Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #272: Flamengo 1×1 Corintians 2011

    Jogos eternos #272: Flamengo 1×1 Corintians 2011

    Flamengo ainda anda invicto no Brasileirão de 2025 e antes do jogo contra o Corinthians, vamos lembrar de um outro Flamengo x Corinthians com Flamengo invicto, jogo que marcou a despedida de um dos maiores ídolos do Flamengo, Dejan Petkovic, em 2011.

    No Brasileirão de 2011, Flamengo só perdeu a invencibilidade na 17a rodada. Campeão invicto do campeonato carioca, perdeu apenas um dos 37 primeiros jogos da temporada, contra Ceará na Copa do Brasil. Porém, o jogo contra o Corinthians aconteceu logo na terceira rodada. Flamengo tinha seus craques em campo e um no banco. Petkovic disputou 51 jogos em 2010 mas não entrou nos planos da diretoria em 2011 e sequer entrou em jogo. Merecia um jogo de despedida antes da aposentadoria e aconteceu contra o Corinthians.

    No 5 de junho de 2011, o técnico Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Welinton, David Braz, Egídio; Willians, Renato Abreu, Botinelli, Petkovic; Ronaldinho, Wanderley. O time tinha uma qualidade absurda de criação no meio de campo, infelizmente o resto do time deixava a desejar.

    Petkovic merecia o Maracanã, que tantas vezes fez vibrar, para a despedida, infelizmente o Maior do Mundo estava morrendo na reforma para a Copa. Em vez disso, foi o Engenhão, o que não impediu a Nação de fazer um mosaico absurdo na entrada dos jogadores, ao lado da família para Petkovic, todos os outros jogadores com o nome de Petkovic nas costas. O mosaico começou com o nome de Petkovic e as cores da Sérvia, o vermelho, o azul e o branco e pouco a pouco, as cores viraram preto e vermelho, o sérvio virando rubro-negro.

    O jogo começou equilibrado mas foi o Corinthians que abriu o placar. Weldinho passou Egídio com facilidade na direita e cruzou no chão, Willian chegou antes de David Braz e frustrou a festa rubro-negra. Petkovic quase fez uma assistência, um passe de craque, de três dedos, no timing e espaço certos, porém Júlio César saiu bem e impediu o gol de Wanderley e a explosão da Nação.

    No final do primeiro tempo, Ronaldinho partiu em dribles e cravou a falta. O estádio explodiu, todos os torcedores com o mesmo lance na cabeça. Era quase quase do mesmo lugar que Pet se eternizou no Flamengo, no 27 de maio de 2001. Dez anos depois, Flamengo tinha alguns cobradores de falta de alta categoria: Renato Abreu, Botinelli, Ronaldinho e claro Petkovic. Todo mundo esperava a falta de Pet. Na bola, só ficavam Renato Abreu e Petkovic. O canhoto Renato Abreu tinha moral e confiança, partiu para a cobrança e fez bem. A bola passou em cima da barreira, morreu na gaveta. O capitão Petkovic partiu para o abraço, mesmo sem tocar na bola, participou do lance. Explicou depois o artilheiro do dia, Renato Abreu, sobre Pet: “Ele estava saindo da bola. Eu falei para ele ficar, que o goleiro ficaria preocupado com ele. O Pet me disse que estava longe para ele, mas era importante ficar ali. Graças a Deus deu certo e o gol saiu”.

    Assim, o último lance da carreira de um dos maiores gênios do futebol, um dos mais brilhantes europeus, porém desconhecido na Europa, mas que tive o privilégio de conhecer, não como europeu, mas como rubro-negro, acabava com uma falta. Tantas vezes Petkovic fez esperar, vibrar, torcer a Nação com faltas. No intervalo, Petkovic ficou emocionado, com seu sotaque característico: “Obrigado a torcida para comparecer, obrigado ao Flamengo para me ter preparado esse tipo de homenagem, Ronaldinho me deu a faixa de capitão. Fico agradecido porque Flamengo é muito maior que qualquer um de nós, temos que respeitar essa tradição e acho que respeitei sempre”.

    Petkovic ainda recebeu uma placa da presidente Patrícia Amorim e partiu para uma volta olímpica, ele que fez tantos gols olímpicos no Flamengo. Passando no escanteio do lado esquerdo, mesmo não sendo no Maracanã, impossível para o rubro-negro não lembrar da cobrança eterna de Pet no 6 de dezembro de 2009, com algumas lágrimas de tristeza, emoção e gratidão. O final do jogo não importava muito, Flamengo quase virou, mas Ronaldinho chutou na trave. A invencibilidade era mantida, a Nação perdia um dos seus maiores ídolos do século XXI, em campo sim, mas eternizado nos corações rubro-negros. Obrigado por tudo, Pet.

  • Jogos eternos #271: Gama 1×1 Flamengo 1999

    Jogos eternos #271: Gama 1×1 Flamengo 1999

    Hoje é dia do goleiro no Brasil e tinha tantos goleiros no Flamengo para eternizar. Mas eu vou hoje de um goleiro inusitado, um xodó da torcida, atacante polivalente, muitas vezes utilizado como reserva e que um dia vestiu as luvas de goleiro. O ano é 1999 e o adversário era Gama. No 11 de setembro de 1999, o técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Pimentel, Luís Alberto, Fabão, Athirson; Jorginho, Leandro Ávila, Beto, Fábio Baiano; Rodrigo Mendes, Romário. O xodó ainda estava no banco.

    No antigo estádio Mané Garrincha, lotado e com ampla maioria rubro-negra, o primeiro tempo foi equilibrado, com maior lance para o Romário, que chutou na trave. Bem no início do segundo tempo, Fábio Baiano pegou a bola na linha mediana, fez um drible de vaca, acelerou, driblou mais um e chutou com efeito na gaveta. Raramente vi um gol tão colocado na gaveta, indefensável para qualquer goleiro, do mais experiente ao mais novo, um golaço para alegrar a torcida rubro-negra.

    Gama chegou ao empate 15 minutos depois, três escanteios seguidos para o clube do Distrito federal, Clemer saiu mal e Gérson aproveitou para igualar no placar. Romário fez um gol anulado por um impedimento litigioso e o xodó Caio entrou em campo, sem desequilibrar. Faltando 10 minutos para o final do jogo, Clemer mais uma vez saiu mal e tocou a bola com a mão fora da área. Expulsão justa e problema para o Flamengo. Carlinhos já tinha feito as três substituições e um jogador de campo precisava então ir para o gol. Lembra o próprio Caio para Globo: “Toda véspera de jogo a gente faz aquele dois toques e eu sempre gostava de brincar no gol. Era goleiro titular do rachão. Nós já tínhamos feito as três substituições e não podia mais mexer. Eu queria ficar na linha. Estava 1 a 1, queria fazer gol e garantir meu lugar de titular no Flamengo. Os caras falavam: ‘Caio, é você, vai pro gol’ e eu fingia que não ouvia. Aí veio o Romário e ele tinha aquela coisa do ídolo. Quando ele falou que era eu, fui para o gol”.

    Caio vestiu as luvas e a camisa de goleiro, grande demais para seu 1,77 metro de altura. Gama pressionou para a vitória e Paulo Henrique chutou de longe, ameaçando a meta de Caio. Ainda Caio, agora para o Charla Podcast: “A primeira bola, o cara chuta lá do meio de campo. Foi a melhor coisa que aconteceu, porque a bola veio em cima de mim, eu só aparei ela e quando eu a peguei, o estádio começou a gritar. Falei: ‘Opa, tô grandão, agora não vai passar nada’”.

