Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #86: Flamengo 1×0 São Paulo 2007

    Jogos eternos #86: Flamengo 1×0 São Paulo 2007

    Eu acho que Flamengo ainda pode ganhar o Brasileirão 2023 apesar da distância com Botafogo. Mas Flamengo não pode perder mais, tem que ganhar, tem que arrancar, como fez em 2007. Eu acho que o jogo mais emblemático da arrancada de 2007, quando Flamengo foi do Z-4 até o G-4, foi o jogo contra São Paulo, justamente o adversário de hoje.

    Depois de fechar o primeiro turno na penúltima colocação, Flamengo foi melhor no início da segunda fase, com apenas uma derrota nos últimos 10 jogos antes do jogo contra SPFC. Mas a fase inicial foi tão ruim que Flamengo ainda estava na segunda parte da tabela depois da vitória 1×0 contra o Atlético Mineiro na 28a rodada. Ao contrário, São Paulo era o líder disparado do campeonato, com 12 pontos a mais do que o segundo, Cruzeiro. Campeão da América e do Mundo em 2005, campeão do Brasil em 2006, o São Paulo de Muricy Ramalho era uma máquina e não perdia no Brasileirão há 16 jogos. O favorito disparado do jogo.

    Mas Flamengo tinha alguma coisa a mais, tinha raça, tinha amor, tinha paixão. Tinha torcida também, que bateu uma primeira vez o recorde do publico do Brasileirão 2007 com 59.098 pagantes e 68.031 presentes nesse 4 de outubro de 2007 para o jogo contra São Paulo. Tinha também um treinador carismático, Joel Santana, que escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Ronaldo Angelim, Fábio Luciano, Juan; Rômulo, Jaílton, Cristian, Ibson; Maxi Biancucchi, Souza.

    Flamengo começou o primeiro tempo pressionando e fez um gol nos cinco primeiros minutos, mas o impedimento de Souza foi bem marcado. Cristian acertou a travessão e, num outro lance, parou no Rogério Ceni depois de tabelinha com Maxi, primo de Messi. São Paulo só teve um lance de perigo no primeiro tempo, já nos acréscimos, mas Bruno fez boa defesa nos pés de Borges. No intervalo, ainda 0x0, com maior personagem do jogo o próprio Maracanã, a torcida fazendo um show à parte.

    Flamengo começou o segundo tempo pressionando e fez um gol nos cinco primeiros minutos. Numa falta na linha de meio, Léo Moura foi acionado na grande área, teve confusão com zagueiros de São Paulo e Souza, mas Ibson recuperou, na sorte e na habilidade conseguiu um drible de vaca e fez um leve toque de cobertura para derrubar Rogério Ceni. Um golaço de um craque, de um ídolo. Flamengo tinha em 2007 a raça e a paixão, tinha Joel Santana no banco, Léo Moura e Juan nas lateiras, mas além de tudo, tinha Ibson, o maior responsável dessa arrancada inesquecível, com liderança, carisma, jogadas imparáveis e golaços.

    E Flamengo tinha sua torcida, que ampliou ainda mais seu show particular. Flamengo ainda teve lances perigosos, antes de São Paulo pressionar pelo empate. Mas Bruno fez boas defesas, desviando uma cabeçada de Aloísio na trave. No final, vitória do Flamengo com raça, amor e paixão. Mesmo sem esperanças para o fim da temporada, a torcida do Flamengo respondeu presente, deu voz e fez um dos maiores shows do Maracanã do terceiro milênio, emocionando no final do jogo o capitão da raça, Fábio Luciano.

    O jogo contra São Paulo ainda marcou o nascimento de um de meus cantos favoritos sobre Flamengo, adaptação do Tema da Vitória eternizado pelo Ayrton Senna, e com essa letra para Flamengo: “Eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu Mengo, tu és time de tradição, raça, amor e paixão, oh meu Mengo,”. Como era lindo o Maraca assim…

    Sem esperanças após o fim do primeiro turno, Flamengo estava com esse sucesso contra São Paulo de volta na primeira parte da tabela e, com a torcida ao seu lado como sempre, ia conseguir ainda mais coisas até o fim do campeonato. Mais uma vez, aprende Flamengo de 2023.

  • Jogos eternos #85: Olimpia 1×4 Flamengo 2021

    Jogos eternos #85: Olimpia 1×4 Flamengo 2021

    A Copa Libertadores 2021 foi estranha por causa da Covid, com estádios vazios ou quase. Flamengo começou muito bem a competição com 3 vitórias seguidas, e depois empatou conseguidamente 3 vezes, o que não impediu o time de fechar a fase de grupos no primeiro lugar, com 2 pontos a mais do que Vélez Sarsfield. Nas oitavas de final, passou de outro argentino, Defensa y Justicia, dom 2 vitórias. O adversário nas quartas de final era Olimpia, que tinha eliminado o Internacional nos pênaltis na fase anterior.

    Eu relembro muito bem do jogo de ida das quartas de final, no campo de Olimpia, porque era a reabertura do consulado Fla Paris. Depois de 3 lockdowns na França e um ano e meio sem jogos nos bares, o consulado estava de volta, em casa, no Fleurus, lá no 14o arrondissement de Paris. Por causa do horário, uma quarta-feira as 0h15, o consulado Fla Paris tinha só três representantes: Sammy, Waldez e claro, eu. Um número pequeno, mas era muito bom de se ver de novo, de estar de volta, a vida voltava à normalidade, o Flamengo e a cerveja.

    No 11 de agosto de 2021, Renato Gaúcho escalou Flamengo assim: Diego Alves; Isla, Gustavo Henrique, Léo Pereira, Filipe Luís; Willian Arão, Diego, Éverton Ribeiro; Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol. No lado do time paraguaio, destaque para o antigo jogador do Bayern, Roque Santa Cruz, que ia comemorar seu 40o aniversário 5 dias depois. Os estádios também voltavam a um pouco de normalidade, com a presença de um publico de 10% da capacidade do estádio. No estádio Manuel Ferreira de Assunção, mais ou menos 2.000 pessoas.

    Jogo começou equilibrado, mas primeiro gol foi de nosso Mengo, de um trio mortal para os adversários, imortal para nós flamenguistas. Bruno Henrique para Gabigol, com um passe em profundidade para completar a tabela. Na frente do goleiro, Bruno Henrique tinha a opção individual do chute ou a escolha coletiva do passe. E brilhou o coletivo, chegou Arrascaeta para completar o trio imortal, para completar o gol. Na comemoração, ninguém foi esquecido, Gabigol, Bruno Henrique e Arrascaeta fizeram a fusão à la Dragon Ball Z. Uma união, dentro e fora do gramado, que ninguém pode parar, que eu adoro amar.

    Depois, teve vários lances, várias interrupções do VAR também, até teve anulação do cartão vermelho de Filipe Luís e pênalti para Flamengo. O futuro artilheiro da competição, Gabigol, fez o gol sem tremer, no 12o minuto dos acréscimos do primeiro tempo. Olimpia fez o gol da esperança, dois minutos tempos, ainda no primeiro tempo. Detalhe na França e no Fleurus, com a ajuda da cerveja e o peso do cansaço, de tantas interrupções que teve o jogo, Sammy achava que era o fim do jogo e não apenas o fim do primeiro tempo, já pronto para desligar o material para retransmitir o jogo. Eu tentei explicar que era só o fim do primeiro tempo, Waldez também, não deu, Sammy desligou mesmo. Mas com quase 2 da manhã, o bar tinha que fechar, e voltei em casa de Uber com Waldez.

    Conseguimos um Uber e assistimos ao início do segundo tempo no celular de Waldez, ainda dentro do carro. Relembro que ainda era o momento do jejum de gol de falta, 3 anos sem uma falta nas redes, e quando teve uma boa oportunidade de falta, a retransmissão travou porque entravamos num túnel. Achei que ia faltar o gol do fim do tabu, mas não deu, Flamengo não fez gol nesse lance. Não relembro se eu assisti ao terceiro gol do Mengo no jogo, de Gabigol na segunda trave depois de um chute cruzado de Bruno Henrique.

    Nos acréscimos, agora sim do segundo tempo, Thiago Maia abriu para Gabigol, na cara a cara com o goleiro. Gabigol também teve a opção individual ou coletiva, também escolheu o coletivo, deixou para Vitinho fazer o tento da goleada, o gol da tranquilidade, finalmente não necessário depois de uma outra goleada no jogo de volta, um 5×1 no Maracanã. O Flamengo voltava pouco a pouco à normalidade.

  • Times históricos #21: Flamengo 1951

    Times históricos #21: Flamengo 1951

    O ano de 1951 foi um ano de mudanças, de inícios também, não só pelo Flamengo, mas também para o futebol brasileiro. Alguns meses antes, nasceu o colosso Estádio Municipal, o Gigante do Derby, já rebatizado Maracanã depois do fracasso da Seleção na Copa de 1950. Mas agora Rio, e Flamengo, tinham um estádio digno das apresentações dos ídolos do clube, um estádio para conquistar ainda mais massas rubro-negras.

