasca foi emoção. Vibrei, vibrei com o quase golaço de Gabigol, que fora desse lance, não fez um bom jogo. Vendo o lance de novo, fico ainda mais decepcionado, seria um gol histórico. Mas vibrei com o gol do Arrasca, com a assistência do Everton Ribeiro, que fizeram um grande jogo.

    Agora o Flamengo está na final, sem tremer, fazendo o que precisava para se classificar. Estou louco para ganhar a Copa do Brasil, desde muito tempo. Desde que o Flamengo começou a ganhar tudo de novo, falta só dois títulos: o Mundial e a Copa do Brasil. Gosto da Copa do Brasil, mata-mata, emoção, virada, e para o clube, dinheiro. O Flamengo precisa ganhar essa Copa do Brasil, contra Corinthians ou Fluminense, minha preferência vai para o Fluminense. Porque pode ser a vingança da final do Carioca, porque será mais dois Fla-Flu, no Maraca, onde fui muito sorteado e espero ser sorteado de novo. O mais importante será ganhar, imitar o Palmeiras de 2020, e talvez, sonhar como uma tríplice coroa inédita.

  • Jogos eternos #2: Flamengo 2×1 Grêmio 2009

    Jogos eternos #2: Flamengo 2×1 Grêmio 2009

    Já falei que a categoria dos jogos eternos será para relembrar os grandes jogos do Flamengo, seja por uma goleada, uma virada, a grande atuação de um jogador, um golaço, servir de pré-jogo, mas tem coisa ainda melhor, que é conquistar um título. Como vai ser o caso para a lembrança de hoje.

    Vamos falar de um título brasileiro, no Maracanã, após 17 anos de espera. Em 2009, eu tinha 17 anos, nasci com o Flamengo campeão. 17 anos é longo, foram 5.831 dias sem o Flamengo ser campeão brasileiro.

    Em 2009, o time era bom, com dois craques, que já brilharam no Flamengo no início do século. Petkovic, o Rambo, camisa 43, que relembre um outro jogo eterno, uma virada, um golaço de falta. Em 2009, fez gols de falta contra Coritiba e Vitória, mas ainda é mais lembrado para os gols olímpicos contra Palmeiras e Atlético. Outro craque, Adriano, o Imperador, camisa 10 depois de ser camisa 29, 27, 92, 90, 100, 9 na temporada. Em 2009, fez três gols na goleada contra o Inter, fez um gol na virada contra Santos, fez uma grande atuação no Fla-Flu, fez um golaço contra Coritiba. Ganhou o título no final.

    O campeonato de 2009 parecia perdido. O clube era na 11a colocação, 11 pontos atrás do líder. Imaginar o Flamengo campeão era motivo de piadas. Não para o presidente em exercício Delair Dumbrosck, que trouxe de volta no banco um ídolo do clube, Andrade. Flamengo se recuperou, ganhou jogos e posições na tabela. Afinal, São Judas Tadeu, o patrono das causas impossíveis, também é o padroeiro do Flamengo.

    Para o último jogo da temporada, Adriano era de volta depois de se queimar o pé, com uma moto, um churrasco, uma lâmpada, sei lá. Pela primeira vez, o Flamengo era o líder e só precisava de uma vitória contra Grêmio para gritar “É campeão”. Grêmio só precisava perder para agradecer seus torcedores porque o grande rival, o Internacional, ainda podia ser campeão, no ano do seu centenário, 30 anos depois do último título. Para o Inter, é muita espera também, são 15.606 dias de espera. 15.607 dias amanhã.

    No Maracanã, no dia 6 de dezembro de 2009, foram 84.848 almas, esperando só um gol para vibrar. Na verdade, foram mais do que 84.848 torcedores. Não tem o número exato, mas vendo o jogo, dá para perceber que tem muito mais gente, que tem torcedores em lugares onde não tem cadeiras. Se puder voltar no passado e escolher um jogo para assistir no Maracanã, provavelmente seria aquele Flamengo x Grêmio. Nunca conheci e nunca vou conhecer de perto o antigo Maraca, mas esse Maracanã, da reforma para os Pan-Americanos de 2007, é meu Maraca, era aquele estádio quando comecei a assistir aos jogos.

    Eu não assisti ao jogo ao vivo, porque na época ainda era difícil para mim de achar um streaming e claro, o jogo não era retransmitido na televisão francesa. A solução foi de ir no site da Globo, para ver o placar ao vivo, a descrição escrita de alguns lances, vibrar com a atualização às vezes automática, às vezes forçada, da página. Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo.

