Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #239: Flamengo 1×0 Nova Iguaçu 2024

    Jogos eternos #239: Flamengo 1×0 Nova Iguaçu 2024

    Flamengo joga hoje contra Nova Iguaçu e não vou muito longe para escolher o jogo eterno do dia, pego o último jogo entre os dois times, na final do campeonato carioca de 2024. Flamengo foi campeão carioca em 2019, 2020 e 2021, Fluminense em 2022 e 2023, as quatro últimas decisões sendo o Fla-Flu. Torcia por mais um Fla-Flu na final, mas aconteceu na semifinal, com vitória do Flamengo. Torcia então para enfrentar Vasco na final, o que também não aconteceu.

    O adversário na final foi Nova Iguaçu, um clube fundado em 1990 com participação de um ídolo no Francêguista, Zinho. Já no jogo de ida, Flamengo quase podia festejar o título, com vitória 3×0 e atuação de gala de Pedro no Maracanã. Jogo de volta aconteceu também no Maracanã, e mesmo sem suspense, tinha a possibilidade de levantar a taça, de gritar “é campeão” e o Maracanã ficou cheio, com 60.490 pagantes, 65.757 presentes. No 7 de abril de 2024, Tite escalou Flamengo assim: Rossi; Varela, Léo Pereira, Fabrício Bruno, Ayrton Lucas; Erick Pulgar, De la Cruz, Arrascaeta; Luiz Araújo, Éverton Cebolinha, Pedro.

    Nova Iguaçu começou melhor o jogo, com dois lances perigosos, sem fazer o gol. Flamengo reagiu, Arrascaeta, com braçadeira de capitão, chutou, mas o zagueiro Sérgio Raphael desviou a bola. Éverton Cebolinha chutou no travessão e em seguida fez bom passe para Arrascaeta, que perdeu o gol cara-a-cara com o goleiro. De longe, Xandinho tentou surpreender Rossi, mas a bola apenas flirtou com a trave, assim acabou o primeiro tempo.

    E no início do segundo tempo, de novo Éverton Cebolinha, na esquerda, abriu bem o pé, aplicou efeito na bola, mas chutou mais uma vez na trave. Pedro apareceu pouco no jogo, mas fez passe de gênio de calcanhar para Arrascaeta, sozinho na grande área. O capitão do Mengo chutou com a perna esquerda e não conseguiu achar o caminho do gol. Nova Iguaçu reagiu, de novo com Xandinho, de novo com bola perto do gol, não no gol. Éverton parou mais uma vez nas mãos do goleiro, em seguida deixou para de la Cruz, mas foi a vez do lateral-esquerdo Maicon de salvar em cima da linha. Ainda 0x0 no Maraca, mesmo com a certeza do título, o torcedor quer gritar “é gol” antes de gritar “é campeão”. Ainda mais, tinha a possibilidade de conquistar o título invicto que não acontecia desde 2017. Flamengo não podia perder, Tite tinha que mexer. Saíram Arrascaeta e Éverton, entraram Bruno Henrique e Allan. Claro, a braçadeira de capitão foi para Bruno Henrique.

    Bruno Henrique é um dos maiores ídolos recentes do Flamengo, eternizado apenas com a temporada de 2019. E fez muito mais, até se machucar gravemente no joelho em 2022, ficando quase um ano fora dos gramados. Voltou para o Brasileirão de 2023 e foi um dos raros a se salvar numa temporada bem frustrante do Flamengo. Em 2024, antes da final, tinha feito apenas um gol e estava numa sequência de 11 jogos consecutivos sem fazer um gol.

    E na final, o Rei dos clássicos, decisivo tantas vezes antes disso, só precisou de 3 minutos em campo para aparecer. Léo Pereira abriu na esquerda para Ayrton Lucas, que se esforçou para salvar a bola em cima da linha e cruzou. Bola foi em direção de Bruno Henrique, que nem pensou, ou pensou bem, sei lá, chutou de primeira, de pé esquerdo, na gaveta, golaço. Raramente vi um gol tão merecido, por tudo que passou Bruno Henrique, também por tudo que fez com o Flamengo. E mais, foi um dos gols mais bonitos da história das finais do campeonato carioca.

    O Maracanã podia explodir, podia gritar “é campeão”, podia festejar o 38o título estadual do Mengo. Foi uma campanha de sonho, 8 vitórias, 3 empates e apenas um gol concedido ao longo do torneio! Flamengo era campeão invicto pela 7a vez, ultrapassando Vasco, rebaixando ao segundo lugar. Mesmo sem um clássico na final, mesmo sem a mesma importância do título de que antes, ganhar o campeonato carioca é sempre bom, ainda mais com um golaço de um ídolo.

  • Jogos eternos #238: Flamengo 7×0 Madureira 1997

    Jogos eternos #238: Flamengo 7×0 Madureira 1997

    Flamengo joga hoje contra Madureira, um adversário que foi várias vezes goleado ao longo dos anos. Eu vou para o jogo eterno do dia de uma goleada de 1997, que também foi o último ano em que Flamengo jogou na Gávea.

    E o jogo contra Madureira aconteceu justamente na Gávea, o antepenúltimo do Flamengo no estádio. O Maestro Júnior tinha reestreado como técnico do time no início do ano e Flamengo começou bem o campeonato carioca com 4 vitórias, inclusive 3 goleadas 5×1, 4×1 e 5×0, e um empate. No caminho, colecionou mais uma goleada, 6×2 contra Nacional na Copa do Brasil, um jogo eterno no Frâncesguista. Para o jogo contra Madureira, no 6 de março de 1997, o técnico Júnior escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Fábio Baiano, Júnior Baiano, Juan, Athirson; Bruno Quadros, Moacir, Lúcio, Iranildo; Sávio, Romário. Antes do jogo, destaque como sempre para Romário, que buscava o centésimo gol com o Manto Sagrado, para o dedicar para a filha, aniversariante do dia. Com 98 gols antes do início do jogo, parecia que já era para o Baixinho.

    Na Gávea, foi uma tarde de sol e de uma chuva de gols em campo. Com apenas 2 minutos de jogo, Iranildo fez o passe certinho para Fábio Baiano cruzar na direita, e Romário já estava na segunda trave para fazer o gol de cabeça. O Baixinho, dúvida antes do jogo por causa de uma lesão na panturrilha, chegava ao gol 99, se aproximava do presente para a filha e para a velha arquibancada da Gávea, meia cheia com 3 mil presentes.

    O resto do primeiro tempo pertence a um jogador, não Romário, mas outro craque, outro ídolo do Flamengo, o Anjo Loiro Sávio. Na cobrança de escanteio, fez a assistência para Moacir marcar de cabeça o segundo gol do dia. Com a canhota mágica, Sávio fez um golaço de falta e antes do intervalo, mais uma jogadaça, um lindo drible curto, um chute cruzado, certeiro e certinho, mais um gol de Sávio. No intervalo, Flamengo já ganhava de 4×0.

    E no início do segundo tempo, mais um gol do Flamengo. Marçal se atrapalhou no campo de Madureira e entregou a bola para Romário, que não precisava mais do que isso. O Baixinho dominou de direita em direção ao gol e chutou cruzado de esquerda, no fundo das redes. Era o gol 100 do Romário, que mandava beijos na arquibancada para a filha Moniquinha, que finalmente tinha seu presente de aniversário. Logo depois, Romário quase completou o hat-trick, mas chutou na trave. E o Baixinho virou garçom, completando uma tabelinha com Júnior Baiano, que ultrapassou a função e confirmou a fama de zagueiro-artilheiro com um chute cruzado para fazer o sexto gol do Flamengo.

