
Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
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Ídolos #5: Júnior

Agora eu vou usar os números das cronicas para escolher os ídolos. E com o número 5, escolher Júnior é mais do que justo. Confesso que às vezes não sei me posicionar com o Júnior. Às vezes, acho ele muito flamenguista, e outras vezes, não tanto. Certamente por isso, ele está fora de meu top 3 dos ídolos do Flamengo desde a era Zico. Não vejo nele o rubro-negrismo que têm Zico, Leandro, Adriano, meu top 3. Mas falando de carreira, de acontecimentos com o Manto Sagrado, ele está no top 2, só atrás de Zico. E para quem duvida, só um número para relembrar: 876. 876 jogos com o Manto Sagrado. Júnior foi tudo no Flamengo. Foi de Capacete a Vovô-Garoto, foi lateral-direito, lateral-esquerdo, volante. Foi líder. Foi campeão.
Paraibano de nascimento, chegou no Rio ainda criança. Verdade que, por causa da influência do tio e do pai, era mais Fluminense no início. Virou Flamengo depois de assistir a uma vitória do Mengão contra Botafogo no Maracanã. “Gostava do Fluminense. Mas era o Flamengo que mexia comigo. Aquela força, a energia da torcida tinha muito mais a ver com a minha personalidade […] O micróbio foi parar nas minhas entranhas. A partir disso, como gosto de dizer, o Flamengo virou minha segunda pele” explicou Júnior no livre Os dez mais do Flamengo de Roberto Sander.
Júnior jogou no futebol de areia, no futsal, no futebol. Fez teste no Fluminense, fez três meses no America, mas o destino era Flamengo. Foi na base com 19 anos já, pronto a esquecer o futebol para ganhar a vida. Mas quem ganhou foi a própria vida, e toda a torcida do Mengo, mexida nas entranhas com o futebol de Júnior. Começou na base como volante, sob as ordens do Modesto Bria, que também merece um capítulo nessa categoria.
Mas depois virou lateral-direito e começou nos profissionais, em 1974. Firmou-se rapidamente no time titular, fazendo gols decisivos no fim da campanha do campeonato carioca. Contra America no triangular final, fez um gol quase do meio de campo, aquele gol que Pelé não fez, Júnior fez. Logo na primeira temporada como profissional, Júnior já era campeão. Em 1976, com a chegada de Toninho, foi na lateral-esquerda. Quando se fala de jogador ambidextro, sempre tem um pé mais forte do que do outro, o pé de origem. Júnior é talvez o mais ambidestro dos ambidestros, não parece ter pé de predileção, como se Deus tinha lhe dado dois pés já perfeitamente prontos para jogar futebol.
Júnior foi o jogador com mais participações nos 73 jogos do tricampeonato carioca 1978-1979-1979 especial. Ele fez 70 jogos, com boa margem sobre os 65 de Zico e os 63 de Adílio. Deus também tinha lhe dado pernas de atleta, aprimoradas com a prática do futebol de areia e o profissionalismo. Júnior foi campeão carioca, recusou a proposta do Real Madrid em 1981 para ser campeão do Brasil, campeão da América, campeão do Mundo. Sempre com grandes atuações. Talvez é o maior parceiro de Zico da história.
Júnior não precisava da Europa para brilhar, e mesmo assim brilhou na Europa. Brilhou na Espanha na Copa de 1982 e na Itália com Flamengo num torneio em 1984. Flamengo precisava de dinheiro e Júnior, com 30 anos, foi vendido. Brilhou durante 5 anos na Itália. Só com a primeira passagem dele no Flamengo, Júnior era uma lenda do Flamengo. Mas queria fazer mais, queria ser Maestro.
Na sua biografia Minha paixão pelo futebol, Júnior explica que ele estava perto de renovar o contrato na Itália: “Estava inclinado a renovar o contrato, e o faria se meu filho, Rodrigo, involuntariamente, não tivesse interferido. Certo dia, estávamos todos assistindo a alguns jogos históricos em uma velha fita de videocassete. Com a camisa de número 5, vimos passagens em que eu dava passes certeiros para os companheiros do Flamengo. Meu filho, no auge da curiosidade de seus cinco anos, disparou: ‘Pai, quando eu vou ver você jogar no Maracanã?’ Não pensei duas vezes. Desliguei a televisão, olhei para Heloísa e disse: ‘Está na hora de voltar para casa!’ Era mais do que uma decisão. Era uma promessa ao meu primogênito”. Júnior era Flamengo de novo.
E como 15 anos antes, quando começou como profissional, Júnior não esperou muito antes de brilhar com o Manto Sagrado. Virou Vovô, porque já estava velho, com cabelos grisalhados, e virou Vovô-Garoto, porque tinha mais forma de quem tinha 25 anos. De novo, Júnior foi campeão, da Copa do Brasil, a primeira da história do clube, do campeonato carioca 1991, onde ele abraçou o filho: “No fim do campeonato carioca de 1991 vivi um momento de glória e particularmente emocionante porque havia um convidado especial assistindo àquele Fla-Flu. Quis ainda o destino que eu protagonizasse o quarto e último gol da partida. Quando faltavam três minutos para o fim do jogo, olhei para o meu convidado, próximo à beira do campo, sentadinho, ansioso para ouvir o sonoro apito final. Mal o juiz levou o apito à boca, Rodrigo se levantou e disparou chorando em direção ao meu abraço. Vinha comemorar como se ele fosse um dos jogadores. Entre soluços, me disse: ‘Pai, nós ganhamos, somos campeões.’ Naquele abraço apaixonado, eu honrava, finalmente, a promessa, feita ainda em Pescara, de que meu filho me verá jogar no Maracanã. A alegria de um abraço no fim de um jogo vitorioso só o futebol traduz. Mas, dessa vez, a comemoração extrapolara o lado esportivo. Era um encontro mágico entre pai e filho”.