    Caio mostrou boa leitura de jogo e antecipação, saindo do gol para salvar o Flamengo, uma vez nos pés de Juary, num estilo pouco acadêmico para um goleiro, mas empolgante para a torcida rubro-negra. A segunda vez, de novo com o pé, para gritos ainda mais poderosos da Nação. O empate se aproximava e se confirmou logo depois, com sabor de vitória. Caio era o talismã, o xodó, o ídolo.

    O jogo seguinte, 4 dias depois, rendeu boas placas de torcedores no Maracanã, uma pedindo a saída de Dida na Seleção para a entrada de Caio. O estádio inteiro gritava o nome do reserva Caio, pedindo ele em campo, pedindo ele na Seleção, em campo ou no gol. Mais uma vez Caio saiu do banco, contra São Paulo, o clube que o revelou, e no seu primeiro toque na bola, fez o único gol da partida. Melhor ainda o final do ano, quando Caio fez 3 gols nos dois jogos da final da Copa Mercosul contra Palmeiras, eternizando-se mais uma vez na história do Flamengo.

  • Jogos eternos #270: Cienciano 0x3 Flamengo 2008

    Jogos eternos #270: Cienciano 0x3 Flamengo 2008

    Flamengo joga hoje contra a LDU Quito, na temida altitude do Ecuador. A lembrança do dia era evidente com a vitória 3×2 contra a mesma LDU em 2021, Gabigol decidindo o jogo nos minutos finais. Talvez era evidente demais e escolho um outro jogo. A altitude é pouca favorável ao Mengo, que em competições continentais venceu apenas 4 dos 17 jogos com mais de 2500 metros de altitude. Já eternizei a primeira vitória, um sucesso 2×1 contra o boliviano Jorge Wilstermann na sagrada Libertadores de 1981, eu vou então do segundo sucesso, agora no Peru.

    O Flamengo de 2025 se complicou a vida na Liberta com a derrota no Maraca contra Central Córdoba. Em 2008, tinha também (alta) pressão no grupo 4, liderado pelo Nacional com 9 pontos. Atrás, Cienciano e Flamengo empatados com 7 pontos. Uma vitória assegurava ao Flamengo a classificação nas oitavas, mas uma derrota obrigava cálculos perigosos e temidos. No 9 de abril de 2008, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan: Cristian, Kléberson, Toró, Ibson, Renato Augusto; Souza.

    Como muitas vezes na altitude, jogo ficou morno, difícil de jogar. Toró fez o primeiro chute do jogo, sem realmente ameaçar a meta peruana. Cienciano reagiu e Bruno fez grande defesa num chute de Bazalar, que tomava a direção da gaveta. Bruno fez outra defesaça numa cabeçada de Romaña. No intervalo, ainda 0x0, Cienciano dominava, mas Renato Augusto acreditava no Mengo: “A partida está muito complicada. A bola está correndo demais. Mas acertando uma boa tabela, o gol vai sair. Podemos vencer o Cienciano”.

    E no início do segundo tempo, o próprio Renato Augusto recebeu a bola em boas condições depois de bom trabalho de Souza na esquerda. O craque de 20 anos teve tempo de dominar e ajustar o goleiro para abrir o placar em Cusco, cidade onde joga Cienciano. Logo depois, jogo ficou mais fácil para o Flamengo com a expulsão severa do capitão peruano Juan Bazalar.

    Renato Augusto quase fez o doblete com um chute de longe, mas o goleiro Juan Flores fez linda defesa. O segundo gol rubro-negro finalmente chegou nos 15 minutos finais, Ibson roubou a bola, acelerou e abriu na direita para Toró, que teve tempo para chutar e fazer o gol. Nos acréscimos, o golaço do dia, Marcinho, com seu estilo particular cheio de ginga e dribles, achou uma falta perto da grande área. A cobrança de falta do Juan foi perfeita, teleguiada na gaveta do goleiro peruano. O juiz apitou o final do jogo, Flamengo vencia 3×0 e se classificava para as oitavas de final. Na minha França, eu sonhava mais alto do que os 3700 metros de altitude de Cusco, a queda seria ainda mais brutal e dolorosa.

  • Ídolos #44: Valido

    Ídolos #44: Valido

    Para a crônica #44, o nome de Valido é duplamente obvio. Fez 44 gols com o Manto Sagrado entre 1937 e 1944. Ídolo das massas, foi realmente em 1944 que se eternizou no Flamengo, com um gol que faz parte da Santa Trinidade dos gols decisivos contra Vasco, Valido em 1944, Rondinelli em 1978, Petkovic em 2001.

    Agustín Valido nasceu na Argentina, em Buenos Aires, no 31 de janeiro de 1914, com a vocação de ser rubro-negro. Em 1944, o Jornal do Brasil escreveu: “Agustín Valido, filho de espanhóis, nasceu em Buenos Aires em 1914. Começou a carreira num pequeno clube da Boca, bairro portenho que serviu de inspiração à realidade de uma das principais equipes da América do Sul, o Boca Juniors. Valido era boquense, mas teve lá poucas oportunidades. Foi emprestado ao Lanús, pequeno time da segunda divisão. Em 1936, veio ao Brasil com um combinado de clubes dissidentes, que se chamava Becar Varella. Veio jogar no Brasil contra clubes também dissidentes. Como não tinha salário, acabou ficando no Brasil e jogando pelo Flamengo”.

    Valido chegou ao Flamengo em 1937. Um ano antes, um ano histórico no Flamengo e no Francêsguista, o clube abriu realmente suas portas aos jogadores negros, com a vinda de Leônidas, Domingos e Fausto. O ano de 1937 abriu no Flamengo a Era do platinismo. O futebol argentino era considerado o melhor do mundo e muitos argentinos foram ao Brasil. Apenas no Flamengo, foram 15 jogadores a vestir o Manto Sagrado entre 1937 e 1945, com uma Santa Trinidade formada por Volante, González e Valido. Valido foi lançado no Flamengo por outro gringo, Dori Kruschner, num jogo contra Vasco, e já no seu segundo jogo com o Manto Sagrado, fez gol contra Botafogo, ajudando a levar a Taça da Paz, no estádio das Laranjeiras. Fez apenas um outro gol em 1937, num 3×3 contra Vasco. Valido era predestinado.

    Em 1938, fez 15 gols, destaque para um gol na vitória 5×0 contra Botafogo, doblete contra Bangu e gols fora do Rio de Janeiro, contra Cruzeiro e Santos. Porém, como foi o caso em 1936 e 1937, Flamengo perdeu o campeonato carioca para Fluminense, que assim conseguiu o tricampeonato. Flamengo tinha craques em cada linha do time, especialmente no ataque com Leônidas, González, Waldemar de Brito, Jarbas e claro, Valido. Em 1939, Flamengo estreou no campeonato carioca com uma vitória 5×1 sobre Madureira, Valido fazendo o primeiro gol rubro-negro da campanha. Valido também fez dobletes contra Flumimense, America e Bangu. No final do campeonato, America derrotou Botafogo e ofereceu o título ao Flamengo. Já de faixas de campeões, uma inovação na época, Flamengo enfrentou Vasco nas Laranjeiras. Valido abriu o placar, González fez dois, Leônidas mais um e a cidade inteira partiu para uma grande festa. Finalmente Flamengo era o campeão. “A festa que se seguiu foi enorme. A torcida enlouquecida saiu pelas ruas do Rio de Janeiro, em grande comemoração. A praia do Flamengo teve que ser interditada ao trânsito devido à multidão que invadiu as pistas. Nessa época, festa como essa só se via mesmo quando o Flamengo era campeão” escrevem Arturo Vaz, Paschoal Ambrósio Filho e Celso Júnior no livro 100 anos de bola, raça e paixão.

