Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #247: Corinthians 0x3 Flamengo 1999

    Jogos eternos #247: Corinthians 0x3 Flamengo 1999

    O jogo eterno de hoje é de um lance só. Há pouco, nas vésperas da Supercopa do Brasil contra o Botafogo, escrevi sobre o 4×4 no Torneio Rio – São Paulo, uma chuva de gols com um duelo de artilheiros entre Romário e Bebeto, cada um marcou um gol. Em seguida, Flamengo venceu na competição hoje extinta o Corinthians e perdeu contra o São Paulo. Em ambos os jogos, Romário passou em branco. Mais letal que Romário, é um Romário que não marcou no jogo precedente. Dois jogos então, nem fala. Hoje é um jogo de 2 gols do Baixinho, mas de um lance só.

    Com 4 pontos em 4 jogos, Flamengo precisava de um milagre para se classificar na semifinal do Torneio Rio – São Paulo. E o adversário era poderoso, tinha sido algumas semanas antes campeão brasileiro, vencendo Cruzeiro na final, depois de um jogo desempate, com gols de Edílson e Marcelinho Carioca. Os dois craques estavam novamente em campo para enfrentar Flamengo no Pacaembu, depois de ameaçar de não jogar por falta de pagamentos do Corinthians. No 7 de fevereiro de 1999, o técnico Evaristo de Macedo escalou Flamengo assim: Clemer; Pimentel, Ronaldo, Fabão, Athirson; Jorginho, Vagner, Beto, Iranildo; Leandro Machado, Romário.

    Aos 4 minutos, Romário salvou uma bola da lateral e fez o passe atrás para Pimentel, que cruzou. De primeira, Leandro Machado voleiou no travessão, bola voltou nos pés de Beto, que mandou a bola no fundo das redes. Mas esse jogo não é um jogo de 3 gols, é um jogo de um lance só. E menos de dois minutos após o gol de Beto, o lance eterno. Romário recebeu no lado esquerdo, entrou na grande área, marcado por Amaral, que sabia do perigo, só não sabia como o evitar. Vinte anos depois, com sua resenha e humildade de costume, Amaral lembrou o lance para GloboEsporte: “Olhei para a bola, só que parecia um foguete, a bola foi pra lá e voltou. Eu fui atrás da bola e na hora que voltei, Romário já tinha passado. E eu: ‘pelo amor de Deus, não faz o gol, não faz o gol’”. O drible era desconcertante, inesquecível, mas precisava do gol para se tornar eterno. E claro, Romário fez. “Quando o goleiro saiu, qualquer bola por cima acaba entrando. Esse lance é um dos gols mais bonitos que eu fiz na minha carreira” explicou o artilheiro.

    É um dos gols que mais assisti na minha vida. Do Flamengo tem poucos gols que assisti mais, talvez só o gol de Pet contra Vasco e o gol de Gabigol no Milagre de Lima. Tem o instinto do driblador, a pureza do elástico, talvez o drible mais emblemático do futebol brasileiro. E claro, o instinto do artilheiro, a beleza no toque leve para transformar a jogada numa pintura. Também, o lance não teria sido tão emblemático sem o defensor, Amaral, que sempre levou na boa as zoações, colocou mais risadas num futebol ainda raiz, alegre e bonito. O drible foi tão foda que até pegou o grande zagueiro corintiano Gamarra, que fazia a cobertura e caiu um pouco no drible de Romário. O “gol elástico no Amaral” fica no meu top 3 de gols do Baixinho, talvez com o gol contra o Uruguai em 1993 e no 5×0 contra o Real Madrid, pela importância dos jogos. Ou seja, apesar de muitos golaços de Romário com o Manto Sagrado, alguns já eternizados aqui, contra Gama, Coritiba e o Atlético Mineiro em 1998 ou a Ponte Preta em 1999, o “gol elástico no Amaral” é meu gol favorito do Baixinho no Flamengo.

    O jogo contra o Corinthians era de um lance só, não importava o final, mesmo que Flamengo ganhou 3×0 com tranquilidade. No início do segundo tempo, Vagner acelerou no meio da defesa e achou Romário, que fintou, driblou o goleiro e mesmo num ângulo fechado, achou o caminho do gol. Em qualquer outro dia, seria um golaço, mas Romário já tinha deixado sua marca de gênio num lance anterior, eternizando o jogo com um lance só.

  • Jogos eternos #246: Flamengo 3×1 Portuguesa 2019

    Jogos eternos #246: Flamengo 3×1 Portuguesa 2019

    Flamengo volta hoje em campo contra a Portuguesa depois do título na Supercopa do Brasil contra Botafogo, com grande atuação de Bruno Henrique. Ao lado do companheiro Arrascaeta, Bruno Henrique se tornou o maior vencedor da história do Flamengo com 14 títulos, ultrapassando os 13 de Zico, Júnior e Gabigol, que começou bem sua nova história no Cruzeiro. Vamos então para hoje de um jogo eterno contra a Portuguesa, em que foi a primeira vez que o trio Arrascaeta – Bruno Henrique – Gabigol foi escalado como titular.

    Em 2019, Flamengo estava no 8o jogo da temporada contra a Portuguesa, mas Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol ainda não tinham sido escalados juntos como titulares. Os três já tinham feito ao menos um gol com o Manto Sagrado, Gabigol saindo da seca de 5 jogos sem gol no jogo precedente, contra Americano. Bruno Henrique, já na época, tinha feito 2 gols contra Botafogo, e mais um contra Cabofriense, jogo em que Arrascaeta entrou no final da partida e fez seu primeiro gol no Flamengo. E finalmente, para o jogo contra Portuguesa, tinha o trio mágico já no início do jogo. No 28 de fevereiro de 2019, o técnico Abel Braga escalou Flamengo assim: Diego Alves; Pará, Rodrigo Caio, Léo Duarte, Renê; Willian Arão, Gustavo Cuellar, Diego; Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol.

    No estádio Raulino de Oliveira, primeiro lance foi do Mengo, de Bruno Henrique que, no seu estilo particular, chutou com efeito, mas goleiro da Portuguesa defendeu. Num escanteio de Arrascaeta, Rodrigo Caio cabeceou, o goleiro mandou para escanteio, do outro lado. E quem cobrou foi Gabigol, para a cabeçada firme de Bruno Henrique, que abriu o placar aos 5 minutos de jogo. E no minuto seguinte, os mesmos protagonistas, em funções diferentes. Passe de Bruno Henrique para Gabigol, que girou, chutou cruzado, fez o gol, o segundo do Mengo em apenas 6 minutos de jogo. O início avassalador de um trio avassalador.

    No resto do primeiro tempo, Bruno Henrique e Gabigol tiveram outras chances, sem fazer o doblete. E na metade do segundo tempo, Renê abriu para Gabigol, que dominou de pé esquerdo, chutou de pé direito, fez o doblete. A dupla Bruno Henrique – Gabigol brilhou, ao contrário de Arrascaeta, que até perdeu a bola no gol marcado pela Portuguesa. Mas Mengo venceu e era assim, o início de um trio que ia conquistar muitos, muitos títulos.

  • Jogos eternos #245: Flamengo 2×1 Botafogo 1969

    Jogos eternos #245: Flamengo 2×1 Botafogo 1969

    Hoje é dia de decisão, é dia de clássico. Claro, a rivalidade entre Flamengo e Botafogo não atinge os níveis do Clássico dos Milhões ou do Fla-Flu. Porém, Botafogo acabou de conquistar o Brasileirão e a Copa Libertadores na mesma temporada, façanha reservada antes ao Santos de Pelé e o inesquecível Flamengo de 2019. Com a volta do Botafogo ao primeiro plano, a rivalidade subiu de um nível. Botafogo também brilhou nos anos 1960 e ganhou muitas vezes durante a década o Clássico da Rivalidade (até no nome, o clássico contra Botafogo é bem atrás do Clássico dos Milhões e do Fla-Flu). Até um jogo de 1969, que mudou, não só a história do clássico, mas também a história do Flamengo.

    Com Garrincha, Didi e Nílton Santos, depois com Jairzinho, Gérson e Paulo César, com Zagallo como jogador depois técnico, Botafogo conquistou o campeonato carioca em 1961, 1962, depois em 1967 e 1968. Na década de 1960, dominou o Clássico da Rivalidade com 21 vitórias, 10 empates e apenas 8 derrotas. Em 1969, não perdia contra Flamengo há 9 jogos e uma derrota no Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1967. No campeonato carioca, pior ainda para o Flamengo, que não vencia Botafogo desde 1965, com 8 jogos consecutivos sem vencer.