E em 92 a falta foi de Júnior. Em 1992, o que não faltou, foi Júnior. Em 1992, Júnior fez de tudo. Se tornou líder de um time jovem, cheio de craques e promessas. Jogou no meio de campo com maestria. Fez gols de falta, matando a saudade do craque e do amigo de sempre. Talvez o pentacampeonato é o Brasileirão conquistado pelo Flamengo com a maior ligação a um jogador. 1992 vem com Júnior, e Júnior vem com 1992, como ele vem com 1974, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983, 1990, 1991 até pendurar as chuteiras em 1993. Júnior foi campeão, quase todos os anos, Júnior campeão, e até depois de parar de jogar, Júnior ainda campeão do mundo, no futebol de areia tão amado, com um amigo, craque e Rei, Zico. “Sempre foi muito fácil jogar com o Léo. Nós nos entendíamos só no olhar. Um já imaginava o que o outro ia fazer e aí era só se preparar para receber a bola. Treinávamos também muitas jogadas e, quando aparecia a oportunidade, era só realizá-las” explica o Rei no livro Os 11 maiores laterais do futebol brasileiro, de Paulo Guilherme.
Comecei essa crônica na dúvida sobre o rubro-negrismo de Júnior, e agora estou conquistado, pelo futebol e pela carreira do Vovô-Garoto com o Manto Sagrado. Deixo então a palavra para o próprio Maestro, que escreveu o prefácio do livro Grandes jogos do Flamengo, da fundação ao Hexa, de Roberto Assaf e Róger Garcia: “Algumas pessoas me perguntam como foi jogar no Flamengo. Não dá para descrever. Até hoje não encontrei uma palavra, uma frase, que possa definir a sensação de entrar no Maracanã lotado, seja decisão ou não, vestindo o Manto Sagrado. É uma responsabilidade […] O Flamengo sempre será minha segunda casa e sua camisa, a segunda pele”.
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Jogos eternos #9: Cuiabá 0x2 Flamengo 2021

Dias de jogo, gosto de relembrar um jogo eterno contra o mesmo time, com o mesmo mandante. Para hoje, não tive dúvida nem escolha: só teve um Cuiabá x Flamengo na história. Graças a Deus, Flamengo ganhou.
Jogo foi ano passado, ainda no início do Brasileirão. Como Flamengo tinha atletas convocados para a Seleção, principal e olímpica, o clube conseguiu adiar alguns jogos do Brasileirão. Começou com 3 vitórias e 2 derrotas, e com 2 jogos adiados, precisava de pontos para aparacer na parte alta da tabela.
Cuiabá, para seu primeiro ano na Série A, precisava também de pontos, com 4 empates, uma derrota e nenhuma vitória. Mas ainda não tinha perdido na Arena Pantanal na temporada, seja no campeonato mato-grossense, seja no Brasileirão.
No 1o de julho de 2021, Rogério Ceni escalou um Flamengo bem ofensivo: Gabriel Batista; Matheuzinho, Willian Arão, Rodrigo Caio, Filipe Luís; João Gomes, Diego; Vitinho, Michael, Bruno Henrique, Pedro. No dia seguinte, Brasil derrotou o Chile na Copa América, com Everton Ribeiro e Gabigol no banco, por isso eram desfalques contra Cuiabá. Pelo mesmo motivo, faltaram Isla e Arrascaeta.
Não tinha Gabigol, mas tinha Pedro. No início do jogo, Vitinho recuperou uma bola na parte alta do campo de Cuiabá. De primeira, Bruno Henrique achou na área João Gomes, que girou de calcanhar em cima do defensor, e deixou para Pedro abrir o placar. Era o segundo gol de Pedro no Brasileirão 2021, em 4 jogos.
Flamengo teve oportunidades de fazer o segundo gol, com Bruno Henrique e Vitinho, mas Walter fez boas defesas. Flamengo matou finalmente o jogo no tempo adicional, com dois jogadores que tinham entrado no segundo tempo, Rodrigo Muniz e Thiago Maia. Alias, era o segundo jogo de Thiago Maia desde sua lesão no joelho, em novembro de 2020. Num contra-ataque, Rodrigo Muniz deixou Thiago Maia cara a cara com o goleiro. Com tranquilidade, Thiago Maia fez seu primeiro gol com o Manto Sagarado.
Cuiabá 0x2 Flamengo, Cuiaba perdia a invencibilidade na Arena Pantanal e Flamengo voltava na 6a colocação na tabela.
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Jogos eternos #8: Flamengo 1×0 Internacional 1980

No 2 de março de 1980, ainda era o início do Brasileirão. No Maracanã, foi um jogo entre o campeão em título, Internacional, e o futuro campeão, Flamengo. Ainda mais, Internacional foi campeão invicto em 1979, até hoje o único da história do Brasileirão. Mas em 1980, já tinha perdido a invencibilidade, já na primeira rodada, uma surpreendente derrota em casa contra Itabaiana. Flamengo tinha jogado apenas um jogo no Brasileirão de 1980, uma vitória 1×0 contra Santos.
Mesmo desfalcado de Falcão, o Inter tinha craques, como Batista e Mário Sérgio, ambos expulsos durante o jogo. Outro expulso do Internacional nesse jogo foi Adilson Miranda, que morreu nesse ano de 1980, de um acidente de carro, com apenas 30 anos.
Flamengo também tinha craques, com o maior de todos, Zico, que, mais uma vez, ia demostrar a beleza de seu futebol nesse jogo. No 2 de março, Flamengo foi escaldo assim pelo técnico Cláudio Coutinho, que também morreu precocemente, em 1981: Raul; Carlos Alberto, Marinho, Rondinelli, Júnior; Andrade, Carpegiani, Adílio; Tita, Zico, Reinaldo.
Jogando em branco, num Maracanã em festa, Flamengo começou bem o jogo, sem fazer o gol. O gol veio no segundo tempo. No lado direito, Tita para Andrade. Esse Flamengo se achava de olhos fechados, se conhecia de coração e cérebro. O movimento do Zico foi perfeito, o de Andrade também. O passe de Andrade foi perfeito, a finalização de Zico também. 1×0 Flamengo. “Mengo, Mengo, Mengo”, canta a torcida, em festa.
