Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Times históricos #34: Flamengo 1994

    Times históricos #34: Flamengo 1994

    No livro 100 anos de bola, raça e paixão, o trio Arturo Vaz – Celso Júnior e Paschoal Ambrósio Filho escreveu: “O ano de 1994 poderia até ser apagado do calendário flamenguista que ninguém sentiria falta”. Bem, teve alguns jogos de destaque, ainda que poucos. Prova disso, se podemos chamar assim, em agora mais de 280 crônicas no meu blog, desde 1974 e a consagração de Zico, além do maior acesso às imagens dos jogos, o ano 1994 é o único que ainda não teve jogos eternizados no Francêsguista. Teve algumas temporadas ruins, o biênio 1988-1989, ou 2002, 2003, 2005, 2012, 2014 no século XXI, mas teve ao menos um jogo já eternizado aqui. Em 1994, nenhum, porém terá no futuro, já que a temporada não foi só frustração.

    A frustração de 1994 começou antes da temporada, com a perda dos craques da base, Djalminha, Marcelinho Carioca e Júnior Baiano. Ainda perdeu Piá e Luís Antônio, outros jogadores criados em casa. Até é normal perder alguns garotos, mas saíram baratos, com pouca compensação. Em crise financeira, Flamengo fez apenas empréstimos e chegaram jogadores como Marco Antônio Boiadeiro, Carlos Alberto Dias e Valdeir. Destaque para a contratação de Charles, campeão brasileiro com Bahia em 1988 e com boa passagem no Cruzeiro. Como já tinha o Charles Guerreiro no elenco rubro-negro, virou Charles Baiano. A dois anos do centenário, Flamengo perdeu muito com a saída de suas promessas, mas ao menos ainda tinha Sávio, a estrela da temporada. Flamengo tinha também um ídolo no banco, Júnior, definitivamente aposentado e que já tinha treinado o Mengo em 1993, voltou para ser o técnico do Flamengo.

    A temporada começou com um amistoso na Gávea, já com uma derrota, contra Grasshopers, time da Suíça. Na estreia do campeonato carioca, Flamengo fez um empate 1×1, gol de Wallace. Para seu primeiro jogo com o Manto Sagrado, contra Madureira, Charles Baiano fez seu primeiro gol, num outro empate 1×1. Flamengo finalmente venceu, contra Volta Redonda e Itaperuna, mas perdeu o primeiro clássico, 3×1 contra Vasco. O segundo clássico, contra Fluminense, também deu derrota, o hat-trick do saudoso Ézio respondendo ao doblete de Charles Baiano. E para fechar a primeira fase, outro clássico, outra vez sem vitória, agora um 1×1 contra Botafogo.

    Como era ano de Copa do Mundo, o campeonato carioca partiu para uma formulação simples e um formato reduzido. Depois da Taça Guanabara, teve um quadrangular final com os 4 gigantes do Rio. E finalmente Flamengo começou a vencer os clássicos, 3×1 contra Fluminense e Botafogo, 2×1 contra Vasco com doblete de Charles Baiano, um jogo que deve ser eternizado aqui. Flamengo estava bem, porém tinha dois poréns. Ainda tinha um segundo turno, e teve uma bonificação de pontos em relação aos jogos da Taça Guanabara. Fluminense ganhou um ponto por vencer o grupo B, Vasco dois pontos por vencer o grupo A e ter a melhor campanha. O Flamengo nenhum.

    O Flamengo x Vasco do segundo turno também está na história do Clássico dos Milhões, por um motivo quase único, as duas torcidas se uniram num mesmo canto. Na manhã do 1.o de maio de 1994, a morte do ídolo do Brasil, Ayrton Senna, foi confirmada. No Maracanã, tinha quase 80 mil e as duas torcidas cantaram juntas: “Olê, olê, olê, olá, Senna, Senna”. Um momento de arrepiar e chorar. Como não podia ser diferente, ficou no empate o tempo todo ou quase, Índio abriu o placar e no minuto seguinte, Jardel empatou. Flamengo 1×1 Vasco e uma homenagem linda para aliviar um pouco a dor.

    Mas claro, Flamengo x Vasco não era amizade. Na mesma rodada, Fluminense humilhou Botafogo 7×1 e botou fogo no campeonato, eliminando ao mesmo tempo Botafogo. Todo poderoso na federação carioca, o vice-presidente vascaíno Eurico Miranda inverteu as duas últimas rodadas, Flamengo pegou então um Fluminense embalado e Vasco enfrentou um Botafogo já eliminado.

    Flamengo perdeu o Fla-Flu 2×0 e Vasco derrotou facilmente Botafogo. Na última rodada, Flamengo venceu Botafogo 1×0, gol de Charles Baiano, artilheiro do campeonato com 14 gols em 16 jogos. O Mengão torcia para um empate no último jogo entre Vasco e Fluminense para ser campeão, porém Vasco venceu com dois gols de Jardel e conquistou o campeonato, o tricampeonato, o único da história do Vasco, marcado pelas manobras de Eurico Miranda. Um campeonato para esquecer para o Flamengo e o fim da linha para o técnico Júnior.