    O jejum incomodava como incomodava a mania dos torcedores adversários de chamar Flamengo e seus torcedores de “Urubu”. Em 1967, o cartunista Henfil usou nas páginas do Jornal dos Sports um Urubu para representar o Flamengo e sua torcida humilde, da periferia, da favela, substituindo com o Urubu o antigo mascote Popeye, um marinheiro que nunca realmente foi adotado pela torcida rubro-negra. O Urubu virou uma piada, mais uma ofensa racista, usada pelos adversários, sobretudo os botafoguenses, para designar o torcedor rubro-negro, pobre, preto, favelado. Explica Marcelo Schwob no seu livro Seleção brasileira de histórias de futebol: “Com sua imagem ligada ao povo pobre, que no país é logo associada aos negros, a torcida do Flamengo costumava ser chamada nos anos 1960 pelas torcidas adversárias como a ‘torcida do urubu’, um claro sinal de racismo admitido no meio popular. Na realidade, a imagem tinha sido potencializada pelas charges do cartunista Henfil, que deste 1967 escrevia tiras em quadrinhos no Jornal dos Sports. Para cada clube de futebol do Rio, ele criara um símbolo e o do Flamengo era o Urubu, um negro simpático e esperto com a camisa do Flamengo. Com este símbolo, Henfil procurara homenagear o clube mais popular com uma imagem do povão, mas que as torcidas adversárias trataram de explorar de maneira sarcástica em seus gritos no Maracanã”. As referências dos rivais ao Urubu eram insistentes, inconvenientes, constrangedores, incomodavam como incomodava o jejum contra Botafogo.

    Incomodava até 1969 e a ação dos flamenguistas Luiz Octávio Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade, quatro amigos brancos de Leme, bairro de classe média alta na Zona Sul, afinal a torcida do Flamengo é isso, o povo no seu sentido maior. No livro Grandes jogos do Flamengo de Roberto Assaf, explica Luiz Octávio Vaz: “Eu fazia parte de uma turma do Leme que ia a todos os jogos. Na semana daquele jogo, tivemos a ideia de ir ao depósito de lixo do Caju para apanhar um urubu. Quem sabe o bicho não daria sorte? O Flamengo não vencia o Botafogo há nove anos. A captura não foi muito fácil não. Um gari, rubro-negro, é claro, que estava de plantão por lá nos ajudou. O urubu veio num DKW, enrolado numa bandeira, bicando todo mundo. Ele dormiu na portaria do meu prédio. No domingo, fomos cedo para o Maracanã. Naquela época não havia essa paranoia de revistar todo mundo. As pessoas não levavam armas para o estádio, não havia violência entre torcidas organizadas. Entramos com o bicho dentro do bandeirão, gritando ‘Mengo! Mengo! Mengo!’, não houve problema”.

    Não era um jogo decisivo, era só um jogo qualquer do campeonato carioca, terceira rodada do segundo turno, mas era o Clássico da Rivalidade, entre Botafogo, maior time da atualidade, e Flamengo, maior time da história. Eram outros tempos do futebol e tinha no Maracanã 150 mil espectadores aproximadamente, 149.191 exatamente. No 1o de junho de 1969, o técnico Tim escalou assim Flamengo assim: Domínguez; Murilo, Guilherme, Onça, Paulo Henrique; Liminha, Rodrigues Neto; Luís Cláudio, Doval, Arílson, Dionísio. De seu lado, Botafogo tinha apenas uma derrota no campeonato, logo na estreia contra Bonsucesso, quando jogava sem seus craques Gérson e Jairzinho. Uma semana antes do jogo contra Flamengo, Botagogo goleou Bangu no placar de 6×0.

    Com Gérson, Jairzinho, Paulo César e Roberto, Botafogo tinha uma máquina. Mas Flamengo tinha um cérebro, seu técnico Tim. Já quando era jogador do Fluminense, Tim se destacava pela inteligência em campo. Como técnico, principalmente no Bangu e no Fluminense, foi considerado como um dos maiores inovadores, ganhando até o apelido de estrategista. E foi o caso no Flamengo x Botafogo, Tim colocou mais um homem na marcação de outro cérebro e estrategista, o meio-campista Gérson, que sempre lançava as flechas Jairzinho e Roberto Miranda, que fizeram os dois gols do Botafogo na vitória 2×0 na ida. Tim colocou o lateral-direito Murilo como líbero, para impedir os lançamentos precisos de Gérson.

    No Maracanã, o time do Botafogo demorou para entrar em campo. E o quarteto de Leme, depois de toda a dificuldade de capturar o urubu em Caju, suou para segurar a ave, presa numa bandeira confeccionada pela tia de Luiz Octávio. Finalmente o time botafoguense entrou em campo, e os amigos soltaram o urubu, que voou com a majestade do povo no céu do Maraca. Com bandeira do Flamengo amarrada às patas, o urubu passou na frente da torcida do Botafogo, reduzida ao silêncio, posou na frente deles, com ares de desafio. A torcida do Botafogo ficou muda e a torcida rubro-negra, a urubuzada antes menosprezada e agora orgulhosa, entendeu a simbólica e ecoou “é urubu, é urubu, é urubu”. “Ele deu um rasante apoteótico. O Maracanã delirou” continua Luiz Octávio. E Flamengo ganhou ali, com o urubu voando e a torcida delirando, o Clássico da Rivalidade, antes mesmo do apito inicial.

    O juiz Armando Marques apitou e o jogo era do Mengo. Aos 9 minutos, o craque argentino Doval saiu na direita e cruzou para Dionísio que chutou. O goleiro Ubirajara Motta defendeu de forma parcial, Arílson chegou e abriu o placar. Na metade do primeiro tempo, ainda Doval, gringo, branco, até tricolor depois, mas urubu na alma, recebeu de Rodrigues Neto, achou a gaveta, alegrou a galera, a Nação rubro-negra, a urubuzada. No segundo tempo, Jairzinho provocou um pênalti, transformado pelo Paulo César. O torcedor botafoguense voltou a acreditar, a querer mais um jogo sem derrota contra o Flamengo. Mas estava escrito desde que o Urubu voou no Maracanã, o jogo era do Mengo, a vitória era rubro-negra.

    Flamengo venceu 2×1 e triste final para o urubu de Caju, sem nome, apenas urubu, que morreu dentro do Maracanã. Talvez um final não tão triste já que se eu morrer no Maracanã, acharia um falecimento lindo. Uma veterinária do Jardim Zoológico examinou o urubu e decretou que a ave morreu de fome mesmo, de uma forma irônica já que Flamengo colocou um fim ao jejum. E mais importante, a partir deste momento, graças a quatro jovens amigos de Leme e um sacrifício animal, o Urubu agora não era mais um motivo de piada ou ofensa dos rivais, era o orgulho de uma Nação, era o símbolo do Flamengo, capaz de derrotar Botafogo e qualquer um.

  • Times históricos #32: Flamengo 1992

    Times históricos #32: Flamengo 1992

    O ano de 1992 é especial para cada torcedor rubro-negro, ainda mais para mim. Eu nasci em 1992 e precisei de apenas 12 dias de existência para conhecer a maior alegria no mundo, ser campeão com o Flamengo. Parece coisa de destino, eu era predestinado a ser rubro-negro.

    E o ano de 1992 começou para o Flamengo com uma grande notícia, Júnior, craque do campeonato carioca de 1991 e que cogitava pendurar as chuteiras, assinou por mais uma temporada, a 15a dele no Flamengo. No seu livro Minha paixão pelo futebol, o antigo Capacete, agora de cabelo grisalho, explica: “Afinal, que motivo teria para abandonar o futebol no momento em que jogava bem, fora eleito o craque regional e a torcida, em coro, pedia para ficar? Talvez, a consciência de, quase aos 38 anos, estar muito velho para jogar poderia ser uma razão. Mas nós jogadores somos vaidosos – é natural. Eu vivia uma fase ótima, talvez melhor do que a experimentada em Pescara, logo que saí do Torino. Minha motivação para treinar era inquebrantável. Até o que me preocupava, o condicionamento físico, vinha sendo contornado por competentes preparadores. O treinamento era de tal modo planejado que conseguia manter o ritmo dos mais jovens até o fim de cada jogo. Passei a me ocupar milimetricamente da alimentação e, em consequência, o rendimento melhorou”. E a ótima, decisiva notícia veio em dose dupla, com o eterno Violino Carlinhos confirmado como técnico por mais uma temporada. Ainda Júnior: “Na época da renovação, em 1991, após a conquista do Estadual, numa vitória contra o Fluminense, Carlinhos, nosso treinador, perguntou se eu ia renovar o contrato. Devolvi a pergunta: ‘E você?’ Em seguida, emendei: ‘Se você assinar por mais uma temporada, eu também assino’”.