No fim, Flamengo quase fez um outro golaço. Outra jogada de olhos fechados e cérebro aberto, com um passe de calcanhar de Zico. Mas o Tita chutou na trave. Sem consequência, Flamengo ganhava 1×0 e conquistava sua segunda vitória em dois jogos de um campeonato que ainda ia trazer muitas felicidades aos rubro-negros.
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Times históricos #4: Flamengo 1993

O time de 1993 teve craques de alta qualidade: Djalminha, Marcelinho Carioca, Renato Gaúcho, Casagrande. Tinha também Gilmar, Júnior Baiano, Wilson Gottardo, Marquinhos, Charles Guerreiro, Paulo Nunes, Gaúcho. Até de técnicos, Flamengo era bem servido nesta temporada: Carlinhos, Jair Pareira, Evaristo de Macedo, Júnior. Imagina um time com esses jogando juntos. Mas claro, uma temporada com tantos técnicos diferentes não pode ser ótima.
Começou a temporada com o campeonato carioca e a Libertadores. Na Libertadores, começou com um empate e uma derrota, mas depois se recuperou, e se classificou nas oitavas após uma vitória contra o Atlético Nacional no Maracanã. Eram muitos jogos, estreou também na Copa do Brasil, estreou direito, com uma goleada 4×0 contra América-RN e três gols de Nílson.
O Flamengo de 1993 poderia ter sido histórico. Eram muitos jogos, muitas competições, e muitas goleadas também, em poucos dias. 31 de março, um 5×0 contra America no campeonato carioca. 3 de abril, um 3×0 contra Paysandu na Copa do Brasil. 5 de abril, um 3×0 contra Bangu no campeonato carioca. E depois o jogo mais eterno da temporada, contra Minerven, no Maracanã, no jogo de ida das oitavas da Copa Libertadores. Começou com um gol contra de Minerven, e depois foi apenas o Mengão. Gol de Marcelinho Carioca, Gaúcho, Nélio, Wilson Gottardo, Marquinhos, Djalminha, Nílson. 8×0 e no fim, Minerven salvou um pouco de honra com dois gols, para um 8×2 eterno. Sete jogadores diferentes no placar, um time histórico.
O Flamengo de 1993 poderia ter sido histórico. Ainda mais que tinha uma camisa muita bonita, brilhante, com foi o Mengo nesse ano. Mas caiu nas quartas de final da Libertadores, contra o campeão em título, e também futuro campeão, São Paulo. Perdeu um jogo decisivo do campeonato carioca, contra o campeão em título, e também futuro campeão, Vasco. E quatro dias depois, perdeu contra Grêmio na semifinal da Copa do Brasil. Em pouco mais de um mês, Flamengo estava eliminado de três competições.
Mas era uma temporada longa, com muitas competições. Estreou com um Fla-Flu no Torneio Rio – São Paulo, de volta pela primeira vez desde 1966. Renato Gaúcho abriu o placar, mas Flamengo cedeu o empate no último minuto. No último jogo do grupo, podia se classificar para a final com uma vitória contra Santos no Vila Belmiro. No intervalo, 0x0. Mas no 27 de julho de 1993, exatamente 18 anos antes do 5×4 eterno, Santos fez 4 gols, fazendo um 4×0 histórico. Flamengo salvou um pouco de honra com três gols nos últimos dez minutos, mas não salvou a classificação. Santos 4×3, Flamengo eliminado. Um Flamengo que poderia ter sido histórico, mas que começava a não ser.
Em setembro era momento de estrear no Brasileirão. De novo, começou o campeonato com um 1×1, contra Bragantino. O jogo de volta foi pior, bem pior, com uma derrota 5×1. Mesmo assim, se classificou para a segunda fase, contra Santos, Corinthians e Vitória. Nessa fase, ficou na última colocação, com nenhuma vitória em 6 jogos.
Agora, só faltava uma competição para ser campeão, a Supercopa Libertadores. Começou com uma derrota 1×0 contra Olímpia, mas na volta no Maracanã, Renato Gaúcho abriu o placar de cabeça. Num escanteio, Casagrande fez o gol do 2×0, também de cabeça. Gostava muito do Casagrande, acho que ele tinha muito carisma, mas fez pouco no Flamengo. Apenas 35 jogos e 7 gols. Em seguida, Nélio provocou um pênalti depois de uma caneta sensacional. Júnior Baiano, com tranquilidade, transformou o pênalti. Flamengo estava nas quartas de final.
Contra River Plate, de novo Flamengo foi derrotado por 1×0 na ida. De novo, Flamengo voltou no Maracanã, de novo com um gol de cabeça, agora de Rogério depois de um cruzamento de Marcelinho. O jogo foi nos pênaltis, Magno, que tinha entrado durante o jogo, perdeu. Silvani, que também tinha entrado durante o jogo para River, também perdeu. Éder Lopes? Também reserva no início do jogo, também perdeu. E Fernandez, agora titular, também perdeu. Quatro pênaltis perdidos em seguida! Os jogadores não sabiam mais fazer um pênalti, então precisava de um goleiro. Gilmar foi para a cobrança e desfez a igualidade com força, agora 3×2 para Flamengo. Todo mundo achou o caminho das redes do novo, foi de 3×2 a 5×4. Agora, o outro goleiro, Sodero, para fazer o pênalti. Não tremeu, 5×5. Gélson fez 6×5 para o Flamengo. Corti não fez para River, Gilmar fez a defesa e virou herói, River cortado da Supercopa, Flamengo na semi.
A semifinal, contra Nacional, foi mais fácil. Vitoria 2×1 no Maracanã, gols de Casagrande e Renato Gaúcho. Vitoria 3×0 no Gran Parque Central, dois de Nélio, um de Renato Gaúcho, Flamengo na final. Agora era jogo de título, jogo de vingança também, contra São Paulo, que tinha eliminado o Flamengo da Libertadores. Um jogo para deixar o ano 1993 histórico.
Jogo de ida, no Maracanã, dia 17 de novembro, não do aniversário do Flamengo não, mas da fundação sim. E foi um jogador da base que abriu o placar, mas agora jogando pelo São Paulo, Leonardo, aproveitando de uma bola perdida de Júnior Baiano. Marquinhos empatou, um golaço depois de driblar dois defensores, e desempatou, aproveitando a falha de Zetti. Flamengo teve oportunidades de fazer o terceiro, mesmo depois da expulsão de Júnior Baiano, mas Zetti segurou. E no fim, empate de um jogador que ia vestir o Manto Sagrado, Juninho Paulista, que tinha entrado no lugar de Palhinha. 2×2 no Maracanã.