    Em 1940, Valido fez apenas um gol, contra Bangu, uma das suas maiores vítimas, e dobrou em 1941, ou seja, apenas dois gols, mas em dois clássicos, contra Vasco e Botafogo. Em 1942, com a consagração de mais um ídolo, Zizinho, Valido foi deslocado na ala direita e passou a fazer mais gols. Já na estreia do campeonato, mais uma vez Valido fez o primeiro gol da campanha rubro-negra. Com apenas 4 minutos de jogo, fez o primeiro gol contra Canto do Rio, vencido 6×0 com dobletes de Valido e Perácio, e gols de Zizinho e Pirillo. Porém, no primeiro turno, Flamengo foi bem mediano, com 4 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, com apenas mais um gol de Valido, de novo contra Bangu.

    No segundo turno, Flamengo descolou, Valido também. O craque argentino fez 4 gols em 9 jogos, com 8 vitórias e um empate do Mengo. Na terceira fase, Valido fez 2 gols na goleada 7×0 contra Bonsucesso e abriu o placar na penúltima rodada, uma vitória 4×0 sobre São Cristóvão. O título foi confirmado com um empate 1×1 contra Fluminense, jogo que viu a aparição da Charanga Rubro-negra. Valido ainda fez alguns jogos no início de 1943, conquistou o primeiro Torneio Relâmpago da história do futebol carioca, e fez sua última partida com o Manto Sagrado no 28 de março de 1943, uma eliminação contra Vasco no Torneio Início. Com apenas 29 anos, resolveu pendurar as chuteiras para cuidar de sua empresa de gráfica, ficando no Rio de Janeiro. Com 139 jogos e 43 gols, com os títulos do campeonato carioca de 1939 e 1942, Valido teria um bom lugar na galeria dos ídolos rubro-negros, mas não ultrapassaria seus contemporâneos González, Volante, Vevé, Perácio ou ainda Pirillo. Mas Valido voltou e se confirmou, se eternizou como ídolo do Flamengo.

    Depois da aposentadoria de Valido, Flamengo conquistou o bicampeonato carioca em 1943, outro ano histórico no Francêsguista, mas perdeu o zagueiro Domingos para o futebol paulista e o atacante Perácio por causa da guerra. A campanha do campeonato carioca de 1944 foi bem mais difícil, o título era quase perdido para o rubro-negro, que voltou pouco a pouco como candidato ao título. E no final do ano, Valido voltou na Gávea, mas não com o objetivo de jogar. Um dos contadores da história, tem muitos já que é um capítulo importantíssimo na história do Flamengo, é Roberto Sander no seu livro Anos 40: viagem à década sem Copa: “O então aposentado Valido apareceu na Gávea para visitar os ex-companheiros e pedir a Flávio Costa o campo emprestado para um jogo dos funcionários de sua gráfica. Como tinha todo crédito, o campo foi cedido. No dia da partida, Valido, na ausência de um funcionário, acabou jogando. Flávio estava por perto e ficou impressionado com o quanto ex-jogador ainda estava em forma. Fez um apelo para que ele voltasse ao Flamengo. Mesmo surpreso, Valido e cortou o desafio. Fez a sua reestréia logo num Fla-Flu, na penúltima rodada. A vitória no clássico era crucial para que o time continuasse a brigar pelo tri. Resultado: goleada de 6 a 1 para o Flamengo. Mesmo sem marcar, Valido fez uma grande partida, contribuindo, principalmente, para a inspiração de Pirilo (autor de dois gols) e Zizinho (um gol)”.

    Na última rodada, Flamengo precisava da vitória contra Vasco para conquistar o primeiro tricampeonato de sua história. Em caso de empate, teria uma final em 3 jogos. O Flamengo andava com muitos problemas, Pirillo tinha orquite, Vevê dores no meniscos e Modesto Bria um lumbago. Valido também não podia jogar, como ele mesmo explicou depois: “Passei a semana com febre. Eu estava magro, abatido, mas me obrigaram a entrar”. Assim Valido jogou, se eternizou no Flamengo. Escreve Fausto Neto no livro Flamengo, 85 anos de glória: “Historicamente, o gol de Valido contra o Vasco, na final de 44, é uma das páginas mais fascinantes da vida do Flamengo. Não apenas pelo gol, mas por tudo o que ele encerra, numa verdadeira epopeia de amor, garra e obstinação. A começar pelo drama do próprio Valido, um jogador que já encerrava a carreira. O destino, porém reservou-lhe uma etapa gloriosa e inesquecível naquela tarde de 29 de outubro. Valido entrou no time mais para colaborar, para tentar solucionar paliativamente um problema na ponta-direita. E acabou, como que guiado pelas mãos de Deus, a participar do lance decisivo do jogo. A marcar o gol histórico e mais discutido de que se tem notícia em todo o futebol brasileiro”.

    No 29 de outubro de 1944, o estádio da Gávea era superlotado desde o meio-dia. Na enquete do Jornal do Brasil, 1.522 entrevistados esperavam ver Ademir fazer o gol do título, 1.218 pensavam mais em Pirillo quando 437 loucos, românticos, sabidos, sonhavam em um gol inesperado do Valido. Mas até os 86 minutos de jogo, tinha nada gol, não de Ademir, nem de Pirillo, muitos menos de Valido, que parecia fazer apenas número, sobrevindo em campo, dando a vida para o Flamengo. E chegou a mistica do Manto Sagrado, a glória eterna de Valido. No dia seguinte, podia se ler nas colunas de Globo: “Vevé cobrara uma falta de Rubens, praticada no próprio ponteiro esquerdo rubro-negro, tendo a defesa devolvido a pelota para a esquerda. Numa disputa entre Vevé e Djalma, o atacante improvisado em half fez novo foul no extrema rubro-negro. Vevé cobrou a penalidade com habilidade e a defesa rebateu para fora da área. Vevé recolheu a pelota, controlou-a e centrou sobre a área, chegando a bola ao lugar em que se encontrava Valido. O extrema platino saltou, valendo-se de sua estatura elevada, cabeceando para baixo. Barchetta atirou-se mas nada pôde fazer. Estava conquistado o único tento da partida, o gol que deu a vitória ao Flamengo. E também o tricampeonato”.

    Testemunho de sorte e prestígio, o meia Zizinho lembrou no seu livre Mestre Ziza: “Quando a bola atingiu a rede vascaína, houve uma invasão de campo como eu nunca havia visto. Até os soldados que eram todos Flamengo, juntaram-se à torcida e o campo ficou totalmente tomado por aquela multidão que vibrava enlouquecida de alegria”. Os vascaínos reclamaram de uma falta de Valido sobre Argemiro e correram no dia seguinte aos cinemas para rever o lance, registrado pelo Jornal da Tela. O único ângulo não permitiu de colocar um fim à polêmica, exceto para o compositor flamenguista Ary Barroso: “Ele se escorou sim. E teria sido melhor ainda se estivesse impedido e feito com a mão…”.