    Além do Júnior, Flamengo tinha uma espinha dorsal de jogadores consagrados, já veteranos ou quase: Gilmar Rinaldo no gol, Wilson Gottardo na defesa, Júnior no meio e Gaúcho no ataque. Ao lado deles, tinha vários jogadores promissores, que conquistaram dois anos antes a primeira Copinha da história do Flamengo: Júnior Baiano, Piá, Marquinhos, Fabinho, Nélio, Djalminha, Marcelinho e Paulo Nunes. A expectativa era de uma grande temporada, mas o time estava um pouco atrás dos favoritos ao título brasileiro, como os paulistas São Paulo e Palmeiras, e os cariocas Vasco e Botafogo.

    Flamengo começou a temporada de 1992 na estreia do Brasileirão, 1×1 em Bahia, gol de falta de Gaúcho. De novo fora de casa, em Campinas contra Guarani, Flamengo levou o primeiro gol do jogo, marcado por um dos maiores ídolos de minha infância na França, Sonny Anderson. Flamengo empatou, de novo com Gaúcho, virou com Paulo Nunes e Zinho. Em seguida, em previsão da final, empatou 2×2 contra o Botafogo num jogaço no Maracanã. Outra coisa de destino, Júnior fez durante o jogo um golaço com um chute de fora da área diretamente na gaveta. A expectativa era de uma grande temporada.

    E Flamengo confirmou com dois grandes sucessos sobre os favoritos paulistas, Palmeiras no Parque Antártica e São Paulo no Maracanã. Porém, Flamengo sendo Flamengo, entrou numa fase ruim, não ganhou nenhum dos 6 jogos seguintes, com 2 empates e 4 derrotas, a última contra Vasco. O time cruzmaltino, que tinha uma dupla de ataque Edmundo – Bebeto, vencia até 4×0 até que um doblete de Luís Antônio nos minutos finais deixou a derrota para Flamengo um pouco menos difícil, mas o cargo de Carlinhos ficou ameaçado. Ainda Júnior: “Algumas derrotas seguidas colocaram em xeque o treinador, que conhecia os jogadores jovens como ninguém e todo o time. Carlinhos sabia como poucos a melhor maneira de guiá-los dentro e fora de campo, pois havia treinado muitos deles nos juniores. Essa alquimia tinha dado certo no ano anterior. Porém, a diretoria, aflita, pensava em trocar o técnico e chegou a conversar comigo sobre isso. Eu disse algo: ‘Estão loucos? Ele é a nossa melhor aposta’”. Era a melhor aposta e Flamengo reagiu com duas vitórias, sobre o Athletico Paranaense e o Corinthians, o último um jogo eterno no Francêsguista. Júnior fez um golaço de falta e partir desse momento, subiu ainda mais de nível. Era o Vovô-Garoto, o líder da garotada, o craque do Flamengo, ainda não do campeonato.

    Com muitos times de qualidade e a vitória de apenas 2 pontos, o campeonato era muito equilibrado, tudo podia acontecer nas rodadas finais. Depois de um empate contra a Portuguesa, Flamengo tinha 18 pontos em 17 jogos e estava no 8o lugar, o último que classificava para a segunda fase. Porém, atrás do Flamengo, tinha outros três times com 18 pontos, Fluminense também ameaçava com 17 pontos. Nada era definido, mesmo depois da vitória sobre Goiás com doblete de Gaúcho, antes criticado pela torcida. Na última rodada, um duelo entre Flamengo e Internacional, ambos os times com 20 pontos. No Maracanã cheio, Júnior abriu o placar com golaço de falta, Zinho fez o segundo, Flamengo ficou no quarto lugar, o Internacional acabou eliminado.

    Na segunda fase, dois grupos de 4 times e para Flamengo, só times de alto nível: São Paulo, Santos e Vasco. Para começar, uma vitória 1×0 sobre São Paulo, que venceria 3 dias depois a Copa Libertadores. Em seguida, uma derrota contra Santos e com apenas o primeiro do grupo sendo classificado para a final, já a obrigação de reagir. E o craque do Flamengo, Júnior, virou o craque do campeonato, dentro e fora do campo. Júnior foi o líder da garotada do Mengo, que não recebia os salários em dia. Lembra Júnior, no livro 6x Mengão de Paschoal Ambrósio Filho: “Tínhamos problemas de salários atrasados e combinamos que a galera que ganhava pouco receberia, enquanto quem ganhava mais aguardaria o final da competição. Este gesto de alguns foi o bastante para se criar um clima favorável e de fraternidade entre os jogadores”. Em campo, contra Vasco, Júnior fez outro gol de falta, num ângulo impossível que já tinha achado contra o Atlético Mineiro. Na frente de mais de cem mil no Maraca, Vasco empatou com… gol contra de Júnior. Até contra, o Maestro fazia gol. Depois dos jogos de ida, Santos tinha 4 pontos, Vasco e Flamengo 3, São Paulo 2. Tudo podia acontecer.

    Três dias depois do jogo contra Vasco, outro Clássico dos Milhões, e o ídolo e craque de sempre, Júnior. No primeiro tempo, o Maestro abriu o placar, de novo com bola parada, mas não uma falta, e sim um escanteio, o famoso gol olímpico, reservado aos craques. E no segundo tempo, mais uma jogada de mestre, domínio de peito, um doce de passe de Júnior para o segundo gol do jogo, marcado pelo Nélio. Flamengo conquistava uma grande vitória mas perdia para o jogo seguinte quatro titulares pendurados: Júnior Baiano, Wilson Gottardo, Zinho e o próprio Júnior. Sem os craques, Flamengo perdeu 2×0 contra ao São Paulo de Raí e Palhinha. Antes da última rodada, a situação era complicadíssima. Flamengo precisava vencer Santos e torcer ao mesmo tempo para uma vitória do Vasco sobre São Paulo. No 8 de julho de 1992, um dia depois do nascimento de mais um flamenguista, eu mesmo, Flamengo derrotou Santos 3×1 no Maracanã. Ao mesmo tempo, Vasco frustrava a própria torcida ao vencer São Paulo 3×0. Na tabela, São Paulo e Vasco empatados com 6 pontos, Flamengo na frente com 7 pontos, Flamengo na final.

    Flamengo estava na final, já valia os esforços, físicos para seguir em forma, de dinheiro para manter o ambiente do time. “Quando chegamos para jogar a final, já estávamos com os salários e bichos em dia, devido às vitórias anteriores, principalmente porque o Maracanã lotava em quase todos os jogos” lembrou Júnior. Porém, o favorito para a final era outro carioca, o Botafogo de Renato Gaúcho. E mais uma vez, Júnior foi líder fora do campo: “Alguns jogadores adversários passaram a falar como campeões, na semana do jogo, e deram declarações menosprezando o Flamengo, time conhecido mais do que tudo por sua imensa raça. Estavam todos, do outro lado, se achando campeões. Esse veneno foi mortal. Recortei as entrevistas dos jornais e as colei no quadro de avisos de todos os jogadores do Flamengo. Eu as deixei ali para que lessem e arrumassem dentro da alma a motivação para a primeira partida”. E Júnior líder nos vestiários, falando para os companheiros antes da final de ida: “Qual é o maior desejo de um jogador quando inicia a carreira? Não é comprar uma casa para a mãe? Então, façam de conta que nesse jogo vocês vão comprar os primeiros tijolos de uma casa que vai ficar pronta muito em breve”.

    E claro, Júnior foi líder dentro do campo. Claro, o jogo de ida é um jogo eterno no Francêsguista. No seu livro 20 jogos eternos do Flamengo, Marcos Eduardo Neves também reserva um capítulo ao jogo e exalta Júnior: “Com sua querida Copacabana a celebrar o primeiro centenário, Júnior, em 1992, cabelos grisalhos apesar da disposição de menino, apresentava um futebol também nota 100. As areias da praia mais famoso do mundo lhe renderam fôlego e musculares resistente, e assim, o veterano, como autêntico maestro, comandava uma rapaziada boa de bola no Flamengo. Mas seu filho não se dava por satisfeito. Perguntava se o pai voltaria a levantar a taça de campeão brasileiro”. Júnior inflamou o Maraca e seus mais de cem mil pagantes com dois dribles desconcertantes sobre Renato Gaúcho. E mais, abriu o placar com apenas 15 minutos de jogo. Foi um Flamengo avassalador em campo, 3 gols antes do intervalo, “é campeão” na arquibancada e na geral. “O segundo tempo, para Júnior, seria como os 45 minutos finais de Tóquio. Com os 3 a 0 de vantagem, bastava cozinhar o oponente” prossegue Marcos Eduardo Neves.