No jogo de volta, Renato Gaúcho calou o Morumbi no início do jogo, de novo com um gol de cabeça. São Paulo fez gols com os mesmos jogadores do que na ida: Leonardo e Juninho Paulista. Flamengo empatou, também com um jogador que tinha feito o dele na ida, ou melhor os dois dele, Marquinhos, de novo com um chute de fora da área. 2×2, o jogo precisava de um vencedor, de um campeão, e foi nos pênaltis. Flamengo tinha vencido uma disputa de penalidades, nas quartas, e São Paulo, uma outra, nas semifinais, contra o Atlético Nacional. No Morumbi, todo mundo fez o pênalti, menos o melhor cobrador da disputa, Marcelinho, que achou a trave de Zetti. São Paulo campeão, Flamengo sem título no ano 1993.
Flamengo fechou a temporada com nenhuma vitória nos últimos 9 jogos de 1993! Um ano que poderia ter sido histórico, mas que não foi.
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Jogos eternos #7: Flamengo 2×1 Bragantino 1995

Hoje vamos com um jogo não tão eterno, mas que poderia ter sido. O jogo de abertura do Brasileirão 1995. Já falei na crônica sobre Sávio que eu considerava a contratação de Edmundo um erro. Já em maio de 1995, quando Emundo foi apresentado na Gávea, era um erro. Claro, apesar da rivalidade com o Vasco, considero Edmundo como um craque. Em outros tempos, poderia ter ajudado Flamengo. Mas o Flamengo de 1995 era muito bem de ataque já, com uma dupla que tinha tudo para funcionar, Sávio e Romário. O time era desequilibrado, fraco na defesa e no meio-campo. Se tinha que contratar, devia ser para reforçar as linhas mais defensivas.
E mais, Flamengo já tinha seu craque problema com Romário. Um craque problema pode funcionar, um time precisa de um jogador diferenciado, que pode ganhar jogos sozinho, fazendo esquecer os problemas com os companheiros, adversários, técnicos, juízes, torcedores com uma jogada de craque só. Dois craques problemas é muitos problemas. E o futebol deles acaba se anulando, um querendo ser melhor do que o outro, o outro privilegiando o chute na hora de fazer o passe para o craque companheiro. É inevitável que vai criar problemas, para os companheiros, os dirigentes, o técnico, os torcedores. Romário e Edmundo funcionou no Vasco durante um tempo, mas no Flamengo, era um erro desde o início.
Edmundo chegou no Flamengo dizendo: “Que eu, Romário e Sávio possamos formar o melhor ataque do mundo”. Outro erro, não era uma coisa a dizer na apresentação, e foi obviamente exagerado pela imprensa. Fácil de dizer depois, mas mesmo antes, não dava para imaginar os três jogando bem juntos. Talvez, uma jogada de craque de Romário, depois um lindo drible de Sávio numa outra jogada, e no fim, Edmundo que faz a diferença sozinho. Diversas jogadas de craques, sim, eles eram craques, mas jogar bem juntos, ao longo dos jogos e da temporada, não.
Quando Edmundo chegou, Romário falou: “Edmundo sem confusão não é Edmundo. As confusões vão continuar, só que em menor intensidade”. Outro erro. Foram muitas, e com muita intensidade. Briga generalizada em campo contra Vélez, e pior, um acidente de carro que provocou a morte de 3 pessoas.
Primeiro jogo de Romário e Edmundo juntos foi um amistoso, contra Guarani, em Cuiabá. Era ano de centenário, Flamengo jogou até esse amistoso de papagaio de vintém. Mas viu Guarani abrir o placar. Empatou com um golaço, Edmundo, camisa 11, para Romário, camisa 100, que procurou a tabelinha de trivela. Completou a tabelinha com a chegada de Edmundo, que fez o gol. 1×1, nada de vitória, mas muita esperança para o resto da temporada.
Estreia oficial do Edmundo foi a estreia do Brasileirão, contra Bragantino. Flamengo estava de briga com a Suderj, e deslocalizou o jogo, do Maracanã para o São Januário, por ironia, onde começaram Romário e Edmundo. Já no iníciozinho do jogo, foi arrancada e dribles de Sávio. Depois, assistência de Romário e gol de Edmundo. “Edmundo é cruel” falou o comentarista Januário de Oliveira. Marcelo Henrique empatou e estragou a festa até o finalzinho do jogo quando Aloísio, 20 anos e que tinha entrado no jogo, chutou com força. O goleiro rebateu sem força, Romário fez o gol da vitória. “Romário é cruel” falou Januário de Oliveira.
Flamengo começava o Brasileirão com uma vitória. Era o ano do centenário, Flamengo esperava um título, uma glória eterna para os 100 anos. E o ano do centenário foi cruel para Flamengo. Flamengo começou bem, dava para pensar que não ia se concluir tão bem, mas não dava para pensar que ia ser tão ruim. Flamengo fechou a primeira fase na última colocação, escapando do rebaixamento de pouco!
Um ano para esquecer, mas Flamengo é inesquecível.
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Ídolos #4: Adriano

Essa crônica é um pedido de meu amigo Kevin, também flamenguista roxo, também francês, também membro da Fla Paris. Mas claro, Adriano ia ter sua crônica no Francesguista. Porque é ídolo demais do Flamengo.
Descobri Adriano quando jogava no Parma. Nessa época, não sabia que ele tinha começado no Flamengo. Ele estava emprestado pelo Inter, onde jogava meu primeiro ídolo no futebol, Ronaldo. Jogava é uma palavra forte para Ronaldo, porque as lesões não paravam de acontecer, e quase parecia que ele estava aposentado. Eu estava privado de meu ídolo. E tinha Adriano, com muitas semelhanças, de físico e de futebol. Habilidade, velocidade e claro, potência, ainda mais do que o Fenômeno.