    O eterno técnico Carlinhos voltou e Flamengo partiu para amistosos no Brasil inteiro: no Norte (Rondônia, Amazonas), Nordeste (Piauí, Ceará), Centro-Oeste (Distrito Federal), Sudeste (Espírito Santo) e Sul (Paraná), destaque com uma vitória 1×0 sobre o Vasco no Castelão de São Luís. Depois Flamengo partiu na Ásia e voltou num lugar onde fez mais que história. Botou os ingleses na roda e atingiu o ápice da glória, o 3×0 contra Liverpool com dois gols de Nunes e atuação mágica de Zico. Treze anos depois, Zico botou o Japão no mapa do futebol, ou o futebol no mapa do Japão, e teve seu jogo de despedida com o Kashima Antlers, contra Flamengo claro. E Flamengo tinha outro camisa 10 de ouro, o Anjo Loiro da Gávea, Sávio, que fez os dois gols da vitória do Flamengo. Não estragou a festa, só a deixou mais bonita.

    Em seguida, Flamengo disputou o torneio internacional de Kualu Lumpur na Malásia. No momento em que a Seleção conquistava o Tetra, Flamengo passou em cima da seleção olímpica da Austrália e do Leeds para se classificar na final contra o Bayern de Munique. O jogo deve ser eternizado aqui, o Bayern abriu o placar com um pênalti do francês Jean-Pierre Papin aos 17 minutos. O goleiro rubro-negro ainda foi expulso no lance e estreou pela primeira vez o goleiro Fábio Noronha, de apenas 18 anos. Flamengo ainda perdeu por lesão o Charles Baiano e uma goleada podia ser temida. Mas Flamengo foi heroico, virou com mais uma grande atuação de Sávio e foi campeão. Em seguida, empatou duas vezes contra o Celtic, na Irlanda e na Escócia.

    Com a lesão de Charles Baiano, que ficou fora de todo o Brasileirão, Sávio ficou cada vez mais sozinho como destaque do time. O Flamengo decepcionou no campeonato nacional, a estreia foi até razoável, com 2 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, destaque para um 5×2 contra o Corinthians e um hat-trick de Magno. Flamengo também decepcionou na Supercopa Libertadores, perdeu logo na estreia contra Estudiantes, sem fazer gol. Entre os dois jogos contra o time argentino, o Mengo venceu 1×0 Bragantino, gol de Sávio, e 3×0 Sport, 3 gols de Sávio. O Anjo Loiro estava muito sozinho no time… E Flamengo ainda piorou no Brasileirão. Depois de uma vitória 2×0 sobre Palmeiras, com outra atuação memorável de Sávio, Flamengo passou 10 jogos sem vencer, fazendo apenas 3 gols na série! Terminou o campeonato com uma vitória 2×0 contra o Corinthians e uma campanha vergonhosa: 7 vitórias, 9 empates, 9 derrotas e apenas 23 gols marcados em 25 jogos.

    A Copa Rio, uma competição da Fferj para designar o segundo representante carioca na Copa do Brasil, não era para salvar a temporada e nem salvou. Na primeira fase, Fla perdeu 1×0 contra Madureira na ida e se classificou nos pênaltis na volta, na frente de apenas 17 espectadores na Gávea, pior público da história do futebol carioca. Na semifinal, foi eliminado pelo America. Realmente, com exceção de alguns jogos eternos de Sávio, o ano de 1994 poderia até ser apagado do calendário flamenguista que ninguém sentiria falta.

  • Jogos eternos #281: Flamengo 2×1 Botafogo-PB 1999

    Jogos eternos #281: Flamengo 2×1 Botafogo-PB 1999

    Flamengo vola a jogar hoje contra o Botafogo de Paraíba depois da vitória 1×0 na ida. Em 1999, Flamengo também estreou na Copa do Brasil contra Botafogo de Paraíba e começou com um 3×3 no Nordeste, um jogo eterno no Francêsguista.

    Para o jogo de volta, no 10 de março de 1999, o técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Luís Alberto, Fabão, Athirson; Jorginho, Vagner, Beto, Iranildo; Caio, Leandro Machado. Com poucas imagens disponíveis, já vou para a abertura do placar, no final do primeiro tempo. Caio driblou um zagueiro que fez falta dura, a defesa do Botafogo parou, o juiz mandou seguir, Leandro Machado seguiu, fez o drible curto e chutou para abrir o placar.

    No início do segundo tempo, Airton cobrou uma falta que surpreendeu Clemer e foi no fundo da rede. Botafogo empatou e botou incerteza no jogo mas na metade do segundo tempo, numa outra falta cobrada por Iranildo, Rodrigo Mendes, que tinha entrado no lugar de Caio, cabeceou e deu a vitória ao Mengo. Sem mais para hoje, o Flamengo estava classificado para a próxima fase da Copa do Brasil.