    Era um dia lindo de gols, Lúcio completou a goleada com um golaço de cobertura. Mas além da goleada, além de ser um dos últimos jogos na Gávea, jogo ficou marcado por uma briga entre Romário e Cafezinho. No sétimo gol, o time do Madureira reclamou de um impedimento não marcado, coisa ficou feia, muitos palavrões, confusão, a polícia até invadiu o campo, o que não impediu uma briga generalizada. Romário e Cafezinho trocaram pontapés, Romário mostrando até nisso boa técnica, Cafezinho caindo no chão, Júnior entrando em campo para acertar um soco no Cafezinho. Jogo ficou interrompido 10 minutos e incrivelmente ninguém foi expulso. Uma semana depois, Romário e Júnior fizeram as pazes com Cafezinho, que assinou ainda em 1997 com o Vasco, sendo campeão brasileiro no final do ano. Muita história para um jogo eterno entre Flamengo e Madureira, uma goleada na Gávea, com a marca de sempre, agora centenária, de Romário.

  • Jogos eternos #237: São Paulo 0x2 Flamengo 1981

    Jogos eternos #237: São Paulo 0x2 Flamengo 1981

    Flamengo chegou nos Estados Unidos para preparar a temporada de 2025, que esperamos de sonhos e títulos. Vai jogar um amistoso contra São Paulo em Fort Lauderdale. No maior ano da história do clube, em 1981, começou justamente a temporada com um amistoso contra São Paulo, há exatamente 44 anos.

    No início da década de 1980, São Paulo tinha um grande time, destaque na defesa para Darío Pereyra e Marinho Chagas. Mas Flamengo era o último campeão brasileiro, não era mais o time em acensão, era o time consagrado, que buscava confirmação. Para o primeiro jogo da temporada de 1981, que sonhos, que títulos, o novo técnico, antigo ídolo, Modesto Bria escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Rondinelli, Maurinho, Júnior; Andrade, Paulo César Carpegiani, Adílio; Fumanchu, Júlio César, Nunes. Zico era machucado, mas tinha a volta de Júnior, que 4 dias antes, conquistou com a Seleção o Mundialito no Centenario, derrotando o Uruguai.

    No Morumbi, São Paulo jogou com seu uniforme tradicional tricolor e Flamengo usou uma combinação inusitada, talvez até inédita, meia branca, calça preto, camisa vermelha e preta. O início do jogo foi uma história de faltas. Primeiro São Paulo, com Chiquito, mas Raul defendeu bem. Em seguida, Flamengo com Leandro, bola foi desviada pela barreira, quase enganou o goleiro, mas apenas flirtou com a trave. E jogo foi interrompido por causa da invasão de uma ave em campo, um corvo que pode parecer um urubu. Era dia de Mengo no Morumbi. Logo depois, mais uma falta, de Andrade que abriu na direita para Leandro, que cruzou com a qualidade de sempre. Na grande área, Adílio, de camisa 10 por uma vez, cabeceou no contrapé do goleiro e abriu o placar.

    Ainda no primeiro tempo, outra falta, agora de São Paulo, Chiquito cruzou para o cabeceio de Assis, futuro carrasco do Mengo, mas essa vez a bola apenas flirtou com a trave. São Paulo buscou a reação e, agora no segundo tempo, Paulo César chutou na trave. Pouco depois, Paulo César teve outra chance, mas o Deus da Raça Rondinelli fez o desarme perfeito. Ainda São Paulo, agora com Élvio, que chutou forte de longe, bola passou perto do gol, mas para fora. Mais uma grande jogada do Tricolor, Heriberto tabelou com Paulo César e chutou, Raul defendeu em dois tempos. São Paulo estava perto do empate, Flamengo reagiu, Fumanchu salvou uma bola na linha do fundo cruzando do outro lado para Julio César, que cruzou para Nunes, sem conseguir fazer o gol. Tudo era ainda possível no Morumbi.

    E no final de jogo, de novo Fumanchu, grande promessa na base do Vasco, mas que não rendeu o esperado no profissional, driblou dois adversários na grande área e mesmo com a possibilidade do chute, preferiu deixar para Nunes, bem posicionado. O artilheiro não perdoou, dominou de direita, chutou de esquerda, fez o gol da vitória. Flamengo vencia 2×0, começava bem a temporada. Fecharia ainda melhor, com 3 títulos e muitos sonhos realizados.

  • Jogos eternos #236: Flamengo 5×0 America 2000

    Jogos eternos #236: Flamengo 5×0 America 2000

    Flamengo começa hoje mais um campeonato carioca e busca o bicampeonato depois de conquistar o campeonato estadual de 2024 de maneira invicta. Em 2000, Flamengo também tentava o bicampeonato, e conseguiu, estreando contra um clube histórico mas que não joga mais na primeira divisão do campeonato carioca, o America.

    Flamengo começou a longa temporada de 2000 com o Torneio Rio – São Paulo, sem muito destaque, sendo eliminado na primeira fase com 2 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Depois de um mês de amistosos, Flamengo estreou no campeonato carioca contra o America. No 11 de março de 2000, o técnico Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Clemer; Maurinho, Juan, Luiz Alberto, Athirson; Leandro Ávila, Beto, Petkovic; Rodrigo Mendes, Tuta, Reinaldo.

    Flamengo começou bem o jogo e aos 15 minutos, Maurinho se esforçou para salvar uma bola na lateral e cruzou para Athirson fazer de cabeçada seu primeiro gol da temporada. No final do primeiro tempo, Athirson virou garçom, depois de bom trabalho de Petkovic, o lateral-esquerdo deixou para Beto, que tentou de longe. O goleiro do America apenas desviou, sem impedir a bola de morrer na rede. No intervalo, Flamengo 2×0 America.

    No início do segundo tempo, Flamengo ganhou uma bola no círculo central e Reinaldo partiu na velocidade, escapou do carrinho de um zagueiro, tirou o goleiro da jogada e fez o gol fácil na finalização, mas o golaço na jogada inteira. Dez minutos depois, mais um golaço com uma jogada impressionante de Luiz Alberto, que cortou uma bola ainda na grande área flamenguista e saiu na esquerda, bem servido pelo Athirson, ainda na parte do campo do Flamengo. Com o apoio dos 26 mil pagantes no Maracanã, Luiz Alberto driblou um jogador e acelerou, agora ultrapassando a linha média. Continuou com bola nos pés, parou e fez o corte para driblar mais um, agora para invadir a grande área, fazer o passe certo para o gol de Tuta. Mais uma vez, um gol fácil para finalizar, mas um autentico golaço graças à jogada surreal de Luiz Alberto.

    E cinco minutos depois, apenas com uma hora de jogo, o gol final da goleada, de novo com participação de Athirson, que fez o passe atrás para Reinaldo na grande área. O artilheiro, que faria 21 anos três dias depois, teve a calma e a tranquilidade para dominar a bola, abrir o pé e chutar fora do alcance do goleiro. No final, Flamengo 5×0 America e no final do final, Flamengo bicampeão.

  • Jogos eternos #235: Flamengo 5×1 Serrano 1979

    Jogos eternos #235: Flamengo 5×1 Serrano 1979

    O campeonato carioca começa hoje e a taça terá o nome de Zico, uma homenagem mais que justa para quem ainda é, e provavelmente para sempre, o segundo maior artilheiro do campeonato carioca com 241 gols em 295 jogos, atrás apenas do amigo já falecido, o vascaíno Roberto Dinamite. Zico foi campeão carioca em 1972, 1974, 1978, 1979, 1979 Especial, 1981, 1986, artilheiro em 1975, 1977, 1978, 1979, 1979 Especial e 1982.

    Em 1979, teve um campeonato carioca especial, apenas com os times da cidade de Rio de Janeiro e os 4 melhores times do campeonato fluminense de 1978, Americano, Fluminense de Nova Friburgo, Goytacaz e Volta Redonda. Ainda em 1979, teve o campeonato carioca com 18 times, da cidade e do estado. Flamengo venceu os dois torneios, completando um tricampeonato iniciado com o inesquecível campeonato de 1978 e o gol de Rondinelli contra Vasco. Já Zico vivia sua maior fase de artilheiro: 26 gols em 17 jogos no campeonato especial, 34 gols em 26 jogos no campeonato carioca.