    Flamengo venceu 3×0, mais uma vez graças ao velho Maestro, como escreveu o Jornal dos Sports no dia seguinte: “O Flamengo ontem foi um time de destaques. Toda a equipe mostrou um futebol de alto nível técnico. Um nome, porém, e mais uma vez, merece destaque especial. Júnior provou sua condição de líder nato, apresentando um futebol limpo, técnico e, principalmente, vigoroso, na plenitude de seus 38 anos. Como a maioria dos jogos em que o Flamengo deu início à sua recuperação neste Campeonato Brasileiro, ele voltou a ser impecável. Quis o destino que fosse dele o gol que abriu o caminho para a memorável vitória”. O filho de Júnior, que queria tanto ver o pai ser campeão brasileiro com o Manto Sagrado, nem assistiu ao jogo de volta, preferindo ir na Disney. Com a experiência, Júnior não repetiu o erro dos jogadores do Botafogo e ficou mais medido, falando depois do jogo: “Etapa por etapa, sempre acreditei no potencial do Flamengo. Primeiro disseram que não conseguiríamos a classificação entre os oito e acabamos entrando em quarto lugar. Depois, nas semifinais, voltaram a nos desclassificar por antecipação. Chegamos, no entanto, a essa final e já conseguimos dar um grande passo para a conquista do título. Mas é muito bom deixar claro que ainda falta um pouco para o título”.

    A semana entre os dois jogos ficou marcada pelo churrasco na casa de Gaúcho com participação do botafoguense Renato Gaúcho. O clima era leve, mas nem a diretoria nem a torcida do Botafogo gostaram e Renato Gaúcho acabou suspenso pelo clube, logo depois liberado. O jogo de volta foi infelizmente marcado por uma tragédia, antes do jogo, o velho Maracanã não aguentou a pressão de mais de 122 mil pagantes, mais de 145 mil presentes, uma grade de proteção da arquibancada cedeu, dezenas de pessoas caíram e três torcedores rubro-negros de 16 a 25 anos morreram. A fim de evitar uma tragédia maior, o jogo foi mantido, sem os jogadores saber do acidente.

    O jogo de volta da final é outro jogo eterno no Francêsguista. E mais uma vez, de novo, sempre, tem a marca do Maestro Júnior. No final do primeiro tempo, Júnior abriu o placar com um golaço de falta, o quinto gol de falta dele no campeonato, que com 9 gols ao total, ultrapassava Gaúcho para se tornar o artilheiro do Flamengo no Brasileirão. “Saí desesperado para comemorar com a galera. Não sabia se pulava, socava o ar, fazia aviãozinho. Gottardo, Fabinho, Uidemar, todos atrás, para me dar um abraço. Enfim, saí fazendo tudo ao mesmo tempo, parecia um desequilibrado tamanha a alegria do momento. Até hoje, quando revejo este gol, me vem a certeza de que foi sem dúvida o mais importante da minha vida como profissional do Flamengo” lembra o Maestro. No dia seguinte, Villas-Bôas Corrêa escreveu para o Jornal dos Sports: “Só mesmo um acidente milagroso injetaria alma nova ao apático time que assistiu ao Flamengo chover e ventar, sob o comando e inspiração de Júnior no esplendor dos seus 38 anos […] O gol de falta que inaugurou o marcador aos 42 minutos do primeiro tempo teve o toque do gênio na maciez marota da curva, descrevendo no ar a trajetória oblíqua e dissimulante como os celebrados olhos de Capitu”.

    No início do segundo tempo, Júlio César fez o segundo gol do Mengo, Botafogo chegou ao empate com 2 gols nos minutos finais, mas não impediu a festa rubro-negra, que cantava o nome de seu ídolo, astro, craque, Júnior. O Vovô-Garoto conquistava ali seu quarto Brasileirão como o Flamengo, seu 18o título com o Mengão. Ainda Júnior: “Foi uma escolha difícil, mas acertada. Todo mundo dizia que seria melhor eu parar depois do título carioca de 1991. Mas resolvi acreditar e conquistei este. Valeu ou não valeu?”. Valeu Maestro, valeu mil vezes. No livro Os dez mais do Flamengo de Roberto Sander, Júnior volta a falar sobre o pentacampeonato: “Tenho um carinho muito grande por este título. Eu era o único remanescente da época de ouro vivida pelo clube de 78 até 83. Eu era, na verdade, um irmão mais velho daquela garotada. Procurava orientá-los sobre como enfrentar as dificuldades da profissão. Para mim, que terminei, inclusive, como artilheiro do time, foi indescritível. Ainda mais porque ninguém acreditava na gente, pois tinham equipes que haviam feito campanhas melhores. Só que foi criada uma alquimia muito forte com a torcida. Na fase final, tivemos uma média de 50 mil torcedores. Essa conquista foi um prêmio pelo sacrifício que fiz. Naqueles jogos decisivos, consegui jogar acima da média. Tive um plano de trabalho, feito pelos preparados físicos Marcelo Pontes e Helvécio Pessoa, que fez com que eu terminasse os jogos querendo mais. Esse foi o ponto determinante para que superássemos nossos adversários”.

    Obviamente, Júnior foi eleito melhor jogador do campeonato e na história tem pouquíssimas edições do Brasileirão tão ligadas a um jogador em particular. Júnior e o Brasileirão de 1992, o Brasileirão de 1992 e Júnior, parece a mesma coisa. Talvez só Edmundo 1997 e Alex 2003 estão neste patamar. No livro Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos, Juca Kfouri e PVC vão além: “Qualquer glória com a camisa da Seleção será ofuscada pelo brilho de Júnior com a camisa 5 do Flamengo, na campanha do Brasileirão de 1992. Dizem que Garrincha e Maradona carregaram sozinhos suas seleções para títulos mundiais, em 1962 e 1986. Pois, se Júnior não foi sozinho o responsável pelo quinto título nacional do Flamengo, até mesmo os craques que dividiram com ele aquela campanha reconhecem que o time não teria o mesmo sucesso não fosse seu maestro”.

    Mas esse Flamengo de 1992 também não era só Júnior. Era a consagração de um time campeão da Copinha em 1990, de uma das maiores gerações do Flamengo, até do futebol brasileiro. Dez jogadores campeões do Brasileirão de 1992 conquistaram a Copinha dois anos antes com os júniores. Dos 24 campeões brasileiros, apenas 7 não passaram pela base do clube. Flamengo era o primeiro clube a conquistar cinco vezes o Brasileirão, Santos e Palmeiras fizeram isso só depois, e erguia pela última vez a Taça das bolinhas, substituída pela CBF no ano seguinte. Infelizmente, o que era para ser o início de uma série, de uma dominação sobre o futebol brasileiro, até sul-americano, finalmente já foi o final de uma geração promissora, rapidamente desmentida pela diretoria, com as vendas de Júnior Baiano, Paulo Nunes, Djalminha e Marcelinho Carioca.

    No segundo semestre, sem o Maracanã, interditado por causa da tragédia na final, Flamengo estreou no campeonato carioca contra Campo Grande. Júnior precisou de apenas 2 minutos de jogo para fazer um gol e lembrar que mesmo com 38 anos, era o melhor jogador do país. Na Taça Guanabara, o 1×1 contra Vasco na última rodada ofereceu ao cruzmaltino o título. Com jogos no São Januário, Flamengo não foi bem nos clássicos, com 1 vitória, 2 empates e 3 derrotas durante o campeonato. Ao mesmo tempo, Flamengo jogava a Supercopa Libertadores, reservada aos campeões da Copa Libertadores. O Mengo eliminou Grêmio e Estudiantes, fez 3×3 na semifinal de ida contra Racing, outro jogo eterno no Francêsguista, mas foi eliminado na volta na Argentina.

    Na última rodada do campeonato carioca, Vasco já era campeão e Flamengo só podia impedir o rival de conquistar o título de maneira invicta. Edmundo abriu o placar, Marcelinho empatou com golaço de falta, mas jogo ficou assim, 1×1, Vasco campeão invicto. Como um símbolo do fim da linha, Júnior fechou a temporada sendo expulso. Era o fim de uma geração, mas não tem outra história, Flamengo 1992 é campeão, é Vovô-Garoto, e na França, o nascimento de um pequeno rubro-negro. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #244: Olaria 2×6 Flamengo 1996

    Jogos eternos #244: Olaria 2×6 Flamengo 1996

    Flamengo joga hoje contra Sampaio Corrêa, um adversário que enfrentou apenas uma vez, uma vitória 2×0 em 2024. Vou então para o jogo eterno do dia de um adversário mais tradicional do campeonato carioca, Olaria. O clube de Olaria joga hoje na segunda divisão do campeonato carioca e ficou com o vice-campeonato nos últimos 3 anos, sempre perdendo a final, faltando de pouco a volta na primeira divisão. Mas já jogou o Brasileirão, foi terceiro do campeonato carioca de 1971, foi o último clube de Garincha e o primeiro clube de Romário, ainda nas categorias da base. E como ontem foi o aniversário do Baixinho, vamos de um jogo contra Olaria, com atuação de sonho de Romário.