  • Jogos eternos #280: Flamengo 2×1 Botafogo 2008

    Jogos eternos #280: Flamengo 2×1 Botafogo 2008

    Flamengo e Botafogo partem hoje para mais um Clássico da Rivalidade com desejo de vingança para ambos os times. Flamengo perdeu os dois clássicos contra Botafogo no Brasileirão de 2024, mas conquistou a Supercopa do Brasil de 2025 em cima do rival. Antes do jogo, volto para um dos períodos mais acirrados da rivalidade, quando Flamengo conquistou o tricampeonato carioca 2007-2008-2009. Já eternizei aqui as finais de 2007 e 2008, a lógica queria que eu fizesse o jogo de 2009, mas eu vou entre os dois jogos citados, com a final da Taça Guanabara de 2008.

    Na Taça Guanabara de 2008, Flamengo e Botafogo ambos terminaram no primeiro lugar do grupo deles, Flamengo eliminou Vasco na semifinal, Botafogo derrotou Fluminense e a final oferecia uma revanche do campeonato carioca 2007, conquistado pelo Flamengo depois de 2×2 na ida, outro 2×2 na volta. Agora a final da Taça Guanabara de 2008 tinha o charme do jogo único. No 24 de fevereiro de 2008, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan; Jaílton, Cristian, Toró, Ibson; Marcinho, Souza.

    O Maracanã estava cheio, com 78.830 almas. Flamengo entrou em primeiro e a Nação deu um show de arquibancada. Era impossível não se emocionar, ainda menos para um garoto de 15 anos na França, eu mesmo, que ainda descobria o Flamengo. Dez dias antes, meu (então) ídolo Ronaldo tinha rompido mais uma vez o tendão patelar e eu desisti por um bom momento do futebol europeu. Agora minha paixão era só Flamengo e a torcida rubro-negra me maravilhava cada vez mais.

    O início do jogo foi equilibrado, mas foi Botafogo que abriu o placar, com um golaço de Wellington Paulista. No intervalo, o Papai Joel mexeu, entraram em jogo Kléberson e Obina, meu primeiro ídolo no Flamengo. Obina teve duas chances de gol, sem fazer. Com hora de jogo, num falta cobrada pelo Juan, o juiz marcou um pênalti, Ferrero agarrando Fábio Luciano. O time botafoguense parou o jogo por 5 minutos, reclamou, ainda sem lágrimas no momento. Para mim, clubismo a parte, foi pênalti, Ferrero impedindo Fábio Luciano de pular. Com calma e tranquilidade, Ibson fez o gol e fez chover no Maracanã e nas casas botafoguenses. Incomodados, os botafoguenses partiram para briga e o juiz expulsou o flamenguista Souza e o botafoguense Zé Carlos.

    Flamengo quase virou, Juan venceu o goleiro, mas Edson salvou em cima da linha. Logo depois, Lúcio Flávio fez falta por trás e levou o segundo cartão amarelo. Para mim, para os outros rubro-negros e até os espectadores neutros, a expulsão foi lógica, mas os torcedores do Botafogo viram a possibilidade de construir uma narrativa. Com um jogador a mais e sete minutos para o final do jogo, sentindo que a vitória podia chegar, Joel Santana sacou o meia Toró para a entrada de Diego Tardelli, que fazia apenas seu quinto jogo com o Flamengo.

    Numa saída de bola limpa do Flamengo, já nos acréscimos, Diego Tardelli pediu a bola na esquerda, ainda na parte do campo do Flamengo. Ronaldo Angelim preferiu abrir longe na direita para Kléberson, que tocou para Léo Moura. O lateral-direito fez a finta de chute, o drible curto no meio, e abriu na esquerda para a chegada em velocidade de Diego Tardelli. O resto é história, o lance está gravado na memória de qualquer torcedor rubro-negro que viu e viveu essa época do futebol carioca ainda raiz. Diego Tardelli dominou de sola, abriu o pé, chutou com efeito. A curva é impressionante, é linda, vem beijar a rede, matar de raiva ou de choro o botafoguense. Gol de Tardelli, gol do Flamengo, um dos mais marcantes da história do Clássico da Rivalidade, talvez só perdendo para o gol de falta de Júnior em 1992.

    Ainda não era o gol do título, Botafogo partiu com tudo para o empate, até com goleiro na grande área flamenguista. Numa última cobrança de falta, Edson tocou de cabeça, na trave de Bruno. A sorte era do Flamengo, a festa e a taça também. Flamengo chegava a um 15.o jogo consecutivo sem perder contra Botafogo, um recorde até hoje, quando o Botafogo, mesmo na época de Garrincha ou Jairzinho, nunca ultrapassou os 9 jogos consecutivos sem perder.

    Flamengo estava já classificado para a final do campeonato carioca, também vencida contra Botafogo, que por sua vez só tinha o chororô. A festa foi linda, a desolação dos botafoguenses ainda mais. Na coletiva pós-jogo, o time do Botafogo apareceu, muitos dos jogadores com lágrimas no rosto, para reclamar do juiz, falando que não queria jogar mais. Uma cena ao mesmo tempo bizarra, patética e engraçada. O presidente até anunciou seu licenciamento, que não se concretizou. O que se concretizou é a zoação dos rubro-negros, o canto eterno dos flamenguistas, o chororô também eterno dos botafoguenses. Chora o presidente, chora o time inteiro, chora o torcedor, o Flamengo é o maior do Rio.