Vibrei com Adriano na Seleção em 2004 e 2005, e ele me impressionou com a camisa do Inter. Não era Ronaldo para mim, mas era um de meus jogadores favoritos. E mais, agora, eu sabia que ele era cria daqui, que tinha ganhado alguns títulos com o Manto Sagrado, como o campeonato carioca em 2000 e 2001.
Em 2009, Ronaldo quase foi no Flamengo, falarei desse momento num outro dia. Porque hoje é dia de Adriano. Em 2009, Adriano foi convocado com a Seleção no Brasil e nunca voltou na Itália. Teve rumores de desaparecimento, Adriano era alcoólatra, era drogado, era traficante, era morto. Mas Adriano era bem vivo e saiu do silêncio: “Resolvi dar um tempo na minha carreira, pois perdi a alegria de jogar. Não sei se vou parar dois ou três meses, para repensar minha carreira. Não gostaria de voltar a Itália. Lá a pressão é muito grande. Quero viver em paz, aqui no Brasil. Estou fazendo isso pensando em minha felicidade”. Adriano estava em paz, no Brasil, num lugar onde não tem tanta paz, Vila Cruzeiro, mas Adriano estava em casa, pronto a ser feliz.
E Adriano voltou na outra casa, a casa do Mengão. Ele não tinha outra opção: “Se eu for jogar no Brasil, tem que ser no Flamengo. Senão a minha avó me mata!”. Acho que nós flamenguistas temos essa vantagem sobre os outros torcedores, Adriano é nosso. Imperador para eles, Didico para nós. Adriano é a identificação do torcedor rubro-negro, quando tem gol do Didico, tem festa na favela, em dose dupla. Adriano é esse Flamengo que eu gosto, o Flamengo raiz, humilde, feliz com as coisas simples da vida. Na apresentação, ele quase foi nas lágrimas falando da favela e do Flamengo, queria conquistar a sua felicidade, que aconteceu quando vestiu o Manto Sagrado, com um sorriso largo, profundo, sincero.
Adriano vestia de novo a camisa do Flamengo, estreando contra o Athletico Paranaense. Estreando no Maracanã, com um gol de cabeça. Festa no Maraca, festa na favela. “O Imperador voltou” cantou o Maraca, “O Didico é nosso” cantou a favela. No fim do jogo, Adriano estava feliz: “Foi muito importante fazer o gol. Não tem dinheiro que traga tanta felicidade. Recuperei a alegria de jogar, mas sei que ainda posso fazer muito mais. Vamos devagar e com humildade”.
Adriano fez muito mais no Flamengo em 2009. Golaços contra Inter, Coritiba, Santos, decidiu o Fla-Flu sozinho, gols de cabeça, de pênalti. Fez um ano histórico, e no fim, Flamengo campeão, depois de um jogo eterno contra Grêmio. O Hexa tem a cara do Adriano, Adriano tem a cara do Flamengo, do povo. Nesse momento, todo mundo estava feliz. Já Imperador, Adriano, com essa temporada de 2009, foi coroado como um dos maiores ídolos da história do Flamengo.
Em 2020, Globo colocou Adriano como o 10o ídolo de toda a história do Flamengo. Eu tenho dificuldades para colocar nesse ranking os ídolos antigos, como Leônidas, Domingos, Zizinho, Dida, Carlinhos. Prefiro fazer um ranking a partir da Era Zico, com Zico no topo claro. Na 2a colocação, como o número de sua camisa eternizada, Leandro. E depois, terceiro, acho que vou de Adriano.
Na final de Libertadores 2019, esse milagre de Lima, teve um vídeo emocionante, o abraço entre Gabigol, Petkovic e Júnior, ídolos de três gerações. Mas teve um vídeo ainda mais emocionante para mim, não em Lima, mas no Rio, numa casa simples, Adriano, com amigos e familiares, chorando com a vitória do Mengão. Essas lágrimas são mais Flamengo do que qualquer declaração.
Por isso que Adriano é no meu top 3, ele é Flamengo. Gabigol, outro candidato possível ao top 3, tem ligação forte com a torcida, mas Adriano é a torcida, faz parte de nós. O grande Imperador pode ser apenas Didico no Flamengo, um menino simples e humilde, que vibrou com o Flamengo e fez o Flamengo vibrar. Adriano não brilhou muito em 2010 e voltou em 2012, sem sequer jogar. Não foi sempre profissional, mas nunca desrespeitou o que é Flamengo.
Adriano parou de jogar em 2016, sonhou com uma volta no Flamengo, mas não deu. Mas Didico nunca saiu do Flamengo, sempre foi Flamengo, sempre foi favela. “Adriano não sumiu nas favelas. Ele apenas voltou pra casa” concluiu Didico no seu emocionante depoimento ao Players Tribune.
Na Europa, tem a ideia que Adriano hoje é arruinado, deprimido, que virou traficante. Acho que não é o caso, tem dinheiro, mas prefere ser feliz e ser ele mesmo em casa, no Vila Cruzeiro. É apenas o que eu desejo para ele. Seja feliz Didico, que você nos deixou muito felizes.
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Jogos eternos #6: Fortaleza 3×4 Flamengo 2006

No início do Brasileirão da era dos pontos corridos, Flamengo foi muito mal. Em 2003, a 8a posição foi razoável, mas depois Flamengo foi 17o em 2004 e 15o em 2005, escapando de pouco do rebaixamento. Em 2006, no 22 primeiros jogos, foram apenas 6 vitórias! De novo, Flamengo estava na zona de rebaixamento.
Graças a uma vitória contra Botafogo, Flamengo escapou do Z-4 antes de ir no Ceará para jogar contra Fortaleza. O time era limitado e o principal jogador do ano foi Renato Abreu. Um outro Renato, o Renato Augusto, era a maior promessa da base. Mas com um time que não podia sonhar conquistar o Brasileirão, a temporada já era um sucesso porque Fla ganhou a Copa do Brasil, e ainda melhor, em cima do Vasco. A volta na Libertadores era garantida, só faltava escapar do rebaixamento.