    Para Valido, isso não importava. No final do jogo, anunciou mais uma vez, agora de forma definitiva, sua aposentadoria: “A vida já me deu tudo de bom. Me aposento aqui mesmo”. Pela conquista, os jogadores receberam mais de 3 mil cruzeiros, mas como Valido tinha feito apenas dois jogos, recebeu 387 cruzeiros. “Profissionais com alma de amadores” manchetou com precisão o Jornal dos Sports. Com sua alma rubro-negra, Valido recebeu mais que dinheiro, como explicou seu companheiro Biguá: “A glória ficou para Valido. E valeu. O gringo era boa gente, amigão, e mais: também um flamengão desses que a gente tem prazer de ouvir, de ver torcer. E o Valido ainda tinha a seu favor o sangue rubro-negro. Uma raça brasileira, quase pura, misturada àquela técnica e malícia próprias dos argentinos”.

    Valido corrigiu sua própria biografia, voltando aos campos, passando em cima dos vascaínos, oferecendo o tricampeonato, mudando a história do Flamengo. “Se o clube já era popular, com essa conquista conseguida com grande dose de heroísmo, simbolizado pela superação de Valido, passou a ser ainda mais. A partir daí, sobretudo, aumentou a mística da camisa rubro-negra de buscar as vitórias enfrentando as piores adversidades” escreveram Arturo Vaz, Paschoal Ambrósio Filho e Celso Júnior no livro 100 anos de bola, raça e paixão. Definitivamente aposentado, Valido ficou no Rio de Janeiro, onde morreu no 23 de fevereiro de 1998. Mas a data para lembrar é 29 de outubro de 1944, a ressurreição de Valido, a nova dimensão do Flamengo, heroico, dramático e tricampeão. “Para o Brasil, o tricampeonato é mais importante do que a Batalha de Stalingrado” escreveu com exatidão José Linso do Rego.

    Para fechar a crônica, deixo o testemunho do próprio Valido, ao Roberto Assaf em 1994, que volta ao gol 50 anos depois, e magistralmente concluído: “Posso relembrar a história desse gol, que me fez entrar definitivamente para a história do meu clube de duas maneiras. Na primeira, eu digo que não adianta contar a verdade, porque os vascaínos preferem a mentira. Então, eu vou dizer: trepei mesmo no Argemiro para cabecear. Na segunda, explico que não posso deixar de elogiar o cruzamento do Vevé, que veio perfeito, tanto que só tive o trabalho de meter a cabeça na bola para tirá-la do Barqueta. Mas acredite: ela veio tão forte e pesada que fiquei com a testa roxa por 15 dias. E vou dizer: eu não estava me sentindo muito bem, pelo menos para jogar, mas aqueles eram outros tempos, a gente tinha sobretudo amor à camisa é eu não ia deixar uma chance daquelas passar. Além disso, os companheiros insistiram e o Flávio Costa acabou me escalando. Naquele dia, quem me ajudou foi Deus. Mas também devo tudo isso ao presidente José Bastos Padilha, o maior que o clube teve em todos os tempos, que me contratou. Aquele gol e o tricampeonato representaram um fecho de ouro para mim, pois desde a Argentina sempre sonhei em atuar no Brasil, onde só encontrei felicidade e glórias. Depois do jogo, tive uma crise nervosa tão grande que fui obrigado a sair do Rio para me recuperar. Muita emoção. Então, resolvi dar um adeus, aí, sim, definitivo, ao futebol. Mas olha, na verdade nunca consegui me desligar completamente do Flamengo”. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #269: Flamengo 6×2 Vasco 1943

    Jogos eternos #269: Flamengo 6×2 Vasco 1943

    Flamengo vem de uma goleada contra Juventude e pode conhecer outra hoje, já que joga contra Vasco, no Maracanã. No ano passado, Vasco também mandou seu jogo contra Flamengo no Maraca e se deu mal: vitória 6×1 do Flamengo, maior goleada do rubro-negro na história do Clássico dos Milhões. Desde lá, Flamengo não perdeu contra Vasco e já são 10 jogos invictos contra o maior rival. Vamos voltar para hoje à precedente maior goleada rubro-negra em cima do Vasco, em 1943.

    Em 1943, um ano histórico no Francêsguista, Flamengo também tinha uma longa série invicta contra Vasco. Não perdia contra o cruzmaltino desde 1941, ou seja, 12 jogos invictos. Porém, eram só vitórias apertadas, a maior um 3×1 na Gávea. Outra série invicta do Mengo era no campeonato carioca de 1943. Não perdia desde uma derrota 2×1 contra America no início do primeiro turno, ou seja, também 12 jogos invictos. Flamengo também vinha de outra goleada, um 5×1 sobre Bonsucesso, com 3 gols de Pirillo, um de Zizinho, um de Perácio.

    Flamengo era ainda mais avassalador com a chegada de um jovem paraguaio, que se tornou ídolo no Flamengo e no Francêsguista, Modesto Bria. Estreou no Fla-Flu e fez outros dois jogos antes de conhecer seu primeiro Clássico dos Milhões. No 3 de outubro de 1943, o técnico Flávio Costa escalou Flamengo assim: Jurandyr; Domingos, Newton Canegal; Biguá, Modesto Bria, Jayme de Almeida; Zizinho, Jacir, Vevé, Pirillo, Perácio.

    O jogo aconteceu no General Severiano e já antes do match como se falava na época, Flamengo parecia ser o dono do jogo. Escreveu no Jornal dos Sports o imortal Mário Filho: “Diante de mim passaram os jogadores. Por onde eles passavam acordavam palmas de entusiasmo. Parecia que só havia Flamengo em General Severiano. Eu observara isso antes, quando o Vasco entrara em campo. As palmas que o Vasco recebeu não foram muitas. Bastou que o Flamengo aparecesse para que os braços se agitassem no ar”. Flamengo dominou o início do jogo, sem fazer o gol. Vasco reagiu e quem brilhou foi o também imortal zagueiro Domingos e suas eternas domingadas, como lembrou Mário Filho: “Domingos pôde realizar duas jogadas semelhantes ao dribling de Dorado em 1931, por ocasião da primeira Copa Rio Branco. Já todo o mundo se levantara: Lelé estava a cinco passos de Jurandyr, pronto para desferir o shoot. Domingos, aparentemente vencido, tomou-lhe a bola no instante do shoot e saiu andando com ela. Na segunda vez, nas mesmas circunstancias, Domingos tomou a bola de Isaías”.

    Flamengo voltou a dominar o jogo e Vasco resistiu, quase até o final do primeiro tempo. Quase. Sem vídeo do jogo, confio na crônica de Mário Filho: “Vasco resistiu bastante tempo. Enquanto teve esperanças de vencer o match o Vasco entrou mostrando certa articulação. O goal de Vevé, aos trinta e nove minutos, não o abalou. Foi um goal perfeito o de Vevé. A bola viera de Pirillo, abrindo a defesa do Vasco. Vevé dominou a bola, avançou, shootou quando tinha cem probabilidades de marcar o goal. Vevé soube prender a bola, soube dar um corte em Rubens para ficar só diante de Oncinha. E já só esperou, desequilibrando o keeper do Vasco, mandando a bola com violência para o outro canto”. O Flamengo tinha um gol de vantagem e mandava inteiramente o jogo. O segundo tempo prometia mais.