    O campeonato carioca de 1950, o primeiro da Era Maracanã, estendeu-se até o início do ano de 1951. Flamengo estava já sem chance de título, com um campeonato muito ruim em 1950: 6 vitórias, 3 empates e 9 derrotas, perdendo até contra Madureira e Olaria! Mas Flamengo iniciou 1951 de maneira linda, com uma vitória 5×2 no Fla-Flu, três gols de Durval, um de Esquerdinha, que se chamava assim porque era canhoto, e um de Gringo, não sei porque se chamava assim porque era sergipano. Flamengo ainda tinha os ídolos Dequinha e Biguá, e dois jogadores massacrados – não tem outra palavra – depois do Maracanaço, Juvenal e Bigode.

    Para fechar o campeonato carioca 1950, finalmente vencido mais uma vez pelo Vasco e seu Expresso da Vitória, Flamengo perdeu 3×4 contra Bangu, mais uma derrota, mas menos dura do que no jogo do ida, quando Flamengo perdeu 6×0 contra o Bangu de Zizinho! O antigo ídolo do Flamengo foi cedido algumas semanas antes pelo presidente Dario Melo de Pinto, que ainda tentou convencer a Nação que Zizinho era em fim de carreira. Uma jogada infeliz, que custou ao Melo de Pinto o posto de presidente. No 15 de janeiro de 1951, tomou posse talvez o mais apaixonado dos presidentes da história do Flamengo, Gilberto Cardoso. No primeiro amistoso da temporada de 1951, Flamengo ficou no 3×3 contra o Atlético Mineiro, 2 gols de Durval e um de Gringo. Dois dias depois, na já referida derrota contra Bangu, 2 gols de Durval e um de Esquerdinha. Flamengo tinha um trio mortal no ataque.

    Depois de mais um empate num amistoso contra o Atlético Mineiro, com mais um doblete de Durval, Flamengo estreou no Torneio Início do torneio do Rio – São Paulo, a única edição da história, que imitava o torneio início do campeonato carioca: jogos de tempo curto, no mesmo dia, com critério de desempate o número de escanteios. Outros tempos do futebol. Mas o Maracanã já permitia de ter um publico grande, e Flamengo foi eliminado na estreia contra o Corinthians, depois de um empate 0x0, perdendo 2×1 no número de escanteios. Na final, Bangu venceu o America. Outros tempos do futebol.

    Flamengo fez o primeiro jogo da história do Maracanã no Torneio Rio – São Paulo e iniciou de uma maneira linda, com goleada 5×2 contra a Portuguesa. Jogo marcou a volta como técnico de Flávio Costa, que conquistou o primeiro tricampeonato carioca de Flamengo, entre 1942 e 1944, antes de ganhar ainda mais prestígio com o Expresso da Vitória do Vasco, antes de perder prestígio com o Maracanaço. E perdeu ainda mais com uma dura goleada tomada contra Palmeiras, futuro campeão do torneio Rio – São Paulo 1951, uma derrota 7×1 com quatro gols de Liminha. Flamengo fechou a competição no quarto lugar, com melhor resultado uma vitória 4×2 contra São Paulo no Maracanã, também o primeiro jogo oficial de um futuro ídolo do clube, Índio, chamado assim por causa da origem, e que será o herói da classificação da Seleção na Copa do Mundo de 1958, fazendo o gol do empate no Peru, antes do gol decisivo de Didi no Maracanã.

    O Maracanã também era o palco de jogos amistosos e Flamengo goleou em 1951 o Internacional, uma vitória 6×3 com 2 gols de Hermes e um de Índio. Em seguida, Flamengo estreou no Torneio Municipal do Rio de Janeiro. Eram outros tempos do futebol e do avião, não tinha possibilidades de um torneio nacional e os melhores times ainda ficavam no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Além do campeonato estadual, tinha outros torneios para os times do Rio de Janeiro. Flamengo estreou com um sucesso 1×0 contra Bonsucesso, gol de Hélio, mas perdeu no segundo jogo, de novo contra Bangu. Flamengo se recuperou com uma das maiores goleadas da sua história, um 13×0 contra uma seleção de São Lourenco. O antigo ídolo Dequinha fez quatro, Índio e Adãozinho fizeram três, Esquerdinha, Pavão e Nestor completaram a goleada. Também congelou Frigorífico 7×0, de novo com um hat-trick de Índio, um novo ídolo da Nação. Nos amistosos, eram só goleadas, 5×2 contra Rio Branco, com 4 de Hermes, e 6×0 contra Goytacaz. No Torneio Municipal, Flamengo era bem, com 3 vitórias, 2 empates e 1 derrota. E o presidente Gilberto Cardoso tomou uma decisão que mudou a história do clube.

    Apesar do fracasso no Maracanaço, o futebol brasileiro era agora muito respeitado no mundo. Era sinônimo de futebol-arte, de dribles, de espetáculo, de estádio cheio. E pela primeira vez na sua história, Flamengo embarcou na Europa, começando a excursão na Suécia, com um jogo contra Malmö, time que o Flamengo já tinha enfrentado duas vezes no Rio de Janeiro em 1949 e que ajudou a organizar a turnê. No estádio Rasunda, futuro palco do primeiro título mundial da Seleção em 1958, Flamengo começou com uma vitória, Esquerdinha fazendo o único gol do jogo. De novo no estádio Rasunda, Flamengo goleou 6×1 AIK, um dos melhores times da Suécia, na frente de Gustavo VI, o novo Rei da Suécia, depois de um reino de 43 anos de seu pai, Gustavo V.

    Flamengo voltou a jogar contra Malmö, mas no estádio Idrottsplats, onde o time sueco estava invicto há 47 jogos. E Malmö perdeu, Nestor fazendo para o time rubro-negro os dois gols do jogo. Flamengo ainda venceu dois times suecos, foi na Dinamarca onde venceu um time que era quase o time olímpico de 1948 e 1952, e voltou na Suécia, de novo, ainda, sempre, com vitórias, 2×0 contra Halmia e 6×1 contra Norrköping. Pela primeira vez de sua história, Flamengo jogou no meu país, a França, na minha cidade, Paris, no Parque dos Príncipes. Segundo o jornal francês Le Monde, Flamengo derrotou “com uma elegante facilidade”, o Racing Paris, finalista da Copa da França 1950, com dobletes de Hermes e Adãozinho e gol de Esquerdinha para um placar final de 5×1. Flamengo fazendo show na França, outros tempos do futebol.

    Flamengo concluiu a excursão com uma vitória 3×0 no Portugal contra Belenenses, uma excursão perfeita: 10 jogos, 10 vitórias, 32 gols em favor e apenas 4 gols contra. Jogando com um time reserva no Torneio Municipal, Flamengo ficou no 7o lugar, mas tinha conseguido uma coisa mais valiosa: conquistou a Europa, o publico e a imprensa, e também impressionou o Jornal dos Sports, que enviou na Europa dois jornalistas para acompanhar a excursão. Na volta do time ao Brasil, o Jornal dos Sports manchetou: “Carnaval em junho: chega o Flamengo!”. Os jogadores foram aclamados por uma massa rubro-negra do aeroporto do Galeão até o Largo da Carioca, e não foram só rubro-negros que acolheram o time, até o presidente do Botafogo, Carlito Rocha, acompanhou o desembarque. O time, que incorporou o zagueiro Pavão e o atacante Adãozinho, era a alegria da torcida flamenguista e o orgulho do Brasil, um ano depois do Maracanaço.

    De volta ao Brasil, Flamengo disputou o Torneio Início, outra competição entre clubes cariocas antes do campeonato estadual, também em um dia só. Flamengo venceu Madureira, America, Fluminense e Bangu, e conquistou o título. Duas semanas depois, Flamengo estreou no campeonato carioca, que não vencia desde 1944. E Flamengo iniciou o campeonato carioca 1951 de maneira linda, com bom sucesso 2×1 contra Bonsucesso, gols de Hermes, que já tinha sido o artilheiro da excursão na Europa com 9 gols em 10 jogos, e de Índio, o novo grande nome do ataque rubro-negro. Flamengo ainda era irregular, com empate contra Olaria, vitória contra Canto do Rio, mas derrotas contra Botafogo e Bangu. O favorito do campeonato ainda era o último campeão, Vasco, que tinha vencido seus 4 primeiros jogos, incluindo uma vitória 4×2 contra o Fluminense de Didi, Castilho e Telê.