    Zico começou o campeonato carioca de 1979 com doblete contra Bonsucesso e São Cristóvão, fez 3 contra Bangu, 6 contra Niterói, um jogo eterno no Francêsguista. Fez os 4 do Mengo na vitória 4×3 sobre Goytacaz, os 2 no 2×0 contra a Portuguesa, deixou o dele contra Olaria, Vasco e Campo Grande. Em seguida, Flamengo foi surpreendido no Maracanã com uma derrota 1×0 sobre Americano e jogou uma semana depois contra Serrano, time de Petrópolis, onde jogou Garrincha antes de ir no Botafogo. No 12 de agosto de 1979, o técnico Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Raul; Manguito, Antunes, Rondinelli, Júnior; Andrade, Paulo César Carpegiani, Zico; Tita, Júlio César, Cláudio Adão.

    No Maracanã, Flamengo rapidamente fez o primeiro gol, com uma jogada mágica de Júlio César Uri Geller, um dos maiores dribladores da história do clube. Na esquerda, Júlio César driblou um, deixou a bola entre as pernas de um outro e cruzou. Zico foi na primeira trave e mesmo sem tocar a bola, sua atividade forçou o goleiro a sair, que também não chegou na bola, que saiu até os pés de Cláudio Adão para o gol fácil.

    Em seguida, Tita fez um passe no ar, Zico dominou de peito e chutou cruzado, sem chance para o goleiro. O terceiro gol, ainda no primeiro tempo, parece um lance repetido do gol precedente, mas de câmera inversa. Passe de Tita, domínio de Zico, chute cruzado, agora de pé esquerdo. O destino foi o mesmo, fundo da rede. Antes do intervalo, chegou a jogada mais mágica de Zico no jogo, não um gol, mas um passe. Claro Zico não era só artilheiro, também era quem iniciava a jogada, pensava o jogo, fazia o passe de mestre. E fez a magia, um passe alto, fácil, bonito, com a ponta do pé, leve, alegre, para Carpegiani, perfeitamente colocado para fazer o quarto gol do Mengo.

    No segundo tempo, Serrano fez o gol de honra, Jorge Demolidor cruzou para o gol de Edu, mesmo nome que o irmão de Zico e ídolo do America. O último gol do jogo começou nos pés de Antunes, outro jogador que tem o nome de um irmão de Zico, Antunes Coimbra brilhou no futebol carioca nos anos 1960 com a camisa de Fluminense e do America. Antunes, agora o do Flamengo, que fazia contra Serrano apenas seu quarto jogo com o Manto Sagrado, driblou um e deixou para Zico, que em um toque e com a visão de jogo de sempre, abriu na direita para Andrade, que se firmou no time titular neste ano de 1979 depois de um empréstimo na Venezuela. Andrade recebeu a bola, esperou, fez a finta. Como bom artilheiro, Zico se colocou na grande área, pedindo a bola, recebendo a bola. Como craque absoluto do futebol, Zico dominou de sola, com um giro para se livrar do zagueiro, não perdeu tempo para chutar de pé esquerdo, para o fundo do gol, para o terceiro gol pessoal do dia.

    No final, vitória 5×1 do Flamengo, com 3 gols de Zico, uma assistência mágica de Zico, que ainda teve participação no primeiro gol do jogo. Infelizmente, Zico sentiu o peso do calendário, foram 77 jogos na temporada, e fez apenas 1 gol nos seus últimos 6 jogos do ano, se machucou e faltou os 12 últimos jogos da temporada, impedindo os números finais de ser ainda mais impressionantes. Mesmo assim, foram 34 gols no campeonato carioca, 81 gols na temporada com Flamengo, 89 gols contando os gols com a Seleção e uma seleção da FIFA. Tem a dúvida de até onde poderia ter chegado o Zico, quem sabe 100 gols no ano, fica minha certeza, que me perdoam Leônidas, Dinamite ou Romário, mas Zico é o maior jogador da história do campeonato carioca e a taça poderia, cada ano, receber o nome dele.

  • Jogos eternos #234: Flamengo 4×1 Vasco 1954

    Jogos eternos #234: Flamengo 4×1 Vasco 1954

    Uma nova edição do campeonato carioca começa amanhã e hoje também é aniversário de um dos títulos estaduais mais importantes da história do Flamengo, o campeonato carioca 1953 conquistado em cima do Vasco, já no início de 1954. Vamos então para hoje lembrar o jogo do título, que aconteceu exatamente 71 anos atrás.

    Em 1953, o Flamengo ainda não tinha vencido o campeonato carioca no Maracanã, inaugurado três anos antes. Em 1950, Vasco foi o primeiro, em 1951, Fluminense o imitiu e em 1952, deu de novo Vasco, que vivia os últimos momentos do Expresso da Vitória. Botafogo não vencia desde 1948 e pior para Flamengo, que não conquistava o campeonato carioca desde 1944 e o gol do ídolo eterno, mesmo aposentado, Valido, já em cima do Vasco, um jogo eterno no Francêsguista.

    Flamengo precisava de mudanças, Dequinha substituiu o ídolo paraguaio Modesto Bría como coração do time, Rubens se afirmou como cérebro do time. Flamengo foi buscar reforços no exterior, o argentino Chamorro e o artilheiro Benítez, que completou ao (extremo) lado do goleiro García uma dupla paraguaia. E a delegação paraguaia foi completa com a chegada do técnico Fleitas Solich, que mesmo sem os rubro-negros guaranis, conquistou neste mesmo ano de 1953 o primeiro campeonato sul-americano da história do Paraguai, o que lhe rendeu o apelido de Feiticeiro. Mesmo com o título sul-americano inédito, foi alvo de uma campanha de alguns diretores do Flamengo, que não queriam ver um gringo como técnico. Fleitas Solich foi apenas o sétimo técnico estrangeiro do Flamengo, o primeiro sul-americano desde o uruguaio Bertone em 1928, outros tempos do futebol. Mas o grande presidente Gilberto Cardoso ficou firme e deu plena confiança ao Fleitas Solich para fazer magia no Flamengo.

    No seu começo no Flamengo, Fleitas Solich decepcionou, o Mengão ficou no antepenúltimo lugar no Torneio Rio – São Paulo, com apenas 1 vitória em 9 jogos, também com uma derrota 0x6 contra o Corinthians. No campeonato carioca, Flamengo começou com 5 vitórias, também com 8 gols de Benítez. Porém, Flamengo ganhou nenhum clássico no primeiro turno, perdeu contra Fluminense e Botafogo, empatou contra Vasco. Mas o técnico Fleitas Solich garantiu: “o time está no caminho certo”. No segundo turno, com participação importante de Índio e Rubens, Fla venceu os 4 primeiros jogos, mas em seguida empatou contra o Vasco de Ademir e o Botafogo de Garrincha. Na rodada final da fase regular, venceu o Fla-Flu com gols de Índio e Rubens e fechou a fase no primeiro lugar, um ponto a mais que Botafogo e Fluminense.

    Teve depois um hexagonal final, Vasco começou com vitória, Fluminense também. O jejum de 9 anos incomodava na Gávea. No livro Bíblia do Flamengo, Luís Miguel Pereira escreveu: “Fazia nove anos que o Flamengo não era campeão carioca. O fato preocupava toda a nação. Foi então que José Alves de Moraes, mais tarde presidente do Flamengo, decidiu levar o padre Góes à concentração. De batina preta, o padre flamenguista provocava a fé dos jogadores com palavras firmes e um escudo do Fla que brandia na mão. Nesse dia, em vésperas da decisão de 1953, o reverendo juntou os atletas e soltou a prece mais desejada: ‘Em nome de São Judas Tadeu eu garanto que o Flamengo vai ser campeão’”. O padre Góes pediu aos jogadores, antes de cada jogo, de ir na missa na igreja São Judas Tadeu no Cosme Velho, rezar para o Flamengo, rezar para o Flamengo ser campeão. O Mengo venceu o Fla-Flu, derrotou 2×0 o America, o Bangu também 2×0. “Defesa também ganha jogo” explicou depois o zagueiro Pavão. E chegou o jogo decisivo contra Vasco.