    E logo no início do segundo tempo, Perácio fez dois gols, quase matando o Vasco. “Perácio ampliou o score com um tiro de trinta metros bem no canto. Não foi frango. Oncinha atirou-se, na verdade, um pouco atrasado. Se defendesse teria feito uma intervenção milagrosa. De qualquer maneira o dois a zero no placard modificou o panorama do match. Ainda a sorte da peleja não fora decidida. Perácio se encarregou disso logo depois, com um goal inteiramente seu […] Oncinha e Rubens se chocaram, a bola apareceu de repente diante de Perácio que a mandou para o fundo das redes. Domingos atravessou o campo para abraçar Perácio. Fora-se a última esperança do Vasco. Bastou que o match recomeçasse para que se visse o Vasco inteiramente nas mãos do Flamengo”.

    Eu não resisto a vontade de continuar a citar a maravilhosa crônica de Mário Filho, ainda mais com um Vasco na agonia: “Até então o Vasco se defendera bem ou mal, se armara como um team de football. Depois se desarticulou inteiramente, ficou à mercê do Flamengo. O domínio do Flamengo tornou-se absoluto. O placard de três a zero prometia multiplicar-se. O Vasco não podia mais opor grande resistência. E aí se viu o seguinte: o Flamengo trabalhando para dar um goal a Pirillo. Perácio fizera dois goals. Só, diante de Oncinha, ele não shootou, deu a bola para Pirillo empurrar para as redes. O delírio do Flamengo chegou ao auge”. Dois minutos depois, Pirillo fez outro gol, o quinto do Mengo, e a torcida vascaína já saía do General Severiano, faltando o gol de honra se pode se chamar assim, inscrito por Chico.

    Fecho a crônica, que foi mais um trabalho de escrivão, com as palavras de Mário Filho, sobre o gol vascaíno e o final do jogo: “Ouviu-se um ó de desapontamento. A torcida do Flamengo queria o zero até o fim. O zero não ficou até o fim, mas o Flamengo foi para a frente e Zizinho, de cima da área, shootou com força no canto direito de Oncinha. Era o sexto gol do Flamengo […] O Flamengo parou mandando-se. Por isso os ataques do Vasco no fim do match não representaram uma reação. O Flamengo se deixou atacar, desinteressando-se, por assim, dizer, da partida. O goal de Lelé foi uma consequência do desinteresse do Flamengo. Com seis a dois o Flamengo só queria ouvir o apito do juiz”. O juiz finalmente apitou o final do jogo, encerrando a demonstração do Flamengo, o calvário do Vasco.

    “O único team que passara em todos os exames com distinção e louvor fora o Flamengo. Na hora de decidir o Flamengo decidiu o Flamengo decidira mesmo” ainda escreveu Mário Filho. Uma semana depois, com outra goleada sobre Bangu, Flamengo confirmava o título carioca, aprimorava a goleada em cima do Vasco. Repito, o 6×2 de 1943 foi a maior goleada rubro-negra no Clássico dos Milhões durante 81 anos.

  • Jogos eternos #268: Flamengo 8×1 Nova Cidade 1989

    Jogos eternos #268: Flamengo 8×1 Nova Cidade 1989

    Para o jogo eterno do dia, vamos falar de um jogo que aconteceu exatamente há 36 anos, com uma chuva de gols na Gávea. Na época, Flamengo já vinha de uma goleada no jogo anterior, uma vitória 4×0 no Fla-Flu e fez ainda melhor no jogo seguinte, contra Nova Cidade, no campeonato carioca. No 16 de abril de 1989, o técnico Telê Santana escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Zé Carlos II, Leonardo; Ailton, Renato Carioca, Zinho, Zico; Alcindo, Bebeto.

    No início do jogo, Renato Carioca lançou Alcindo, que dominou bem e chutou mal. Bebeto também teve boa chance, mas chutou em cima do travessão. O primeiro gol finalmente saiu aos 25 minutos, Flamengo aproveitando da fraqueza da defesa adversária. Com a precisão e habilidade do craque, com a visão e experiência do veterano, Zico fez um ótimo lançamento desde a parte do campo do Mengo, Zinho dominou e tabelou com Bebeto, driblou o goleiro e fez o gol. No final do primeiro tempo, ainda Zico no lançamento, Leonardo cabeceou para o gol fácil de Bebeto. Ainda antes do intervalo, ainda Zico no início da jogada, com um passe mágico, no espaço para outro craque, Bebeto, que fez magia no domínio e fez o doblete na sequência.

    O segundo tempo começou como terminou o primeiro tempo. Na construção, Zico, que de cabeça, abriu o caminho para Alcindo. Na conclusão, Bebeto, que pegou de forma acrobática o cruzamento e fez seu terceiro do jogo, o quarto do Mengo. Logo depois, outro gol, outra vez começou nos pés de Zico. Não é repetição, Zico armava realmente todas as jogadas e fazia a diferença com a visão de jogo e a precisão dos passes. Nosso Rei fez outro passe para abrir o caminho do gol ao Bebeto, só que essa vez Bebeto deixou de trivela para Renato Carioca, para o quinto gol do dia.

    Finalmente aconteceu um gol sem a participação de Zico, mas de novo com a defesa de Nova Cidade bem perdida, Bebeto para Alcindo, para Zinho, para o sexto gol, para a felicidade da Gávea, o que ainda mais fazia parecer um jogo-treino. Logo depois, um zagueiro perdido recuou mal a bola, Bebeto chegou antes do goleiro e provocou uma falta. Esperto, o juiz mandou o jogo seguir para Zinho recuperar a bola e servir Zico para fazer gol o fácil. Zico jogava fácil e fazia gols fáceis, mas não só, fez gol de todo jeito, em mais de 18 anos de carreira. E detalhe, aos 36 anos, com esse gol contra Nova Cidade na Gávea, Zico chegava ao 500o gol com o Manto Sagrado, em 706 jogos.

    E finalmente Nova Cidade fez um gol, Sinésio, o filho do presidente do clube, não se inventa, chutou na trave, bola quicou na perna de Leonardo e entrou no gol. No final, Zinho conseguiu um pênalti, Bebeto cobrou, mas goleiro defendeu. Bebeto se lamentou e perdeu outros dois gols até o finalzinho, quando foi lançado em condições finais, driblou o goleiro, sofreu a falta, mas esperto, se levantou rapidamente e fez o gol do placar final, 8×1. O ídolo passageiro Bebeto completava o poker-trick, fazia seu quarto gol do dia. E quem fez o lançamento primoroso? Nosso ídolo de sempre e para sempre, nosso maior ídolo, Zico.

  • Jogos eternos #267: Flamengo 3×1 Grêmio 2019

    Jogos eternos #267: Flamengo 3×1 Grêmio 2019

    Na semana passada, Arrascaeta ultrapassou Benítez para se tornar o segundo maior artilheiro estrangeiro da história do Flamengo, atrás apenas de Doval. E fez isso com um golaço de bico, um gesto técnico reservado aos craques e aos pernas-de-pau. Adoro o chute de bico, um gesto eternizado pelo Romário, imortalizado pelo Ronaldo Fenômeno na semifinal da Copa de 2002, agora perpetuado por outro craque, nosso gringo Arrascaeta. E como Flamengo joga hoje contra Grêmio, vamos lembrar de um jogo de 2019, com outro gol de bico de Arrasca.

