
Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
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Jogos eternos #66: Flamengo 3×1 Cruzeiro 2007

Para a lembrança do Flamengo x Cruzeiro, fiquei na duvida com duas goleadas, o 6×2 de 2004 e o 5×1 de 2011. Mas, finalmente, eu vou de outra vitória com menos gols, mas de um ano que adorei, porque corresponde ao ano em que comecei a acompanhar Flamengo com mais regularidade, e escrevi sobre apenas um jogo de 2007 até agora, no campo de Real Potosí, na altitude e no calor da Libertadores. Então, hoje volto ao ano de 2007, dos primeiros amores.
Na França, o ano escolar começa em setembro e em 2007 foi meu primeiro ano de ensino médio, numa outra escola, o “lycée” em francês. E no início de setembro de 2007, comecei a já ter uma nova rotina. Depois da pausa para o almoço, tinha acesso aos computadores com Internet. Era uma outra época, YouTube tinha só um ano de existência e não tinha os melhores momentos dos jogos de futebol brasileiro na plataforma. Mas tinha no GloboEsporte os melhores momentos, com duração média de 8 minutos. E comecei a acompanhar a todos os jogos do Flamengo na escola nas segundas-feiras e quintas-feiras.
Na quarta-feira 12 de setembro de 2007, Flamengo recebeu Cruzeiro no Maracanã com um público pequeno: 11.640 pagantes. Joel Santana, que eu já adorava por ter conquistado o campeonato carioca de 2007 com muita emoção, escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Ronaldo Angelim, Fábio Luciano (Thiago Sales), Juan; Rômulo, Jaílton, Cristian, Toró (Obina), Renato Augusto (Léo Medeiros); Souza. Com apenas alguns meses de conhecimento do elenco do Flamengo, eu já estava bem servido de ídolos, mas ninguém mexia meu coração como Obina, que começou o jogo no banco.
Mas Flamengo tinha outros ídolos, a começar pelo Léo Moura, que teve o primeiro lance do jogo depois de dois dribles e um chute em cima do travessão. No minuto seguinte, depois de dois dribles de novo, Léo Moura achou Toró, de quem o chute flirtou com a trave de Fábio. E também foi Léo Moura que fez o primeiro gol do jogo, inclusive um golaço. Um cruzamento de Souza, um passe de cabeça de Toró, e um chute de Léo Moura, tanto potente que preciso, diretamente no gol cruzeirense. Golaço de Léo Moura, Flamengo na frente. No minuto seguinte, de novo Léo Moura driblando na grande área, de novo um passe para Toró, de novo fora do gol. No fim do primeiro tempo, Flamengo quase fez o segundo com cabeçada de outro ídolo, Fábio Luciano, que também adorava por causa do campeonato carioca de 2007, por causa da raça, do carisma e do amor a camisa.
Segundo tempo começou com outra cabeçada do Fábio Luciano, perto do gol, mas não no gol. Dominação do Flamengo era total, mas faltava o segundo gol. E o segundo gol saiu de novo nos pés de Léo Moura, que entrou na grande área, foi até a linha do gol para cruzar na cabeça de Souza. Fábio foi um pouco lento para reagir e a Nação, mesmo em número modesto, explodiu. Cruzeiro reagiu, fez um gol com dois jogadores que entraram no jogo alguns minutos antes, o Kerlon Foquinha, outro motivo para gostar do futebol brasileiro e de seu folclore, fazendo passe para Guilherme. Flamengo 2×1, pressão no Maraca.
Mas o Papai Joel também sabia mexer e fez entrar quem mexia com meu coração, o ídolo Obina. Três minutos depois de entrar, dois minutos antes do fim do jogo, Obina fez o passe para Léo Moura, ainda Léo Moura, sempre Léo Moura, que puxou o contra-ataque, a 70 metros do gol cruzeirense. Um 4 contra 2, perfeitamente negociado pelo Léo Moura, com passe em profundidade para Léo Medeiros, com passe atrás para Obina, que só tinha a fazer o gol para fazer a alegria dos 11.640 no Maraca, dos milhões no Brasil e, no dia seguinte, de um adolescente num pequeno lycée francês.
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Jogos eternos #65: Colo-Colo 0x4 Flamengo 1999

Como Ñublense não tem muita tradição, eu vou para a lembrança do dia de um jogo contra um gigante chileno, Colo-Colo, Universidad de Chile ou Universidad Católica. E como os resultados do Flamengo na Copa Libertadores no Chile foram quase só derrotas, inclusive na final de 1981 contra Cobreloa, eu vou de um jogo contra Colo-Colo na Copa Mercosul de 1999.
Já falei de um jogo eterno dessa competição, contra outro time chileno, o 7×0 contra Universidad de Chile para fechar o grupo como um dos classificados nas quartas de final. O jogo contra Colo-Colo aconteceu dois meses antes, no 4 de agosto de 1999, Carlinhos escalando Flamengo assim: Clemer; Pimentel, Fabão, Marco Antônio, Célio Silva; Jorginho Araújo, Leandro Ávila, Fábio Baiano, Rodrigo Mendes; Caio, Romário. Flamengo estreou na competição com uma vitória 2×1 sobre Olímpia e podia já se aproximar da classificação com uma nova vitória na segunda rodada, no estádio Monumental David Arellano. Missão difícil, mas para Flamengo, nada impossível.
Jogo começou bem para o Flamengo, com um chute de longe do canhoto Rodrigo Mendes, aproveitando da semi-falha do goleiro uruguaio Claudio Arbiza para abrir o placar. Antes do gol, Caio teve que ser substituído e deixou seu lugar para Reinaldo que, com meia hora de jogo, achou Romário, que driblou um e achou as redes chilenas. Flamengo 2×0, mas em seguida, e como aconteceu no último jogo eterno aqui contra o Corinthians em 1998, Romário se machucou e teve que sair, entrando Maurinho.
Ainda no primeiro tempo, Rodrigo Mendes, de novo com um chute de fora da área do pé esquerdo, fazia o doblete, fazia o 3×0 para Flamengo. Jogo era tranquilo para Flamengo, a não ser as lesões, Reinaldo, que tinha entrado no início do jogo, também se machucou e cedeu o lugar para Lê. Flamengo estava bem de opções ofensivas e continuou a dominar o jogo.
No final do jogo, o golaço do dia, Fábio Baiano para Fabão, que tentou a tabelinha em altitude. Tentou e conseguiu, de voleio, Fábio Baiano deu um chutaço diretamente na gaveta de Arbiza. Uma goleada 4×0 em terras chilenas, os jogos seguintes serão muito mais difíceis, mas no final, o mais importante, Flamengo campeão.
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Jogos eternos #64: Flamengo 4×1 Corinthians 1998

Para aquecer o jogo de hoje, uma lembrança de um jogo de 1998, onde Flamengo foi bastante irregular durante o campeonato. Foi até péssimo com apenas 3 vitórias nos 15 primeiros jogos e derrotas em casa contra Bragantino, Juventude e a Portuguesa. Já no fim da primeira fase, conseguiu vencer em seguida o Atlético Mineiro e Sport antes do jogo contra o Corinthians, o terceiro consecutivo no Maracanã.