    O ano é 1996 e Flamengo começou bem um campeonato carioca que conquistará de maneira invicta. O Mengão ganhou os 3 primeiros jogos, Romário participou de 2 jogos e fez um gol, de pênalti contra Bangu. Neste jogo, Romário teve uma entorse no tornozelo e saiu machucado, faltando os dois jogos seguintes, no campeonato carioca e na Copa do Brasil, antes de voltar contra Olaria. No 31 de março de 1996, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Roger; Alcir, Jorge Luiz, Ronaldão, Gilberto; Márcio Costa, Mancuso, Marques, Nélio; Sávio, Romário.

    O antigo estádio da rua Bariri ficou lotado, com maioria de flamenguistas. Futebol raiz ainda, até os prédios ao lado do campo foram invadidos pelos torcedores rubro-negros. E Flamengo precisou de apenas 6 minutos para abrir o placar, com bela cobrança de falta de Jorge Luiz. Surpreendentemente, Olaria dominou o resto do primeiro tempo, sem conseguir empatar. No intervalo, teve até queima de fogos para comemorar a inauguração do novo sistema de iluminação do estádio.

    Mas a queima de fogos aconteceu de verdade no segundo tempo, com o artífice Romário. Depois de bom trabalho de Sávio e mão do zagueiro de Olaria, Flamengo conseguiu um pênalti. Bola para Romario, paradinha, bola no gol. Seis minutos depois, Nélio lançou Romário, que no seu estilo particular, chutou sem chance para o goleiro. Com mais um drible, Sávio provocou a expulsão de Bruno Lima e jogo ficou ainda mais fácil para Flamengo. O Mengão ganhou outro pênalti, com a tranquilidade do artilheiro, Romário completou o hat-trick.

    Olaria conseguiu fazer um golaço de falta com Luciano, mas no minuto seguinte, Romário, ainda no seu estilo, agora de cabeceador, Baixinho mas letal, fez o quarto dele do dia. Olaria fez o gol do 5×2 mas a palavra final foi para Romário. Depois de bom cruzamento de Gilberto, Romário acertou o voleio e finalizou a atuação de sonho. Com 5 gols num jogo só, Romário se juntava a nomes como Gustavo, Leônidas, Pirillo, Durval, Dida, Nunes e claro, Zico, para ser um dos jogadores que fizeram 5 gols num jogo com o Manto Sagrado. Romário voltaria a fazer poker, 4 gols em um jogo, por 4 oportunidades no Mengo, inclusive no jogo de volta contra Olaria, mas 5 gols, aconteceu só uma vez, no pequeno estádio da rua Bariri, com nova iluminação, para ver melhor um dos melhores craques da história do futebol.

  • Jogos eternos #243: Flamengo 4×4 Botafogo 1999

    Jogos eternos #243: Flamengo 4×4 Botafogo 1999

    A decisão da Supercopa do Brasil entre Flamengo e Botafogo se aproxima, com a expectativa de um jogaço. Também é o aniversário de um jogo eterno entre Flamengo e Botafogo, no Torneio Rio – São Paulo de 1999, com uma chuva de gols.

    O ano de 1999 do Flamengo começou com outra chuva de gols, uma vitória 5×3 no Fla-Flu num amistoso no Maracanã. Porém, na estreia do Torneio Rio – São Paulo, competição que ressurgiu nos anos 1990, Flamengo perdeu 1×0 contra São Paulo no Morumbi. Flamengo voltava ao Maraca para enfrentar Botafogo e no 28 de janeiro de 1999, o técnico Evaristo de Macedo escalou Flamengo: Clemer; Fábio Baiano, Ronaldo, Fabão, Athirson; Jorginho, Vagner, Cleisson, Iranildo; Caio, Romário.

    No pré-jogo, tinha um duelo particular, um duelo de artilheiros entre Romário e Bebeto. Dez anos depois, a traição de Bebeto indo ao Vasco ainda doía na alma o torcedor rubro-negro, que ainda não sabia, também vivia o último ano de Romário no Flamengo, e terá de ver o Baixinho voltar ao Vasco. Antes do jogo, o clima entre os dois antigos companheiros do Tetra era amistoso. “Quando jogávamos juntos, ganhamos tudo. É uma coisa de Deus, a jogada saía naturalmente, é um jogador com quem me entendi perfeitamente, é um amigo também” homenageou Bebeto. “É um dos maiores artilheiros que eu vi jogar. Foi um prazer ter jogado ao lado dele e vai ser um prazer jogar contra ele” rebateu o Baixinho. A perspectiva era de um jogaço.

    No Maracanã, Botafogo abriu o placar, com Válber ganhando a corrida e chutando em cima de Clemer. Porém, o Fogão não ficou muito tempo na frente. Quatro minutos depois do gol, Romário recebeu, dominou, chutou e empatou. “Ele não procurava a bola, a bola procurava ele. Parecia que quando ele tava, a bola chegava” homenageou seu técnico da época, também artilheiro, Evaristo de Macedo. Antes do jogo, Romário tinha prometido o “gol idade do Cristo” já que no dia seguinte, completaria 33 anos. Cumpriu a promessa, mandou a torcida botafoguense se calar, e a torcida flamenguista cantou os parabéns. Porém, no minuto seguinte, Zé Carlos recebeu de Fábio Augusto, chutou cruzado e colocou de novo Botafogo na frente. Depois de último chute de Iranildo em cima do travessão, o juiz apitou o intervalo, com o placar de 2×1 em favor de Botafogo.

    Bem no início do segundo tempo, Reidner fez falta perigosa em cima de Fábio Baiano, levou o segundo amarelo e deixou Botafogo com apenas 10 homens. E pior para Botafogo, na cobrança, a bola chegou até Athirson, que cruzou alto, errou no cruzamento, mas com um pouco de sorte, viu a bola morrer diretamente na gaveta de Wagner. Flamengo voltou ao empate para a alegria da maioria dos 44.519 torcedores no Maracanã.

    Botafogo estava com um jogador em menos mas o juiz se sentia numa fase de ajudar o Botafogo e apitou um tiro livre indireto na grande área flamenguista, considerando que Clemer fez um sobrepasso com bola, uma marcação muito severa. E na cobrança em dois tempos, Bebeto achou a gaveta de Clemer, colocou de novo Botafogo na frente. E pior para o Flamengo, o juiz não marcou um pênalti para mim evidente sobre Iranildo, marcou uma falta também clara de Ronaldo sobre Sérgio Manoel, que bateu o pênalti e fez. Faltando 7 minutos para o final do jogo, Botafogo tinha 2 gols de vantagem e a vitória era quase certa, alguns torcedores rubro-negros até deixando o estádio.

    Mas Flamengo nunca desiste, Athirson cruzou na grande área, bate-rebate, bola chegou até os pés de Fábio Baiano, que chutou no fundo das redes. Flamengo partiu com tudo, mas errou nos passes, até o minuto 44 do segundo tempo. Fábio Baiano fez o cruzamento leve na direita, Rodrigo Mendes, que entrou no decorrer do jogo, esticou a perna, antecipou a saída do goleiro e empatou. Fogo no Maraca, Fogão apagado. Depois de última chance de Romário, o juiz apitou o final do jogo, com um placar de 4×4, com gosto amargo para os dois times, Flamengo jogando com um a mais, Botafogo tendo 2 gols a mais no final. Mas no final das contas, um dia feliz para o torcedor que vivia sem saber seus últimos momentos na geral, um jogo de 8 gols, um empate entre Botafogo e Flamengo, até entre os artilheiros Bebeto e Romário com um gol para cada um, dois craques que maravilharam o Maracanã durante muitos anos.

  • Ídolos #41: Djalminha

    Ídolos #41: Djalminha

    Ontem teve a final da Copinha, uma competição que Flamengo conquistou pela primeira vez em 1990, com uma geração e alguns jogadores que marcaram o clube. Infelizmente, o time foi rapidamente desfeito e Flamengo perdeu a oportunidade de conquistar vários títulos com essa geração. Já escrevi sobre Marcelinho Carioca e Júnior Baiano na categoria de ídolos e hoje eu vou de Djalminha, capitão na conquista da Copinha. Com mais de 50 anos hoje, jogou recentemente na despedida de Adriano e no jogo de estrelas de Zico. O Mago ainda fez bruxaria com lances mágicos, que encantaram o torcedor rubro-negro e o apaixonado de futebol. Das certezas do futebol, uma é unanimidade: Djalminha é um craque, um dos jogadores mais habilidosos da história do futebol brasileiro.