    No meio de 2019, o Flamengo de Jorge Jesus já tinha brilhado, com maior jogo uma goleada 6×1 contra Góias, um jogo eterno no Francêsguista, já com um gol de bico de Arrascata. Mas o time de Jorge Jesus ainda não convencia plenamente. Foi eliminado da Copa do Brasil, passou no sufoco na Copa Libertadores, tomou um 0x3 na Fonte Nova contra Bahia. Uma semana depois da derrota em Bahia, precisava de uma reação, no Maraca, contra Grêmio. No 10 de agosto de 2019, Jorge Jesus escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rafinha, Thuler, Pablo Marí, Filipe Luís; Willian Arão, Cuéllar, Gerson; Arrascaeta, Berrío, Bruno Henrique.

    Início do jogo foi animado e equilibrado, com lances perigosos para cada time, mas nada de gol. Aos 29 minutos de jogo, um Arrascaeta já inspirado fez um passe reservado aos craques, inacessível aos pernas-de-pau ou mesmo aos jogadores medianos. No timing, espaço, ângulo certos, tocou levemente na bola para Willian Arão, que fuzilou o goleiro, sem chance de reação. Flamengo passou a dominar o jogo, mas nos acréscimos do primeiro tempo, o VAR, no seu primeiro ano de uso no Brasileirão, marcou um pênalti em favor do Grêmio, transformado pelo Galhardo. No intervalo, Flamengo 1×1 Grêmio.

    O Flamengo de Jorge Jesus já era avassalador e assustador, precisou de apenas 5 minutos no segundo tempo para fazer mais um gol. Na esquerda, Bruno Henrique pedalou, gingou na frente do capitão do Grêmio, um tal de Léo Moura, e cruzou, quem sabe chutou. Bola tocou e ficou viva na trave, chegou até os pés mágicos de Arrascaeta. Com reflexo de craque, dominou e sem espaço para armar o chute, só tocou calmamente de bico, sem força mas fora do alcance do goleiro gremista. Mais um golaço, mais um gol de bico, mais uma obra de arte de Arrasca.

    No seu estilo particular, Gerson quase fez um golaço com um chute de longe, mas bola morreu no travessão. Arrascaeta quase fez o doblete, mas Júlio César fez defesa milagrosa. E nos acréscimos, outro craque apareceu, Éverton Ribeiro driblou um, driblou dois, e chute fora da área, um chute certo e preciso, diretamente na rede, para a alegria dos 53.970 no Maraca. Flamengo vencia 3×1, se aproximava a 5 pontos do líder Santos, iniciava uma série de 29 jogos invictos, que só ia se terminar na última rodada do Brasileirão, justamente contra Santos, nesta hora muito distante do insuperável Flamengo de Jorge Jesus.

  • Ídolos #43: Ronaldo Angelim

    Ídolos #43: Ronaldo Angelim

    Eu gosto de combinar o número da crônica com o jogador escolhido e para o número 43, só vem um nome na mente, o eterno Petkovic. Porém, já escrevi a crônica sobre Petkovic, na crônica número 14, outra combinação com outro jogador, Arrascaeta. Então hoje vou prolongar a cobrança de Petkovic para chegar até o cabeceio, o coração, a coroação de Ronado Angelim. Flamenguista desde sempre, Ronaldo Angelim fez 17 gols com o Flamengo, mas é jogador de um gol só, aquele gol que nenhum rubro-negro se cansa de ver e rever, nem preciso falar o ano, o adversário, o gol, todo mundo tem na cabeça e nos olhos, escanteio de Pet, gol de Angelim, Flamengo campeão, hexacampeão.

    Ronaldo Simões Angelim nasceu em São Paulo, no 26 de novembro de 1975, mas com poucos dias de vida, já foi morar com a avó no Ceará. Cresceu numa família pobre e seu maior sonho era vestir a camisa do Flamengo. Nem era jogar no Flamengo, mas apenas conseguir uma camisa, já que era torcedor do Flamengo desde pequeninho e comprar uma camisa ficava carro para a mãe. Finalmente conseguiu a camisa e Ronaldo Angelim começou a trabalhar cedo, acordando às 2 da manhã para buscar água e trabalhar o dia inteiro na roça, ganhando 25 reais por semana. Durante o dia, sonhava com o Flamengo, mas, humilde de caráter, provavelmente nunca sonhou tão alto do que realizou depois.

    Ronaldo Angelim começou a se destacar como zagueiro em vários clubes do Ceara, mas quase desistiu do futebol por causa dos salários baixos. Finalmente teve aumento salarial, largou o trabalho exaustivo em poços e chegou ao Fortaleza, onde virou ídolo e ganhou o apelido de Magro de Aço, aliás um apelido foda. Conquistou 4 vezes o campeonato cearense, mas, como no Mengo, é de um gol só no Leão do Pici. Na última rodada do quadrangular final da Série B de 2004, Fortaleza precisava vencer 2×0 para subir na Série A. Faltando um gol, faltando 15 minutos para o final do jogo, num escanteio, a história já estava escrita, Ronaldo Angelim subiu, cabeceou, brocou e se eternizou no Fortaleza. Em 2005, Ronaldo Angelim começou a se destacar ao nível nacional, contra o Flamengo, time de coração, fez até gol, num outro escanteio. No final do ano, Ronaldo Angelim fez parte da Seleção do Brasileirão que enfrentou o campeão, o Corinthians, no Morumbi.

    As boas atuações de Ronaldo Angelim no Fortaleza lhe abriram as portas de um clube maior e o destino quase foi Palmeiras. Estava tudo acertado com o clube paulistano até que o técnico do Flamengo, Valdir Espinosa, que tinha sido o técnico de Ronaldo Angelim no Fortaleza, pediu ao clube rubro-negro a contratação de Angelim. O zagueiro não ouviu aqueles que o avisaram sobre o time menos forte do Flamengo, sobre os salários atrasados, apenas ouviu o coração, deixou Palmeiras na mão e assinou com o Flamengo. Agora Ronaldo Angelim vestia o Manto Sagrado, no Maracanã, e nunca se arrependeu da escolha. No seu primeiro jogo, já fez gol de cabeça num cruzamento de outro ídolo do Flamengo, Renato Abreu. No quinto jogo, no seu Nordeste amado, fez mais um gol, de novo, ainda, sempre, vindo de um escanteio. Ronaldo Angelim era predestinado, a jogar no Flamengo, a virar ídolo da Nação.

    Em 2006, Ronaldo Angelim alternava entre a reserva e a titularidade, mas se firmou no clube com a Copa do Brasil. Na primeira fase, contra ASA no Nordeste, Ronaldo Angelim saiu do banco e 4 minutos depois, fez o primeiro gol do Flamengo na campanha da Copa do Brasil. Na segunda fase, agora como titular, ainda no Nordeste, fez o único gol da partida contra ABC. No jogo de ida da final contra Vasco, foi impecável para segurar a dupla Valdiram – Edílson e só faltou o jogo de volta por causa de uma suspensão. Mesmo assim, Angelim conquistava um primeiro título no Flamengo e fechava a temporada com um gol de cabeça em dois tempos, na última rodada do Brasileirão contra São Caetano.