    Quando era de esperar um jogo fácil, Aírton fez tremer o Maracanã, abrindo o placar pelo Grêmio. No minuto seguinte, Alecsandro abria o placar no Beira-Rio. Flamengo não era mais o virtual campeão. Mas dez minutos depois, na grande área gremista, Adriano levou a mão, reclamou de uma mão e queria o pênalti. O quase desconhecido David Braz, jogando apenas por causa da suspensão do Álvaro, continuou o lance e deu um pouco de alívio ao Maraca, empatando o jogo. Ainda não era suficiente, no intervalo, o Internacional ganhava agora 3×0 e era o megacampeão. Agora a palavra é para o futuro herói do jogo, Ronaldo Angelim, no livro 20 jogos eternos do Flamengo, de Marcos Eduardo Neves: “No intervalo, pela primeira vez vi o Andrade chateado. Concordamos com ele. Tinha que ser na raça. Precisávamos pressionar de alguma forma”.

    Flamengo voltou na raça no segundo tempo e no escanteio de Petkovic, que ia ser substituído, Ronaldo Angelim, o único Ronaldo rubro-negro, foi lá no céu do Rio, realizando a premonição de sua mulher. De cabeça, o Magro de Aço, flamenguista desde criança, virou o jogo, fez o Flamengo campeão, depois de 5.831 dias de espera. Ronaldo Angelim fez apenas um gol no Brasileirão 2009, mas só com esse gol só, e muita raça claro, se eternizou como um dos grandes ídolos do Mengão. O Flamengo, enfim, era o campeão do Brasil.

    Para fechar, duas citações das duas grandes figuras do hexacampeonato, Petkovic e Adriano, do livro 6x Mengão de Paschoal Ambrósio Filho:

    “Dizem que minha chegada levantou o grupo, mas foi o contrário. Foi esse grupo que me levantou e me fez seu líder em campo. É fácil ser líder com o respaldo de um grupo de guerreiros. Dizem que sou velho, sinto orgulho em ser comparado com o Júnior, que comandou o Mengo no título de 1992, com 38 anos de idade. Posso ser velho na idade, mais ainda sou muito jovem na força de vontade. O Flamengo merece ser campeão todo ano. Essa torcida merece” Petkovic

    “Não acordei deste sonho. Nem vou acordar tão cedo. Para mim esse título vale muito mais. Voltei ao Brasil muito mal. Estava triste e queria voltar a sorrir. Vejo que tudo que fiz valeu a pena. Essa conquista é muito importante para mim e para a minha família, que ficou ao meu lado quando eu estava sendo criticado por muita gente” Adriano

  • Ídolos #2: Carlinhos

    Ídolos #2: Carlinhos

    Comecei na categoria dos Ídolos com meu ídolo particular, Obina, que também é ídolo da Nação. Agora, um ídolo que nunca vi jogar, mas que deve ser ídolo de cada flamenguista. É o Luís Carlos Nunes da Silva, o Carlinhos.

    Tem jogadores que jogaram em todos os quatro clubes do Rio, como o Léo Moura ou o Paulo César Caju, que talvez um dia terão o artigo deles na categoria dos Idolos. Outros jogaram no Flamengo e no Vasco, no Flamengo e no Fluminense, outros no Flamengo e no Botafogo ou em 3 dos 4 clubes. Dessa lista, tem ídolos e menos ídolos, tem o Romário e Petkovic, que com certeza um dia terão o artigo deles na categoria. Tem jogadores que no Rio só jogaram no Flamengo como Arrascaeta e Gabigol, os novos ídolos. E tem jogadores que no Brasil só jogaram no Flamengo como Zico e Júnior, os maiores ídolos.

    E tem jogadores como Carlinhos, que na carreira inteira, só jogaram no Flamengo. Ao lado deles, ainda menos jogadores, e da classe dele, só Leandro. Carlinhos é um nome a parte na lista dos ídolos de Flamengo. Meio-campista clássico, tinha tanta classe que o apelido dele, o Violino, porque seu futebol parecia música clássica. Adoro o apelido dele, acho um dos mais estilosos do futebol brasileiro. O Violino, que jogava futebol como um Mozart tocava música.