No 10 de outubro de 1998, o técnico e ídolo Evaristo de Macedo escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Ricardo Rocha, Fabão, Leonardo Inácio; Marcos Assunção, Jorginho, Cleisson, Iranildo; Beto, Romário. No time do Corinthians, alguns craques, alguns jogadores internacionais, até alguns campeões do mundo no penta do Brasil: Cris, Carlos Gamarra, Sylvinho, Freddy Rincón, Vampeta, Marcelinho Carioca, Ricardinho e Edílson. Um timaço, que seria campeão brasileiro no final do ano. Mas Flamengo é Flamengo, é capaz de tudo.
Já no início do jogo, Cleisson conseguiu uma falta, quase na entrada na área do Corinthians, um pouco no lado esquerdo. Marcos Assunção, 22 anos na época e emprestado pelo Santos, chutou com a parte interna do pé, chutou forte, chutou colocado, chutou na gaveta. Adorava Marcos Assunção na época do Betis na Espanha e foi para mim, e não só para mim, um dos maiores batedores de faltas da história do futebol brasileiro, e não só do futebol brasileiro, mas também do futebol mundial.
Flamengo abriu o placar com essa falta de Marcos Assunção e ampliou no minuto seguinte. O lateral-esquerdo Leonardo, nada a ver com o grande Leonardo Nascimento de Araújo que jogou no Flamengo entre 1987 e 1990, mas Leonardo Inácio, cruzou e Beto dominou de uma forma incrível, quase de letra, na direção do gol. Quando alguém consegue um domínio tão bonito, é difícil ter a lucidez e a tranquilidade para fazer o gol. Mas Beto abriu bem o pé e venceu o goleiro, Flamengo 2×0, Flamengo fazendo a alegria e a festa dos 54.309 torcedores no Maracanã.
No Maraca, algumas faixas para pedir ao Vanderlei Luxemburgo, técnico do Corinthians e da Seleção brasileira, convocar Romário, que tinha sido descartado da lista para o amistoso contra o Equador, marcado alguns dias depois. Romário, que no dia do jogo contra o Corinthians falou para a Folha de S. Paulo que nunca foi atleta, não teve oportunidade de mostrar nesse dia todo seu talento ao Luxemburgo, e foi substituído antes do intervalo por causa de uma lesão muscular.
Já no final do jogo, um golaço do Flamengo, com no início da jogada dois jogadores que tinham saído do banco. Uma bola alta na grande área de Eduardo, e a visão do craque de Caio, que chegou no Flamengo junto com Marcos Assunção na troca que deixou Athirson no Santos. Caio fez um passe de peito para a chegada de Jorginho, nada a ver com o grande Jorginho que jogou no Flamengo entre 1984 e 1989, mas Jorge Marcelo de Araújo. Jorginho bateu forte e brocou, mas a beleza do gol foi no domínio-passe de peito de Caio Ribeiro.
Alegria no Maraca e quase no minuto seguinte ao terceiro gol, mais um gol do Flamengo, mais uma assistência do Caio, ajudado pela incompreensão entre os zagueiros corintianos Batata e Gamarra. Bola para o craque Iranildo, bola para atropelar o Corinthians. O Maracanã pegou fogo, literalmente, e Marcelinho Carioca deixou a conta um pouco mais leve para o Corinthians com um gol no final do jogo. Mesmo assim, uma goleada 4×1 para o Flamengo, que voltava ao 13o lugar, a 3 pontos do Vasco, oitavo na tabela e último classificado para as quartas de final. Flamengo ainda aplicou um outro 4×1 no jogo seguinte, com três de Romário, mas perdeu contra América e Paraná e foi eliminado do Brasileirão antes da fase final. Flamengo, capaz de tudo.
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Times históricos #17: Flamengo 2017

Eu falei na crônica sobre o ídolo Diego que para muitos a nova Era do Flamengo começou com a chegada dele em 2016. Para mim, começou um ano antes com a transferência de Paolo Guerrero, apesar de não ser um nome tão importante no mundo do que Diego, apesar do fracasso em campo. O ano de 2015 foi histórico, frustrante sim, mas mudou o clube com financeiras boas, e Flamengo continuou a mudar em 2016. Pela primeira vez desde muito tempo, brigou pelo título brasileiro e precisava de uma confirmação em 2017.
E o ano começou com transferências que me agradaram na época. Rômulo, com boa passagem no Spartak Moscou, e muitos gringos, Miguel Trauco na defesa, Darío Conca no meio, Orlando Berrío no ataque. Eu era um grande fã do Darío Conca no Fluminense e estava muito entusiasmado com a chegada dele no Flamengo. Mas foi outra decepção, e uma grande decepção, e Conca jogou pouco, muito pouco com o Manto Sagrado. Apenas 3 jogos, ou mais exatamente, três pedaços de jogos, com ao total apenas 27 minutos no campo. Acho que ele foi minha maior decepção de um jogador comprado pelo Flamengo, com uma diferença incrível entre as expectativas e o que deu.
Flamengo, dirigido pelo Zé Ricardo, começou a temporada de 2017 com um amistoso, com uma derrota contra Vila Nova, apesar de um gol de Leandro Damião, outra decepção no Mengo. Mas Flamengo estreou bem no campeonato carioca com goleadas contra Boavista, Macaé, Nova Iguaçu. Também estreou na Primeira Liga com uma vitória 2×0 sobre Grêmio no Mané Garrincha. Nunca gostei dessa competição que só colocava mais jogos num calendário já cheio. Flamengo começou a temporada com 7 vitórias, depois empatou contra Ceará e perdeu a final da Taça Guanabara nos pênaltis contra Fluminense depois de um 3×3, que nem seria o melhor Fla-Flu do ano.
Flamengo se recuperou, rápido e bonito, com uma goleada 4×0 contra San Lorenzo na estreia da Libertadores, num Maracanã cheio e lindo. Pela primeira vez desde um bom tempo, Flamengo também estava candidato ao título da Libertadores. Também ganhou 5×1 da Portuguesa, um jogo eterno aqui. A primeira derrota do ano veio na Libertadores, no campo da Universidad Católica, e Flamengo fez quatro empates consecutivos, o último fatal com uma eliminação contra Vasco na semifinal da Taça Rio. Não impediu o clube de se classificar na semifinal do campeonato carioca, e depois na final com um doblete de Paolo Guerrero contra Botafogo. Na final, um Fla-Flu. O Fla-Flu é meu clássico favorito do Rio e era a primeira vez desde 1995 e o gol da barriga de Renato Gaúcho que os dois times decidiam o título carioca. Seria mais um Fla-Flu histórico, onde a única possibilidade era a vitória.