    Vasco era na época uma máquina, o Expresso da Vitória, vencedor do campeonato carioca em 1945, 1947, 1949 e 1950. O time era bom em todas as linhas, da defesa até o ataque, do goleiro até o centroavante. Os jogadores era de nível da Seleção, com 6 em campo com a camisa branca da Seleção brasileira no dramático 16 de julho de 1950. Esse time ganhou muitos jogos, perdeu muitos poucos. E contra Flamengo, perdia nenhum. A última vitória do Flamengo no Clássico dos Milhões vinha do Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro no 8 de abril de 1945. Depois, Flamengo tomou um 5×1 um mês depois e nunca mais ganhou. Até o 16 de setembro de 1951, foram 20 jogos, 15 vitórias do Vasco, 5 empates, nenhuma vitória do nosso Mengo. Um longo jejum, o pior da história do Clássico dos Milhões. Esse jogo merece ser eternizado nesse blog, vamos falar aqui que Vasco abriu o placar no início do jogo, e Fla virou, com gols de Adãozinho e Índio. Na frente de mais de 120.000 espectadores no Maracanã, Flamengo pôs fim ao jejum, um jogo que consagrou Rubens, um meio-campista clássico, que fazia seu primeiro jogo com o Manto Sagrado e que merece sua crônica na categoria dos ídolos.

    Flamengo ficou irregular durante a campanha do campeonato carioca, incluindo uma derrota 1×0 no Fla-Flu, onde o Jornal dos Sports promoveu um concurso de torcidas, com balões, confetes e batucada. O recém Maracanã transformava mais uma vez o Fla-Flu. Além da presença no estádio do presidente Getúlio Vargas, o jogo marcou também a estreia de mais um novo ídolo do Flamengo, o atacante Joel, futuro campeão do mundo 1958. Flamengo também se ofereceu mais amistosos de prestígio. No 15 de novembro, dia do aniversário do clube, Flamengo jogou pela primeira vez contra Boca Juniors, e mesmo sem vitória, Flamengo iniciou esse confronto clássico de maneira linda, um empate 2×2 com gols de Hermes e Rubens. Também jogou contra outro time argentino, Independiente, também um empate, mas com ainda mais gols, um 5×5, dobletes de Hermes e Adãozinho e gol de Esquerdinha para Flamengo.

    Flamengo fechou o ano já sem esperança do título no campeonato carioca mas com três vitórias, uma contra Bangu que finalmente ajudaria Fluminense a conquistar o título, mais um sucesso 2×0 contra Vasco, gols de Joel e Rubens, e no 29 de dezembro de 1951, uma goleada 5×2 sobre Olaria. Flamengo não conquistou títulos em 1951, mas conquistou a Europa. Flamengo não conquistou troféus em 1951, mas conquistou novos ídolos, como Pavão, Adãozinho, Índio, Joel e Rubens, que escreveram algumas das páginas mais lindas da história do Flamengo nos anos seguintes.

  • Jogos eternos #84: Flamengo 3×1 Olimpia 1993

    Jogos eternos #84: Flamengo 3×1 Olimpia 1993

    Eu concluí a crônica da semana passada com um “Baixinho, sempre o Baixinho”, quando Romário fez gol contra Grêmio na Copa do Brasil. Para o jogo da Libertadores contra Olimpia, tive vontade de escrever sobre a abertura da Copa Mercosul de 1999, quando o Baixinho fez 2 golaços contra Olimpia. Mas já escrevi muito sobre essa competição, as goleadas na primeira fase contra os chilenos, Colo-Colo e Universidad de Chile, e a final, um jogo eterno contra Palmeiras. Eu vou então de um outro jogo contra Olimpia, na Supercopa Libertadores, o predecessor da Copa Mercosul.

    A Supercopa Libertadores foi criada em 1988 para ser a segunda competição continental, após a indestronável Copa Libertadores. Para se classificar, precisava vencer justamente a Copa Libertadores, ao menos uma vez. Gigante no continente e campeão da América em 1981, Flamengo participou de todas as edições, com melhor resultado uma semifinal em 1992, perdida contra Racing, com uma derrota 1×0 na volta depois de um 3×3 na ida, outro jogo eterno aqui.

    Um ano depois, o último campeão da Supercopa Libertadores, Cruzeiro, estreava com um 6×1 contra Colo-Colo, com um hat-trick de um fenômeno de 17 anos, Ronaldo. Um dia depois, Flamengo estrava na competição com derrota, José Cardozo fazendo para Olimpia o único gol da partida. Uma semana depois, Flamengo precisava reverter o resultado no Maracanã, quase vazio, com 12.448 espectadores.

    O técnico rubro-negro era na época um ídolo do clube, um ídolo de primeira categoria, que ainda mostrava sua classe e sua maestria nos campos alguns meses antes, Júnior. No 13 de outubro de 1993, para o jogo de volta da primeira fase da Supercopa Libertadores, na verdade uma oitava de final, Flamengo foi escalado assim: Gilmar; Charles Guerreiro, Júnior Baiano, Rogério, Pia; Fabinho, Marquinhos, Nélio, Marcelinho Carioca; Renato Gaúcho, Casagrande.

    Renato Gaúcho, que voltava a titularidade depois de dois meses e meia longe dos gramados, precisou de apenas 10 minutos para a abrir o placar, com uma cabeçada depois de bom cruzamento de Charles Guerreiro. A Supercopa Libertadores sorriu para Renato Gaúcho, que foi campeão e artilheiro um ano antes com Cruzeiro, fazendo dois gols no jogo de ida da final contra o Racing. Um ano depois, Renato Gaúcho brilhava pela terceira vez com a camisa rubro-negra em 1993, um time histórico, apesar da falta de títulos.

    Contra Olimpia, 10 minutos antes do intervalo, foi a vez de outro atacante veterano, cabeludo e polêmica de fazer o gol de cabeça, Casagrande, depois de bom escanteio de uma promessa, cabeça raspada e polêmico, Marcelinho. Flamengo igualava no placar agregado, mas precisava ainda de um gol para se classificar. E no segundo tempo, outro craque promissor, campeão da Copinha de 1990, Nélio, deu um drible de caneta na grande área, passou de um segundo defensor, que cometeu o pênalti. O zagueirão Júnior Baiano, que já tinha feito o único gol da final da Copinha de 1990, transformou a penalidade com tranquilidade.

    No final do jogo, o gol de Vidal Sanabria para Olimpia só serviu para decretar o placar final: 3×1 para Flamengo, que ainda passaria de River Plate e Nacional antes de perder a final da Supercopa Libertadores na disputa de penalidades contra São Paulo.

  • Jogos eternos #83: Atlético Mineiro 1×3 Flamengo 2009

    Jogos eternos #83: Atlético Mineiro 1×3 Flamengo 2009

    Flamengo x Atlético Mineiro é um clássico do Brasileirão. Flamengo ganhou em cima do Galo o Brasileirão de 1980 e classificou-se na final da edição de 1987, dois jogos que ainda devem ser eternizados aqui, além do jogo da Libertadores de 1981. No momento, é a hora de lembrar um jogo decisivo no caminho do hexa, no final do Brasileirão de 2009.

    Jogo era na 34a rodada. Flamengo acabava de entrar no G-4 pela primeira vez da temporada, depois de vitória importantíssima contra Santos. O Atlético Mineiro era no terceiro lugar, com dois pontos a mais do que Flamengo, contra quem não perdia no Mineirão desde 2002. Um Mineirão lotado no 8 de novembro de 2009, com 63.285 pagantes. Jogo era decisivo para a Libertadores, até talvez para o Brasileirão, e o técnico e ídolo Andrade escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim, Juan; Maldonado, Aírton, Willians, Petkovic; Zé Roberto, Adriano. No lado do Galo, destaque para o antigo atacante da casa rubro-negra, Diego Tardelli, e para o pentacampeão Ricardinho.

    O Atlético Mineiro teve as duas primeiras oportunidades do jogo, mas Flamengo reagiu de contra-ataque, com bom passe de Petkovic e finalização de Zé Roberto. Carini defendeu, mas Flamengo obteve o escanteio. Petkovic foi bater, do mesmo lado onde, um mês depois, ele será eternizado mais uma vez. Contra o Galo, Petkovic fez mais uma obra de arte, mais um gol olímpico, três semanas depois de outro gol olímpico, no campo de Palmeiras. Petkovic parecia iluminado nesse final do Brasileirão 2009 e foi mais uma vez decisivo, fazendo seu gol 50 com o Manto Sagrado.

    O Atlético Mineiro voltou a dominar, mas Bruno, na linha ou longe de sua área, impediu o empate. No final do primeiro tempo, Zé Roberto, outro iluminado nesse final do campeonato, fixou a defesa e abriu para o chileno Maldonado, que com um chute cruzado, fez seu primeiro gol com o Manto Sagrado. Ainda no primeiro tempo, Corrêa, sozinho e perto da marca de penalidade, perdeu grande oportunidade para o Atlético Mineiro. No intervalo, vantagem de dois gols para o rubro-negro.