    Ronaldo Angelim começou bem a temporada de 2007, com um gol no campeonato carioca, num 3×3 contra Botafogo. Na Copa Libertadores, não jogou na derrota 3×0 contra Defensor, talvez a história teria sido com ele na zaga. Voltou no time para o jogo de volta na final do campeonato carioca contra Botafogo, voltou como campeão. No segundo semestre, formou o que talvez ainda é minha favorita zaga do Flamengo de meus tempos, ao lado de Fábio Luciano. Ronaldo Angelim não tinha tanta força física nem velocidade, mas compensava isso com inteligência, antecipação e colocação. Quem fala isso é outro Ronaldo, o Ronaldo Fenômeno, quando foi perguntado sobre o melhor zagueiro que enfrentou. Ronaldo respondeu com lógica Paolo Maldini, mas fez questão de elogiar Ronaldo Angelim, e isso já diz tudo sobre nosso Magro de Aço.

    Em 2008, com dois gols de cabeça, a dupla Fábio Luciano – Ronaldo Angelim virou o jogo contra Vasco na semifinal da Taça Guanabara. E no final, mais uma final contra Botafogo, mais um título do Flamengo. Na temporada, Ronaldo Angelim fez outros dois gols, contra Portuguesa vindo de um escanteio, fez um gol e com a sinceridade e humildade reconheceu que fez gol com a mão, depois fez um lindo gol contra Figueirense. Disputou 57 jogos na temporada, o recorde dele em um ano no Flamengo.

    Mas o ano inesquecível é 2009 mesmo. De novo, fez um gol no início do campeonato carioca, contra Bangu, de outro escanteio. De novo jogou contra Botafogo na final, e o bicampeonato virando tri, Ronaldo Angelim jogando os 210 minutos dos dois jogos finais. Meu ídolo Fábio Luciano pendurou as chuteiras ali, Ronaldo Angelim continuou, continuou sendo meu ídolo. E a carreira de Ronaldo Angelim poderia ter sido acabada neste ano de 2009. Depois de receber uma pancada na coxa direita, Ronaldo Angelim teve uma síndrome compartimental aguda, com risco de amputação na perna. Foi operado, voltou a jogar, ainda sem fazer gol, o último vinha da segunda rodada do campeonato carioca, ainda em janeiro.

    Chegou o mês de dezembro e Ronaldo Angelim, com 34 anos recém-completados, era o cara da zaga. E Flamengo tinha a esperança do título brasileiro depois de 17 anos de espera desesperada. O Maracanã estava cheio, supercheio. O jogo claro é eterno no Francêsguista. Grêmio abriu o placar, David Braz, companheiro de um dia na zaga, empatou. E no meio do segundo tempo, chegou São Judas Tadeu, chegou o predestinado, chegou o ídolo. O lance é um dos mais vistos e revistos da história do Flamengo. No escanteio que o Pet cobrou, Ronaldo Angelim subiu, cabeceou e chegou no patamar dos imortais do Flamengo. No seu livro 20 jogos eternos do Flamengo, Marcos Eduardo Neves escreveu: “O beque entendia o significado de vestir o manto, suar sangue em prol do Flamengo. Dedicado, cumpridor de seus deveres e de suas obrigações, respeitava a instituição como ninguém. E a hora de se eternizar era aquela. Mas precisamente, naquele córner, a 20 minutos do final. Sua mulher ligara na noite anterior para avisar que algo lhe dizia que ele marcaria o gol do título”.

    Na sua primeira entrevista como imortal, Ronaldo Angelim explicou: “ Minha mulher, Ricássia, me ligou à noite, para a concentração, pouco antes de eu ir dormir e disse: ‘Rô, algo está me dizendo que você vai fazer o gol’. E tudo que ela fala acontece. Minha mulher parece vidente. Foi assim também quando fiz um gol que levou o Fortaleza à Série A, em 2004. Primeiro quero agradecer ao Valdir Espinosa, que me trouxe para o Flamengo em 2006. Nesses cinco anos, ganhei duas vezes a Taça Guanabara, uma Taça Rio, três estaduais, a Copa do Brasil de 2006 e agora o Brasileiro. Conquistei título em todo os anos. E nesse período fiz alguns gols, mas nenhum vai ser tão importante quanto este. Igual a este não vai ter nunca mais. O Pet, como sempre, bateu muito bem o escanteio. Tive a felicidade de subir e testar para o gol. Em decisão, geralmente é assim. Um jogador aparentemente não tão importante, como é o meu caso, acaba decidindo. Ainda não tinha marcado no Brasileiro, pois contra o Palmeiras deram gol olímpico para o Pet, quando a bola bateu em mim. Na realidade, nem fizemos uma partida brilhante, mas foi o suficiente para sermos campeões. Quero dedicar essa linda conquista aos meus parentes. Há muita gente torcendo por mim em Juazeiro do Norte, no Ceará. Penso muito no meu povo, na minha cidade, como deve estar a festa por lá. Estou com 34 anos, mas acho que posso jogar mais dois anos, pois minha carcaça é fininha. Confio no meu trabalho. E quero encerrar a minha carreira no Flamengo, porque sou torcedor. E quando é assim, você só sai quando o clube não te quer mais”.

    Ronaldo Angelim não encerrou a carreira no Flamengo, mas em outro clube onde é ídolo, no Fortaleza. Jogou no Flamengo até 2011, tempo de conquistar um quarto título carioca, de fazer mais 4 gols, o último contra Botafogo, num escanteio claro. Depois do 6 de dezembro de 2009, nada mais importava, Ronaldo Angelim era ídolo para sempre. Abro aqui um parêntese para falar sobre Ronaldo Fenômeno, meu primeiro ídolo no futebol. Em 2008, eu ficava doido para ver Ronaldo no clube de meu coração. Peguei a escolha dele de ir no Corinthians como uma traição pessoal. Entre meu ídolo e o clube de minha vida, escolhi o clube e passei a odiar Ronaldo Fenômeno. Ver um outro Ronaldo fazer o gol do título tão sonhado parecia o fechamento de um ciclo, o livramento de um peso na minha alma rubro-negra.

    Na crônica sobre Petkovic, escrevi que Adriano, Nosso Didico, representava o garoto flamenguista, favelado na Zona Norte de Rio de Janeiro, mas Petkovic representava para mim o sonho que eu nem podia sonhar, ser europeu e vestir o Manto Sagrado. No prolongamento de Pet e Didico, outros heróis do hexa, Ronaldo Angelim representa outro torcedor, o homem trabalhador e simples do Nordeste, humilde até nas roupas que veste. A sua simplicidade conquistava até os torcedores rivais, porque Ronaldo Angelim representa um pouco de cada nós. E mais, além do gol do hexa, deixou uma frase inesquecível: “Minha única vaidade é ver o Flamengo vencer”, uma frase que pode virar capa de livro, tatuagem, epitáfio. “Sei que a torcida gosta e tem carrinho por mim, mas ídolo é Zico” falou uma vez Ronaldo Angelim. Aí, tenho que discordar com você Angelim, você foi, você é e você será ídolo do Flamengo enquanto a terra gira, o universo existe, o Flamengo vive.

  • Jogos eternos #266: Vélez Sarsfield 0x4 Flamengo 2022

    Jogos eternos #266: Vélez Sarsfield 0x4 Flamengo 2022

    Pedro deve voltar aos gramados hoje depois de 7 meses fora por causa da grave lesão no joelho. Deve fazer uma tremenda diferença para o Flamengo, já que falamos do melhor centroavante do futebol brasileiro. E como Flamengo joga hoje na Copa Libertadores contra o time argentino de Central Córdoba, vamos de um outro jogo contra um time argentino na Copa Libertadores, com show de Pedro.