Depois de uma derrota contra o Athletico Paranaense na Libertadores, Éverton fez o único gol da final de ida do campeonato carioca. No jogo de volta, Henrique Dourado, que seria outra decepção no Flamengo, abriu o placar para Fluminense e deixou tudo igual. No final do jogo, um dos gols mais marcantes do Guerrero no Flamengo, para quase oferecer o título ao Flamengo. E no finalzinho do jogo, num contra-ataque, Rodinei venceu o goleiro improvisado Orejuela para fazer um dos gols mais marcantes do Fla-Flu, para oferecer ao Flamengo o 34o título carioca, o sexto de forma invicta, igualando o recorde do Vasco. Um título marcante para começar o ano de 2017 e relembro muito bem de minha alegria com o gol de Rodinei, com o campeonato carioca que não vinha desde 2014, ainda tinha que ter a dor de ver Vasco levantar o troféu em 2015 e 2016. Com 10 gols, Paolo Guerrero foi o artilheiro do campeonato carioca. Adorei esse Fla-Flu, mas nem seria o melhor Fla-Flu do ano.
Já falei numa outra crônica que fui no Brasil em 2017. Livre para tirar as férias, as datas da viagem só dependiam do Flamengo. Queria ver um jogo decisivo da Copa Libertadores e, com medo de não ter ingresso para a final e também vendo que tinha um Flamengo x Vasco no Brasileirão entre as duas semifinais, decidi comprar o voo para a semifinal da Copa Libertadores, obviamente do Flamengo. Relembro que achava que o jogo contra San Lorenzo era apenas a quinta rodada e com um jogo a 3 da manhã na França, resolvi não assistir para conservar forças para o último jogo. Flamengo perdeu e fiquei chateado na manhã seguinte, mas não abatido. Situação era ruim, mas ainda tinha um jogo. Depois fui Twitter e vi que Flamengo era eliminado. Não entendi direto, Flamengo só estava um ponto atrás. Mas depois entendi, não tinha mais jogo, Flamengo eliminado. Fiquei muito aborrecido, com mais uma eliminação traumatizante depois de 2012 e 2014, uma viagem no Brasil sem Flamengo na Libertadores, e também contra mim, para ter faltado ao vivo o jogo decisivo. Foi um dia ruim, muito ruim.
Na Copa do Brasil, Flamengo estreou com um 0x0 no Maracanã contra o Atlético-GO, mas se classificou na volta na Serra Dourada, com mais um gol, e mais um cartão amarelo, de Paolo Guerrero. No Brasileirão, a estreia foi um 1×1 contra o Atlético-MG, no Maracanã. Um jogo marcante, por um motivo: foi a estreia de Vinícius Júnior. Sempre adorei Vinícius Júnior, acompanhei ele na Copinha com o Flamengo e no campeonato sudamericano U17 com a Seleção. Sempre torci, e ainda torço, pelo sucesso do Vini, que assinou, com 16 anos e na mesma semana da sua estreia profissional, com o Real Madrid, um de meus clubes favoritos na Europa. Voa Vini!
No Brasileirão, Flamengo começou de maneira irregular, escapando da derrota contra Fluminense no último minuto, mas ficando no meio da tabela. Depois, goleou a Chape 5×1 com 2 gols de Diego e 3 gols de Guerrero, iniciando uma série de 5 vitórias consecutivas, a última contra Vasco para chegar na vice-liderança. Também goleou 5×2 Palestino no Chile na Copa Sudamericana, com o primeiro gol no Flamengo de Éverton Ribeiro. Eu já era um grande fã de Éverton Ribeiro na época do Cruzeiro e foi uma decepção de ver ele ir no Al Ahli, acho que ele tinha o nível para jogar na Europa. Mas voltou no Brasil no segundo semestre de 2017, voltou no Flamengo, voltou no Maior do Mundo. Com essa chegada, Flamengo tinha ainda mais peso, e dessa vez não foi uma decepção, bem longe disso. Também, depois da decepção da Libertadores, comecei a torcer muito para um Fla-Flu nas quartas de final, o que era possível no cruzamento, e que ia ser durante minhas férias no Rio. Fé no Fla-Flu.
No jogo de volta, Flamengo goleou de novo Palestino, 5×0, com outro primeiro gol no Flamengo de um craque, Vinícius Júnior, que com 17 anos e 29 dias, se tornava o jogador mais jovem a marcar um gol pelo Flamengo, recorde que será batido pelo Lorran em 2023. Gol foi marcado no estádio Luso-Brasileiro na Ilha do Governador, e gostava muito desse estádio. Mas a fase do Flamengo no Brasileirão era ruim e Zé Ricardo foi demitido antes do jogo contra Palestino. No seu lugar, o colombiano Reinaldo Rueda, campeão da Copa Libertadores um ano antes com o Atlético Nacional. Gostei de escolha e ele foi bem no Flamengo enquanto ele ficou. Flamengo se recuperou, venceu 2×0 o Atlético-GO com dois gols de Vini Jr e se classificou para a final da Copa do Brasil, Diego fazendo o único gol do confronto contra Botafogo, depois de uma assistência, e sobretudo de um drible sensacional, meio letra meio drible de vaca, de Berrío.
No jogo de ida da final da Copa do Brasil, Flamengo abriu o placar com outro craque da casa, Lucas Paquetá, mas Cruzeiro empatou com gol de futuro craque do Flamengo, Arrascaeta. Eu também era um grande fã do Lucas Paquetá e acho que ele merecia um grande título no Flamengo, foi para mim o melhor jogador do futebol brasileiro no primeiro semestre de 2018. No Brasileirão, Flamengo perdeu contra Botafogo, ganhou contra Sport, empatou contra Avaí. Na Copa Sudamericana, Flamengo goleou a Chape 4×0, com gol de um ídolo, Juan. Flamengo estava nas quartas de final e eu tinha meu jogo de sonho, um Fla-Flu, na verdade dois Fla-Flus para minhas férias no Rio. Valia a pena ser eliminado na Libertadores para ter o Fla-Flu, meu confronto favorito no futebol. Antes, teve a final da Copa do Brasil. Fiquei acordado no meio da noite, mas, apesar da importância do jogo, não consegui ver o jogo todo e faltei a disputa de penalidades. Diego errou, Flamengo perdeu, não foi campeão. Mais um dia ruim em 2017.
Depois de outros jogos no Brasileirão, uns bons, outros ruins, era a hora para mim de ir ao Brasil, sozinho, para três semanas de sonho. Comecei a viagem em São Paulo, por um único motivo: tinha um São Paulo FC x Flamengo. Jogo foi no histórico Pacaembu e cheguei bem cedo para comprar um ingresso no setor visitante. Mas a fila era maior que meu sonho e chegou a notícia que não tinha mais ingressos com a torcida do Flamengo. Solução para mim foi comprar um ingresso no setor de São Paulo, deixar meu Manto Sagrado na casa de um vizinho do Pacaembu e ir escondido no estádio, no meio de são-paulinos. Relembro que cheguei a me sentar ao lado de franceses que torciam para São Paulo e tive que mudar de lugar. Assistir ao jogo ao lado de tricolores OK, de tricolores franceses não. Jogo não foi bom para o Flamengo que perdeu 2×0. Mas foi para mim um sonho. Depois de tantos jogos assistidos na televisão, de tantas vitórias e derrotas, títulos e lágrimas, enfim, eu via meu Flamengo em campo. Flamengo perdeu, mas Fla-Flu seria melhor, muito melhor.