    Na volta dos vestiários, o Atlético Mineiro finalmente fez um gol, marcado pelo Ricardinho, que inflamou o Mineirão. O risco de empate era grande, mas foi Zé Roberto que quase fez o quarto gol da partida, no lado direito da defesa atleticana. Cada time teve suas oportunidades, sem conseguir fazer o gol. Até o minuto 36 do segundo tempo e um domínio perfeito de Adriano de peito. Ainda abriu na direita para Léo Moura, que deixou um pouco mais na frente para outro chileno, Gonzalo Fierro, que tinha entrado no lugar de Petkovic, limitado com dores na coxa. Fierro cruzou e o Imperador voltou a ser mais uma vez decisivo nesse Brasileirão, antecipando a saída de Carini e fazendo o gol de cabeça.

    Adriano empatou com Diego Tardelli na liderança dos artilheiros com 18 gols no Brasileirão, mas tinha ainda mais importante. Com essa vitória 3×1, Flamengo passava na frente do adversário do dia e com apenas 2 pontos a menos do que o líder São Paulo, o rubro-negro acreditava mais do que nunca no Hexa.

  • Jogos eternos #82: Grêmio 1×2 Flamengo 1999

    Jogos eternos #82: Grêmio 1×2 Flamengo 1999

    Flamengo x Grêmio é um clássico da Copa do Brasil. Grêmio ganhou os 4 primeiros confrontos, em 1989, 1993, 1995 e 1997, até com título no último ano. Depois, foi só Flamengo, em 1999, 2004, 2018 e 2021. Na história da competição, os dois times se enfrentaram em quase todas as fases da mata-mata, das oitavas até a final.

    Em 1999, confronto foi nas oitavas de final, depois de Flamengo passar do Botafogo da Paraíba e da Ponte Preta nas fases anteriores. Jogo de ida foi no Olímpico, com 30.480 torcedores. No 21 de abril de 1999, o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Luis Alberto, Fabão, Athirson; Jorginho, Maurinho, Beto, Iranildo; Caio, Romário.

    Grêmio dominou o início do jogo, depois Flamengo reagiu, Iranildo até batendo no travessão no fim do primeiro tempo. E no começo do segundo tempo, Romário entrou em ação. Com seu jeito particular, driblou um jogador, fez uma finta de chute, fazendo ao mesmo tempo um passe na esquerda para Caio. O cruzamento de Caio foi ruim, Romário parou, até parecia que o Baixinho reclamou do lance. Mas a bola passou perto do travessão sem sair, Iranildo recuperou do lado oposto e deu um drible, e agora sim, um bom cruzamento, de trivela. Romário já tinha voltado em ação, esquecendo-se da zaga. Escondido, de cabeça e de joelhos no chão, o Baixinho abriu o placar.

    E cinco minutos depois, de novo Romário em ação. Beto abriu em profundidade na direita para Romário, que precisou de um toque só, perfeitamente ajustado, entre o goleiro e a zaga, sem chance para a defesa, para achar Caio do outro lado. Jogando-se no chão, Caio fez o gol do carrinho, dando carinho para Romário na comemoração. Já no jogo de ida, Flamengo tinha boa vantagem. Macedo fez um gol para Grêmio com hora de jogo, mas Flamengo venceu, e confirmou a classificação no Maracanã uma semana depois, com um empate 2×2, gols de Fabão e de Romário, o Baixinho, sempre o Baixinho.

  • Na geral #16: Meu adeus ao Maracanã

    Na geral #16: Meu adeus ao Maracanã

    Não é exatamente um adeus, já que tenho a certeza de que eu voltarei no Rio de Janeiro, de férias apenas ou para morar, isso só Deus sabe. Mas eu pego o voo hoje de volta na França, e se dez dias sem o Maracanã parece uma eternidade, então um ou dois anos sem o Maraca, nem quero imaginar.

    Em um ano, assisti a 27 jogos do Flamengo no Maracanã. Faltei pouquíssimos. Relembro de um contra o Internacional porque estava doente. E tinha o ingresso na mão, então estava realmente doente. Faltei o contra Santos também, porque era na véspera do AeroFla que não podia faltar. Teve um no campeonato carioca também por causa de viagem, o contra Racing na Libertadores, e talvez alguns outros, mas pouquíssimos. Se não tem motivo para não ir, eu vou ao Maraca. Tem muitas, muitas lembranças no Maior do Mundo, com o Maior do Mundo.

    O adeus ao Maracanã foi um 1×1 morno contra o América Mineiro, um jogo que talvez acaba com as chances de título do Flamengo. E as lágrimas no meu rosto rubro-negro ficaram no penúltimo jogo, um Fla-Flu. Chorei no metro, na rampa, na entrada dos jogadores, na saída da arquibancada. Porque era minha despedida da tribuna Norte, o coração e a emoção do Maraca. Se não tenho ingresso para a Norte, eu não vou ao Maraca. Uma vez, estava sem ingresso para um outro Fla-Flu e meu amigo Gabriel me ofereceu de graça um ingresso na Este. Nem queria. Porque eu sei que uma vez que estarei dentro do estádio, vou ter inveja de quem está na Norte, de quem canta, às vezes de quem não canta. Fui ver 27 vezes Flamengo no Maracanã, 25 na Norte.

    O primeiro jogo, estava louco para ver o jogo, contra São Paulo na semifinal da Copa do Brasil, e fui na Oeste, para ver Flamengo mais uma vez na final. Meu primeiro jogo na Norte foi um Fla-Flu, de derrota mas de muita emoção, e para meu último jogo, não consegui ingresso na Norte. Meu amigo Kevin do consulado Fla Paris tinha um ingresso na Oeste, e achei raiz e romântico de me despedir da Norte como voltei, com um Fla-Flu. O reencontro com Kevin, francês e flamenguista roxo como eu, foi bom, mas teve essa frustração de estar longe da Norte. A Oeste é para assistir a um jogo de futebol e a Norte é para torcer pelo Flamengo. E eu prefiro mil vezes torcer pelo Flamengo do que assistir bem ao jogo. Eu não sou espectador, eu sou torcedor, faço parte do jogo.

    Tive muitas emoções na Norte, teve até título, contra o Corinthians na Copa do Brasil. Vi muitas coisas, fui muito feliz, vi Gabigol herdar da camisa 10 de Diego, vi a transformação do canto sobre Zico que xingava inutilmente Pelé para homenagear Gabigol artilheiro e Adriano Imperador, cantei muito. Adoro os cantos do Flamengo e arrepio a cada jogo quando chega o minuto 10, que homenageia os garotos do Ninho. Arrepiei ainda mais quando Pedro fez gol contra Cabofriense no minuto 12, no final desse canto. Inclusive, estou em favor de cantar de novo esse canto nos segundos tempos, no minuto 10. É sempre de arrepiar. Claro, tive frustrações também, perder uma decisão contra Independiente Del Valle, perder contra Vasco, perder mais uma decisão, levando goleada no Fla-Flu. Essa foi a pior derrota no estádio.

    Mas vamos focar nas alegrias, vivi meu primeiro jogo de Libertadores, vi um gol de Ayrton Lucas no minuto 12, é de arrepiar, vi uma virada-goleada 8×2 contra Maringá na Copa do Brasil com Waldez, outro amigo do consulado Fla Paris. Vi Flamengo golear Vasco, mas confesso que com um placar de 4×0 no intervalo, esperava um final ainda mais feliz para Flamengo, ainda mais duro para Vasco. Vi vitória no Fla-Flu com gols de Arrasca e Gabi, vi um Maracanã cheio de cantos e fogos contra o Athletico Paranaense, onde assisti ao jogo com meus amigos franceses Maxime e Julie. Na Copa do Brasil, vi em 2022 a semifinal e a final, e em 2023, a terceira fase, as oitavas e quartas, e quero acreditar que o Flamengo vai levar o penta ainda em 2023. Eu fui muito feliz no Maraca, não vi gol de Éverton Ribeiro, mas vi a volta de Bruno Henrique, com gol contra Grêmio, vi golaço de cavadinha de Pedro contra Coritiba, o que eu vi e vivi em um ano, em 27 jogos, esta gravado na memória de minha alma.

    O último jogo na Norte foi um Fla-Flu, um 0x0, com gol anulado de Gabigol no minuto 80. E foi uma frustração, porque quando tem um 0x0 e Flamengo abre o placar no fim do jogo, o Maracanã vira paraíso, todo o estádio canta. Eu sou um torcedor de cadeira, um pé na cadeira, o outro na cadeira da fileira de frente. Eu sou um torcedor de 90 minutos, canto todos os cantos, até os que não conheço bem. A torcida do Flamengo é um espetáculo, do pré-jogo até a saída da arquibancada. Quero deixar aqui um desejo: quando morrer, quero um minuto de silêncio no Maracanã, para a torcida ter um minuto a mais para cantar. Eu iria ao Maracanã sem Flamengo se tinha a torcida do Flamengo. Inclusive, eu fui, para ver Zico jogar, no Jogo das estrelas. Eu fui muito feliz no Maracanã e não posso esquecer do Flamengo sem o Maracanã, a conquista da Liberta na Rocinha, e muitos jogos vividos com a Roça Fla e a Fla Atrevida, dois grupos de torcedores na Rocinha. Aproveito para agradecer os dois presidentes, Nando e Paula, dois corações puros, dois corações rubro-negros. Flamengo é além do Maracanã, é além de qualquer fronteira.