    Djalma Feitosa Dias nasceu no 9 de dezembro de 1970, ano de ouro para o futebol brasileiro. Nasceu em Santos, cidade de futebol, numa família de futebolistas. O pai é Djalma Dias, ídolo de Palmeiras e Santos, e o tio é ninguém menos que o Capitão do Tri, Carlos Alberto Torres. Djalma Dias encerrou a carreira no Botafogo e Djalminha se apaixonou por um time carioca, nem o Botafogo do pai, o Fluminense do tio ou nosso Flamengo, mas o Vasco, por causa de Roberto Dinamite. Para ESPN, Djalminha falou na época da morte de Dinamite: “Hoje sou Flamengo, mas as pessoas que me conhecem desde pequenininho sabem que fui vascaíno. E por causa desse aí, Roberto Dinamite”.

    Djalminha foi vascaíno e agora é flamenguista, já faz muito tempo que é flamenguista. Ingressou as categorias da base do Mengo e jogou futsal, aprimorou uma técnica já diferenciada. Adoro futsal e Djalminha é o típico jogador de futsal, drible curto, de sola, visão de jogo, dom de bola. Foi lançado no time profissional pelo mestre Telê Santana aos 18 anos, numa vitória 1×0 sobre America no campeonato carioca, em março de 1989. Fez apenas mais um jogo em 1989, no final do ano, quando Flamengo já estava fora da luta para o Brasileirão. No Maracanã, 1×1 contra Grêmio, gol de Marcelinho Carioca, início de uma nova geração.

    O ano de 1989 também foi o último de Zico no Flamengo, deixando o clube para os mais jovens. No livro Simplesmente Zico de Priscila Ulbrich, Djalminha fala isso sobre nosso maior ídolo: “Cheguei ao Flamengo no fim de 1984, e já tinha o Zico como referência na minha vida. Ele era um modelo, e eu queria jogar como ele. Quando criança, ia pro Maraca ver o Galinho jogar e tentar aprender alguma coisa. Via e revia seus lances geniais, imaginando que um dia poderia fazer algo parecido, e dar alegria à torcida flamenguista. Em 1989, num jogo entre Flamengo x Palmeiras, fiquei no banco e ele jogou. Foi tão emocionante aquele momento. Eu ali, com a camisa do Flamengo, fazendo parte de um time que tinha o grande Zico, meu herói da infância e ainda ídolo. Eu me lembrava dos toques que ele me dava quando ainda era juvenil, da enorme admiração que sentia vendo-o ensinar aos mais jovens muito do que sabia. O Galo estava sempre disposto a dar umas aulinhas pra mim, para o Marcelinho Carioca e o Marquinhos. E a gente ficava de boca aberta, tentando absorver tudo o que o gênio falava. Ter treinado ao seu lado, jogado com ele, foi mais do que sonhei na carreira, porque Zico sempre foi meu grande ídolo. Até hoje, aos 42 anos, sendo amigo da família toda, de seus três filhos e dele também, ainda não fico totalmente à vontade ao lado do Galo”.

    Em 1990, o sub20 do Flamengo, na época júniores, jogou mais uma vez a Copinha. Desde a inauguração do prestígio torneio em 1969, Flamengo nem tinha chegado uma vez nas semifinais. E o Flamengo de 1990 é para mim, e para muitos outros, o maior time da história da Copinha. Basta falar o nome dos jogadores: Júnior Baiano, Rogério e Piá na defesa, Marquinhos, Fabinho, Marcelinho Carioca e Djalminha no meio, Paulo Nunes e Nélio no ataque. Djalminha foi capitão do time, craque e artilheiro. Fez talvez a maior atuação da história da Copinha. Na goleada 7×1 contra o Corinthians, fez 2 assistências para Nélio e Piá, e mais, fez 5 gols, de todo jeito: de falta, de pênalti duas vezes, de cabeça e de cobertura para fechar a goleada, para fazer a história. Na final, já sem Marquinhos, Paulo Nunes e Marcelinho, Flamengo venceu Juventus 1×0, com assistência de Djalminha e golaço de Júnior Baiano, para definitivamente consagrar o maior time da história da Copinha. Com 8 gols, Djalminha foi artilheiro do torneio e uma das maiores promessas do Mengo, que tinha tudo para dominar a década de 1990.

    Djalminha voltou naturalmente para o time profissional ainda em 1990, fez seu primeiro gol num amistoso contra a seleção de Rondônia. O primeiro gol em um jogo oficial chegou na semifinal da Copa do Brasil, aliás um golaço, recebeu de Renato Gaúcho, driblou dois adversários e chutou cruzado. No jogo de ida da final, um jogo eterno no Francêsguista, Djalminha cobrou a falta para Fernando fazer o único gol da partida. Infelizmente os dois acabaram suspensos para o jogo de volta, o que não impediu Flamengo de conquistar a Copa do Brasil inédita, com um time que misturava a experiência de Júnior, Zé Carlos, Renato Gaúcho e Gaúcho, e a juventude de alguns craques campeões da Copinha. Uma geração para fazer história no Mengo e dominar o futebol brasileiro.

    Em 1991, Djalminha fez apenas 2 gols em jogos oficiais, contra Vitória na Bahia e num 5×3 contra America, outro jogo eterno no Francêsguista. Em 1992, sob a maestria do técnico Carlinhos, fez alguns gols, inclusive contra Racing na Supercopa Libertadores, mais um jogo eterno no Francêsguista. Mais importante, Djalminha conquistou em 1992 o Brasileirão com dois jogos inesquecíveis contra Botafogo, com a maestria em campo do Vovô-Garoto Júnior. Porém, Djalminha não jogou na ida e participou apenas 4 minutos no jogo de volta. Mesmo assim, com 21 anos, o futuro era promissor para Djalminha, ainda mais para o Flamengo.

    Djalminha foi mais decisivo em 1993, fazendo gol no campeonato carioca, na Copa Libertadores, na Copa do Brasil, no Torneio Rio – São Paulo, também símbolo do calendário absurdo do ano. Fez um gol na goleada 8×2 contra Minerven na Libertadores, ainda não um jogo eterno no blog, mas um jogo em que ninguém fez mais que um gol, símbolo da potência e do potencial do time. Djalminha fez seu último gol com o Manto Sagrado num jogo contra Palmeiras, numa jogada iniciada pela Renato Gaúcho. E dez dias depois, no Fla-Flu, Flamengo abriu 2×0, 2 gols de Renato Gaúcho, Djalminha soltou para o abraço com o companheiro. E no segundo tempo, a virada do Fluminense e a briga entre Renato Gaúcho e Djalminha. Renato Gaúcho reclamou severamente do Djalminha, que não gostou. No campo mesmo, teve troca de empurrões e safanões, até de ameaças de continuar a briga nos vestiários. Marcelinho Carioca tentou separar os dois, mas Djalminha, que já tinha brigado com os companheiros Wilson Gottardo e Uidemar, foi liberado pelo Flamengo no dia seguinte. Era o fim da linha, de uma história linda de 133 jogos e 29 gols com o Manto Sagrado.

    Djalminha assinou no Guarani, onde virou ídolo, Bola de Prata do Brasileirão 1993, um dos craques do campeonato paulista 1994 com 21 gols em 31 jogos. Passou no Japão, um território há pouco tempo explorado pelo Zico, mas voltou rapidamente no Guarani, fazendo parceria com Amoroso e Luizão. Sob pedido de Vanderlei Luxemburgo, foi contratado pelo Palmeiras, juntando-se a um time que tinha Cafu, Flávio Conceição, Rivaldo, Müller e Luizão. Djalminha não decepcionou no “ataque dos 100 gols”, chamado assim por fazer 102 gols em 30 jogos no campeonato paulista. O Mago viveu o melhor ano de sua carreira, com 33 gols em 55 jogos no Verdão e estreando na Seleção no final do ano, com gol contra o Camarões. Disputou a Copa América de 1997, fez gol de falta contra o Costa Rica e fechou a goleada 7×0 contra o Peru na semifinal. Não jogou a final, mas mesmo assim, acabou campeão e em seguida assinou com La Coruña, na Espanha, substituindo o antigo companheiro Rivaldo, contratado pelo Barcelona.

    Com a camisa de La Coruña, Djalminha sempre fez sua dezena de gols por temporada e chegou ao seu ápice em 2000, quando La Coruña conquistou um título inédito no campeonato espanhol, até hoje único na história do clube. Desde 1984, apenas um campeonato não tinha sido conquistado pelo Real Madrid ou Barcelona, o Atlético de Madrid em 1996. Ao lado do zagueiro Naybet, do artilheiro Roy Makaay e dos brasileiros Donato, Mauro Silva e Flávio Conceição, Djalma foi um dos lideres do time campeão, fazendo golaço de fora da área contra o Real Madrid na ida, golaço de falta na volta, numa goleada 5×2 do time de Galiza, voltaremos a esse jogo logo depois. Na 36a rodada, Djalminha achou que fez o gol do título contra Zaragoza, tirou a camisa, recebeu o segundo amarelo e foi expulso, a terceira expulsão da temporada. Cinco minutos depois, Zaragoza chegou ao empate e impediu a festa. Com Djalminha de volta, La Coruña conquistou o título na última rodada com golaço de Makaay.