    Luís Carlos Nunes da Silva nasceu no 19 de novembro de 1937 e chegou no Flamengo em 1954. Nesse ano, recebeu as chuteiras do Biguá, em fim de carreira, como símbolo, um presente de um craque antigo para o novo craque. E não foi um erro. Carlinhos começou como profissional em 1958, mas era reserva do Dequinha. Depois, Dequinha quebrou a perna e Carlinhos virou titular ao lado do Gérson, para formar um meio-campo de tanta técnica, de tanta classe, que não parecia justo para os adversários. Fez seu primeiro gol em 1959, jogou numa excursão na Europa em 1960, ganhou o Rio – São Paulo em 1961. Agora a palavra para a Revista do Esporte em agosto de 1961: “Carlinhos pode ser apontado como um dos melhores médios de apoio do futebol carioca. Clássico e inteligente, fez com que a torcida do Flamengo esquecesse mais depressa seu antigo ídolo Dequinha, de quem Carlinhos herdou muitas qualidades no manejo da pelota. Quando se fala dos nomes dos craques que irão ao Chile, em 1962, o nome do centromédio rubro-negro vem à baila, numa prova do quanto o seu futebol vem sendo apreciado”.

    Foi pre-convocado para a Copa de 1962, mas finalmente não fez parte de uma lista onde tinha muitos, muitos campeões do mundo de 1958. Não vi Carlinhos jogar, nem o Zequinha do Palmeiras, que foi convocado, mas acho uma injustiça. Carlinhos merecia ser campeão do mundo, não foi, mas foi campeão carioca, em 1963, no maior Fla-Flu da história, pelo menos de ponte de vista do publico, 194.603 torcedores para admirar o futebol do Violino. Em 1970, para a revista Placar, Carlinhos falou: “Mesmo que vivo cem anos, não posso esquecer o 0 a 0 contra o Fluminense, em 63, quando fomos campeões. Foram minutos de tensão e luta. A própria torcida, normalmente tão barulhenta, só conseguiu gritar no fim da partida, e aí foi um carnaval na cidade inteira”.

    Infelizmente, Carlinhos não viveu 100 anos, nos deixou em 2015. Mas teve tempo suficiente para fazer muitas coisas, ganhar um outro campeonato carioca, em 1965, ganhar o Belfort Duarte, para completar dez anos sem nenhuma expulsão, além de clássico, o futebol do Violino era limpo. Como técnico, de novo no Flamengo, ganhou o Brasileirão em 1987 e 1992. Para mim, é o maior técnico da história do Flamengo, por causa dos títulos, da ligação com o clube e com a torcida, da longevidade. Foram 830 jogos no Flamengo, 517 como jogador e 313 com técnico.

    E Carlinhos fez uma coisa a mais para o Flamengo. Como Biguá deu para ele as chuteiras no fim da carreira, na sua própria fim da carreira, Carlinhos deu as chuteiras para um jovem jogador, um certo Zico. Por isso, Zico foi o escolhido para escrever o prefácio do livro Carlinhos, um maestro no meio-campo rubro-negro, de Renato Zenata e Bruno Lucena, que também vai ser o fim deste artigo: “Quando eu já estava há três anos no Flamengo, ele parou de jogar e eu fui o garoto escolhido para receber as chuteiras dele. Era um cara espetacular. Aquela tranquilidade, delicadeza, na forma como ele tratava todo mundo, envolvidos ou não no trabalho dele. Uma pessoa de diálogo. Gostava de falar sobre futebol e também era professor. Naturalmente, por dar aulas em escolas, estar toda hora diante de alunos, isso facilita, te dá muito cancha para você se relacionar com as pessoas, porque não é fácil comandar. Ser professor o ajudou muito como treinador de futebol.

    E vejam vocês como é o destino. Eu pude entregar a ele a camisa do meu último jogo pelo Kashima. Foi contra o Flamengo, e o Carlinhos era o técnico. Pude retribuir o que ele havia feito por mim”.

  • Jogos eternos #1: Goiás 1×4 Flamengo 1997

    Jogos eternos #1: Goiás 1×4 Flamengo 1997

    A categoria dos jogos eternos vai ser para relembrar os grandes jogos do Flamengo, seja por uma goleada, uma virada, a grande atuação de um jogador, um golaço ou servir de pré-jogo antes de assistir ao nosso Mengo. Para esquentar o jogo de hoje, vou falar de um outro Goiás x Flamengo, de goleada, de outros tempos no Flamengo, no início do Brasileirão 1997. Flamengo tinha começado com duas derrotas, contra Santos e Bahia, e depois se recuperou com uma vitória contra Criciúma. O jogo contra Goiás era o da quarta rodada, lá na Serra Dourada.