  • Jogos eternos #279: Flamengo 3×1 Internacional 1993

    Jogos eternos #279: Flamengo 3×1 Internacional 1993

    Flamengo está numa péssima situação na Copa Libertadores, com apenas 5 pontos em 4 jogos. Será eliminado em caso de derrota, o empate significa também quase uma eliminação e até uma vitória magra não é suficiente. Para trazer sorte, eu podia lembrar o ano passado, quando Flamengo também estava em dificuldade e venceu os dois últimos jogos no Maracanã, contra Bolívar e Millonarios, para se classificar. Quase escrevi sobre a goleada 4×0 contra Bolívar, por coincidência há exatamente um ano, também dia da morte do Apolinho Rodrigues.

    E finalmente vou de um jogo de 1993, narrado por outro grande jornalista, que morreu um dia depois do Apolinho, o eterno Silvio Luiz. Em 1993, Flamengo também começou mal seu grupo de Copa Libertadores, com uma vitória, um empate e duas derrotas em 4 jogos. Flamengo tinha ainda dois jogos no Maracanã e não podia perder mais. Eram tempos conturbados, o também eterno técnico Carlinhos saiu e Jair Pereira, campeão da Copa do Brasil de 1990 voltou no Flamengo, estreando contra o Internacional. No 10 de março de 1993, o técnico Jair Pereira escalou Flamengo assim: Gilmar; Charles Guerreiro, Júnior Baiano, Wilson Gottardo, Piá; Uidemar, Júnior, Marquinhos, Nélio; Paulo Nunes, Nílson. Outro estreante era o próprio Manto Sagrado, com o lançamento da nova camisa do Flamengo, uma camisa brilhante, para mim uma das mais fodas da história do Mengo.

    Com resultados ruins, o Maracanã tinha a arquibancada quase vazia, mas, diferentemente de hoje, era o Maraca raiz, antigo, ainda com a geral, que vibrava Flamengo. Com apenas 3 minutos de jogo, Júnior Baiano abriu longe para Nélio, que dominou de peito e deixou para Júnior. Na última temporada de sua brilhante carreira, Júnior revivia momentaneamente seus tempos de lateral esquerdo e cruzou de primeira, para a chegada de Marquinhos, que abriu o placar e partiu para uma comemoração ao menos bizarra ao lado de dois outros garotos da base, Júnior Baiano e Paulo Nunes. “Foi fundamental marcarmos aquele gol cedo. O propósito deles era jogar bem fechados. Mas, depois disto, eles tiveram que se lançar à frente e nós pudemos criar novas chances para definirmos a vitória” explicou em 2019 Marquinhos para Lance!.

    Flamengo continuou a dominar e o goleiro colorado, o paraguaio Gato Fernández, pai do também goleiro Gatito Fernández, fez duas defesas em cima de Marquinhos e Nílson. Aos 20 minutos, Nílson dominou de peito e deixou para o camisa 20, Paulo Nunes, 21 anos, que chutou sem chance para Fernández e partiu para outra comemoração memorável, agora uma pequena dança. No segundo tempo, o goleiro colorado impediu outro gol de Marquinhos e fez defesaça num chute potente de Nélio. O Internacional finalmente reagiu, sem fazer gol.

    Para sua volta ao Flamengo, o técnico Jair Pereira brilhou nas substituições, colocando em jogo Gaúcho e Marcelinho. Aos 32 minutos do segundo tempo, Júnior esticou a perna para ganhar a bola, Gaúcho lançou na profundidade Marcelinho no limite do impedimento. O camisa 23 de 21 anos venceu no cara a cara o Gato Fernández. O Flamengo vencia 3×0, o goleiro rubro-negro Gilmar falhou na saída da bola, o Inter quase fez o gol, mas Piá salvou em cima da linha. Numa outra falha de Gilmar, o Internacional finalmente marcou, com um chute de Jairo Lenzi.

    Flamengo venceu 3×1, ainda venceu no Maraca na última rodada contra o Atlético Nacional e três times empataram no primeiro lugar com 7 pontos. Mas como 3 times de cada dos 5 grupos se classificavam nas oitavas de final, não teve conversa, o Flamengo passava na próxima fase da Copa Libertadores.

  • Jogos eternos #278: Flamengo 5×0 Bonsucesso 1979

    Jogos eternos #278: Flamengo 5×0 Bonsucesso 1979

    Há pouco tempo, escrevi sobre o 2×2 contra Botafogo de 1979, que consagrou Flamengo como o primeiro campeão carioca invicto da Era Maracanã. O torneio tinha os 6 melhores times do campeonato carioca de 1978 e os 4 melhores do campeonato fluminense, que se reuniram em 1979. A Confederação Brasileira de Desportos julgou o critério injusto e obrigou a FERJ a organizar um novo campeonato carioca, ainda em 1979, agora com 18 clubes.

    O que virou depois o campeonato carioca Especial tinha acabado com um 2×2 contra Botafogo, com 2 gols do artilheiro Zico, com Flamengo campeão invicto. Depois, Flamengo jogou quatro amistosos entre o Distrito Federal, Rio Grande do Norte e Bahia, e ainda era invicto, agora eram 48 jogos consecutivos sem perder. O novo campeonato carioca, e a promessa do tri, começaram ainda em 1979, contra Bonsucesso. No 13 de maio de 1979, dia da Lei Áurea, o técnico Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Tita, Reinaldo, Cláudio Adão.