    Para fechar essa crônica, a última escrita no Brasil, relembro que na criação desse blog, falei que talvez eu encontrarei o amor de minha vida no Brasil. E encontrei mesmo. 27 vezes. Te amo Flamengo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Ídolos #20: Vinícius Jr

    Ídolos #20: Vinícius Jr

    Na hora das últimas cronicas escritas no Brasil, eu tenho poucos arrependimentos sobre esse blog. Na verdade, apenas um, na hora de escolher um Flamengo x Emelec como jogo eterno. Eu sabia que queria escrever sobre o jogo de 2019 nas oitavas da Libertadores, quando Flamengo passou no sufoco na disputa de penalidades. Esqueci de olhar os outros confrontos contra Emelec, esqueci completamente a melhor atuação de Vinícius Jr com o Manto Sagrado.

    É um arrependimento, porque Vini Jr é um de meus maiores ídolos no futebol. Dos jogadores que vi o início da carreira, e comecei a acompanhar o futebol com a Copa do Mundo 1998, acho que ele fica no meu top 3 dos jogadores favoritos, com Neymar e Gabigol. E talvez ele ainda ocupa o primeiro lugar. Vinícius Jr tem vários motivos de ser meu ídolo e o ídolo de todos os flamenguistas.

    Vini Jr nasceu no 12 de julho de 2000, nasceu em São Gonçalo, nasceu flamenguista. Tem essa foto onde ele deve ter um ano de idade, com o Manto Sagrado do início do século, sorrindo, como se ele já sabia que nasceu craque. Eu tenho 8 anos e 5 dias a mais que Vinícius, mas como só comecei a acompanhar de perto Flamengo com 15 anos, ele deve ter começado a vibrar pelo Flamengo na mesma época que eu, torcendo para os mesmos times, gritando os mesmos gols, sofrendo as mesmas decepções, comemorando os mesmos títulos, tendo os mesmos ídolos. Tem também essa foto de Vini, agora um pouco maior, ao lado de Obina, também meu primeiro ídolo no Flamengo.

    Além de ser flamenguista, Vini Jr quase sempre foi promessa da base, sempre foi um garoto do Ninho. Chegou numa escolinha do Flamengo em São Gonçalo com 7 anos e jogou no futsal no Flamengo com 9 anos. Passou no campo, passou de todas as fases da joia da base. Acho que comecei a ouvir sobre ele em 2016. Ele já tinha se destacado, tanto com os mirins e infantis do Flamengo que com a Seleção sub-15. Vinícius Jr também se destacou com os juvenis do Flamengo e em 2017, ele quase já era uma realidade. Acompanhei a Copinha, onde ele foi um dos destaques, e o campeonato sul-americano sub-17 com a Seleção, onde ele foi campeão, artilheiro, melhor jogador, além de fazer um dos lances mais bonitos da competição, quando ele conseguiu três chapéus em seguidas sobre três paraguaios impotentes. Nessa hora, Vinícius Júnior já era realidade para mim.

    Vinícius Júnior viveu um fim de semana de sonhos no 13 de maio de 2017, quando ele fez seu primeiro jogo profissional com Flamengo, que chegou naturalmente. Jogo foi no Maracanã, um 1×1 contra o Atlético Mineiro, de um de seus ídolos, Robinho, na estreia do Brasileirão. Tinha algumas semelhanças com o início profissional de Gabigol, num Flamengo x Santos na estreia do Brasileirão de 2013, também último jogo de Neymar com Santos. A diferença era que Vinícius Júnior fechou nos dias seguintes com o Real Madrid por 45 milhões, a segunda venda mais cara do futebol brasileiro, atrás apenas de Neymar. Relembro que um de meus amigos franceses, Tintin, estranhou quando ele viu o preço de Vinícius Júnior. Ele achava isso caro demais para um jogador de apenas 16 anos, com um jogo profissional só. Tranquilamente o garanti que valia a pena, que Vinícius era tudo isso. Para mim, Vini Jr já era realidade.

    Eu não precisava de Vini Jr para acompanhar mais o Flamengo, já assistia a todos os jogos, mas passei a olhar mais para o lado esquerdo que o lado direito, a olhar o banco, porque ele começou naturalmente como reserva. Passei a viver todos os passos deles como meus próprios sucessos. O primeiro jogo profissional contra o Galo, o segundo, contra o Atlético-GO, quando ele deu um drible de vaca na grande área, a primeira titularidade, contra Avaí, o primeiro gol, contra Palestino na Ilha do Urubu, quando ele marcou apenas um minuto após sua entrada em campo, o primeiro doblete, um 2×0 contra o Atlético-GO, quando ele mostrou toda sua velocidade e fez um gol que lembrou, não só a mim, o gol decisivo de Romário contra o Uruguai nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Vinícius era uma realidade para muitos.

    Não sei bem porque Vini é tão meu ídolo. Acho que ele tem o Flamengo na pele, quando outros são flamenguistas disfarçados, flamenguistas até um certo prazo, até a saída deles do clube. Vinícius Júnior sempre é Flamengo. Gosto também do estilo de jogo, ele tem essa ousadia brasileira, joga um futebol alegre, driblador e veloz. Ele fez apenas 69 jogos com Flamengo, mas tive a sorte de o ver em campo, no Maracanã, num Fla-Flu eterno. E ele foi decisivo. Nas quartas de final da Copa Sudamericana, entrou em campo na metade do segundo tempo, quando Flamengo tinha 2 gols de atraso. Fez um bom passe na jogada do gol do 3×2, e provocou a falta no gol do empate, no gol da classificação. Vini entrou e desequilibrou o Fla-Flu, talvez ainda hoje minha maior emoção num estádio de futebol.

    Vini jogou a final da Copa Sudamericana, de novo como reserva. Flamengo perdeu contra Independiente e perdeu outra final, a da Copa do Brasil contra Cruzeiro, com Vini Jr jogando só o jogo de ida. Talvez com ele no Mineirão a história teria sido diferente. Faltou um título, não considero a Taça Guanabara, vencida pelo Flamengo em 2018, como um título. Mas Vini melhorou muito nesse ano de 2018. Obvio que com apenas 17 anos, ele tinha defeitos, na utilização da bola, na finalização também. Mas ele passou a ser titular, fazendo o único gol do jogo na estreia da temporada contra Cabofriense, com a camisa 10 de Zico. Fez ainda alguns gols no campeonato carioca até seu maior jogo com o Manto Sagrado, na Copa Libertadores, em Guaiaquil. Contra Emelec, Flamengo perdia 1×0 até os últimos 15 minutos do jogo, até o show de Vinícius. Parecia num outro planeta nesse dia, fez 2 golaços do pé esquerdo para virar o jogo. Se precisava escolher um gol, eu teria muito dificuldade para eleger um, mas felizmente não precisa escolher, Vini Jr fez dois golaços e virou o jogo. Para a América, Vinícius Jr era realidade.

    Eu torci muito para ele ficar no Flamengo até o mínimo no fim do ano de 2018. Não ia atrapalhar seu desenvolvimento, ao contrário, ele ia ter mais jogos como titular, jogos importantes, com responsabilidades para ele. Ele também queria ficar no Flamengo, mas infelizmente, ele foi para a Espanha e o Real Madrid no dia de seu 18o ano, como um craque diferente. Se despediu do Maracanã com lágrimas e com vitória, 2×0 contra Paraná. Flamengo estava na liderança, com 6 pontos a mais que o Atlético Mineiro. Acho que com Vinícius, Flamengo teria conquistado o Brasileirão 2018. Também teria ido mais longe na Libertadores. Mas o futebol é às vezes cruel e Vini Jr não era mais do elenco do Flamengo. Flamenguista, ele sempre será.

    Eu sou fã do Real Madrid desde a Liga dos campeões 2000 e estava feliz com a escolha dele. Longe do Flamengo, mas ao menos, no Real Madrid. E como eu fazia na base do Flamengo, no time principal ou na Seleção sub-17, passei a acompanhar cada passo de Vini Jr, da promessa até a realidade. Começou com o segundo time, a Castilla, e jogou bem, mas odiava o fato de ele jogar nesse time, quando podia brigar para o Brasileirão ou a Libertadores com Flamengo. No time principal do Real Madrid, fez alguns bons jogos, mas ainda era muito novo e faltava às vezes objetividade nos lances. Torci também para uma convocação dele na Copa América 2019 depois da lesão de Neymar, queria ver ele com a camisa 10 da Seleção, mas Willian foi chamado no lugar de Neymar. O primeiro jogo com a Seleção chegou alguns meses depois, quando jogou 15 minutos contra o Peru, mais uma conquista para ele, mais uma alegria para mim.