    Começando com o time do Goiás de 1997, tem que falar de uma dupla que me fez sonhar quando era criança. Alex Dias e Aloísio. Em 1999, eles foram no Saint-Etienne, na França. Com 7 anos de idade, eu já adorava o Brasil, embora não tinha acesso aos jogos. A temporada 1999-2000 do campeonato francês foi a primeira que acompanhei, com Telefoot, um programa de televisão que era meu culto dos domingos de manhã. Um dia, chorei de raiva só porque tinha faltado o horário para assistir.

    Todos os brasileiros eram meus ídolos e essa dupla Alex Dias – Aloísio me marcou. Alex Dias fez quatro gols contra o Olympique de Marselha numa vitória histórica por 5×1, ele tinha uma coisa de Bebeto, mas confesso que gostava mais de Aloísio, que era mais semelhante ao Ronaldo Fenômeno, meu primeiro ídolo no futebol. Claro, essas comparações são com proporções guardadas e de meus olhos de criança. Mas adorava essa dupla, que depois continuou no Paris SG e no São Paulo, com menos sucesso. Eu tenho um carinho pelo São Paulo de 2005-2008, que foi o primeiro grande time brasileiro que acompanhei e ainda hoje sou um grande fã de Aloísio Chulapa, adoro as resenhas dele, ele tem essa alegria de viver, sempre com um sorriso no rosto e às vezes uma cerveja na mão. Acho que não é à toa que ele é amigo do Adriano Imperador, que tem semelhanças na personalidade deles.

    Voltando ao Flamengo, o time de 1997 era bom. Na Serra Dourada, tinha Clémer no gol, Júnior Baiano na zaga, Fábio Baiano no meia, mas era no ataque que Flamengo era impressionante, com uma dupla bem melhor do que Alex Dias – Aloísio, que era Romário – Sávio. Muitos gols, muita habilidade, muito carisma. Na Serra Dourada cheia, com uma maioria de flamenguistas, Flamengo precisou de apenas cinco minutos no primeiro tempo para abrir o placar, com jogada de Romário e finalização de Sávio. Com cinco minutos no segundo tempo, Sávio provocou o pênalti, Romário o transformou. O juiz mandou bater de novo, Romário bateu com a mesma tranquilidade e fez o gol. Um outro pênalti, agora com força, de Aloísio, fez o Goiás voltar a esperança.

    Mas Romário é matador, goleador. Deixou Goiás sem esperança, com dois gols no finalzinho do jogo. Um de cabeça para o Baixinho, e um golaço de falta, à la Zico. Flamengo ganhava com tranquilidade, mas voltou a perder três jogos seguidos num campeonato finalmente conquistado pelo arquirrival Vasco. Mas só pelas jogadas do Romário, valia a pena relembrar esse jogo contra Goiás.

  • Na geral #2: A criação do consulado Fla Paris

    Esse artigo é para contar um pouco de um dos melhores feitos de minha vida, a criação do consulado Fla Paris. De meu ponto de vista obviamente. Para mim, começou no Twitter com um cara chamado e-van no Twitter, que eu não conhecia bem, mesmo de um modo virtual, mas que falou que um amigo dele procurava pessoas de Paris para fazer um consulado do Flamengo em Paris. Não sabia o que era um consulado do Flamengo, mas morava em Paris e era muito Flamengo. Topei.

    Depois, foi o Nicholas Reis, fundador da Embaixada Fla-Portuga que me contou um pouco sobre os consulados do Flamengo. Um consulado precisa de cinco sócios-torcedores para ser fundado, com o objetivo de atrair outros flamenguistas para assistir aos jogos do Flamengo juntos, fazer brilhar o nome do Flamengo no mundo inteiro, e aproveitar dessa força para participar em ações sociais. Topei.

    E-van, Ivan na vida real, me deu o contato do Cidel, que morava em Paris e queria criar um consulado aqui. Criamos um grupo no Whatsapp com outras pessoas interessadas. Cidel foi o primeiro a se tornar sócio, depois foi o Felipe. Para mim, teve um problema típico de gringo no Brasil. Não tinha CPF, o que é obrigatório para se tornar sócio. Foi Dudu Barbosa, coordenador dos consulados do Flamengo, que me falou de fazer um CPF fictício para me registrar como sócio. Fiz e funcionou. Agora podia ser sócio-torcedor do Flamengo. Topei.