    O Flamengo era o franco favorito contra Bonsucesso e precisou de apenas 12 minutos para abrir o placar. Cláudio Adão abriu na direita para Reinaldo, que cruzou, Zico chegou, bateu de primeira, fez a alegria da geral. Artilheiro do campeonato carioca especial de 1979 com os números absurdos de 26 gols em 17 jogos, Zico já abria sua conta e mirava um quarto título consecutivo de artilheiro, que se concretizou meses depois, quase com a mesma média, 34 gols em 26 jogos.

    Flamengo dominava o jogo de forma absoluta, mas esperou o segundo tempo para fazer o segundo gol. Reinaldo cobrou o escanteio, o Deus da Raça Rondinelli chegou, cabeceou, não no gol, mas de forma inteligente para a segunda trave, para a cabeçada de Zico, para o segundo gol de Nosso Rei. Claro, Zico não era só artilheiro, era também o cérebro do time, o maestro, o criador das jogadas. Na metade do segundo tempo, Zico recebeu na entrada da grande área, e sem pensar, deixou de calcanhar para a chegada de Adílio, que dominou de pé esquerdo, deixou de trivela com o pé direito, para o chute de Cláudio Adão, para o terceiro gol do Mengo.

    No final do jogo, outra jogada rápida, típica do Flamengo de Coutinho. Tabelinha entre Adílio e Zico, de um toque para Cláudio Adão, para outra tabelinha com Zico, e dupla tabelinha para Cláudio Adão, que chutou, bola foi bloqueada por um zagueiro, mas Flamengo, além de ser um time de talento, era um time de sorte, bola sobrou até os pés de Adílio, que fez o gol fácil. “O Flamengo de Cláudio Coutinho é uma equipe forte na defesa e no ataque, genial no meio campo. Um time que dosa momentos de irresistível velocidade com outros de toques de bola da melhor qualidade. Um time que joga pelos flancos ou pelo meio, dependendo onde estejam os melhores espaços” escreveu no dia seguinte o Jornal dos Sports.

    E no finalzinho, outro escanteio de Reinaldo, o jovem Tita chegou e fez o gol para decretar o placar: 5×0 para Flamengo. “Continua o Flamengo dando cartas de mão no futebol carioca. Mostrando o que deve e precisa ser feito em outros clubes. Principalmente, repetimos, a aceitação de que futebol não é só para homens, como se costuma dizer, há muito tempo. Hoje, futebol é coisa de craques. Como a galera gosta” ainda escreveu o Jornal dos Sports.

    Flamengo completou o tricampeonato carioca, infelizmente com uma derrota contra Botafogo que impediu o rubro-negro de ultrapassar o próprio Botafogo, empatando o recorde com 52 jogos consecutivos. A dominação ficou no momento apenas regional, infelizmente Flamengo foi goleado contra Palmeiras no Maracanã e perdeu a oportunidade de conquistar seu primeiro Brasileirão que parecia já certo. Assim, o time de 1979, histórico no Francêsguista, ficou atrás do time de 1981, mas já tinha a forma de jogar, de toques rápidos, de craques inspirados, de gols bonitos. E tinha o maior craque, Zico, na sua maior forma de artilheiro, com 81 gols na temporada. Assim, fecho a crônica com a observação do Jornal dos Sports sobre a atuação de Zico contra Bonsucesso: “No momento é o jogador que desequilibra qualquer partida. Normalmente, será sempre o melhor dos jogos do Flamengo. Então, nós aqui do JS pedimos licença ao seu Antunes e a dona Tidinha para colocar Zico fora de julgamento. A partir de agora, para nós ele é hors-concours”.

  • Jogos eternos #277: Flamengo 2×1 Bahia 2013

    Jogos eternos #277: Flamengo 2×1 Bahia 2013

    Flamengo perdeu a invencibilidade no Brasileirão de 2025, com lei do ex aplicada pelo Gabigol. Precisa agora de uma reação em casa contra Bahia. Vou para a lembrança do dia de um jogo de 2013. Flamengo também vinha de uma derrota, e a ameaça da lei do ex também vinha do banco de reservas, com a dupla Souza – Obina, uma dupla que me fez sonhar nos meus inícios de torcedor assíduo e apaixonado do Flamengo.

    No 16 de outubro de 2013, o técnico Jayme de Almeida escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Wallace, Chicão, João Paulo; Amaral, Elias, Carlos Eduardo; Paulinho, André Santos, Hernane. Um time bem diferente dos dias de hoje, mas tinha o ídolo antigo Léo Moura, Elias que fazia uma temporada excepcional além do artilheiro Hernane. Também tinha Paulinho, que eu adorava pela ginga e pelos dribles.