    Na temporada 2019-2020, minha maior alegria foi quando ele decidiu El Clásico, fazendo gol contra Barcelona. Teve ainda muitos momentos difíceis, dribles errados, bolas perdidas, finalizações fracas, e um vídeo constrangedor, quando Benzema pediu para Mendy não dar bolas para Vinícius Jr, sob o motivo que ele jogava contra o próprio time. Vinícius foi inteligente na resposta, diminuiu o fato, continuou a trabalhar, continuou a melhorar. A recompensa veio alguns meses depois, quando fez um doblete contra Liverpool na Liga dos campeões, tornando-se o jogador mais jovem da história do Real Madrid a fazer um doblete num mata-mata da Champions. Mais uma alegria para mim, e Vini Jr foi convocado para a Copa América 2021. Infelizmente, passou em branco nos 4 jogos que participou e o Brasil perdeu a final contra a Argentina.

    Vini explodiu na temporada 2021-2022. Nas três primeiras temporadas com o Real Madrid, fez 15 gols e 18 assistências em 118 jogos. Na quarta temporada, com 21 anos de idade, ele fez 22 gols e 16 assistências em 52 jogos. Ele fez muitas grandes atuações, mas nenhuma supera o gol na final da Liga dos campeões, quando fez o único gol da partida contra Liverpool. Vini me deu nesse dia minha maior alegria no futebol de 2022, até o Flamengo ganhar a Copa do Brasil, ganhar a Copa Libertadores. Vinícius jogou bem na Copa de 2022, mas infelizmente, o hexa não veio. Acho que o hexa virá com Vini Jr como maior protogonista da Seleção. A temporada de 2022-2023 foi mais uma vez uma grande temporada para ele, com quase os mesmos números do ano passado: 23 gols e 19 assistências em 55 jogos, o que deveria ser suficiente para ser mais uma vez no top 10 do Ballon d’Or. Para o mundo inteiro, Vini Jr é uma realidade.

    Eu admiro o jogador Vinícius Jr e também admiro o homem. Ele é flamenguista e não esqueceu de onde ele vem. Sempre que volta no Rio de Janeiro de férias, ele aparece no Maracanã num jogo do Flamengo, agradece a torcida pelo carinho de sempre, a torcida fazendo festa para ele. Ele também criou o Instituto Vini Jr em São Gonçalo, que ajuda muitas crianças. E não é para a imagem dele, ele realmente tem essa preocupação social e faz tudo que é possível para fazer uma diferença. Também, infelizmente, tornou-se um símbolo da luta contra o racismo. Na Espanha, ainda muita racista, foi várias vezes vítima de racismo, de torcedores adversários e até de periodistas na televisão. Nesse combate, apesar da juventude, Vini Jr é também exemplar. Espero que ele não teria a lutar tanto no futuro e não seria mais vítima desse crime.

    Fica então uma esperança, um desejo, um sonho: ver Vinícius Júnior vestir de novo o Manto Sagrado. Ele falou recentemente que ele queria voltar, quando terá 35 anos de idade. Espero que será antes. Faltou tempo no início da carreira para conquistar um título com Flamengo, não pode faltar no fim da carreira. Vini precisa ainda ganhar o hexa com a Seleção, algumas Champions com o Real Madrid e depois voltar no Flamengo, fazer a alegria de sua maior torcida para sempre, conquistar o Brasileirão, pintar a América de vermelho e negro, ser o ídolo da Nação.

  • Times históricos #20: Flamengo 2019

    Times históricos #20: Flamengo 2019

    Depois de 1981, o ano de 2019 foi o maior da história do Flamengo. Nos anos 2000, Flamengo perdeu um pouco do prestígio que tinha. Ainda era Flamengo, mas teve times horríveis, anos de luta contra o rebaixamento, temporadas inteiras sem emoções, a não ser de frustração e desespero. O Flamengo mudou de novo com a gestão de Eduardo Bandeira de Mello, com finanças boas, e depois contratações interessantes. Faltavam só os títulos.

    E os títulos chegaram em duplo, em triplo, em 2019. O time vinha se fortalecendo desde 2015, com bons reforços a cada ano, mas quase todo o time titular do bicampeonato da Libertadores foi contratado em 2019. No início do ano, chegaram, entre outros, Rodrigo Caio, Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique. Ou seja, o trio ofensivo tão avassalador e um dos xerifes da zaga. Empolguei-me com as contratações. Gostava muito de Rodrigo Caio no São Paulo, um jogador difícil de driblar, com boa leitura de jogo e uma técnica suficiente para jogar até de volante, apesar de achar ele mais zagueiro. Achei uma loucura quando um diretor de São Paulo o chamou de “jogador de condomínio”. Agora, Rodrigo Caio era um jogador do Flamengo

    Depois, veio o trio ofensivo, que deu tantas alegrias ao Mengo em 2019. Primeiramente, Gabigol, chegando de empréstimo da Inter de Milão. Sempre fui um fã de Gabigol, desde seu primeiro jogo profissional, o mesmo que foi o último de Neymar num clube brasileiro, um Santos x Flamengo, lá em Brasília, já mais de 10 anos atrás. Fiquei feliz quando ele se tornou o artilheiro da Copa do Brasil em 2014 e 2015, e acompanhei sua ida na Europa, vendo ele não jogar na Inter e no Benfica. Acho que ele merecia mais oportunidades, mas também que faltava maturidade e um pouco de futebol para ser um jogador importante na Europa. Voltou bem no Santos e fiquei feliz de novo para ele. Acho que ele é um jogador muito brasileiro, tem características e qualidades do futebol brasileiro, não muito da Europa. O Flamengo sempre será o melhor clube para ele.

    Um dia depois, veio Arrascaeta, que foi na época o jogador mais caro do futebol brasileiro, ultrapassando Tevez quando ingressou o Corinthians em 2005. Mas valia a pena, já na época. Sempre achei Arrascaeta um craque diferenciado, que inclusive fez sofrer o Flamengo em 2017 e 2018. Como Gabigol, também acho que ele é mais um jogador da América do Sul do que da Europa. Ele é craque e seria craque em qualquer lugar do mundo, mas entre ser uma peça de um grande time, um protagonista num clube mediano ou craque e ídolo do Flamengo, não precisa de pensar mais de um milissegundo. Arrascaeta é craque, com a camisa 10, com a camisa 14, loiro ou moreno, sempre é craque, e merece o Maior do Mundo.

    E dez dias depois, chegou Bruno Henrique. Impressionante como a história do Flamengo mudou em só um mês, de janeiro de 2019. Se eu estava muito empolgado com as chegadas de Gabigol e Arrascaeta, não era muito o caso com Bruno Henrique. Se a contratação não era muito cara, e ele tem qualidades de drible e velocidade, achava Bruno Henrique muito irregular. E era o caso, se ele fez 8 gols e 11 assistências no Brasileirão 2017 com Santos em 28 jogos, ele fez no ano seguinte, com os mesmos 28 jogos, apenas 1 gol e 3 assistências com o mesmo Santos. Uma decepção e achava que ele talvez será só um pouco melhor que Vitinho, uma decepção no Flamengo, muito mais cara. Se acertei com Gabigol e Arrascaeta, estava felizmente bem enganado com Bruno Henrique. E mais incrível, os três são ainda jogadores do Flamengo, fazendo uma quinta temporada no Flamengo. Espero que será o dobro no final, ao menos para Gabigol e Arrascaeta, e renovaria tranquilamente com Bruno Henrique também. Os três são meus ídolos particulares e ídolos da Nação.

    Não foram as únicas mudanças no Flamengo, que trocou também de técnico. Eu não era um grande fã de Maurício Barbieri e não estava em favor da permanência dele no clube. Mas fui absoluto contra a chegada de Abel Braga, tanto por ser muito ligado ao Fluminense, ser pra mim um técnico ultrapassado e sem ideias ofensivas interessantes, tanto para o fracasso na sua primeira passagem ao clube, quando Flamengo conheceu uma das maiores vexames de sua história, perdendo a final da Copa do Brasil 2004 contra Santo André, em pleno Maracanã. Sem querer passar de soberbo, estava certo nessa também.

    Flamengo começou a temporada de 2019 com a Florida Cup, a Copa Mickey por alguns. Não ligo muita importância a essa competição, mas foi bom de ganhar o troféu, vencendo dois europeus, principalmente o Ajax, que tinha grande time. Mas foi uma vergonha da diretoria publicar um comunicado no meio do ano quando o time estava mal e criticado nas redes sociais, se gozando de ter ganhado esse título. De forma oficial, Flamengo estreou na temporada de 2019 no dia 20 de janeiro, dia do São Sebastião, padroeiro do Rio de janeiro, com uma vitória 2×1, de virada, no campeonato carioca contra Bangu. Antes do jogo, Arrascaeta e Gabigol foram apresentados para os 43.761 torcedores no Maracanã. A torcida do Flamengo também fez uma tremenda diferença em 2019.