    No 10 de janeiro de 1954, depois de mais uma missa na igreja São Judas Tadeu, o feiticeiro Fleitas Solich escalou Flamengo assim: García; Marinho, Pavão; Servílio, Dequinha, Jordan; Rubens, Joel, Esquerdinha, Índio, Benítez. O Maracanã, para ver o Flamengo campeão pela primeira vez no estádio, ficou lotado: 121.007 pagantes, 132.508 presentes. O campeonato carioca de 1953 teve a presença de mais de 2,4 milhões de torcedores ao total, um recorde até 1976. E como um sonho, como uma oração bem-feita, Flamengo abriu o placar graças ao ponta-esquerda Esquerdinha, e logo depois fez o segundo gol com Índio. No Jornal dos Sports, o grande Mário Filho escreveu: “Flamengo, tua glória é lutar, e ali estava o Flamengo, lutando, realizando-se num ímpeto irresistível […] O goal ia servir apenas como um motivo de orquestração, indispensável à sintonia que se ia criando ao som do samba da charanga do Flamengo, oh abre alas, oh abre alas, deixa o Flamengo passar. As alas se abririam a cada goal do Flamengo. O Flamengo crescia em campo, como que se sentia o goal se aproximar, vir vindo. E quando ele veio – já tinha sido milagrosa a defesa de Oswaldo, a bola subiu e foi descer no goal, Jorge apertado por Índio sem poder fazer nada, não podendo impedir que a bola batesse na cabeça dele, ele em cima dele, e entrasse – mesmo quem não era Flamengo tinha de sentir um arrepio vendo o delírio em volta”.

    Índio fazia seu 41o gol do ano para ser o artilheiro rubro-negro da temporada. Mas o duelo para a artilharia do campeonato carioca era entre Benítez e Garrincha, empatados com 20 gols. No final do primeiro tempo, Benítez ultrapassou Garrincha, fez o gol do 3×0, o gol do título quase certo. Ainda Mário Filho: “Veio o outro goal, o terceiro, Benítez shootando de repente, a bola entrando sem que Oswaldo pudesse fazer nada. E a multidão subindo e baixando, dançando e gritando, gente não podendo mais se mexer, se estatelando, a vida só nos olhos ou nas lágrimas que brilhavam com orgulho de diamante, de pedra pura, sem jaça. Era o Flamengo da canção, ai Flamengo que me faz chorar”.

    No segundo tempo, nem o gol de Ademir atropelou a festa. Benítez fez mais um gol, o 22o do artilheiro do campeonato, e Flamengo foi “campeão da cabeça aos pés”: “O match acabou e tudo foi Flamengo, e a multidão ficou no estádio para assistir ao espetáculo da própria alegria, do delírio da vitória que era dela. Os jogadores se abraçavam, pulavam, rolavam no chão, deviam estar chorando, porque tinham sido Flamengo, a bandeira, a camisa, a legenda, e quem era Flamengo, chegam ao ponto em que só a lágrima expressa a alegria, a felicidade” ainda escreveu Mário Filho. Pela primeira vez no Maracanã, Flamengo era o campeão da cidade.

    Flamengo ainda fechou o campeonato com mais uma vitória para uma campanha perfeita de 5 vitórias em 5 jogos no turno final, Rubens fazendo o único gol da partida contra Botafogo. Falou o também ídolo Evaristo de Macedo: “Principalmente na campanha de 1953, ele estava jogando o fino, tudo que sabia. Era realmente um autêntico ídolo. A torcida o adorava. Tinha a cara do povão. Era um homem simples, sem grande cultura, mas possuía muita vivacidade e sempre fazia observações pertinentes. Ele era um jogador muito inteligente. Sua visão de jogo era impressionante e, numa fração de segundo, resolvia uma jogada e decidia a parada”.

    E mais, o título deixava na eternidade São Judas Tadeu, do nome da igreja do padre Góes, como o padroeiro do Flamengo. Os torcedores adversários reclamaram até ao Cardeal Dom Jaime Câmara, buscaram outros padres para ter a vitória do lado deles, mas era só Flamengo, que buscava o bicampeonato, o tri, na proteção de seu padroeiro, São Judas Tadeu. No Maracanã, depois do jogo contra Vasco, o feiticeiro Fleitas Solich, como um bom profeta, anunciou: “Isso foi apenas o começo”.

  • Jogos eternos #233: Flamengo 5×0 Fluminense 1949

    Jogos eternos #233: Flamengo 5×0 Fluminense 1949

    Em cada lugar do Brasil, tem ao menos um flamenguista. Tem em cada canto, no Norte e Nordeste para as regiões, Minas Gerais e Paraná para os estados, e muitos outros. Mas talvez, provavelmente, o estado, fora do Rio de Janeiro, que respira mais o Flamengo é Bahia. E hoje, 8 de janeiro, faz 76 anos que se jogou o primeiro Fla-Flu na Bahia, em Salvador.

    Flamengo é diferente, é o time pode dizer do povo, da massa, da nação, é o time do brasileiro. Começou a conquistar o brasileiro não fluminense, fez sua primeira excursão em 1914 no Paraná, foi jogar em São Paulo em 1915, conheceu o Nordeste em 1925 com uma excursão no Pernambuco. E o Fla-Flu é o clássico brasileiro mais conhecido, mais mítico, fora do Brasil. Se jogou em 13 diferentes estados do Brasil, até se jogou na Espanha. O primeiro Fla-Flu fora do Rio de Janeiro aconteceu em 1942, um 0x0 no Pacaembu de São Paulo. Em 1947, outro Fla-Flu fora do Rio, outro empate, agora 1×1, em Recife. “Ninguém pode duvidar do prestígio que este clássico goza no seio da torcida guanabarina e dos estados. E como prova flagrante, insofismável, está aquela enorme massa de povo que se acotovelou para presenciar o embate entre estes dois titans do esporte nacional” escreveu na época o Jornal Pequeno. E dois anos depois teve outro Fla-Flu, até outros Fla-Flus, no Nordeste.

    No início de 1949, Flamengo voltou mais uma vez no Nordeste e continuou a conquistar o povo, o brasileiro. Voltou em Fortaleza, que tinha descoberto um ano antes quando jogou contra os maiores times da cidade, Ceará, Ferroviário e Fortaleza. Em 1949 no Ceará, teve Fla-Flu e apesar de um gol do (então) ídolo rubro-negro Jair Rosa Pinto, teve goleada do Fluminense, 5×2 com 4 gols de Simões. Dois dias depois, teve outro Fla-Flu no Nordeste, agora na Bahia.

    Flamengo conhecia bem a Bahia e Salvador, foi lá pela primeira vez em 1932, quando o futebol ainda era amador. Durante anos, Flamengo fez magia goleando os dois grandes times de Salvador, 7×2 contra Vitória em 1932, 5×2 contra Bahia em 1938, 7×2 contra Bahia em 1946, 5×2 contra Vitória em 1947. Flamengo sempre foi vitorioso na Bahia, conquistou o povo baiano e jogou mais uma vez em 1949, agora contra o rival mais conhecido, também carioca, Fluminense. No 8 de janeiro de 1949, o técnico Kanela escalou Flamengo assim: Doly; Norival, Newton Canegal; Biguá, Modesto Bria, Jaime; Luisinho, Durval, Gringo, Jair Rosa Pinto, Hélio. Destaque para a famosa linha “Biguá, Bria, Jaime”, quase um mantra, um poema, uma oração, que ofereceu ao Flamengo o primeiro tricampeonato carioca entre 1942 e 1944.