Para o jogo contra Fortaleza, Ney Franco não tinha a disposição sua dupla de ataque habitual, Sávio, de quem já falei aqui, e o pentacampeão Luizão. Mas Flamengo tinha um outro ídolo, de quem também já falei lá, eternizado com o gol contra Paraná, imortalizado com o gol contra Vasco, Obina. No 17 de setembro de 2006, Flamengo foi escalado assim no Parques dos Campeonatos: Bruno; Leo Moura, Renato Silva, Fernando, André; Paulinho, Léo, Renato Abreu, Renato Augusto; Obina, Fabiano Oliveira.
Flamengo começou bem o jogo, com um gol de Fabiano Oliveira no 11o minuto e uma assistência de um outro Renato, o zagueiro Renato Silva. Depois, foi Renato Abreu, que fez a assistência, para Obina, agora com uma camisa 7 menos histórica que a 18, mas que venceu o goleiro Albérico de um chute cruzado, de fora da área. Três minutos depois, numa jogada ensaiada, de novo foi Renato Abreu para Obina, que fez seu segundo do jogo. Um golaço, meio de calcanhar, meio de trivela. Obina talvez não era um craque, mas mostrava com esse gol que ele tinha habilidade e instinto de goleador, fez o único gesto que podia ser feito para fazer o gol. Uma pintura de um operário, que permitia ao Flamengo de fazer três gols num jogo do Brasileirão 2006 pela apenas segunda vez, a primeira foi na segunda rodada com uma vitória 3×1 contra Juventude, meses atrás!
Fortaleza não desistiu, insistiu e numa jogada nada ensaiada, fez o gol do 3×1. No início do segundo tempo, outro golaço, agora de Rinaldo, Fortaleza era agora a um gol de um empate inesperado. Flamengo podia tremer, mas foi o lateral Bruno Barros que tremeu, errando um lateral, curto demais, a destinação de seu goleiro. Obina estava com espírito de matador nesse dia, antecipou a saída do goleiro, driblou-o e completou seu primeiro hat-trick como profissional. No Flamengo, faria um outro hat-trick, contra America, no campeonato carioca 2008.
O segundo gol de Rinaldo no jogo foi inútil, Flamengo vencia 4×3 no Fortaleza, com uma grande atuação de seu ídolo Obina e ficava mais longe do tão temido rebaixamento.
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Times históricos #3: Flamengo 1972

O time de 1972 teve no começo do ano o reforço de alguns craques como o argentino depois naturalizado brasileiro Doval, de volta de um empréstimo na Argentina, e o Paulo César Caju, craque do Botafogo, culpado pela perda do campeonato carioca 1971 contra Fluminense. O capitão do time era o zagueiro paraguaio Francisco Reyes, que morreu precocemente com apenas 35 anos, vítima de uma leucemia. Tinha também bons jogadores, como o centroavante Caio Cambalhota, também antigo jogador do Botafogo, e Wanderley, que depois se tornara Vanderlei Luxemburgo como técnico. Falando de técnico, o de Mengão de 1972 era também antigo botafoguense, mas também passou pelo Flamengo como jogador: o Mário Jorge Lobe Zagallo. Pela primeira vez, não a última, o tricampeão do mundo era o treinador do Mengo.
Flamengo iniciou a temporada de 1972 com dois torneios amistosos, começando com o Torneio Internacional do Rio de Janeiro. Também participaram Vasco e Benfica. O primeiro jogo, contra Benfica, merece um capítulo a parte. Foi uma vitória 1×0 com um golaço de Fio Maravilha, que virou um canto de Jorge Ben. “Foi um gol de classe onde ele mostrou sua malícia e sua raça, foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa”. Fio Maravilha, nos gostamos de você. No último jogo, também no Maracanã, Flamengo ganhou também 1×0, agora com gol de Paulo César Caju. Flamengo começava a temporada como campeão.
Depois, jogou o Torneio General Emílio Garrastazu Médici, popularizado Torneio do Povo. Eram tempos sombrios da ditadura militar. O regime usou o futebol para divertir o povo, esconder a tortura e os desaparecimentos. Então foi Torneio do Povo, com os times de maiores torcidas: Bahia, Atlético Mineiro, Corinthians, Internacional e Flamengo. De novo, Flamengo começou com uma vitória 1×0, contra Bahia, agora com gol de Caio Cambalhota. Contra o Galo, Caju abriu o placar, Doval fez o segundo, Flamengo ganhou. Contra o Timão, Caju abriu o placar, Doval fez o segundo, Flamengo ganhou. Um 0x0 contra o Internacional na Fonte Nova foi suficiente para gritar de novo “é campeão”.
O campeonato carioca foi especial, por ser o do ano de sesquicentenário da independência do Brasil. Uma metade sem o Flamengo, a outra com o Flamengo. Bem melhor a segunda metade. Em 1972 também, a Taça Guanabara passou a ser o primeiro turno do campeonato carioca, e não mais uma competição a parte, como era o caso antes. E o primeiro campeão dessa Taça Guanabara foi o Flamengo, com 9 vitórias, 2 empates e nenhuma derrota. E uma goleada 5×2 contra Fluminense. Flamengo perdeu a invencibilidade contra São Cristóvão no segundo turno, vencido pelo Flumimense. Vasco ganhou o terceiro turno, precisava de um triangular final para ter um campeão.
O Vasco de Tostão perdeu contra Flamengo e contra Fluminense. A grande final era uma Fla-Flu, a primeira vez desde 1963, quando Flamengo ganhou. Para mim, evitando o clubismo apesar do fanatismo, o time do Fluminense de 1972 era melhor. Tinha os tricampeões Félix e Marco Antônio, um meio-campo de ouro com Denílson, Gérson e Didi, não o Didi bicampeão do mundo, mas também grande jogador, e um ataque muito bom com Jair, Cafuringa e Lula. Para mostrar a qualidade do time, basta dizer que Toninho, que brilhou depois no Flamengo, era reserva.