Cheguei enfim no Rio e consegui um ingresso para o Fla-Flu de ida na Copa Sudamericana. Fui no Maracanã, na Norte, no coração do Flamengo. Um sonho e cheguei a chorar quando Éverton fez o único gol do jogo. Assisti também ao Clássico dos Milhões contra Vasco e não tinha certeza se eu ia conseguir um ingresso para o Fla-Flu de volta. Cheguei cedo na Gávea e saí com o ingresso na mão e uma alegria no meu coração que poucas vezes senti na minha vida. Fla-Flu era meu. E, já eternizei o jogo nesse blog, mas não foi só o melhor Fla-Flu do ano como foi um dos maiores da história. Teve gol de Diego, teve Flu na frente, e teve a entrada de Vini Jr no jogo, saindo do banco. Vinícius Júnior, já meu ídolo, entrou e desequilibrou. E teve gol de Willian Arão, gol de empate com sabor de vitória, gol para arrepiar, para gritar, para até cair de emoção. Flamengo empatou no Fla-Flu, mas de fato ganhou o Fla-Flu, se classificou e me ofereceu a lembrança mais forte de três semanas inesquecíveis no Brasil. Te amo Flamengo.
De novo, Flamengo foi irregular no Brasileirão, mas foco agora era a Copa Sudamericana. Na semifinal contra Junior Baranquilla, Flamengo venceu no Maraca, com gols de Juan, 38 anos, e Felipe Vizeu, 20 anos. Na volta na Colômbia, Flamengo venceu de novo, agora com doblete de Felipe Vizeu, que jogou muito durante esse fim da temporada de 2017. Na última rodada do Brasileirão, Flamengo virou no campo de Vitória com gol de Diego no último minuto, e se classificou diretamente para a Copa Libertadores 2018. Um fim de Brasileirão perfeito antes do título da Sudamericana. Por ter vivido um Fla-Flu tão incrível nas quartas, queria muito esse título, ainda mais do que a Copa do Brasil. Se falava de um título continental, que Flamengo não conquistava desde 1999, um outro século, um outro milênio.
O adversário era Independiente, que estava no caminho do Flamengo justamente no último título continental, com uma goleada 4×0 do Flamengo nas quartas de final da Copa Mercosul de 1999. Um adversário de peso, de tradição, heptacampeão da Copa Libertadores. No tão tradicional estádio Libertadores da América de Avellaneda, Flamengo abriu o placar com gol de cabeça de Réver, mas Independiente virou no segundo tempo. A derrota 2×1 não era um resultado ruim, mas Flamengo precisava vencer para ser campeão no Maracanã. Em 1999, foi campeão no campo de Palmeiras e em 1981 conquistou a Copa Libertadores no Centenário de Montevidéu. Uma oportunidade única, levantar um troféu continental em pleno Maraca.
De novo, Flamengo abriu o placar, com gol de Lucas Paquetá, com raça, amor e paixão. Mas ainda no primeiro tempo, Independiente empatou num pênalti, com lance bobo de Cuéllar. Dessa vez, não faltei o jogo e relembro muito bem da emoção nos minutos finais, do desespero no último lance, um chute de Réver um pouco acima do travessão. Pela segunda vez do ano, Flamengo perdia uma final. Flamengo fez uma boa temporada em 2017, mas foi bi-vice-campeão e foi muito difícil perder essa final da Copa Sudamericana. Ainda tinha que aguentar as piadas dos rivais, mesmo dos que jogaram muito menos do que o Flamengo em 2017. Mas já falei que a piada do cheirinho nunca me incomodou, porque sabia que um dia ou outro, os títulos iam chegar na Gávea, como foi o caso, além dos meus sonhos mais loucos, e costumo sonhar alto com Flamengo. O Flamengo de 2017 não foi tão histórico que poderia ter sido, mas foi no caminho de glórias ainda maiores.
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Jogos eternos #63: Flamengo 1×0 Vasco 1944

Com 5 dias sem jogo do Flamengo, tem tempo para mais um jogo eterno, um dos mais importantes da história do clube. O rival é o maior, Vasco. O ano é 1944, fim de guerra na Europa, o que terá sua importância para o futebol carioca. O Flamengo era o bicampeão carioca 1942-1943, o Vasco era no início do Expresso da Vitória com alguns craques como Lelé, Isaías, Chico e Ademir e os argentinos Berascochea e Rafanelli.
Flamengo ganhou o campeonato carioca 1942 facilmente, o campeonato carioca 1943 menos facilmente, e em 1944 foi ainda mais difícil. Domingos foi vendido ao Corinthians e o atacante Perácio, conhecido como “o homem do chute mortal”, se juntou a Força Expedicionária Brasileira e foi combater o fascismo na Itália. A guerra tinha consequências até no Brasil, Palestra Itália virou Palmeiras ou Cruzeiro, e Flamengo, sem Perácio, estava sem força ofensiva. Jacir, Sanz, Djalma ou Tião, ninguém convencia o exigente técnico Flávio Costa. Flamengo perdeu 5×2 do Botafogo e estava 7 pontos atrás do líder. O campeonato, o tricampeonato, era quase perdido. Quase.
Sem Domingos e sem Perácio, Flamengo também estava sem Agustín Valido. Argentino, o atacante Valido jogou no Boca Juniors e Lanús antes de ir em 1937 no Brasil e no Flamengo. Era o início do platinismo, onde o Brasil achava que era bem inferior ao futebol do Uruguai e sobretudo da Argentina. Muitos clubes, sobretudo Flamengo e Fluminense, compraram jogadores argentinos ou uruguaios. Valido, Arcádio Lopez, Artur Naon, Raimundo Orsi, Agustín Cosso, Sabino Coletta, Carlos Volante e Alfredo González para Flamengo, Armando Reganeschi, Esteban Malazzo, Angel Capuano, Luis Maria Rongo e Américo Spinelli para Fluminense. Tinha até técnicos, como o uruguaio Ondino Viera, treinador do Fluminense entre 1938 e 1942, do Vasco a partir de 1942. Muitos argentinos, mas ninguém jogou tanto que Valido. Foi campeão carioca em 1939 ao lado de Leônidas e Domingos, com 12 gols em 22 jogos. Em 1942, ele fez contra Canto do Rio o primeiro gol da campanha vencedora do campeonato carioca. Jogou, ao lado de Newton Canegal e Jayme de Almeida, todos os 27 jogos do campeonato carioca 1942 mas com 29 anos, pendurou as chuteiras antes do campeonato carioca 1943 para cuidar de seus negócios.
Sem Domingos, sem Perácio, sem Valido, Flamengo apanhou 5×2 do Botafogo, sentou-se em campo, mas reagiu. Ganhou 5 jogos consecutivos até uma goleada 7×1 contra Bangu no General Severiano. Flamengo estava de volta no campeonato. O grande Roberto Sander escreveu no seu livro Anos 40: Viagem à década sem Copa: “Na semana seguinte a esse jogo um encontro mudaria de vez o rumo do campeonato. Foi quando o então aposentado Valido apareceu na Gávea para visitar os ex-companheiros e pedir a Flávio Costa o campo emprestado para um jogo dos funcionários de sua gráfica. Como tinha todo crédito, o campo foi cedido. No dia da partida, Valido, na ausência de um funcionário, acabou jogando. Flávio estava por perto e ficou impressionado com o quanto ex-jogador ainda estava em forma. Fez um apelo para que ele voltasse ao Flamengo. Mesmo surpreso, Valido aceitou o desafio”. Valido foi inscrito na federação como amador, fez dois treinos, e jogou o Fla-Flu. Outro desafio para o Flamengo era a reforma do estádio da Gávea, com a proibição das tribunas de madeira. Em menos de um mês, Flamengo construiu arquibancadas de cimento e botou o Fla-Flu na Gávea.