    Uma palavra também para o técnico rubro-negro, Kanela, talvez, provavelmente, o maior técnico brasileiro da história do basquete. Para afirmar isso, basta dizer os títulos de Kanela: com a seleção nacional, bicampeão mundial 1959 e 1963, duas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de 1960 e 1963 e com Flamengo 12 campeonatos estaduais, inclusive um dedacampeonato carioca entre 1951 e 1960. Com todo merecimento, deu seu nome ao ginásio do Flamengo na Gávea. Porém, Kanela começou sua carreira como técnico de futebol, inclusive foi ele que reposicionou o meio-campista Domingos na zaga quando jogava no Bangu. No final de 1948, Kanela estreou como técnico do Flamengo, já num Fla-Flu, já com vitória, na época na Gávea.

    No início de 1949, o Fla-Flu aconteceu em Salvador, no estádio de Graça, maior estádio de Bahia antes da inauguração da Fonte Nova em 1951. A torcida baiana via mais uma vez Flamengo de perto e agora não tinha dúvida. O adversário não era Bahia, Vitória ou outro time baiano, era Fluminense. Agora não tinha nada de misto, só tinha uma opção, torcer pelo Flamengo, amplamente e plenamente. E para a alegria da torcida no Graça, o Fla-Flu foi apenas Fla. O rubro-negro venceu 5×0 com 2 gols de Durval, nordestino de Alagoas que fez 123 gols em 132 jogos no Flamengo, 2 gols de Hélio, carioca que fez 58 jogos no Flamengo entre 1946 e 1952, e um gol de Gringo, outro nordestino perto da Bahia, no Sergipe. Flamengo goleava e vencia a Taça Câmara Municipal de Salvador, oferecida pela Câmara, mais uma prova da importância do futebol.

    Só não foi a maior goleada da história do Fla-Flu porque em 1945 Flamengo derrotou Fluminense por 7×0 no São Januário. Mas em 1949, sem Maraca mas com rádio, o palco era Graça, Fluminense ficou sem graça, e a torcida baiana conhecia mais uma vez a graça, a alegria, a benção de torcer para o Flamengo, o maior do Brasil, a paixão do Nordeste.

  • Jogos eternos #232: Flamengo 2×0 Peñarol 1983

    Jogos eternos #232: Flamengo 2×0 Peñarol 1983

    O ano de 2025 começa, com uma nova temporada do Flamengo, cheia de esperança e sonhos. Um dos grandes desafios do ano será o Mundial de clubes da FIFA, o primeiro da história com 32 clubes. Eu gosto da nova fórmula do torneio, mais atrativa que o antigo Mundial e que pode oferecer alguns confrontos contra os gigantes da Europa.

    A antiga Copa Intercontinental também mudou de formato em 1980, passou de uma ida e volta na América do Sul e na Europa a um confronto único no Japão. Os italianos não gostaram e criaram o Mundialito, com alguns campeões mundiais. Na primeira edição em 1981, a Inter de Milão ficou com o título na frente de Santos. Dois anos depois, a segunda edição do Mundialito teve a participação dos dois últimos campeões mundiais, Flamengo e Peñarol, além dos 3 gigantes da Itália: a Inter, o Milan e a Juventus.

    Na estreia do torneio, Flamengo venceu de virada a Inter, já um jogo eterno no Francêsguista. Em seguida, Flamengo fez 1×1 contra o Milan de Franco Baresi, um placar feliz para o rubro-negro brasileiro, considerando a fisionomia do jogo. Dois dias depois, Flamengo estava de novo no San Siro para o único jogo do torneio entre sul-americanos. O adversário era Peñarol, que meses antes, eliminou Flamengo da Copa Libertadores 1982 em pleno Maracanã.

    No 30 de junho de 1983, o técnico Carlos Alberto Torres fez algumas modificações em relação ao jogo anterior e escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Ademar; Andrade, Júnior, Adílio; Robertinho, Peu, Vinícius. Flamengo andava sem seu maior craque e ídolo, Zico, vendido um mês antes, justamente para o futebol italiano, para o desespero e a ira dos torcedores rubro-negros. Do lado do Peñarol, tinha os mesmos jogadores que eliminaram o Flamengo da Copa Libertadores de 1982, com exceção do brasileiro Jair, que tinha feito o gol da classificação uruguaia.

    Peñarol precisava de uma vitória para ser campeão de forma antecipada, e não abriu do jogo violento, já visto na Copa Libertadores. Aos 15 minutos, o defensor uruguaio Walter Olivera agrediu Peu, deixando-o no chão com uma entrada criminosa. Os tifosi italianos gritaram “fuori, fuori”, mas o juiz deu apenas cartão amarelo. Vinícius também foi alvo da violência uruguaia e saiu machucado, substituído pelo Baltazar. Aos 20 minutos, o meia Saralegui fez uma mão e ofereceu uma falta perigosa para o Flamengo. O Mengão não tinha mais Zico, mas ainda tinha jogadores habilidosos. Na bola, Júnior claro, e o novo camisa 10 do Mengo, Adílio. Na cobrança, Júnior, que achou maravilhosamente a gaveta do goleiro Gustavo Fernández que, mesmo do lado certo da cobrança, não pude nem tocar na bola. Uma falta perfeita, e Flamengo na liderança.

    No segundo tempo, Andrade chutou longe na frente, para Peu, para Baltazar, que fuzilou o goleiro uruguaio para o segundo gol do dia. Flamengo reinava no jogo, ganhou o respeito e a admiração do público italiano, que gritou até “Olé” a cada passe do Flamengo. Não valia uma revanche completa da Libertadores, mas já era uma grande satisfação derrotar assim o Peñarol.

    Infelizmente, também não valia título. Flamengo fez o último jogo do Mundialito 2 dias depois, precisando do empate para ser campeão. O adversário era a Juventus, dos craques estrangeiros Platini e Boniek, também dos italianos que derrotaram o futebol-arte da Seleção um ano antes, como Scirea, Gentile e Cabrini na defesa, ou Tardelli e Paolo Rossi mais na frente. E se a derrota brasileira em Sarriá foi até justa, a vitória da Juventus no Mundialito foi um roubo. No primeiro gol, de falta de Platini, o juiz italiano Enzo Barbaresco marcou uma falta inexistente de Marinho sobre Paolo Rossi. Flamengo empatou com golaço de Adílio, mas sofreu outro gol no segundo tempo, com Boniek, em posição muito irregular não marcada pelo bandeirinha também italiano. No final do jogo, Furino segurou Júnior pelo braço, o pênalti era claro, mas surpreendentemente, ou agora não mais, Barbaresco não marcou pênalti.

    Flamengo perdia ali a chance de conquistar o Mundialito, mas mesmo assim, brilhou na frente dos europeus, mostrou que era um dos melhores times do mundo, honrando a fama do futebol brasileiro.

  • Ídolos #40: Silva Batuta

    Ídolos #40: Silva Batuta

    A segunda parte da década de 1960 foi um período de poucos títulos para o Flamengo. Mas mesmo assim, o Flamengo nunca foi carente de ídolos, sembre soube criar uma ligação de raça, amor e paixão com alguns de seus jogadores. Sem nenhuma dúvida, Silva Batuta foi um deles.

    Wálter Machado da Silva nasceu no 2 de janeiro de 1940 em São Paulo, no bairro de Liberdade. Cresceu num família pobre e viveu dramas bem cedo. Aos 7 anos, seu pai morreu e 10 dias depois seu irmão também morreu. O ainda não Silva Batuta trabalhou ainda garoto e teve pouco tempo para se divertir. “O futebol não era muito presente na minha vida de garoto. Eu gostava de jogar, mas para me divertir. Não sonhava em ser jogador. Queria era ser militar” explica Silva na sua biografia escrita pelo Marcelo Schwob. Foi um dos únicos garotos brasileiros a não sofrer com a derrota da Seleção na Copa do mundo de 1950 e começou a jogar peladas no Nadir Figueiredo, time da fábrica de vidro onde trabalhava, e no Aristocrata, time de jogadores negros.