Um Fla-Flu é sempre especial, uma final ainda mais. E em 1972, a data do jogo foi especial também, um 7 de setembro. 150 anos depois do grito do Ipiranga, tinha outros gritos, agora no Maracanã, de 136.829 torcedores. Nem foi o maior público do campeonato carioca 1972, maior público foi um outro jogo do Flamengo, claro, mas contra Botafogo, com 137.261 torcedores. Contra Fluminense, 7 de setembro de 1972, Doval abriu o placar, e acabou artilheiro do campeonato com 16 gols. Caio Cambalhota, já autor do gol contra Vasco, fez o segundo. Apesar do gol de Jair pelo Tricolor, Flamengo ganhou o Fla-Flu e conquistou a Taça Sesquicentenário da Independência do Brasil.
O campeonato carioca de 1972 foi especial por um outro motivo. Uma jovem promessa participou de dois jogos, um 0x0 contra Botafogo, o jogo dos 137.261 torcedores, e um 2×2 contra Vasco. O nome da promessa era Arthur Antunes Coimbra, ninguém menos do que o Zico, que ganhava assim seu primeiro título profissional depois de ganhar o campeonato carioca juvenil no mesmo ano. O ano de 1972 também foi um ano de decepção para Zico, como ele explicou no UOL em 2012: “A minha maior tristeza no futebol foi não ter ido à Olimpíada de 72. Eu fiz o gol que classificou o Brasil e meu nome não estava na lista dos convocados. Foi a maior decepção da minha vida. Na hora fui falar com o meu pai que eu queria encerrar a minha carreira e cheguei a ficar dez dias sem ir ao Flamengo”. Graças a Deus, Zico voltou ao Flamengo.
Zico voltou no Brasileirão 1972, com uma vitória contra Sergipe, uma derrota contra Grêmio e dois empates, contra Santos e Cruzeiro, os quatro jogos fora de casa. Flamengo foi eliminado na segunda fase, mas foi na primeira fase que conheceu uma decepção, quero dizer uma humilhação, agora no Maracanã. Numa outra data especial, um 15 de novembro, Flamengo perdeu 6×0 contra Botafogo. Graças a Deus e ao talento time de 1981, o 6×0 foi vingado, mas não totalmente esquecido. Como o time de 1972, com a ginga de Paulo César, os gols de Doval e Caio, a promessa de Zico, não foi esquecido.
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Jogos eternos #5: Flamengo 4×2 Uberaba 1981

Como não tem jogo hoje, vamos matar a saudade do Mengo com um jogo eterno, de um time histórico, o de 1981, de quem já falei aqui. Faz parte dos melhores times da história, com o Santos de Pelé, o Ajax de Cruyff, o Milan de van Basten, o Barcelona de Messi, o Real Madrid de Cristiano. E tinha o Flamengo de Zico, que ganhou tudo em 1981.
Ganhou tudo, menos o Brasileirão. Mas mesmo assim, não deixou de fazer história e vamos lembrar um jogo do Brasileirão, no Maracanã. O adversário era Uberaba Sport Clube, time do Minas Gerais, que agora joga na segunda divisão do campeonato mineiro. Outros tempos do futebol. Na primeira fase do Brasileirão 1981, Flamengo ficou na 2a colocação, atrás do Santos. Mas como tinha 7 dos 10 times do grupo classificados pela próxima fase, não foi problema.
Foi mais difícil na segunda fase. Agora eram grupos de quatro, com apenas dois classificados pelas oitavas de final. Flamengo começou com uma vitória contra o Atlético Mineiro, mas depois empatou contra o mesmo Galo no jogo de volta e Uberaba no jogo de ida. Pior, contra o Colorado, time de Curitiba que também desapareceu do cenário nacional, foi derrotado por 4×0. Flamengo precisava de uma reação.
Apos quatro rodadas, o líder era o surpreendente Colorado, com 5 pontos, na frente do Flamengo e de Uberaba, ambos com 4 pontos, e o Atlético Mineiro na última colocação, com 3 pontos. No Maracanã, numa quarta-feira, 1o abril de 1981, Flamengo, jogando em branco, era escalado assim: Raul; Carlos Alberto, Luís Pereira, Marinho, Júnior; Vitor Silva, Adílio, Zico; Tita, Carlos Henrique, Nunes.
Flamengo precisava de uma reação no campeonato, mas começou muito mal contra Uberaba. Um gol de fora da área de Paulo Luciano, após apenas 5 minutos de jogo, e antes do fim do primeiro tempo, outro gol, agora marcado pelo Serginho. No intervalo, Flamengo 0x2 Uberaba, Flamengo quase eliminado.
Mas Flamengo é raça, Flamengo é reação, Flamengo é virada. No início do segundo tempo, escanteio de Júnior, na primeira trave. Escanteio de novo. Agora, na segunda trave. Num ângulo quase impossível, Tita conseguiu fazer o gol. Flamengo passou a dominar o jogo, procurando-se várias oportunidades do gol. Até uma falta de Zico na área, Marinho, o homem dos gols importantes, empatou. Flamengo 2×2 Uberaba, melhor, mas ainda não suficiente.
Num outro escanteio de Júnior, primeira trave de novo. Zico estava lá, desviando a bola de calcanhar numa autentica jogada de craque. A dois metros do gol, bem no centro, Nunes estava lá, para fazer o gol da virada. Nunes fez um grande jogo nesse dia, e a recompensa estava lá, da melhora forma possível para um centroavante, um gol.
Mas Nunes não era só centroavante, tinha habilidade também para jogar nesse time cheio de craques. Pegou a bola a 40 metros do gol, fixou a defesa, deixou para Júnior, que de primeira, achou Ronaldo Marques no lado esquerdo. Cruzamento na segunda trave, Tita, de voleio, fez o gol. Flamengo 4×2 Uberaba, agora bem melhor.
Era a recompensa para a geral do Maraca, que apoiou, torceou, acreditou. Talvez, provavelmente, essa virada não teria sida possível sem a geral. Flamengo se recuperou no campeonato, se classificou nas oitavas, passou do Bahia, mas acabou eliminado nas quartas pelo Botafogo. Mesmo assim, num domingo sem futebol, valia a pena lembrar uma quarta-feira cheia de Maracanã, de Flamengo, de gols, de virada.