    O jogo também marcou a estreia do terceiro Manto do Flamengo, uma camisa linda e preta, com alguns detalhes vermelhos, homenageando lugares da cidade do Rio de Janeiro, como o Pão de Açúcar, o Corcovado e a Lagoa Rodrigo de Freitas. O terceiro Manto nem sempre trouxe sorte ao Flamengo, mas essa camisa merecia estreia de galã de tanta beleza.

    No Maracanã, com menos de 10 mil pagantes, primeiro lance de perigo foi para Flamengo e Paulinho, que dominou com o bico e chutou na sequência, sem vencer Fernando Lomba, um garoto do Ninho. O goleiro do Flamengo, Felipe, também fez boa defesa num chute de William Barbio. Elias, destaque da temporada, chutou duas vezes no gol, a última depois de ótimo drible de Paulinho, mas Lomba defendeu. O mesmo Paulinho, bem servido por Hernane, quase fez o gol, mas chutou em cima do travessão. No intervalo, 0x0.

    No início do segundo tempo, Elias abriu na esquerda para André Santos, que cruzou, Paulinho chegou, cabeceou, abriu o placar. Logo depois, Hernane quase fez o segundo, fintou com o pé direito, chutou com o pé esquerdo, bola tocou na trave, quicou no goleiro, tocou na outra trave, e não entrou no gol. Bahia reagiu, com o antigo rubro-negro Souza, que abriu para Fernandão, não o saudoso ídolo do Internacional, mas um atacante carioca, que até fez um jogo no Flamengo em 2008. Fez valer uma espécie de lei do ex e empatou.

    Fernandão fez o gol do empate faltando 10 minutos para o final do jogo. O empate era provável, mas Flamengo tinha um predestinado. Aos 85 minutos de jogo, Léo Moura acelerou na direita e cruzou, Marcelo Lomba chegou, mas o predestinado Hernane chegou antes, tocou na bola, no fundo da rede, para fazer o 13o gol dele no campeonato. O Maracanã, mesmo quase vazio, explodiu. No finalzinho, pressão do Bahia, Raul chutou, Felipe defendeu e o juiz apitou o final do jogo, liberou a Nação. O Flamengo, mesmo com jogadores limitados, se preparava para ser um time de coração, um time campeão.

  • Jogos eternos #276: Vélez Sarsfield 0x3 Flamengo 1997

    Jogos eternos #276: Vélez Sarsfield 0x3 Flamengo 1997

    Flamengo joga hoje na Argentina contra Central Córdoba na Copa Libertadores. O vexame na ida com a derrota no Maraca complica a vida do Mengo. A vitória agora é obrigatória. Em 1997, Flamengo também jogou um jogo de vida ou morte na Argentina, contra Vélez Sarsfield na Supercopa Libertadores.

    A Supercopa Libertadores começou em 1988 e teve sua última edição neste ano de 1997. Reunia os vencedores da Copa Libertadores e se hoje não tem necessidade com o formato atual da Copa Libertadores, gostava dessas competições continentais, com quase só clubes tradicionais. Em 1997, Flamengo começou com duas vitórias, mas se complicou a vida com uma derrota em casa (em Florianópolis) contra o Vélez, o goleiro Chilavert fazendo o único gol num pênalti no final da partida.

    Flamengo ainda perdeu contra São Paulo e empatou contra Olimpia. A vitória na Argentina era obrigatória para continuar a sonhar com a classificação, apenas o primeiro de cada grupo ia para as semifinais. No 28 de outubro de 1997, o técnico Paulo Autuori escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Juan, Luís Alberto, Gilberto; Bruno Quadros, Jorginho, Evandro, Iranildo; Sávio, Piekarski.

    E mais uma vez quem brilhou mais foi Sávio. Ídolo do Flamengo e no Francêsguista, Sávio eternizou vários jogos. Só no Francêsguista, foi o caso contra Grêmio em 1995, Coritiba, Vasco e São Paulo em 1996, Real Madrid e Valência em 1997. E Vélez Sarsfield. A expulsão do argentino Mauricio Pellegrino no meio do primeiro tempo ajudou, e pouco antes do intervalo, Gilberto cruzou, Sávio antecipou a saída de Chilavert e, esticando a perna, abriu o placar de forma acrobática.

    No segundo tempo, bem lançando na profundidade, Sávio antecipou mais uma vez a saída de Chilavert, driblou o goleiro paraguaio e fez o doblete. José Luis Chilavert foi um de meus maiores ídolos de meus primeiros tempos de apaixonado do futebol. Comecei a acompanhar o futebol com a Copa de 1998 e, além do Brasil inteiro, se destacava no meu coração Chilavert, pela atuação de sonho contra a França e a capacidade de bater faltas e pênaltis. Em 1997 e 1998, Chilavert foi eleito pela IFFHS o melhor goleiro do mundo. Mas neste dia, no estádio José Amalfitani, Sávio brilhava mais.

    E no final do jogo, mais uma vez Sávio, que aplicou um drible de vaca no zagueiro com extrema facilidade, chutou com força, obrigando Chilavert a uma defesa parcial. Sávio recuperou a bola e ia fazer o terceiro, quando foi derrubado na grande área. Pênalti. Sávio, que fazia tudo no Mengo, cobrou a penalidade máxima, pegou Chilavert no contrapé e completou o hat-trick. Flamengo vencia 3×0, mas infelizmente no dia seguinte, São Paulo goleou Olimpia e pegou a vaga classificatória. Uma pena não ter dois times classificados por grupo, porque acho que Flamengo podia brigar pelo título com jogadores diferentes, sobretudo o Anjo Loiro, o ídolo Sávio.