    Um olheiro o levou para um teste no São Paulo. Apesar da vida difícil, Silva tinha estrela. Em 1957, assinou seu primeiro contrato profissional, com o acordo da mãe pois ainda era menor. Participou de alguns jogos do campeonato paulista e conquistou seu primeiro título num time que tinha como ídolos Mauro, De Sordi, Maurinho, Canhoteiro e claro, Zizinho, o Mestre Ziza. Silva jogava pouco e o técnico húngaro Béla Guttmann, que sabia tudo da bola, avisou os dirigentes: “Jamais cometam a loucura de vender este jogador”. Depois de um empréstimo no Batatais, Silva foi vendido no Botafogo de Ribeirão Preto. Em 3 anos, num time modesto, fez vários gols importantes e acabou vendido no Corinthians em 1962.

    No primeiro ano, fez 28 gols em 30 jogos no campeonato paulista, números incríveis, insuficientes para ser artilheiro, Silva ficou atrás dos 37 gols de Pelé e dos 32 de Coutinho. Silva foi até comparado ao próprio Pelé no estilo de jogo. Infelizmente para ele, tinha o verdadeiro Pelé no Santos e Silva ganhou nenhum título com o Corinthians. Entrou em conflito com o técnico Oswaldo Brandão e fez seu último jogo no clube no final de 1964. Foi procurado por diversos clubes do Rio de Janeiro e finalmente foi transferido no Flamengo em maio de 1965. Na sua eterna coluna Na Grande Área, Armando Nogueira escreveu: “Pelo que vi em alguns jogos, acho que o rapaz vale um sacrifício. Do que lembro no Maracanã e no Pacaembu em jogos de expressão, esse Silva é dos melhores atacantes da nova geração paulista: incisivo, hábil, dinâmico, ótimo chutador e capaz de executar uma jogada de penetração que aprendeu evidentemente em Pelé”.

    Na sua estreia no Flamengo, já mostrou que tinha alguma coisa de Pelé, que estava no lugar certo. No Minas Gerais, fez 2 gols, inclusive um golaço, e uma assistência. “Com a camisa do Flamengo, um dos mais bonitos foi em Ponte Nova contra o Primeiro de Maio, logo na minha estreia. Ganhamos por 5×1. Abri a contagem. Recebi uma bola na intermediária do adversário e fui avançando. Driblei três jogadores. Na área, antes que o goleiro tivesse tempo de esboçar a defesa, chutei no canto direito sem muita força” explicou depois Silva. No mês de julho do mesmo ano, chegou outro atacante vindo do futebol paulista, Almir Pernambuquinho, também comparado ao Pelé, até chamado de “Pelé branco”. Flamengo perdeu antes disso alguns ídolos, Gérson, Henrique Frade e Dida em 1963, Espanhol em 1964. A Nação tinha agora novos ídolos, carismáticos e decisivos. Falou Silva sobre Almir Pernambuquinho: “No Flamengo tive uma das mais agradáveis surpresas de minha vida: jogar com Almir. Grande companheiro, super inteligente e talentoso”.

    Com a ajuda de Almir, chamado de “Careca” por motivos óbvios e a chegada do técnico argentino Armando Renganeschi no banco, Silva continuou a fazer gols, conquistou a torcida e ganhou novo apelido, Silva Batuta. Explica Marcelo Schwob no seu livro Silva, o Batuta: o craque e o futebol de seu tempo: “Na Gávea, Silva não parava de causar boa impressão com sua técnica, seus piques, cabeçadas e chutes de esquerda e direita, presença de área, além da precisão na cobrança de faltas e, acima de tudo, com sua liderança entre seus companheiros e pelo respeito que impunha aos adversários, que logo lhe traria o apelido criado pelo locutor Jorge Curi: O Batuta. Na verdade, o apelido teria surgido num jogo contra o Vasco em que Silva saíra contundido, mas ficou no banco de reservas de costas para o campo e de frente para a torcida para animá-la como se fosse um regente de orquestra”.

    Silva Batuta também conquistou a imprensa, como a Revista do Esporte, que já em 1965 pediu sua convocação na Copa: “O futebol de Silva é sua carta de apresentação no escrete. As arrancadas de Silva tem entusiasmado a torcida do Flamengo. Silva sabe matar com muita classe uma bola no peito. Considerado um dos mais importantes reforços conseguidos pelo futebol carioca nos últimos tempos, Silva está crescendo como ídolo da torcida do seu time com suas atuações. Sua produção tem sido de tão boa qualidade que já se fala nele como futuro companheiro de Pelé na Copa de 66 na Inglaterra”. No segundo turno do campeonato carioca, fez o único gol do jogo contra Vasco para classificar Flamengo no turno final. Alias, foi um golaço na gaveta do goleiro Gainete, como descreveu o eterno Nelson Rodrigues: “Foi um tiro mortífero, tão inapelável, que o goleiro não esboçou um gesto, não exalou um suspiro, não piscou um olho. A bola já sairá dos pés de Silva com a predestinação das redes. O gol foi trabalho dele, intuição dele, imaginação dele […] Houve quem dissesse: ‘Silva não jogou nada!’. Só jogou três ou quatro segundos na jogada do gol. Exato. Só o perna de pau tem de se virar os 90 minutos. O craque, não”. No turno final, Silva fez mais um gol para levar o Fla-Flu e uma semana depois, Flamengo entrou em campo já campeão, graças à vitória do Fluminense sobre Bangu no dia anterior. Silva, artilheiro do Flamengo na campanha, foi eleito melhor jogador do campeonato com 37 votos, bem na frente dos 20 para Murilo.

    Silva continuou a fazer gols em 1966, inclusive um hat-trick contra Fluminense, Almir Pernambuquinho fez o outro gol rubro-negro na vitória 4×1. Armando Nogueira viu um “Fla-Flu sem Flu” e o Jornal do Brasil escreveu sobre Silva Batuta: “Com uma atuação excelente contra o Flu, Silva consolidou sua posição de maior ídolo da torcida do Fla e para continuar assim, quer agora se transferir em definitivo para o clube”. Para começar o ano de 1966, Silva fez 10 gols em 14 jogos e logicamente foi na Inglaterra para a Copa do mundo. Fez 5 jogos na preparação, mas participou apenas do último jogo da Copa, quando o Brasil estava quase eliminado, e ainda se machucou durante o jogo. “A derrota na Copa de 66 foi uma das minhas maiores decepções no futebol. Havia muita desorganização. Algumas convocações foram políticas. Vários jogadores não tinham condição de jogo” explicou depois o Batuta.

    No seu primeiro jogo de volta ao Flamengo, Silva fez o único gol da partida contra Vasco na Taça Guanabara. Flamengo chegou até a final do torneio, na época separado do campeonato carioca, mas apesar de mais um gol de Silva, perdeu contra Fluminense. No campeonato carioca, Flamengo venceu a final do primeiro turno, de virada contra Bangu, com gols de Silva Batuta e Almir Pernambuquinho, os dois ídolos da Nação. Dois dias depois, Flamengo estava em Avellaneda para um amistoso de prestígio contra a Seleção argentina. Depois da abertura do placar dos argentinos, Flamengo reagiu e buscou o empate. Escreveu Marcelo Schwob: “Gildo cobrou corner da direita, Almir saltou sem tocar na bola que chegou a Silva pela esquerda que mergulhou na bola num peixinho espetacular, colocando-a nas redes de Roma”. Assim, Silva Batuta começava a tocar música para os hinchas argentinos. No campeonato carioca, Silva fez 12 gols, alguns decisivos, mas Flamengo perdeu na final 3×0 sobre Bangu, jogo que ficou marcado pela briga generalizada iniciada pelo Almir. E pior, o Barcelona comprou o passe de Silva, Batuta não era mais do Mengo.