    Djalminha foi mais do que gols, título e expulsões. Foi um dos maiores dribladores da história, driblava fácil, liso, era um driblador de instinto. Sem pensar, deixava o zagueiro sem jeito. Jogava tanto que às vezes surpreendia os próprios companheiros. Se eternizou com um lance incrível, até incompreensível. Na já falada goleada 5×2 sobre o Real Madrid, bem no início do jogo, Djalminha fez o drible chamado lambreta, com a ajuda do calcanhar só, jogou a bola no ar, nas costas da defesa madrilenha perdida, sem recursos. Quem tinha recurso sempre era Djalminha. Na continuidade do lance, Makaay abriu o placar, mas as televisões mostraram no replay só, ou quase só, o drible de Djalminha, de tanto desconcertante que ele foi, esquecendo o gol de Makaay, mostrando de novo, ainda e ainda, a magia de Djalminha. Foi uma coisa de gênio, de bruxo, de mago.

    Djalminha foi mais do que os dribles, caneta, elástico, de chapéu. Era um gênio completo, fazia passes de calcanhar, de letra, de peito, fazia golaços de cobertura, de falta, até de pênalti fazia golaço, de cavadinha, sem medo de errar, com a tranquilidade e a certeza do craque. Inclusive, foi Djalminha que importou a cavadinha no Brasil, um gesto inventado pelo tchecoslovaco Antonín Panenka na final da Eurocopa de 1976 e que Djalminha descobriu com Gianluca Vialli, craque italiano da Sampdoria. Djalminha treinou a cavadinha ainda com juniores do Flamengo, mas nunca tentou o gesto no time profissional, com medo de se queimar. Em 1995, no Guarani, teve um pênalti contra o Internacional do experiente goleiro pegador de pênaltis, Goycochea. Djalminha correu, cavadinhou, golaçou. “Treinava muito, a confiança era total” falou Djalminha para o podcast Storicast. Na carreira, Djalminha tentou 10 vezes a cavadinha e sempre fez gol, inclusive na Europa contra Arsenal, Milan e Real Madrid.

    Na quinta temporada na Coruña, jogou menos, por exemplo jogou apenas 2 minutos na final da Copa do Rei, conquistada em cima do Real Madrid em pleno Bernabeu, frustrando o centenário do Real Madrid. Ainda tinha a confiança do técnico da Seleção, Luiz Felipe Scolari, que o convocou para um amistoso contra a Arábia Saudita, mesmo o jogo sendo reservado aos jogadores que jogavam no Brasil. Djalminha não decepcionou, fez o único gol da partida, um golaço de falta. Decepcionou logo depois quando deu uma cabeçada ao seu técnico da Coruña, com quem estava em conflito. Não tinha mais espaço na Família Scolari, Djalminha não foi convocado para a Copa, se juntando ao pai Djalma Dias, que nunca jogou a Copa, apesar de um retrospecto perfeito de 17 vitórias em 17 jogos na Seleção. Ao lado de Alex, Djalminha foi um dos maiores craques brasileiros a nunca ter jogado uma Copa e fechou o ciclo na Seleção com 5 gols em 13 jogos.

    Djalminha ainda jogou na Áustria, conquistando o campeonato e a Copa nacionais, e pendurou as chuteiras no México. Magoado na sua saída do Flamengo, não cogitou voltar no Flamengo no final da carreira, mas consegue separar a diretoria da época da instituição do Flamengo. Manteve sua ligação com a Nação e reconheceu seus erros, admitindo numa entrevista no Charla Podcast que foi quando chegou no Guarani que virou realmente profissional. Fica a pena e o lamento de ter perdido, por nada ou quase, uma das maiores gerações no Flamengo.

    Depois da carreira, Djalmanha foi um dos incentivadores do showbol no Brasil, mostrando a técnica de sempre, como mostrou depois em jogos festivos e de despedidas. Djalminha não foi o maior vencedor ou líder, não conquistou tudo que podia com o Manto Sagrado. Porém, quem viu, viu, e não pode esquecer os dribles, a magia, o carisma do Mago. É por jogador como Djalminha que crianças começam a se apaixonar por futebol, que os adultos pagam o ingresso para ir ao estádio, que os idosos se divertem como crianças. Enquanto existir jogadores como Djalminha, o futebol viverá. Porém, desapareceram cada vez mais. Para fechar, a palavra para Paulo Vinícius Coelho, no seu livro Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos, com um capítulo claro para Djalminha: “Vê-lo receber uma bola, seja num jogo, num treino ou numa brincadeira de bobinho, era o suficiente para identificar uma espécie diferente. Uma espécie superior. Naturalmente superior. O engraçado é que não dá para explicar direito onde estava a diferença, a superioridade. Era realmente preciso ver (má notícia para quem não conseguiu). O comportamento da bola era um dos sinais mais evidentes. A forma como ela se recusava a fugir, mesmo quando ele dominava os passes mais difíceis. O rolar manso nos dribles milimétricos, a precisão nos lançamentos mais ousados […] Trabalhava com absoluta maestria com o pé esquerdo, comandando por neurônios tão especializados no jogo bonito que muitas vezes surpreendia até quem jogava ao lado dele. Estavam todos ali, um perto do outro, mas Djalminha operava em outra dimensão”.

  • Jogos eternos #242: Flamengo 5×1 Volta Redonda 1981

    Jogos eternos #242: Flamengo 5×1 Volta Redonda 1981

    Os titulares estreiam hoje contra Volta Redonda, o que marca realmente o início da temporada, com esperança de títulos, sonhos e glória, ainda mais com o Mundial de clubes no meio do ano. Volto então para o maior ano da história do clube, em 1981, como já fiz no início do ano, lembrando o jogo contra São Paulo, que começou a temporada de 1981. Só que agora vou no final do ano, com um jogo contra Volta Redonda.

    No campeonato carioca de 1981, Flamengo venceu o primeiro turno, Vasco o segundo. Para o terceiro turno, Flamengo atropelava todo mundo: 4×0 contra Olaria e America, 6×0 contra Botafogo e 6×1 contra Americano, ainda não jogos eternos no Frâncesguista, 3×1 contra Fluminense, este sim um jogo eterno no blog. Na última rodada, Flamengo precisava de uma vitória sobre Volta Redonda para conquistar o turno e ganhar uma vantagem importantíssima para a final contra Vasco. Em caso de conquista do terceiro turno, por ter também a melhor campanha, Flamengo só precisava de um empate para ser campeão. Em caso de duas derrotas nas finais, ainda teria um terceiro jogo para ter a oportunidade de conquistar o tricampeonato. Assim, no 26 de novembro de 1981, o técnico Paulo César Carpegiani optou por força máxima, escalando Flamengo assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Lico, Nunes.

    No Raulino de Oliveira, o clima era de festa para os torcedores rubro-negros, recebendo os campeões da América. Três dias antes do jogo, no Centenário, Flamengo vencia Cobreloa e conquistava a primeira Copa Libertadores de sua história. Mas era só o começo da história, Flamengo queria mais, queria tudo. Contra Volta Redonda, já no início do jogo, Flamengo abriu o placar, com Zico fazendo passe para Tita, que chute cruzado, no fundo das redes. Flamengo era rápido demais, logo depois, de novo a dupla Tita – Zico, o Galinho cruzou na direita para a segunda trave, onde tinha o artilheiro Nunes, que cabeceou e não perdoou o goleiro. Ainda no primeiro tempo, ainda na direita, agora com a dupla Lico – Leandro e o overlapping que gostava tanto o antigo técnico Cláudio Coutinho, idealizador desse Flamengo vencedor. Leandro cruzou, Adílio fez o terceiro gol com uma jogada típico do Flamengo, movimentação, precisão, finalização.

    Agora no segundo tempo, Nunes ultrapassou a função e foi na esquerda para cruzar. A defesa bateu, nos pés de Lico, que chuto forte. O goleiro defendeu de forma parcial, Zico rebateu e fez o quarto gol do jogo, o 160o da temporada em 74 jogos, números absurdos para um time ainda mais absurdo. E para fechar, ainda na esquerda, ainda um overlapping, Nunes para Lico, o passe atrás para Adílio, que dominou, chutou e fez o gol. Uma goleada para Flamengo, que conquistava assim a Taça Sylvio Corrêa Pacheco, nome de antigo presidente da CBD. Flamengo ganhava a possibilidade de perder os dois primeiros jogos da final sem perder o campeonato, o que se tornará necessário, já que começou a decisão muito abalado e perdeu os dois primeiros jogos. Um dia depois da goleada contra Volta Redonda, num acidente de pesca submarina, morria aos 42 anos o técnico Cláudio Coutinho, que fez tanto pelo Flamengo de 1978-1983 e infelizmente não viu o clube chegar ao ápice da glória.