    Bruno Henrique fez seu primeiro gol, na verdade seus dois primeiros gols, na vitória 2×1, de novo de virada, contra Botafogo, e Arrascaeta brocou pela primeira vez, saindo do banco, no jogo seguinte, uma goleada 4×0 contra Cabofriense. Flamengo fechou seu grupo da Taça Guanabara na liderança mas perdeu pela primeira vez da temporada logo na semifinal da Taça Guanabara, contra Fluminense. Flamengo se recuperou na estreia da Taça Rio com uma goleada 4×1 contra Americano e o primeiro gol com o Manto Sagrado de Gabigol, que iniciou uma série de 6 jogos consecutivos com ao menos um gol. Flamengo também estreou na Libertadores com uma vitória difícil 1×0 na Bolívia contra San José, gol de Gabigol. Depois da decepção de 2018 contra Cruzeiro, Flamengo era um dos favoritos ao título máximo da América do Sul e, como cada ano, eu tinha grandes expectativas para a Libertadores 2019. Talvez expectativas menores do que ia ser tornar realidade, mas mesmo assim, grandes sonhos.

    Flamengo conseguiu uma série de 10 jogos sem perder, vencendo Madureira com 2 gols de Gabigol, dois Fla-Flus de forma dramática, e conquistando a Taça Rio contra Vasco com gol no último minuto de Arrascaeta e homenagem ao técnico Abel Braga, que tinha problemas de saúde e não assistiu ao jogo. Com esse jogo, Arrascaeta começou a ter mais oportunidades como titular, depois de ser reserva do Diego, um dos maiores absurdos que eu vi no Flamengo. E na final do campeonato carioca, contra Vasco, foi a vez de Bruno Henrique de me convencer definitivamente, com grande atuação e doblete no jogo de ida. Vitinho fez o gol do título na volta e Flamengo comemorou uma primeira vez em 2019. Cinco anos depois do gol de Márcio Araújo, Flamengo ganhava um novo campeonato carioca em cima do Vasco, prolongando o longo jejum do Vasco. Desde 1988, Vasco não ganhou uma final do campeonato carioca contra Flamengo, perdendo as 7 últimas finais contra o Maior de Rio.

    No Brasileirão, Flamengo começou de maneira irregular, com vitória contra Cruzeiro, derrota contra Internacional, empate contra São Paulo. Na Libertadores, passou da fase de grupos, mas sem convencer, sem vencer o jogo decisivo, um empate 0x0 contra Peñarol. Na Copa do Brasil, Flamengo venceu o Corinthians no Itaquerão, no jogo de ida das oitavas de final. No Brasileirão, o rubro-negro estava no sexto lugar quando Abel Braga pediu demissão. Foi um alívio, não gostava dele e Flamengo não convencia. Apesar de alguns bons jogos, apesar de todas as contratações e estrelas no time, Flamengo não era um time assombroso e deslumbrante, era ainda longe de seu pleno potencial. Arrascaeta ainda não era plenamente um titular e Abel Braga falou na saída do clube que foi traído e era isolado. Mas maiores besteiras que falou foi quando ele ainda era técnico do clube. Falou que perder no campo do Internacional era “absolutamente normal” e confundiu duas vezes Flamengo e Fluminense nas coletivas. Acho que só isso mostra como ele era no Flamengo e como ele considerava o Flamengo, como um clube qualquer. Mas não é, Flamengo é o Maior do Rio, o Maior do Brasil.

    Chegou no seu lugar Jorge Jesus. Eu não me relembro bem de como eu acolhi essa notícia. Jorge Jesus tinha feito um grande trabalho com Benfica, mas eu não o conhecia bem. Achava a escolha interessante, acho que técnicos estrangeiros podem trazer coisas muito boas para o futebol brasileiro, mas queria ver mais futebol para ter uma ideia mais clara. Fui logo conquistado com sua primeira entrevista, elogiando o Flamengo e dizendo que Flamengo precisava ganhar, ganhar, ganhar. Isso é exatamente o Flamengo. E a pausa para a Copa América chegou no momento certo. Jorge Jesus teve um mês para conhecer o grupo, os jogadores, implementar ideias, princípios de jogo. E Jorge Jesus ainda teve reforços de alta qualidade no mercado, Rafinha, Pablo Marí, Gerson e Filipe Luís. Agora, Flamengo não tinha só um ataque incrível, tinha um time completo, muito competitivo.

    Jorge Jesus começou com uma eliminação, na Copa do Brasil contra o Athletico Paranaense, mas já era um Flamengo diferente, mais intenso, mais dedicado ao ataque, que não aceitava a derrota, nem o empate. E entre os dois jogos da Copa do Brasil, o primeiro show do Flamengo de Jorge Jesus, um 6×1 contra Goiás, que merece ser eternizado aqui. Um show de todo o time e principalmente do ataque, um gol de Bruno Henrique, dois gols e três assistências de Gabigol, três gols e duas assistências de Arrascaeta. Isso aqui é Flamengo, isso é o Flamengo de Jorge Jesus.

    Depois, foram vários shows, alguns jogos eternos aqui, uma classificação dramática contra Emelec, uma goleada contra Vasco com nova atuação perfeita do trio de ataque, uma vitória no Ceará com golaço de Arrasca, uma vitória na Liberta com doblete de Bruno Henrique, uma vitória no Maraca com golaço de Gabigol. Acho que foi nesse mês de agosto que o Flamengo se descobriu como time, começou a alegrar o torcedor e terrorizar o adversário. Atropelou o último campeão brasileiro, Palmeiras, pelo placar de 3×0, com 2 de Gabigol e um de Arrasca, mas foi o jogo eterno contra Santos, com golaço de Gabigol, que me deu a certeza que o Flamengo ia conquistar o hepta em 2019. Flamengo, o Maior do Brasil.

    O confronto contra o Internacional nas quartas da Liberta, principalmente o jogo de ida, me deu a certeza que esse time era especial. Conquistar a Copa Libertadores é sempre difícil, mas o time era diferente e podia realizar grandes coisas. E fez mais que um sonho, com uma atuação inesquecível contra Grêmio, o Cincum. Não me canso de rever os gols, de relembrar o jogo. Foi o jogo mais simbólico do Flamengo de Jorge Jesus, um time que atacava, que não parava de atacar, que não se cansava de fazer gols. Um time de ídolos, Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Éverton Ribeiro; Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol. Vale repetir a escalação toda, porque quase todos os jogadores são ídolos do Flamengo.

    No Brasileirão, Flamengo conseguiu grandes coisas, uma vitória quase inédita no campo do Athletico Paranaense, uma vitória no Fla-Flu, uma goleada contra o Corinthians com hat-trick de Bruno Henrique em 3 minutos. Esse time ganhava, goleava muitas vezes, empatava no pior dos casos, tinha nada de derrota. Teve um incrível 4×4 contra Vasco, que foi comemorado como uma goleada pelo adversário. Flamengo ainda ganhou na Arena do Grêmio antes do jogo mais importante da temporada, antes do jogo mais importante da história do clube desde 1981. E mais uma vez, o Flamengo de Jorge Jesus foi além dos sonhos, foi além do tempo normal, foi além da normalidade. Flamengo é eterno, como é esse jogo, o Milagre de Lima. River Plate abriu o placar, mas Flamengo nunca desistiu e, para a primeira final da Libertadores em jogo único, ofereceu um roteiro que nem Hitchcock podia escrever. Gabigol me deu nesse 23 de novembro de 2019 uma das maiores alegrias de minha vida. E não só a mim, mas a todos os flamenguistas da terra e do céu. Uma virada eterna, para conquistar a Liberta de novo, exatamente 38 anos depois da primeira, com Zico e tudo. Flamengo, o Maior da América.

    E um dia depois só, ainda na ressaca das comemorações em Paris para mim, aproveitando da derrota de Palmeiras, Flamengo conquistava o hepta brasileiro. Flamengo, o Maior do Brasil. Um fim de semana inesquecível, que consagrava Jorge Jesus, em apenas alguns meses, como um dos maiores técnicos da história do Flamengo. O Mister conseguiu implementar no time uma mentalidade de vencedor absoluto, mas não era apenas os títulos, era também a maneira de jogar, muita intensidade, muita versatilidade, Flamengo sempre no ataque, Flamengo sempre fazendo gols. Assistir ao Flamengo nessa temporada era a certeza de um show, de um grande jogo, de um espetáculo. E o Flamengo de Jorge Jesus conseguiu fazer o que poucos times brasileiros fizeram, talvez o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, o Internacional de Falcão, o Flamengo de Zico, o São Paulo de Raí, o Cruzeiro de Alex, ou seja, conquistar os torcedores dos outros times, que também pararam para assistir ao Flamengo, ver as goleadas, ver as estrelas do time, como maior símbolo Gabigol, artilheiro do Brasileirão, herói da Liberta, Rei da América. Flamengo conseguiu a proeza de conquistar o Brasil todo, menos os idiotas do clubismo.