E Flamengo goleou Fluminense, 6×1. Mesmo sem marcar, Valido fez um grande jogo, alimentando Pirillo, autor de 2 gols, e Zizinho, que fez um gol. Valido se exaustou, quase até cair em campo. Explicam Roberto Assaf e Roger Garcia no livro Grandes jogos do Flamengo da Fundação ao Hexa: “O esforço empregado no clássico, disputado sob forte calor, deixou Valido desidratado, com uma febre que permaneceu por toda a semana e, portanto, afastado da partida contra o Vasco, no domingo 28, que decidiria o campeonato. Nesse dia, embora ainda um tento debilitado, Valido foi à Gávea, como mero espectador. Flávio Costa tinha pelo menos três jogadores para a ponta direita: Jacir, Nilo e Tião. Mas resolveu contrária às recomendações, e até o bom senso, escalando o seu ex-jogador. O treinador tinha quase 20 anos de clube, quatro títulos cariocas, um deles como jogador, nos idos de 1927, e ninguém ali ousava questioná-lo”. Explicaria também depois Valido: “Passei a semana com febre. Eu estava magro, abatido, mas me obrigaram a entrar”.
Antes do jogo, o jogo preliminar com os reservas, incluindo Jair Rosa Pinto para Vasco, cortado do jogo principal por falta de raça. Valido tinha raça e entrou no jogo no sacrifício. Já no meio-dia, a Gávea estava cheia, com quase todos os 20.308 espectadores do jogo já presentes para o jogo. No dia 29 de outubro de 1944, Flávio Costa escalou Flamengo assim: Jurandir; Newton Canegal, Quirino, Biguá; Modesto Bria, Jayme de Almeida; Valido, Zizinho, Pirillo, Tião, Vevé. No preliminar do jogo, uma vitória 5×1 do Vasco com 4 gols de Jair Rosa Pinto. Nas páginas do Jornal do Brasil, uma enquete para saber quem ia marcar o gol do título: 1.522 pessoas apostavam no Ademir, outros 1.218 no Pirillo e 437 loucos esperavam ver o aposentado Valido marcar o gol do Tri. O aposentado e debilitado Valido, que passou quase todo o jogo na ala direita, apenas fazendo o número. Se as substituições fossem autorizadas na época, provavelmente Valido teria deixado o jogo. Mas não tinha, só tinha Valido, sem correr, sem chutar, sem pular.
Vamos então no minuto 41 do segundo tempo, um minuto quase tão eterno no Flamengo x Vasco que o minuto 43 do segundo tempo, imortalizado 57 anos depois. Em 1944, na Gávea, o placar ainda era 0x0, um placar que oferecia um final em 3 jogos. Numa falta de Vevé, Valido, sem força para pular, se apoiou nas costas do Argemiro para fazer o gol da cabeça, o gol do Tri. Foi falta sim, mas o juiz não viu ou não apitou, foi gol válido de Valido, foi o gol do primeiro tricampeonato do Flamengo. Foi uma explosão na Gávea, uma certeza de felicidade, uma invasão no campo dos 20.308 torcedores, e até mais, como relembra Zizinho: “Quando a bola atingiu a rede vascaína, houve uma invasão de campo como eu nunca havia visto. Até os soldados que eram todos Flamengo, juntaram-se à torcida e o campo ficou totalmente tomado por aquela multidão que vibrava enlouquecida de alegria”. Flamengo campeão, Flamengo tricampeão.
Pirillo fez 15 gols em 16 jogos, Zizinho 8 gols nos 18 jogos do campeonato e o soldado Perácio 3 gols em 5 jogos antes de ir na Itália. Mas o herói da guerra foi Valido, com um gol que criou uma nova rivalidade entre Flamengo e Vasco. “Se o clube já era popular, com essa conquista obtida na base de heroísmo, ficou ainda mais, pois, a partir daí, se criou a mística da camisa rubro-negra de buscar as vitórias na pior adversidade. Pelo lado do Vasco, a frustração foi enorme. Sentiu-se como se alguém lhe houvesse tirado o doce da boca”, escreveu Roberto Sander. Os vascaínos choram até hoje desse gol de Valido não legal para eles, muito legal para nós. José Lins do Rego, nove dedos na literatura e um no futebol, escreveu: “Para o Brasil, o Tri do Flamengo é mais importante que a Batalha de Stalingrado”. Mas confesso que prefiro a palavra de Ary Barroso, dez dedos na música, uma voz no microfone e um coração flamenguista, sobre a suposta falta de Valido: “Ele se escorou sim. E teria sido melhor ainda se estivesse impedido e feito com a mão…”.
Fecho essa crônica com as palavras de Valido, argentino e flamenguista, ainda emocionado 50 anos depois do gol do Tri: “Posso relembrar a história desse gol, que me fez entrar definitivamente para a história do meu clube de duas maneiras. Na primeira, eu digo que não adianta contar a verdade, porque os vascaínos preferem a mentira. Então, eu vou dizer: trepei mesmo no Argemiro para cabecear. Na segunda, explico que não posso deixar de elogiar o cruzamento do Vevé, que veio perfeito, tanto que só tive o trabalho de meter a cabeça na bola para tirá-la do Barqueta. Mas acredite: ela veio tão forte e pesada que fiquei com a testa roxa por 15 dias. E vou dizer: eu não estava me sentindo muito bem, pelo menos para jogar, mas aqueles eram outros tempos, a gente tinha sobretudo amor à camisa e eu não ia deixar uma chance daquelas passar. Além disso, os companheiros insistiram e o Flávio Costa acabou me escalando. Naquele dia, quem me ajudou foi Deus. Mas também devo tudo isso ao presidente José Bastos Padilha, o maior que o clube teve em todos os tempos, que me contratou. Aquele gol e o tricampeonato representaram um fecho de ouro para mim, pois desde a Argentina sempre sonhei em atuar no Brasil, onde só encontrei felicidade e glórias. Depois do jogo, tive uma crise nervosa tão grande que fui obrigado a sair do Rio para me recuperar. Muita emoção. Então, resolvi dar um adeus, aí, sim, definitivo, ao futebol. Mas olha, na verdade nunca consegui me desligar completamente do Flamengo”.
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Jogos eternos #62: Flamengo 3×2 Fluminense 1993

Hoje tem Fla-Flu, o clássico mais charmoso do Rio, também meu clássico favorito no Rio. Hoje será o primeiro Fla-Flu da história da Copa do Brasil, então para a lembrança do dia vamos de um jogo do campeonato carioca, onde os times já se enfrentaram 266 vezes.