    Na sua estreia no Barcelona, Silva fez 2 gols contra Botafogo no Torneio de Caracas, que vale mundial até para a diretoria do Botafogo, mas que não passa mais do que um torneio amistoso de prestígio, uma reclamação que apenas apequena o Botafogo. E Silva podia justamente jogar apenas os jogos amistosos no Barcelona, sem possibilidade de jogar no Espanhol. No Troféu Ibérico, Silva fez gol contra o Sporting e reencontrou em seguida Flamengo. O Mengão abriu o placar com gol de Fio Maravilha, que substituiu o Batuta em campo e nos corações dos torcedores rubro-negros. No final do jogo, um pênalti para Barcelona, Silva pegou a bola para cobrar, Jayme Valente indicou ao goleiro Marco Aurélio onde Silva iria chutar, sem realmente saber. Silva bateu, perdeu o pênalti e pediu sua saída do clube espanhol. Sem possibilidade de voltar ao Mengo, assinou com o Santos de Pelé.

    Na sua estreia no Santos, Silva fez o gol da vitória sobre Guarani, aproveitando do passe de Pelé. Porém, com um estilo de jogo semelhante ao Pelé, teve que jogar fora da posição, mais como pivô. “No Santos existe Pelé e ninguém o tirará do pedestal. Lá eu fiquei por baixo” explicou Silva em 1970. Fez 11 gols em 19 jogos com Santos, mas jogou apenas a metade do campeonato paulista, suficiente para conquistar o torneio, também suficiente para pedir sua saída do clube. E finalmente o destino foi Flamengo, que teve um ano bem ruim em 1967 com apenas 22 vitórias em 70 jogos. E ainda antes da sua volta oficial ao Mengo, Silva Batuta não só falou, mas mostrou amor de verdade ao clube rubro-negro: “Para ser franco, eu sempre tive a intuição de que mais cedo ou mais tarde eu voltaria. Isso porque me sinto mais confiante e certo de ser ídolo quando estou na equipe do Flamengo. Gosto muito da confiança que a torcida tem em mim e da maneira como ela me recebe. Foi no Flamengo que atingi a minha melhor forma técnica e foi aqui que fiz muitos amigos. Nunca cheguei a me afastar do Flamengo, mesmo após vendido ao Barcelona. O Corinthians, que era dono do passe, fez tudo sem comunicar ao Flamengo e a mim. Nesse período, fiquei um pouco abatido, pois não sabia de fato a que clube pertencia, o que afetou minha forma física e técnica. Ainda bem que no Barcelona não fiquei muito tempo. Quando percebi a dificuldade de jogar na Espanha, por causa da lei dos estrangeiros, comecei a pedir aos dirigentes que me transferissem […] Ainda no Santos, quando percebi que o Flamengo tinha condições de pagar ao Santos e ao Barcelona, resolvi viajar algumas vezes para o Rio e apoiar o presidente Veiga Brito na negociação com o Barcelona”.

    A reestreia de Silva no Flamengo foi um sonho, talvez até mais, uma coisa surreal. Primeiro jogo do Flamengo no Maracanã da temporada, mais de 86 mil torcedores no Maraca, goleada 5×1 contra o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes, 2 gols de Silva Batuta, um de canhota, outro de falta, geral cantando a samba “Voltei, aqui é o meu lugar” de Osvaldo Nunes. No intervalo, Silva, cansadíssimo, pediu sua substituição e se declarou mais uma vez ao Mengo: “Essa torcida me deixa maluco. Quando ela começa a gritar, sou até capaz de morrer em campo. É por isso que prefiro não voltar no segundo tempo. Sei que ainda não estou bem fisicamente e peço à torcida que tenha paciência para esperar a minha volta em melhor forma física. Juntos, vamos viver muitos momentos de plenitude. Nascemos um para o outro”. Quatro dias depois, entrou em campo contra Racing, campeão do mundo alguns meses antes contra o Celtic de Jock Stein, não impediu a derrota do Mengo, mas brilhou aos olhos dos argentinos.

    Na reestreia no campeonato carioca, Silva Batuta fez o único gol contra Bangu. Dez dias depois, fez 3 gols e uma assistência na goleada 5×0 sobre São Cristóvão. Contra Campo Grande na Gávea, Silva perdeu um pênalti, mas fez o gol da vitória faltando 4 minutos para o final do jogo. Fez 2 gols na vitória 4×2 no Fla-Flu e fez os 3 gols do jogo contra Bonsucesso, virando artilheiro do campeonato com 11 gols. Porém, Batuta se machucou e faltou o final do campeonato, conquistado pelo Botafogo do Roberto, artilheiro com 2 gols a mais que Silva. Voltou para a estreia da Taça Guanabara, com gol sobre America e decidiu quase sozinho o Fla-Flu: vitória 2×1, 2 gols de Silva Batuta, o maestro, líder e artilheiro do Flamengo.

    Flamengo partiu para uma excursão e jogou a terceira edição do prestigioso torneio Joan Gamper, organizado pelo Barcelona. Na estreia, Silva brilhou mais uma vez, fez o único gol do jogo contra o Athletic Bilbao, de uma bicicleta sensacional, uma jogada reservada aos craques, que lembrava mais uma vez Pelé. No dia seguinte, na decisão contra o Barcelona, mais um jogo eterno, mais um gol de Silva, infelizmente Flamengo perdeu a decisão por um placar incrível de 5×4. O time seguiu na África e jogou outro torneio prestigioso, a Copa Mohammed V no Marrocos. Na semifinal, Flamengo jogou contra o FAR de Rabat, time das forças armados do Marrocos e último campeão nacional. O placar era 1×1 quando Paulo Henrique cobrou um lateral rápido para Silva, que driblou um zagueiro e fez o gol. Na tribuna de honra do estádio Marcel Cerdan, o Rei Hassan II, filho de Mohammed V, não gostou e desceu no campo para mandar o juiz anular o gol. Ordem do Rei, dito e feito, o juiz voltou atrás. Palavra final para Silva, que fez o gol da vitória minutos depois, sem o Rei poder dizer nada.

    Flamengo estava na final e jogava contra um adversário poderoso, o Racing argentino, último campeão mundial. E de novo Silva Batuta mostrou toda sua classe e seu repertório de mestre de futebol. Silva fez 2 gols na vitória 3×2 e deixou mais uma vez grande impressão para a imprensa argentina. De volta ao Brasil, Flamengo perdeu a final da Taça Guanabara contra Botafogo e no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ficou na penúltima colocação de seu grupo. Em 10 jogos, Silva, que jogava mais recuado em campo, não fez nenhum gol e foi criticado pela torcida, sempre exigente mesmo com seus maiores ídolos. Sem dinheiro para comprar o passe ao Barcelona, Flamengo deixou sair Silva Batuta, que fez seu último gol com o Manto Sagrado no início de 1969, no Suriname contra Robin Hood.

    A destinação para Silva foi a Argentina e o Racing, contra quem já tinha brilhado com o Manto Sagrado. Na Argentina, o Batuta fez jus às comparações ao Rei Pelé, fez seu primeiro gol no seu segundo jogo no clube, voltou ao Maracanã para um amistoso contra Flamengo, voltou a marcar, agora contra Flamengo. Na Recopa Sudamericana de 1968, Silva fez 2 gols contra o Santos de Pelé, mas não foi suficiente, o Peixe venceu 3×2. No ano seguinte, Silva voltou a fazer doblete contra o Santos, ainda com Pelé em campo, que tinha feito 10 dias antes o gol 1.000, e agora o Batuta saiu com a vitória 2×1. Porém, o Racing perdeu o jogo decisivo contra Peñarol e deixou escapar o título. No campeonato argentino, o time de Avellaneda foi surpreendentemente eliminado na semifinal contra Chacarita, mas Silva foi artilheiro do campeonato metropolitano com 14 gols. Até hoje, Silva Batuta é o único brasileiro a ter sido artilheiro do campeonato argentino. Em 1981, uma enquete de El Gráfico o colocou como oitavo maior jogador da história do clube.