  • Jogos eternos #275: Cruzeiro 1×2 Flamengo 2019

    Jogos eternos #275: Cruzeiro 1×2 Flamengo 2019

    Flamengo joga hoje no Mineirão contra Cruzeiro com o possível reencontro de Gabigol com o Mengão. E com ele, a ameaça de uma das coisas que acho mais fodas do futebol brasileiro, a famosa lei do ex. Vou então para hoje para um outro Cruzeiro x Flamengo no Mineirão, com gol de Gabigol, com lei do ex.

    Em 2019, Flamengo vinha de seis vitórias consecutivas no Brasileirão, a última contra Santos, um jogo eterno no Francêsguista, para conquistar o primeiro turno. O time empolgava e no 21 de setembro de 2019, o técnico Jorge Jesus escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Arrascaeta; Vitinho, Bruno Henrique, Gabigol.

    Aos 5 minutos, o primeiro lance de perigo foi para Flamengo e o artilheiro Gabigol, mas o chute apenas flirtou com a trave. No minuto seguinte, Gerson cruzou na esquerda e essa vez o artilheiro não perdoou. Gabigol pulou, cabeceou, a bola quicou, vencendo Fábio, calando já o Mineirão. Cruzeiro reagiu e faltando 10 minutos para o final do primeiro tempo, conseguiu um pênalti. Com força, Thiago Neves fez valer a lei do ex e empatou. No intervalo, Cruzeiro 1×1 Flamengo.

    No início do segundo tempo, bem servido por Arrascaeta, Gabigol teve oportunidade de desempatar, sem fazer. Logo depois, Ezequiel cruzou, bola foi desviada pelo Filipe Luís e quase morreu na rede, mas tocou na trave. Jogo estava animado, com várias defesas de Diego Alves e Fábio, mas jogo ficava no empate. No meio do segundo tempo, Bruno Henrique abriu na direita para Willian Arão, que cruzou no chão. Com inteligência, Gabigol deixou a bola passar entre suas pernas, abrindo o espaço para Arrascaeta, que pegou de primeira e fez valer a lei do ex. Com 188 jogos e duas Copas do Brasil no currículo cruzeirense, Arrascaeta comemorou levemente mas finalmente se rendeu à empolgação dos companheiros.

    Arrascaeta quase fez um segundo golaço com uma caneta no Cacá, mas chutou em cima da trave. A lei do ex falha algumas vezes sim, o que não falhava era o Flamengo de 2019, que conseguia uma sétima vitória consecutiva, fazia história com ídolos com Gabigol e Arrasca.

  • Jogos eternos #274: Botafogo-PB 1×4 Flamengo 2003

    Jogos eternos #274: Botafogo-PB 1×4 Flamengo 2003

    Flamengo estreia hoje na Copa do Brasil contra Botafogo de Paraíba. Eu já eternizei o jogo de estreia da Copa do Brasil de 1999, um 3×3 contra Botafogo-PB no Almeidão. Eu vou então para hoje de outra estreia na Copa do Brasil, em 2003, outra vez contra Botafogo em João Pessoa.

    No 5 de fevereiro de 2003, o técnico Evaristo de Macedo escalou Flamengo assim: Júlio César; Alessandro, André Bahia, Fernando, Athirson; Felipe Melo, André Gomes, Iranildo, Felipe; Zé Carlos, Fernando Baiano. Destaque para Felipe Maestro, grande reforço rubro-negro da temporada e que fazia contra Botafogo-PB sua estreia com o Manto Sagrado.

    No Nordeste, Flamengo joga sempre quase em casa, ou ao menos com amplo apoio. No Almeidão, jogo começou com um show de Athirson, que girou, pedalou, gingou, driblou, sob os gritos de alegria da torcida. Outro craque canhoto apareceu, pela primeira vez no Flamengo, Felipe chutou, bola voltou nos pés de Fernando Baiano, em posição de impedimento mas numa época sem VAR, que assim abriu o placar.

    Em seguida, Zé Carlos fez um lindo chute que pegava a direção da gaveta, mas o goleiro defendeu. Logo depois, Zé Carlos perdeu um cara-a-cara com Everaldo. E finalmente, no final do primeiro tempo, Zé Carlos fez o gol, jogada partiu dos pés mágicos do Felipe Maestro, com um passe no timing e espaço certos. Com inteligência, Zé Carlos fez a finta de chute para tirar o goleiro da jogada e fez o gol, concretizando a primeira assistência de Felipe com o Manto Sagrado.