    Uma confissão agora. A primeira vez que fui na Rocinha, em 2017, fui num bar e comecei a falar com dois homens, de 60 anos mais ou menos. Rapidamente, falamos do Flamengo e um deles me mostrou seu cartão de sócio. O primeiro ano de registro era 1981. Falei “ano bom para se tornar sócio”. Eu me tornei sócio-torcedor dia 3 de setembro de 2019. Também um bom ano para botar seu pequeno nome na grande história do Flamengo.

    Eu fui o terceiro, depois teve o quarto, o Waldez, e o quinto, que foi o Hugo. O consulado Fla Paris era criado, um 19 de setembro de 2019. Também no movimento da criação do consulado, tinha Flora e Irene, apesar de não ser sócias-torcedoras. Depois teve uma racha por causa de uma matéria sobre a criação do consulado. Quem não era fundador virava fundador e quem era fundador desaparecia. Coisa não muito importante para o consulado, quem é o consulado Fla Paris é quem vai se reunir no bar, assistir ao jogo com outros flamenguistas, participar no grupo no Whatsapp, participar nas ações sociais.

    O objetivo dos consulados é de se reunir para assistir aos jogos juntos, mas ainda faltava um bar, uma casa. O primeiro jogo do consulado foi o jogo de ida da semifinal da Libertadores contra Grêmio, 2 de outubro de 2019. O bar escolhido foi The Moore, em Châtelet, no centro de Paris. Foi o consulado do Grêmio em Paris que abriu sua casa para receber os flamenguistas. Quando o futebol é assim, futebol é muito lindo. Por causa do trabalho, não fui. Meu primeiro jogo no consulado foi o jogo de volta, no 23 de outubro de 2019. O cincum. Também um bom jogo para estrear no consulado Fla Paris.

    Antes do jogo, fui beber algumas cervejas com Piriquito, companheiro do time de futsal, parceiro das cervejas no bar, irmão flamenguista. Depois, fomos no The Moore e relembro que perto do balcão do bar, vi os outros fundadores, Cidel, Felipe e Waldez. Relembro que Felipe foi o primeiro a me reconhecer, depois foram abraços com pessoas que ainda não conhecia, mas que já eram meus irmãos. Inclusive, a foto no topo do artigo é desse dia, desse momento. Do dia do 5×0.

    No bar, tinha 3 gremistas e 50 flamenguistas. Flamengo é muito maior do que o Grêmio. A Wi-Fi era muito fraca, perdemos vários lances do jogo. Em Paris, o gol de pênalti do Gabigol nunca chegou nas redes. Mas eramos juntos, torcendo juntos, vibrando juntos, graças e por causa do Flamengo.

    Quando era adolescente, estava muito sozinho com minha paixão. Ninguém, ou quase, conhecia Flamengo na França. Isso era bom nos dias seguintes de derrotas, mas tinha ninguém para zoar depois de uma vitória num clássico. Só com meu melhor amigo podia falar sobre o Flamengo, assistíamos muitos jogos do Flamengo juntos. No domingo, era PSG na televisão e Flamengo no computador. E eu olhava mais o computador do que a televisão.

    Mas nas quartas-feiras, 2:30 de manhã na França, estava sozinho. Gosto muito de assistir aos jogos sozinho, em plena noite. Às vezes, um grito contido é mais forte ainda. Relembro de muitos jogos de noite, vitórias ou derrotas, e a impossibilidade de dormir depois, as 4 ou 5 de manhã, apesar do trabalho no dia seguinte. Mas naquela noite do cincum, não estava sozinho mais, estava com irmãos flamenguistas. Relembro do outro gol do Gabigol, no início do segundo tempo. Estava na rua, perto do bar. Alguém assistia ao jogo no celular, eu não vi o gol, não vi nada, mas ele gritou e celebramos juntos, com dez pessoas abraçadas, pulando, gritando, vibrando. Foi um dos gols mais emocionantes que (não) vi no Flamengo.

    O cincum foi histórico para o Flamengo e para o consulado Fla Paris. Depois, teve outros capítulos, outros momentos mágicos, outros jogos eternos, que falarei nos próximos artigos. Pelo momento, esse foi, para mim, como a Fla Paris surgiu entre os outros consulados e embaixadas do Flamengo, nos quatro cantos do mundo.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”