  • Jogos eternos #241: Flamengo 3×1 Bangu 1979

    Jogos eternos #241: Flamengo 3×1 Bangu 1979

    Flamengo começou muito mal o campeonato carioca de 2025, justamente o que homenageou Nosso Rei Zico. Precisa de uma reação contra Bangu, uma das maiores vítimas da carreira excepcional de Zico, que fez 20 gols em 23 jogos contra o time da Zona Oeste. E mais, fez 4 vezes um hat-trick em cima do Bangu, o time que sofreu mais neste quesito, na frente de Campo Grande, que tomou 3 vezes 3 gols de Zico.

    Vamos então para hoje de um jogo contra Bangu, com brilho de Zico, em 1979, maior fase de Zico artilheiro. E lá em 1979, Flamengo, em outros aspectos, também precisava de uma reação contra Bangu. Falei na última crônica, na hora de homenagear Léo Batista, que o Flamengo de 1979 igualou a série de 52 jogos invictos, um recorde estabelecido pelo Botafogo um ano antes, com possibilidade de bater o recorde contra o próprio Botafogo. E Renato Sá, já carrasco do Botafogo em 1978 quando jogava no Grêmio, fez o gol da vitória botafoguense, impedido Flamengo de ter o recorde apenas por si. Uma frustração para mim e para uma Nação inteira. Quatro dias depois, o Mengo estava de novo em campo para esquecer a derrota contra Botafogo, para vencer o Bangu. No 7 de junho de 1979, Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Raul; Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Tita, Júlio César, Cláudio Adão.

    No Maracanã, com 15.077 presentes, um publico modesto, mas jogo aconteceu numa quinta-feira, o goleiro do Bangu, Luiz Alberto, foi o primeiro a falhar, deixando uma bola escapar de suas mãos. Oportunista, Zico recuperou a bola e só teve a empurrar a bola no fundo das redes. O goleiro Luiz Alberto foi até substituído para o segundo tempo, mas o goleiro reserva Jair Bragança também falhou, não segurou uma bola nos pés de Zico, que foi mais rápido para se levantar e fazer o gol, seu 43o gol da temporada, ainda no meio do ano.

    E mais, Zico fez mais, num mini escanteio de Júlio César, Zico pulou e fez o terceiro do dia, de cabeça depois de fazer os dois primeiros de pé esquerdo, mostrando que era um artilheiro nato e completo, mexendo técnica e raça. Jogo foi de falhas de goleiro, Raul espalmou fraco uma bola e Jorge Nunes fez o gol fácil, decretando o placar final, 3×1 para Flamengo.

    Flamengo voltava a vencer e fez ainda melhor no jogo seguinte, também eternizado no Francêsguista, com vitória 7×1 sobre Niterói, 6 gols de Zico. Flamengo ainda ganhou os outros 5 jogos seguintes no campeonato carioca, antes de uma derrota num amistoso contra Sport. Mas no final, o que importa, Flamengo foi o campeão carioca.

  • Jogos eternos #240: Flamengo 0x0 Botafogo 1979

    Jogos eternos #240: Flamengo 0x0 Botafogo 1979

    Morreu ontem o grande jornalista Léo Batista, aos 92 anos, num domingo, dia de futebol, dia de gols do Fantástico. Léo Batista teve mais de 70 anos de carreira profissional, ainda participando recentemente de um programa da Globo. Para mostrar sua longevidade, basta lembrar que ele narrou a estreia de Garrincha no Botafogo, em 1953. Foi o primeiro jornalista a anunciar o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954 e 40 anos depois, deixou um país inteiro órfã, anunciando a morte de Ayrton Senna. Léo Batista fez parte da história do futebol brasileiro, do esporte, do Brasil em geral.

    Eu, como historiador de futebol, procuro de forma cotidiana jogos antigos de futebol. Muitas vezes, fui no YouTube para ver os gols de jogos marcantes ou não tão marcantes e, mesmo antes de conhecer o nome dele, numa época já distante, eu vivia esse rosto tranquilo e amigável, ouvia essa voz marcante. Para mim, era isso Léo Batista, dois programas marcantes, os gols do Fantástico, para a atualidade que vira arquivo com o tempo, de 1974 até 2007 para Léo Batista, e Baú do Esporte, para voltar aos jogos históricos, já eternizados, ainda lembrados. Antes de criar Francêsguista, criei um outro blog com o mesmo objetivo de lembrar jogos eternos, times históricos e ídolos, mas sobre o futebol brasileiro de uma forma mais geral. Tanto Gols do Fantástico como o Baú do Esporte foram fontes preciosas de informações. E o nome de meu blog, já querendo informar que eu era francês, foi “Baú Francês”, nome parecido (ao menos na minha cabeça) a pão francês, mas também uma homenagem ao programa Baú do Esporte, que já fazia o que eu queria fazer.

    Vamos então para hoje a uma matéria do Baú do Esporte dos anos 2000, e como Léo Batista era torcedor apaixonado do Botafogo, vamos para um Flamengo x Botafogo de 1979, um ano histórico no Francêsguista. No início do ano, teve um campeonato carioca especial, separado do campeonato estadual que aconteceu no final do ano. Na matéria, Léo Batista lembra que, para a última partida do campeonato, Flamengo entrou já de faixas de campeões, para enfrentar Botafogo, e a novidade do Maraca era o placar eletrônico, que marcou uma geração inteira. Na frente de 158.477 espectadores, Zico fez dois gols, mas Botafogo chegou ao empate e “deu uma leve carimbada na faixa rubro-negra”. Mesmo assim, Flamengo conquistou o campeonato de maneira invicta.

    E Flamengo continuou a não perder, até chegar aos 52 jogos invictos, igualando o recorde de Botafogo, estabelecido um ano antes. E o próximo adversário do Flamengo foi justamente Botafogo. E a matéria lembra, Flamengo perdeu 1×0, gol de Renato Sá, ele que já tinha colocado um fim à série do Botafogo em 1978 quando jogava no Grêmio. Eu não tinha nascido mas é uma frustração para mim de Flamengo não ter conseguido bater o recorde, em cima do próprio Botafogo. Provavelmente foi um alívio para Léo Batista. A matéria da Globo esqueceu, no segundo turno, outro Botafogo x Flamengo, Renato Sá abriu de novo o placar, mas Flamengo virou, se vingou, ganhou com doblete de Cláudio Adão.

    No terceiro turno, Flamengo precisava de um empate na última rodada em cima do Botafogo para ser campeão. Em caso de derrota, tinha um triangular final com Vasco e Botafogo. E Flamengo jogava sem seu maior astro, Zico, machucado em razão do excesso de jogos, foram 70 jogos em 1979 com Flamengo, mesmo faltando um mês de competição. No 4 de novembro de 1979, para completar o tricampeonato carioca, Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho, Rondinelli, Manguito, Júnior; Andrade, Paulo César Carpegiani, Adílio; Reinaldo, Júlio César, Cláudio Adão.

    O jogo foi equilibrado, com maior oportunidade de gol para Adílio, de camisa 10, que chutou na entrada da grande área, mas o goleiro Borrachinha tirou a bola da gaveta. Léo Batista lembrou que Renato Sá, herói de outro Flamengo x Botafogo, acabou expulso pelo folclórico e polêmico José Roberto Wright, apesar da reclamação do lateral Vanderlei Luxemburgo, na época Wanderley, que pendurou as chuteiras no Botafogo depois de passar quase toda a carreira no Flamengo. Tantos personagens históricos, lembrados pelo Batista… No final, sem fazer gol, sem tomar também, Flamengo buscou o empate que precisava para ser campeão pela 20a vez, para ser tricampeão pela terceira vez, e beber “o tradicional chope na Gávea, embalado pelo som da Charanga” como concluiu a matéria Léo Batista. Com programas assim, com grandes jornalistas como Léo Batista, a história, do Flamengo em particular, do futebol brasileiro em geral, segue viva, e pequenos escritores como eu, podemos pesquisar, escrever sobre nossa paixão, coberta pelo Léo Batista durante mais de 7 décadas, marcando não só uma geração, mas gerações inteiras. Pode descansar em paz eterno Léo, porque, como você falou na hora da morte de Pelé e Zagallo, “só morre de verdade quem nunca mais é lembrado”.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”