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Ídolos #3: Sávio

O Sávio é um ídolo de uma geração no Flamengo. Comecei a acompanhar o Flamengo de perto entre 2005 e 2006, meu primeiro ídolo foi Obina, de quem já falei aqui. Mas para quem começou a acompanhar o Flamengo em 1994, o nome de Sávio como primeiro ídolo é evidente.
Sávio Bortolini Pimentel nasceu no Espírito Santo no 9 de janeiro de 1974, e em 1988, com 14 anos, já era do Flamengo. Torcedor do clube, foi observado pelo Flamengo num torneio em Vitória: “No meio tempo, o meu pai disse que o diretor do Flamengo me pediu. Eu falei: ‘Pai, pelo amor de Deus é meu sonho’. Em 92, eu subi e o saudoso Carlinhos, que eu sempre tive um carinho grande, me efetivou no profissional. Eu participei de todo processo. Tinha o Júnior, o Zinho e outros craques”, relembra Sávio para Colunadofla. Começou no Flamengo, com o coração já flamenguista.
O ano de revelação foi 1994 com um dos melhores jogos, não só de Sávio, mas de um jogador com a camisa do Flamengo, o 2×0 contra Palmeiras no Maracanã. Um dia, falarei mais em detalhes desse jogo. Nesse momento, Sávio já era da Seleção, estreando contra a Islândia. Ele tinha habilidade e muita classe, ao ponto de ser comparado ao Zico. Apenas isso. Chegou a ser nomeado Diabo Loiro, mas depois virou eternamente Anjo Loiro. Sávio explica: “Anjo ou Diabo Loiro? Hoje é Anjo. Quem me deu esse apelido foi o Januário de Oliveira, um dos maiores narradores do futebol brasileiro. Tinha bordões incríveis, improvisos muito legais. Teve um momento no Carioca, acho que em 94, que eu fiz gol e ele disparou ‘Diabo Loiro da Gávea’. Mas a avó da minha esposa é muito católica, e o ‘Diabo’’ incomodava muito ela. Ela dizia: ‘Sávio, eu sei que é com carinho, mas eu não gosto desse apelido!’. Ela se encontrou com o Januário uma vez, foi pedir pra ele, ‘não chama mais meu Savinho de Diabo? Pra mim ele é um anjo!’. E, no jogo seguinte, eu fiz o gol e ele trocou o meu apelido pra Anjo Loiro da Gávea”.
Em 1995, se firmou na Seleção e buscava um título com o Mengão, ano do centenário. Sávio foi artilheiro da Copa do Brasil, fazendo um jogo eterno contra o Grêmio mas Flamengo foi eliminado pelo próprio Grêmio nas semifinais. Flamengo também não ganhou o campeonato carioca, não ganhou o Brasileirão, não ganhou a Supercopa Libertadores. Sávio merecia um título esse ano, Flamengo merecia um título. Um time que tem Sávio e Romário no ataque é um pesadelo para os adversários. Acho que contratar Edmundo foi um erro. Um time que tem Edmundo e Romário no ataque juntos é um pesadelo para o próprio time. O Flamengo ganhou nada no ano do centenário e Edmundo saiu. Sávio falou depois sobre essa época, mostrando que ele era muito flamenguista, nunca se colocando acima do clube, que é a qualidade indispensável do verdadeiro ídolo: “Criaram essa coisa de melhor ataque do mundo e isso sempre atrapalhou. Era realmente um grande ataque, mas o resto do time era muito fraco. É só pegar o elenco e olhar. Além disso, era muita bagunça. O fracasso em campo era apenas um reflexo de tudo que acontecia do lado de fora. Todo mundo via aquela zona. Não tinha como dar certo. As principais peças do time não entendiam que a instituição Flamengo estava acima dos interesses pessoais. Era muita vaidade, muita individualidade. O ego atrapalhou o que o time tinha de melhor”.
Flamengo voltou a ganhar em 1996, Sávio sempre jogando bem. Foi campeão invicto do campeonato carioca, com 18 vitórias e 4 empates, inclusive o jogo do título, um 0x0 contra Vasco. Conquistou também a Copa de Ouro, um torneio organizado pela CONMEBOL, que convidou quatro times: Rosário Central, Grêmio e São Paulo também participaram. Na final, Flamengo venceu São Paulo 3×1, com três gols de Sávio. Apenas isso. Mas a Taça foi levantada em Manaus, na frente de apenas 4.680 torcedores e o título não faz parte das grandes conquistas da história do Flamengo.
Quem faz parte da história do Flamengo é o próprio Sávio. Jogou ainda em 1997, onde fez um jogo eterno contra o Real Madrid, sendo decisivo nos três gols da vitória por 3×0. Sávio jogou tão bem que acabou contratado pelo Real Madrid. Minhas lembranças de criança apaixonado pelo futebol com Sávio começam nesse momento. Eu era fã do Real Madri, virei fã do Sávio, que virou tricampeão da Liga dos campeões, campeão mundial em cima do Vasco. Eu ainda tive o prazer de ver ele jogar na França, no Bordeaux. Não me marcou tanto que outros jogadores brasileiros do campeonato francês, mas o que me marcou já nessa época era a classe dele em campo. Futebol virava uma coisa delicada com ele.
Voltou ao Flamengo em 2006, mas eu não me relembro muito, até porque jogou pouco. Mas no seu jogo de volta, contra Goiás, fez uma jogada para provocar uma falta, de onde saiu o único gol da partida, marcado pelo Obina. O ciclo dos ídolos estava completo. Faltava fechar o ciclo do Sávio no Flamengo, o que foi feito numa vitória 3×0 contra o Corinthians em 2006. Foram 95 gols e 261 jogos com o Manto Sagrado. Na Seleção, também conquistou uma Copa de Ouro em 1996, fazendo dois gols durante o torneio. Por causa da concorrência absurda da época, não disputou uma Copa do Mundo mas foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos, também em 1996. Na seleção principal, foram 6 gols e 24 jogos, mas foi com a camisa rubro-negra que Sávio fez história, sendo o ídolo principal da geração 94, encantada pela classe dele e o futebol mágico que saía de seus pés. Sávio, o Anjo loiro, para sempre.