O ano é 1993, um ano histórico apesar da falta de títulos. No campeonato carioca, Fluminense tinha conquistado a primeira fase e já estava classificado para a final. Flamengo precisava vencer a segunda fase, iniciada com 2 vitórias contra America e Volta Redonda e um empate contra Americano. Contra um rival, Flamengo precisava vencer.
No 25 de abril de 1993, o técnico Jair Pereira escalou Flamengo assim: Gilmar Rinaldi; Andrei, Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Rogério; Fabinho, Júnior, Marquinhos, Nélio; Paulo Nunes, Gaúcho. No Maracanã, apenas 33.765 pessoas, mas uma geral muita animada, para ver mais um Fla-Flu, o #305 da história, com um retrospecto em favor do Flamengo: 110 vitórias, 98 empates, 96 derrotas. Ganhar Fla-Flu nunca é normal, sempre é especial.
Os goleiros, Gilmar Rinaldi e Ricardo Pinto, começaram a brilhar, e foi Fluminense que abriu o placar com Vagner, em dois tempos, depois de um primeiro chute defendido pelo Gilmar. Dez minutos depois, de novo Vagner, agora no passe, para o saudoso Ézio, que permitia ao Fluminense de ter dois gols de vantagem e uma boa opção na vitória. Mas Fla-Flu nunca é normal.
Fla-Flu nunca é normal, ainda mais quando tem jogadores excepcionais, como Júnior, um dos maiores ídolos da história do Flamengo, um maestro indomável. Antes do intervalo, um passe milimétrico para Paulo Nunes, que faz, não o gol da virada, mas o gol da esperança.
No segundo tempo, Ézio saiu machucado e Vagner foi expulso de forma boba. Sem ataque, Fluminense precisava defender. Defender mal. Um drible sensacional de Marcelinho, que tinha entrado no lugar de Paulo Nunes, para o cabeceio perfeito do também saudoso Gaúcho, um jogador de raça, de amor, de paixão. Torcida inflamada no Maraca, Flamengo 2×2 Fluminense, Fla-Flu nunca será normal.
Depois de perder 2×0, Flamengo agora olhava para a vitória. E aqui é o verdadeiro motivo de ter escolhido esse jogo para mais uma crônica. O último gol oficial de Júnior foi marcado dez dias depois, numa vitória 2×0 contra Olaria, na rua Bariri. Mas pode se ver no YouTube que o cruzamento de Júnior foi desviado nas redes pelo Nilson, e que o juiz errou na súmula ao atribuir esse gol ao Júnior, o 77o dele com o Manto Sagrado.
Então, o verdadeiro último gol de Júnior pelo Flamengo foi esse gol da virada no Fla-Flu, inclusive um golaço. Mais um cabeceio preciso de Gaúcho, agora em passe para Júnior que, sem nunca deixar a bola cair, dominou de peito e mandou de voleio a bola nas redes tricolores. Um golaço, uma virada em mais um Fla-Flu eterno, com a marca do Vovô-Garoto. Acho que a história seria mais linda com o último gol oficial de Júnior ser num Fla-Flu, no antigo Maracanã. Mas finalmente não tem muita importância, afinal o Maestro Júnior deu muitas alegrias aos flamenguistas, durante 15 temporadas, 876 jogos, fazendo, entre muitas outras coisas, 77 gols.
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Ídolos #16: Raul

A camisa 16 pode ser camisa de goleiro, então para a 16a crônica, vamos de um goleiro, de um monumento no Flamengo. Que os grandes goleiros do Flamengo, de Fernandinho a Diego Alves, sem esquecer de Yustrich, Jurandir, Garcia, Cantarelli, Zé Carlos, Gilmar Rinaldi e outros me perdoam, ou talvez nem precisa porque eles vão concordar comigo, mas só vejo dois candidatos ao posto de maior goleiro da história do Flamengo: Raul e Júlio César. Não vi ao vivo os dois, comecei a acompanhar Flamengo em 2005 e o melhor que eu vi foi Bruno, mas, por causa das coisas que ele fez fora, ele nunca terá sua crônica aqui. Fica dois candidatos, e eu vou de ordem cronológica, começo com Raul.
Nascido no 27 de setembro de 1944 no Paraná, começou sua carreira de goleiro no Athletico Paranaense, jogou no rival Coritiba, também jogou no São Paulo, mas foi no Cruzeiro que escreveu o primeiro grande capítulo de sua carreira. Nos meados dos anos 1960, o futebol brasileiro ainda era limitado quase apenas ao eixo Rio – São Paulo, até a final da Taça Brasil 1966, entre Cruzeiro e Santos. No Mineirão, um baile cruzeirense contra o Santos de Pelé, 5×0 no intervalo, 6×2 no final. No Pacaembu, Santos, que tinha conquistado as 5 últimas edições da Taça Brasil, ainda era favorito, mas perdeu 3×2. Cruzeiro é campeão, Cruzeiro mudou para sempre o futebol brasileiro. E ao lado dos craques Tostão e Dirceu Lopes, Raul, goleiro de apenas 22 anos, foi decisivo, parando até Pelé. Para a revista francesa Lucarne Opposée, escrevi um artigo sobre esse título do Cruzeiro e tive a sorte e a alegria de entrevistar Raul Plassmann, uma lenda cruzeirense.
Não vou falar mais sobre o jogo contra Santos, mas deixo aqui as palavras de Raul sobre a camisa amarela que ele já usava na época de Cruzeiro: “Quando comecei a jogar no Cruzeiro, ninguém trocava camisa, você jogava dois ou três anos com a mesma camisa. Quando fiz meu primeiro jogo no Cruzeiro, o goleiro titular era muito pequeno. A camisa dele não entrava, resolvi pegar um moletom de frio que o lateral esquerdo Neco usava. Ele me emprestou a camisa, fiz um número 1 de esparadrapo atrás da camisa. Teve muita repercussão porque era uma camisa de cor e todo goleiro usava uma camisa cinza ou preta. O presidente do Cruzeiro gostou muito, achava que dava sorte porque era muito supersticioso e ele mandou fazer 10 camisas amarelas para mim. Comecei a usar mais por causa da vontade do presidente e do clube”. Raul criou um novo habito para os goleiros e fez parte do maior Cruzeiro de todos os tempos, ganhando muito títulos, a Taça Brasil sim, o pentacampeonato mineiro entre 1965 e 1969 também, outros 5 campeonatos mineiros na década de 1970, e ainda mais importante, a primeira Copa Libertadores do Cruzeiro, o segundo clube brasileiro a ganhar a Libertadores depois do Santos de Pelé, em 1976. Uma lenda do Cruzeiro.
Mas esse blog é sobre Flamengo e Raul virou uma lenda do Flamengo. Chegou no Maior do Mundo em 1978, depois da Copa do Mundo que ele não jogou. Na Seleção, estreou em 1968 com um amistoso contra a Argentina no seu Mineirão, e depois só voltou a jogar em 1975 durante a Copa América, onde o Brasil foi eliminado num sorteio duvidoso. Conquistou em 1976 a Taça do Atlântico, a Copa Roca e o Torneio Bicentenário dos Estados Unidos, sem ser o goleiro titular. No Flamengo, Raul estreou num Fla-Flu na Espanha e logo conquistou o Troféu Cidade de Palma de Mallorca, com uma vitória 2×1 contra o poderoso Real Madrid. Era o início de uma nova Era no Flamengo, que tinha uma base promissora, mas faltava alguns lideres para transformar o potencial em potência. Raul Plassmann foi um deles.