    Criticado por suas idas e voltas ao Brasil, Silva voltou definitivamente no Rio, agora no Vasco, que não vencia o campeonato carioca desde 1958. Claro, Silva voltou a fazer seus gols, mas não foi convocado para a Copa do mundo de 1970, Zagallo preferindo o botafoguense Roberto Miranda. Semanas depois, fez o único gol do jogo contra Flamengo, que tirou o rubro-negro da luta para o título. Ainda no Maracanã, Silva abriu o placar contra Campo Grande e fez 2 gols contra o America. No jogo do título, Vasco venceu o Botafogo de Zagallo e colocou fim a um jejum de 12 anos. Artilheiro do time cruzmaltino com 10 gols, Silva comemorou: “Vencemos porque jogamos com fibra, com amor e paciência nos momentos difíceis. Porque nós todos fomos amigos: jogadores, técnicos e dirigentes”.

    A temporada de 1971 foi mais difícil para Silva, que foi emprestado ao Botafogo, mas lá também teve pouco espaço. Voltou no Vasco onde fez dupla com o gênio Tostão, estreando num empate 2×2 contra Flamengo. Escreveu Marcelo Schwob: “O primeiro gol (12 minutos), o mais bonito da partida, já mostrava o entendimento natural do ataque do Vasco. Tostão foi à ponta esquerda, driblou seu marcador e cruzou de forma precisa para Silva, que chutou com precisão e fez”. Fez 13 gols em 1972 e depois passou por Colômbia, Rio Negro e Venezuela. E assim acabou melancolicamente a carreira de um dos maiores atacantes de sua época. Fala o próprio Batuta: “A polícia passava, pedia documentos e mandava colocar as mãos na cabeça. Devo ter feito mais de dez jogos em 3 meses. As viagens eram de ônibus em estradas ruins e com precipícios. Um perigo só. E tinha assalto no caminho! Ao mesmo tempo, jogando eu sentia o peso da idade. Eu já estava começando a respeitar os beques… Senti que era hora de parar. Na época da Copa do Mundo de 1974, pensei naquilo tudo. Era demais. Eu já tinha sido jogador de seleção. Tinha disputado uma Copa. Estava longe da família. Não merecia aquilo e tinha minha família me esperando. Já tinha alguns meses nesse sofrimento e decidi simular uma contusão e voltar para o Brasil. E nunca mais voltei”.

    Depois da carreira, Silva trabalhou nas divisões de base do Flamengo e até tentou ser advogado. Ainda Silva: “Cheguei a fazer estágio num escritório de advocacia, mas acabei não seguindo este destino e deixei a profissão. Preferi voltar às origens. Sou apaixonado pelo Flamengo. Então, resolvi dar expediente de novo aqui”. Batuta era isso, uma história de amor recíproco com o Flamengo, até seus filhos, Waltinho e Wallace, jogaram no Flamengo. Silva fez grandes duplas, com Rivelino no Corinthians, Almir no Flamengo, Pelé no Santos, Tostão no Vasco, mas sua maior dupla foi ele mesmo com o Manto Sagrado. Mesmo depois de parar definitivamente de tocar musica, Silva nos deixou em 2020 aos 80 anos, foi um exemplo da paixão rubro-negra. Não importa os gols, 69 para Silva, os jogos, 132 para Silva, os títulos, o campeonato carioca de 1965 como destaque para Silva, tem com alguns jogadores, como Silva, como Almir e tantos outros, uma coisa a mais, uma coisa impalpável mas implacável, uma coisa entre o jogador e a torcida, que, como falou o Batuta na sua volta ao clube, “nasceram um para o outro”.

  • Jogos eternos #231: Flamengo 3×2 Botafogo 2019

    Jogos eternos #231: Flamengo 3×2 Botafogo 2019

    O ano de 2024 acaba e o grande nome da temporada foi Botafogo, campeão brasileiro e sul-americano. Foi até comparado ao Flamengo de 2019. Que os cegos do clubismo me perdoam mas com algumas razões. O quarteto ofensivo do Botafogo empolgou e o time repetiu um feito que foi alcançado apenas pelo Santos de Pelé e o Flamengo de 2019, conquistando no mesmo ano o Brasileirão e a Copa Libertadores. Porém, num mano a mano entre os jogadores dos dois times, Flamengo ganharia no mínimo 8×3, e não seria um exagero um 11×0, até 12×0 com Jorge Jesus. Sem clubismo, o Flamengo de 2019 jogou mais e vamos para mais um jogo dessa temporada histórica, contra o próprio Botafogo.

    Nos seus 5 primeiros jogos no comando do time, Jorge Jesus teve um retrospecto apenas razoável, até surpreendente considerandos os números finais, com 1 vitória, 3 empates e 1 derrota. A vitória foi uma goleada 6×1 sobre Goiás, um jogo eterno no Francêsguista, mas faltava ainda coisas para marcar a história, faltava uma vitória marcante num clássico para marcar as consciências. Para o Clássico da Rivalidade contra Botafogo, no 28 de julho de 2019, Jorge Jesus escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Trauco; Willian Arão, Cuéllar, Gerson; Bruno Henrique, Lincoln, Gabigol. Flamengo andava com alguns desfalques no setor ofensivo, como Diego, Éverton Ribeiro, Arrascaeta e Vitinho, mas ainda era um timaço.

    E teve mais um desfalque nos 15 primeiros minutos do jogo, com a saída por lesão de Rodrigo Caio, dando espaço para Thuler. No escanteio que prosseguiu o lance, Jonathan Silva cobrou com efeito, Cícero apenas desviou, suficiente para fazer o gol e abrir o placar em favor do Botafogo. Faltando 10 minutos para o final do primeiro tempo, Rafinha acelerou e abriu na direita para Gerson. O ainda não Vapo fixou Jonathan Silva, invadiu a grande área, abriu ângulo e chutou forte, firme, na rede. Gerson fazia seu primeiro gol no Manto Sagrado e agora sim, fazia uma comemoração inédita mas em breve icônica, o Vapo, uma “execução” com os braços, comemoração pedida por um amigo quando ainda jogava na Itália. Para seu terceiro jogo no clube, a história entre Gerson e Flamengo começava certinha.

    No início do segundo tempo, Gabigol fez o passe de calcanhar na direita para Rafinha, que fez o drible de vaca sobre Jonathan e cruzou. Joel Carli saiu mal, Gabigol pegou de primeira e fez o gol da virada, o golaço, a comemoração já icônica, o chororô. Uma comemoração que começou em 2008 com Souza, continuou com Léo Moura e Obina, depois Hernane em 2013 e Vinícius Júnior em 2018. E agora Gabigol na frente do banco do Botafogo, que chorou no primeiro tempo para a expulsão de Cuéllar. Flamengo passava na frente no placar e Rafinha, no seu quarto jogo com o Manto Sagrado, já brilhava, começava uma história inacabada com o Mengo. E nas arquibancadas, vibrava a nova contratação do clube, Filipe Luís, que de torcedor a jogador, continuava com o Flamengo uma história de amor que nunca acabaria.

    Flamengo ficou pouco tempo na frente, Diego Souza fez valer a lei do ex e chutou com força uma falta para o gol do empate, o golaço do Botafogo. E o empate no placar ficou ainda menos tempo. Faltando 15 minutos para o final do jogo, mais uma vez a jogada saiu dos pés de Rafinha, que com uma finta derrubou João Paulo da jogada. Rafinha fez o passe para Gabigol, que dominou e completou a tabelinha no timing certo. Na grande área, Rafinha dominou e continuou com passe no espaço certo, sem possibilidade para a defesa ou o goleiro de intervir. Na segunda trave, Bruno Henrique só teve a empurrar nas redes para fazer seu 7o gol em 9 clássicos com o Manto Sagrado. E mais, o gol da vitória saía de uma jogada coletiva, onde o Flamengo todo era superior ao adversário. Era o início de um time inesquecível, não teria outros times para fazer a comparação. Os outros que serão comparados ao Flamengo de 2019.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”