    No início do segundo tempo, Batistinha foi na recepção de uma falta longa e diminuiu para Botafogo. Só no final do jogo, Flamengo voltou a impor seu ritmo, Athirson cruzou com a perna direita, Zé Carlos cabeceou e fez o doblete. Na época, quem vencia de 2 gols de diferença fora de casa na ida se classificava diretamente para a próxima fase. Flamengo evitou assim um jogo no Rio de Janeiro, Zé Carlos fez o passe atrás para a chegada de Andrezinho, para o quarto gol. Flamengo conseguia a quinta vitória da temporada em 5 jogos e estreava bem na Copa do Brasil, abrindo um caminho que só ia parar na final.

  • Jogos eternos #273: Flamengo 2×2 Botafogo 1979

    Jogos eternos #273: Flamengo 2×2 Botafogo 1979

    No último jogo, Flamengo goleou o Corinthians e tomou a liderança do Brasileirão de 2025. Já campeão carioca e da Supercopa do Brasil, a expectativa é de uma grande temporada. Outro ano histórico, eternizado no Francêsguista, foi em 1979, quando o Flamengo era liderado pelo seu maior craque, Zico.

    Se o Flamengo já perdeu em 2025, o time de 1979 ainda era invito no final do mês de abril. Não perdia desde o mês de outubro de 1978 e chegava aos 43 jogos invictos, ameaçando o recorde do Botafogo, que ficou 52 jogos invictos. Flamengo chegava já como campeão a última rodada do campeonato carioca, que em sequência seria chamado de campeonato carioca especial com a criação de um outro campeonato com inclusão de mais times fluminenses. O último adversário, justamente Botafogo, podia apenas quebrar a série invicta do Flamengo, além de se vingar da derrota 3×0 sofrida no primeiro turno.

    Assim, a cidade de Rio de Janeiro partiu para um carnaval antes mesmo do apito inicial. Nas ruas cariocas, teve trio elétrico, batucada, bandeiras e tudo que era Flamengo. O Mengão podia se tornar o primeiro time da Era Maracanã a se ser campeão carioca invicto. Mesmo campeão, só a vitória interessava, ou mais precisamente, a derrota era proibida. O Maracanã ficou cheio, com 158.477 pagantes, quase todos rubro-negros. Do lado da torcida botafoguense, tinha faixa lembrando o 6×0 de 1972 em favor do Botafogo. Para os botafoguenses, restava o passado, para nós, o presente e o futuro. No 29 de abril de 1979, o técnico Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho Baiano, Nelson, Rondinelli, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Tita, Luisinho, Reinaldo.

    Flamengo dominou o início do jogo, obrigando o goleiro Luís Carlos a fazer algumas defesas. O placar ainda era 0x0 e precisava de algum jogador para fazer a diferença. Claro, Zico, o maior jogador do Brasil, nesta altura já o maior artilheiro da história do Flamengo. Em 1979, Nosso Rei já tinha feito 31 gols em 24 jogos, porém passou em branco no jogo precedente, um 1×1 no Fla-Flu. Estava com fome de gols. Aos 30 minutos, pegou a bola e como maestro do time, fez o passe para Adílio. A bola ficou indecidida e Zico, como craque de raça, sempre acreditando nas jogadas, mesmo as perdidas, chegou, pegou de primeira, sem pulo, no fundo das redes.

    Botafogo estava disposto a impedir a vitória rubro-negra, a não deixar o Mengo ser o primeiro campeão invicto da Era do Maraca. Num bom cruzamento de Clóvis, Gil cabeceou e empatou. No final do primeiro tempo, Flamengo aplicava seu jogo característico, de toques rápidos, de passes curtos e precisos, bola chegou até Zico, cercado por três botafoguenses. Teve tempo de chutar, bola foi bloqueada e teve outra indecisão na entrada da grande área. E de novo, Zico, que já sobrava na técnica, sobrou na raça também, chegou, chutou, desempatou. Depois do jogo, Zico tentou esclarecer o lance: “Eu driblei Wescley, chutei, a bola bateu na mão de Renê, espirrou, tocou na do Osmar, confusão, sobrou para mim, concluí de bico”. No Jornal do Brasil, o craque da literatura João Saldanha explicou: “No primeiro tempo, destacadamente, o Flamengo esteve superior apesar de seus gols terem saído de forma inesperada e com a marca de craque de Zico, que sabe aproveitar os detalhes, cada falha, e está sempre de olho no gol”.

    No início do segundo tempo, Luisinho aproveitou uma falha de Nelson para ir no cara-a-cara com Cantarele e empatou. Botafogo buscava a vitória, Flamengo buscava o título invicto, que finalmente chegou com multiplicação de passes do time em campo e gritos “bicampeão” da torcida na arquibancada e na geral. Flamengo era o bicampeão, brilhando com um time coletivo. Porém, uma figura sobrava no time: Zico, artilheiro do campeonato carioca pela terceira vez consecutiva, igualando o recorde de Quarentinha no final dos anos 1950. E mais, com uma média absurda, 26 gols em 17 jogos, que repetirá ainda em 1979, para o tricampeonato, a tetra-artilharia. Para fechar, deixo as palavras de Daílton Crispim no Jornal dos Sports após o 2×2 contra Botafogo: “A gente só tem uma palavra para definir Zico: MONSTRO. O que está fazendo em campo é covardia. Há muito tempo, no Brasil, um jogador não desequilibrava tanto uma partida”.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”