Raul chegou no Flamengo com quase 34 anos, já veterano, quase um velho, inclusive um apelido dele. Para mim, o Flamengo de 1978-1983 é um dos 10 melhores times de toda a história do futebol e cada grande time, ou quase, começa com um grande goleiro. Foi o caso do Flamengo de 1978-1983. E a ajuda de Raul não foi só no gol, também foi no vestiário, onde com Paulo César Carpegiani, que chegou um ano antes, ajudou os jovens, Zico e Rondinelli, também já lideres, e depois Júnior, Leandro, Adílio, Tita e todos que fizeram do Flamengo o campeão de tudo. “Todos aqueles bons resultados foram consequência da política do clube de valorizar a prata da casa, mas, por outro lado, contratando aqui e ali jogadores experientes, como foram os casos do Raul e do Carpegiani. Assim, quem vinha das categorias de base já encontrava um suporte. Oitenta por cento do elenco se identificava com o clube e isso contagiava quem vinha de fora” explica Júnior no livro Os dez mais do Flamengo de Roberto Sander. Flamengo começou a ganhar no Rio de Janeiro, com o tricampeonato carioca 1978-1979-1979 Especial.
Depois do Rio, o Brasil, e o Brasileirão 1980 conquistado em cima do Atlético Mineiro. No jogo de ida no Mineirão, Flamengo perdeu 1×0, gol de Reinaldo. Os jovens jogadores do Flamengo não se assustaram com a derrota em Belo Horizonte, até comemoraram o resultado no vestiário. Relembra Raul no livro 6x Mengão de Paschoal Ambrosio Filho: “Estava a maior festa. Todo mundo se abraçando. Parecia que a gente tinha ganhado o título. Aí eu perguntei ao Júnior: ‘Ô cara, que festa é essa? Parece até que a gente já é campeão’. O Capacete respondeu com um sorriso: ‘E você acha que a gente vai perder pra eles lá no Maraca, Véio?’ Aí eu também entrei na festa”. No Maracanã, Flamengo ganhou 3×2 e foi campeão em cima do maior rival do Cruzeiro, que também ia ser o maior rival do Flamengo fora do Rio. Flamengo campeão do Rio, campeão do Brasil. E Raul ídolo do Flamengo.
Para sua primeira participação na Copa Libertadores, Flamengo chegou até a final e no dia 23 de novembro de 1981 no Centenário, foi campeão da América, o terceiro clube brasileiro a conquistar a Copa Libertadores depois do Santos de Pelé e do Cruzeiro de Raul. E teve a oportunidade de conquistar o Mundo, lá no Japão, contra Liverpool, no dia 13 de dezembro de 1981, jogo mais importante da grande história do Flamengo, para mim e para Raul também. Mais um trecho de minha entrevista com Raul, com uma pequena história que eu acho sensacional: “No Flamengo, eu usei camisa amarela e camisa verde também, as camisas chegavam para mim. Quando fomos decidir o Mundial contra Liverpool no Tóquio, todo mundo sabia que eu era o goleiro que ficou marcado pelo fato de usar camisa amarela. Nós fomos para Los Angeles, ficamos três dias por causa do fuso horário, para minimizar um pouco a diferença no Japão. O Domingos Bosco, que era o supervisor, me falou: ‘Raul, nós esquecemos sua camisa, você não tem camisa para jogar. Vou sair em Los Angeles para comprar uma camisa’. Falei: “Mas Bosco, aqui não tem futebol, só tem beisebol, basquete, você não vai encontrar”. Ele entrou numa loja de roupas comuns e, olha como é a vida, ele comprou outro moletom, igualzinho ao do Neco, lateral do Cruzeiro. Idêntico, igualzinho, parecia um replay de minha vida”.
Com uma camisa amarela, sem o escudo do Flamengo, Raul conquistou o Mundial, mas apareceu pouco durante o jogo contra Liverpool. “Fiquei meio frustrado porque não participei do jogo. Só veio uma bola. O Flamengo podia ter jogado sem goleiro, que seria 3 a 1”, explicou Raul no livro 20 jogos do Flamengo de Marcos Eduardo Neves. Raul não foi decisivo no Mundial de 1981, mas foi no Brasileirão de 1982. Nas quartas de final, contra Santos no Maraca, Raul fez várias defesas. No jogo de volta da final contra Grêmio, Raul jogou machucado, jogou com a braçadeira de capitão cedida pelo Zico, jogou muito, com defesaças, preservou o 0x0, preservou as chances de Flamengo de ser campeão. A maior defesa foi a mais polêmica, Grêmio viu uma mão de Andrade na grande área, mas foi defesaça de Raul, foi legal, em todos os sentidos da palavra. No desempate, Raul recusou a braçadeira oferecida mais uma vez pelo Zico, achando normal Zico levantar a taça de campeão. Dois jogadores de classe, dentro e fora do campo. E com um 1×0 gol de Nunes, o capitão Zico levantou a taça, o Flamengo foi campeão.
Alguns meses depois, a Seleção brasileira perdia o Tetra na Sarrià. Acho que Telê errou na escalação do time, no gol, no meio de campo e no ataque. Acho que o melhor goleiro brasileiro no momento era Emerson Leão. Mas, pelo caráter dele, é compreensível não o levar na Copa. Agora, acho que dos três goleiros que foram na Copa, o melhor e o que deveria ter sido titular era Carlos. Mas eu acho que Raul merecia, não apenas ir na Copa de 1982, mas também ter o lugar de titular. Talvez com ele a história seria diferente, afinal se Raul provou uma coisa na vida, é que ele sabe ganhar títulos, e muitos. Mas a história é assim e parece que Raul não tem mágoa, declarando na época: “Quem joga no Flamengo não precisa de Seleção”. Até porque Flamengo é uma Seleção. Em 1983, mais um replay na vida de Raul, mais um título brasileiro com o Flamengo, dessa vez contra Santos, com 155.523 torcedores no Maracanã para ver o 3×0, para ver o tricampeonato.
Com 39 anos, ainda titular num dos maiores times do mundo, Raul pendurou as luvas e a camisa amarela no fim do ano de 1983. Teve um jogo de despedida no Maracanã em 1983, onde cedeu o lugar para o novo goleiro do Flamengo, Abelha, que não repetiu a mesma história. Um Raul, um só. Flamengo perdeu 3×2 contra uma seleção de amigos e Raul voltou ao Maracanã quase 7 anos depois para despedida de outro ídolo, o maior de todos, Zico. Dessa vez, Raul saiu do gol durante o jogo para a entrada de Cantarelli. Então, acho justo no meu jogo fictício do Flamengo de todos os tempos, Raul ceder seu lugar ao Júlio César no decorrer do jogo.