    Flamengo ainda goleou Ceará e Avaí, venceu Palmeiras no Allianz Parque com 2 de Gabigol, um de Arrascaeta. Ainda na ressaca das comemorações e de olho no Mundial, Flamengo perdeu contra Santos na última rodada do Brasileirão, a primeira derrota em 4 meses, o fim de uma série de 29 jogos sem perder, todas competições incluídas. Mesmo assim, Flamengo bateu muitos recordes no Brasileirão 2019, um Brasileirão histórico e eterno: 90 pontos, 16 a mais do que o segundo, 86 gols, 22 a mais do que o segundo ataque do campeonato. Mas, mais uma vez, além dos títulos, além dos números, foi pela maneira de jogar que ficou na história o Flamengo de Jorge Jesus, que por sua vez venceu 27 dos 39 jogos que dirigiu o Mengo.

    Faltava o Mundial. De virada, Flamengo venceu Al-Hilal e se classificou na final, contra Liverpool, que ganhava igualmente tudo, com um futebol ofensivo e um trio de ataque incrível, mas na Europa. Contra um dos maiores times do mundo, Flamengo jogou de igual a igual durante 70 minutos. Foi depois motivo de zoações pelos adversários, que por alguns nunca chegaram a conquistar o Mundial, mas Flamengo me deu nesse dia muito orgulho de ser flamenguista. Bruno Henrique jogou uma barbaridade, dominando Alexander-Arnold como ninguém fez nessa temporada. A história era bonita, talvez até demais, encontrando de novo Liverpool, 38 anos depois de Tóquio. Acreditei na vitória e chorei com o gol de Roberto Firmino, acabando para mim nesse momento com os meus sonhos de ser campeão mundial mais uma vez. Culpo um pouco Jorge Jesus nesse jogo, que substituiu os dois cérebros do time, Arrascaeta e Everton Ribeiro. Mesmo sem pernas, eles ainda tem a cabeça para pensar. Jorge Jesus também não colocou o jovem Reinier, que conseguiu espaço nesse time incrível durante a temporada, e ainda colocou Lincoln, que perdeu uma grande oportunidade na prorrogação, uma jogada que ainda hoje não consigo rever. Acho que Berrío teria sido uma melhor opção. Flamengo merecia um desfecho melhor, mas as lágrimas de tristeza do Qatar, ou de Saint-Thibault para mim, onde assisti ao jogo sozinho na casa de meus pais, não podem fazer esquecer as lágrimas de alegria de Lima, ou de Paris para mim, não podem fazer esquecer o que tudo jogou esse Flamengo de Jorge Jesus.

    Fica os números impressionantes de ataque, exatamente 150 gols na temporada em 74 jogos, com temporada inesquecível do quarteto fantástico, 43 gols e 11 assistências para Gabigol, 35 gols e 16 assistências para Bruno Henrique, 18 gols e 19 assistências para Arrascaeta, 6 gols e 16 assistências para Éverton Ribeiro. Mas, pela última vez nessa crônica, o Flamengo de Jorge Jesus foi além das estatísticas e dos placares, o Flamengo de 2019 foi a definição máxima do futebol no Brasil.

  • Jogos eternos #81: Flamengo 3×2 Fluminense 2011

    Jogos eternos #81: Flamengo 3×2 Fluminense 2011

    Com todo respeito ao Clássico dos Milhões, o Fla-Flu é o maior e o melhor clássico do Rio. É mais que um jogo, como poucos no mundo, talvez Real Madrid x Barcelona, Boca x River, Celtics – Rangers, El Clásico, El Superclásico, the Old Firm, o Fla-Flu. Nesse jogo, não importa a posição na tabela, a forma dos dois times, os jogadores suspensos ou lesionados, o jejum do centroavante, a fase ruim do goleiro, só importam os 90 minutos e os acréscimos, onde tudo pode acontecer. Cada Fla-Flu, desde o 7 de julho de 1912, tem sua própria história, coloca mais um capítulo no grande livro do Fla-Flu, até o próximo Fla-Flu.

    Tinha então uma infinidade de possibilidades para falar do Fla-Flu. Na verdade, não uma infinidade, mas um número bem definido: 435, como o número de Fla-Flus em mais de 100 anos de história. Na verdade, um pouco menos, esquecendo das 137 vitórias do Fluminense, o resultado menos visto na história do Fla-Flu. Ficavam 160 vitórias do Flamengo e 138 empates. Na verdade, um pouco menos, já que escrevi muito sobre o Fla-Flu: 1963, 1976, 1985, 1986, 1989, 1991, 1993 e 2017. Ainda assim, ficavam muitas, muitas possibilidades.

    E eu vou de um Fla-Flu inesquecível de 2011. Os dois times vinham de vitórias importantes, Flamengo no Morumbi contra o São Paulo de Luís Fabiano que reestreava com o Tricolor nesse jogo, e Fluminense contra o Santos de Neymar com um gol no minuto 50 do segundo tempo. Assim, antes da 28a rodada, os dois times tinham 44 pontos, brigando para o G-5, Fluminense dentro, Flamengo de fora, por causa de número de vitórias menor do que o rival. Os dois times tinham desfalques importantes, Ronaldinho para Flamengo e Fred para Fluminense, ambos convocados com a Seleção brasileira. Mas o Fla-Flu é maior do que qualquer personagem.

    Faltava porém um personagem muito importante na história do Fla-Flu: o próprio Maracanã, já em obras para a Copa do Mundo de 2014. Assim, o Fla-Flu foi deslocalizado no Engenhão e apenas 25.513 pessoas assistiram ao jogo no 9 de outubro de 2011. Com também as suspensões de Aírton e Willians, Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Paulo Victor; Léo Moura, Welinton Silva, Alex Silva, Júnior César; Maldonado (Bottinelli), Muralha, Renato Abreu; Thiago Neves, Diego Maurício (Negueba), Deivid (Jael). Para Fluminense, um técnico histórico no Flu e bem menos histórico no Fla, Abel Braga, que escalou Diego Cavalieri no gol, a dupla Rafael Sóbis – Rafael Moura no ataque e um craque no meio de campo, Deco.

    O Fla-Flu era animado mas os gols começaram a chover só no segundo tempo. Na hora do jogo, Rafael Sóbis abriu o placar para Fluminense depois de bom cruzamento de Leandro Euzébio. No banco, Vanderlei Luxemburgo reagiu com três mudanças de uma vez só. Saiu Diego Maurício, que tinha perdido a bola na jogada do gol, para a entrada de Negueba, e Jael entrou no lugar de Deivid. Para ter um time mais ofensivo, saiu Maldonado e entrou Darío Bottinelli. Sempre gostei quando tinha um gringo, um argentino no Flamengo. Ilidiu-me muito com Maxi Biancucchi, que de Messi, tinha só a mesma família. Já Bottinelli era melhor de bola, às vezes até relembrava Petkovic, e era um exímio batedor de faltas. E tinha um nome parecido a um outro ídolo do Fla, de outra época, Rondinelli. Mas a hora de Bottinelli ainda não tinha chegado nesse Fla-Flu.

    As escolhas técnicas e táticas de Luxa funcionaram e Flamengo reagiu rapidamente. Num cruzamento alto de Júnior César, Jael brigou no ar pela bola, que foi nos pés de Negueba, que chutou, que cruzou, quem sabe, bola foi nos pés de Thiago Neves, que fez valer a lei do ex e empatou. Abel Braga também foi feliz nas mudanças, com a entrada de Souza e do jovem argentino Lanzini. O primeiro cruzou para o segundo, que desempatou de cabeça. Faltando dez minutos no jogo, o Tricolor estava perto de ganhar seu primeiro Fla-Flu do ano. Mas agora era hora de outro argentino saindo do banco, Darío Bottinelli.

    Num pique do jovem Muralha, que não jogava fazia um mês, Lanzini fez falta, a 25-30 metros do gol, bem no centro. Bottinelli alternava titularidades e jogos saindo do banco, e não tinha marcado desde o jogo contra o São Paulo, no primeiro turno. Um turno inteiro sem marcar. Thiago Neves queria bater a falta, mas o gringo insistiu. Ficava só o destro Bottinelli e o canhoto Renato Abreu. Renato Abreu deixou, Bottinelli correu, chutou, achou a gaveta de Cavalieri, com a ajuda do travessão. Um golaço.

    Bottinelli já estava na história do Fla-Flu, mas três minutos depois, fez outra magia. Depois de um passe do capitão Léo Moura, Bottinelli recebeu e fez um drible curto para abrir o ângulo no pé direito. Bateu forte, bateu cruzado, bateu com efeito, bateu no gol. Bottinelli virava o jogo em três minutos, se tornava o herói improvável de um Fla-Flu inesquecível. Relembro bem que estava em Paris na casa de minha mãe assistindo ao jogo. Esse Fla-Flu foi tão marcante que ele marcou uma época para mim, perto do final de meus estudos, morando com minha mãe e minha irmã. Ganhar o Fla-Flu nunca é normal, sempre é especial, e o Bottinelli, com esses dois golaços no final do jogo, fez desse jogo um Fla-Flu ainda mais especial.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”