    Em 2022, Flamengo fez uma das mais perfeitas campanhas na Copa Libertadores e chegou na semifinal com 9 vitórias e apenas um empate contra Talleres, justamente o arquirrival de Central Córdoba. Na semifinal contra Vélez Sarsfield, minha chegada ao Brasil para morar na cidade mais linda do mundo se contava em dias agora e eu sonhava alto, com Rio, com Flamengo, com a vida. No 31 de agosto de 2022, o técnico Dorival Júnior escalou Flamengo assim: Santos; Rodinei, Léo Pereira, David Luiz, Filipe Luís; Thiago Maia, João Gomes, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Gabigol, Pedro.

    Como um bom jogo entre brasileiros e argentinos, o jogo começou quente e disputado, mais Gabigol não conseguiu obter o pênalti. Arrascaeta chutou para fora e Pedro nas mãos do goleiro. Vélez reagiu, Janson chutou, Santos defendeu. Com 32 minutos, Rodinei abriu na direita para Léo Pereira, colocado numa posição inusitada na ala. Com ótimo cruzamento, Léo Pereira colocou a bola na grande área, a defesa argentina vacilou, Pedro chegou, esticou a perna, abriu o placar.

    Dois minutos depois, Vélez quase chegou ao empate, mas a cobrança de falta de Orellano morreu na trave de Santos. A sorte era do Mengo. O Pedro, talvez é a diferença com outros centroavantes fortes fisicamente, não é só força, também é técnica, é inteligência, é habilidade. No final do primeiro tempo, Pedro recebeu de Arrascaeta, fintou, girou, cruzou, infelizmente Éverton Ribeiro chutou fraco e não conseguiu o gol.

    Nos acréscimos, o golaço do dia. Ainda Pedro no início da joagada, recebendo na esquerda, fixando dois zagueiros. Com inteligência e calma, esperou e voltou no meio para Éverton Ribeiro, que (quase) dominou mal e só teve tempo de deixar de bico para Arrascaeta. Depois, é só um toque na bola, Arrasca, no ar, na direita para Gabigol, com sutileza, um toque na grande área para Éverton Ribeiro, que (quase) chutou mal, bola enganou o goleiro, tocou na trave, morreu na rede. O talento era do Mengo. Um golaço coletivo que fazia sonhar cada torcedor rubro-negro, mesmo aquele que dormia nessa hora numa ainda distante França, mas que se aproximava do amor de sua vida.

    E o torcedor argentino já chorava na arquibancada, já sabia que pior ainda podia acontecer no segundo tempo. Com uma hora de jogo, o agora técnico Filipe Luís abriu na direita para Gabigol, que esperou um pouco para servir Pedro na profundidade. E Pedro, loiro e matador, não perdoou, antecipou a saída do goleiro e com um toque leve, fez o golaço de cobertura. Adorava a dupla Pedro – Gabigol em 2022, com a chegada de Dorival Júnior no banco, Pedro finalmente assumia a titularidade que tanto merecia, depois de dois anos no banco, sem nunca reclamar. Assumiu e não decepcionou.

    Gabigol perdeu 3 gols consecutivos, cada jogada ficava mais fácil do que a precedente, a última até sem goleiro, mas a bola fugia do gol, o gol fugia do Gabigol. O predestinado ainda teve duas outras oportunidades, ainda sem fazer o gol. O artilheiro do dia, o nosso artilheiro até agora, era o Pedro. O passe de Vidal era para Gabigol, mas bola foi desviada por um zagueiro até os pés de Pedro, que abriu o pé, brocou e completou o hat-trick. Com 11 gols, Pedro ainda igualava Zico e Gabigol como os maiores artilheiros do Flamengo em uma edição da Copa Libertadores. Uma Santa Trinidade de artilheiros e o Flamengo, com vitória 4×0 na Argentina, estava quase na final da Copa Libertadores. E no dia seguinte, vendo o placar e os gols, eu acordava na França com brilho nos olhos, com sonhos ainda mais altos.

  • Jogos eternos #265: Flamengo 2×1 Vitória 2002

    Jogos eternos #265: Flamengo 2×1 Vitória 2002

    No início do campeonato carioca, escrevi sobre um jogo contra America em 2000, com show de Athirson. Para o ainda início do Brasileirão, antes do jogo contra Vitória, vou de um outro jogo com show de Athirson, e pela primeira vez no blog de um jogo de 2002, na Copa dos Campeões.

    Flamengo venceu a Copa dos Campeões 2001, com dois jogos eternos na final, já eternizados no blog, uma vitória 5×3 na ida e uma derrota 2×3 na volta, com título no Maceió, terra de Zagallo. Flamengo voltou então para a Copa dos Campeões 2002, a última edição do torneio, que tinha como participantes os times com a melhor colocação de torneios como o Torneio Rio-São Paulo, a Copa Sul-Minas, a Copa do Nordeste, a Copa Centro-Oeste e a Copa Norte. Assim, o nome de Copa dos Campeões fazia sentido, mas o torneio sumiu com a reforma do calendário brasileiro e o início do Brasileirão de pontos corridos.

    Apesar de ser um torneio nacional, a Copa dos Campeões de 2002 se jogava apenas em cidades do Nordeste. No seu grupo, entre o Albertão de Teresina e o Castelão de Fortaleza, Flamengo foi bem, com 3 vitorias em 3 jogos. Nas quartas de final, enfrentou um time nordestino, Vitória, ainda no Castelão, com jogo único. No 17 de julho de 2002, o técnico Lula Pereira escalou Flamengo assim: Júlio César; Alessandro, Fernando, Váldson, Athirson; Jorginho, Felipe Melo, André Gomes, Juninho Paulista; Hugo, Liédson. Do lado do Vitória, o técnico era bem conhecido no Mengo, o Joel Santana.

    No Castelão, o primeiro lance de perigo foi para Vitória e o craque colombiano Víctor Aristizábal, que chutou para fora. Flamengo reagiu com Juninho Paulista, que também chutou para fora. No final do primeiro tempo, Athirson solicitou a tabelinha com Juninho Paulista e deixou para Liédson, que venceu o goleiro. No seu quarto jogo como o Manto Sagrado, Liédson finalmente balançava as redes e colocava Flamengo em vantagem.

    No segundo tempo, Liédson quase fez a assistência com um lindo toque de calcanhar, mas Jean defendeu o chute de Juninho Paulista. Numa cobrança de falta, Fernando cruzou, ninguém tocou e bola morreu na rede de Júlio César, Vitória chegando ao empate.

    Faltando um minuto para o final do tempo regulamentar, Athirson se livrou de um adversário e soltou a bomba de 30 metros de distância, um míssil teleguiado na gaveta do goleiro. Era o gol da classificação, já que no finalzinho, Jorginho salvou uma bola em cima da linha. De volta ao Flamengo após uma passagem bem discreta na Juventus, Athirson voltava a fazer o que sabia, jogar de terno, fazendo seus golaços. Na entrevista pós-jogo, o lateral-esquerdo até elegeu esse gol como o mais bonito de sua carreira. Eu tenho minha dúvida, já que Athirson fez 37 gols com o Manto Sagrado, inclusive vários golaços de falta ou de chutes de longe. Agora minha certeza é que Athirson foi craque e ídolo do Flamengo.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”