Fecho essa crônica com mais um trecho de minha entrevista de Raul, sobre a camisa amarela usada no 3×0 contra Liverpool, sem o escudo do Flamengo por causa de ser um simples moletom de Los Angeles: “Sempre me senti incomodado por não ter o escudo no peito para a decisão mundial do Flamengo, no jogo mais importante da vida do clube. Então, fui ao Flamengo pedir licença e pago Flamengo para produzir minhas camisas de goleiro que representam o título mundial. Coloquei o escudo do Flamengo, por isso que eu paguei Flamengo. Eu fiz 500 camisas comemorativas, Cidel comprou uma”. Cidel é o presidente da Fla Paris, e Raul é mais um ídolo do Flamengo a ser presente para as embaixadas e consulados do Flamengo e para os flamenguistas em geral. Durante suas férias em Paris, Raul até encontrou membros da Fla Paris para visitar a Cidade Luz. Faltei o encontro, eu já estava no Rio, mas pretendo ir daqui a pouco no Minas Gerais e gostaria de encontrar Raul, fazer mais uma entrevista, para falar do Cruzeiro multicampeão, e claro, da instituição do Flamengo, protegida muitas vezes pelo talento, pela raça e pela camisa amarela de Raul.
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Jogos eternos #61: Bahia 0x5 Flamengo 2021

Com 3 derrotas em 4 jogos e uma vergonhosa presença no Z-4, Flamengo precisa urgentemente de uma vitória, de um resultado, de uma reação. Em 2021, Flamengo também começou mal o Brasileirão com 4 derrotas em 9 jogos antes do jogo contra Bahia.
No 18 de julho de 2021, Fla foi jogar no Pituaçu e Renato Gaúcho escalou Flamengo assim: Diego Alves; Isla, Gustavo Henrique, Léo Pereira, Filipe Luís; Willian Arão, Diego, Éverton Ribeiro; Arrascaeta, Michael, Gabigol. Um time muito bom, que estava longe da posição que deveria ocupar, mas o lugar se explicava também pela ausência de alguns jogadores por causa da Copa América, como Isla, Arrascaeta, Éverton Ribeiro e Gabigol. Sem férias e sem possibilidade de descansar, o quarteto estava de volta no Flamengo, para um jogo no Pituaçu.
Jogo começou com dois chutes de longe, fora do gol, Nino Paraíba para Bahia, Willian Arão para Flamengo. Com 20 minutos de jogo, Michael arrancou e deixou para Arrascaeta, que provocou um pênalti. Gabigol abriu o placar de pênalti e no minuto seguinte quase fez o doblete. O segundo gol de Gabigol finalmente saiu um pouco antes do intervalo. Uma tabelinha entre Isla e Arrascaeta na direita, um cruzamento atrás e um chute de trivela de Gabigol, bem colocado, sem chance para o goleiro. Um golaço com um toque bem difícil, mas perfeitamente executado.
No início do segundo tempo, Gabigol saiu no contra-ataque desde seu próprio campo, resistiu ao zagueiro, mas seu chute cruzado foi defendido pelo Matheus Teixeira. O terceiro gol finalmente saiu na hora do jogo, com bom passe de Éverton Ribeiro, bom domínio de Gabigol, que cruzou de novo de pé esquerdo, dessa vez no fundo das redes. Depois de não brilhar muito com a camisa amarela na Copa América, Gabigol brilhava muito com o Manto Sagrado. Apesar de ser goleador, era apenas o segundo hat-trick de Gabigol no Flamengo, o primeiro foi no campeonato carioca 2020 contra Cabofriense.
Gabigol podia pedir a musica e ceder seu lugar para um jogador que não merecia a reserva, Pedro. E como goleador que era, não esperou muito antes de fazer o gol. Jogada começou com um carrinho de Éverton Ribeiro, bola para Pedro e um passe um pouco profundo na esquerda para Vitinho, que teve tempo de recuperar a bola e de cruzar. De forma bem acrobática, Pedro fazia mais um gol, seu terceiro no Brasileirão, o primeiro como reserva depois de começar o campeonato como titular por causa da ausência de Gabigol. Flamengo tinha dois goleadores e ainda tem, agora jogando juntos.
No final do jogo, mais uma vez Éverton Ribeiro no início da jogada, com um passe para Arrascaeta, que chegou na grande área, que mostrou que era craque. Uma finta de chute, um toque de sola, um passe de trivela. Vitinho, que ele sim merecia a reserva mas entrou bem no jogo, fez o quinto gol do Flamengo. Bahia 0x5 Flamengo, a maior goleada do Flamengo no campo de Bahia, apesar de o jogo não ser na Fonte Nova. Flamengo reagia no Brasileirão, conseguiria depois mais duas vitórias, 5×1 contra São Paulo e 3×1 contra o Corinthians em São Paulo, antes de ser goleado 4×0 no Maracanã contra o Internacional. O ano de 2021 também foi frustrante, mesmo sem ficar num vergonhoso Z-4.
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Jogos eternos #60: Flamengo 2×0 Goiás 1983

Antes do jogo de hoje, uma lembrança do primeiro Flamengo x Goiás no Brasileirão, em 1983, um ano histórico, um ano de Flamengo campeão. No Brasileirão de 1983, com 44 times, Flamengo passou da primeira fase atrás do Santos e da segunda fase atrás do Palmeiras. E a terceira fase, num grupo com Corinthians, Guarani e Goiás, onde os dois primeiros passavam nas quartas de final, começou justamente com esse jogo contra Goiás.
Antes do jogo contra Goiás, Flamengo jogou duas vezes na Copa Libertadores na altitude da Bolívia, com um empate contra Blooming e uma derrota contra Bolívar. Flamengo tinha três pontos a menos do que Grêmio, e com apenas o primeiro a se classificar na semifinal, Flamengo estava quase eliminado. Flamengo precisava de uma reação, precisava ganhar o Brasileirão.
No 11 de abril de 1983, uma segunda-feira, apenas 21.535 espectadores no Maracanã para o jogo entre Flamengo e Goiás. Um dia antes, o Corinthians e Guarani tinham ficado no empate, e Flamengo já podia fazer uma pequena diferença. Carlinhos, que dirigiu muitos jogos eternizados nesse blog, escalou Flamengo assim: Raul; Leandro (Gilmar Popoca), Marinho, Mozer, Júnior; Vitor Silva, Adílio, Zico; Elder, Robertinho (Figueiredo), Baltazar. No time de Goiás, um grande nome, Dario, o Dadá Maravilha, que jogou no Flamengo dez anos antes.
Com 21 minutos, um golaço do Flamengo, uma jogada que como muitas vezes, partiu dos pés de Leandro no lado direito. Para mostrar a beleza do gol, vale apenas citar os nomes dos jogadores que tocaram a bola: Leandro, Baltazar, Leandro, Adílio, Elder, Baltazar, Adílio, Robertinho. Um golaço coletivo incrível, com finalização perfeita de Robertinho, na gaveta do gol de Edison. Acho que o Flamengo 1978-1983, com as Seleções brasileiras de 1970 e 1982, é minha definição máxima do futebol. Claro, teve outros times, como o Real de Di Stéfano, o Santos de Pelé, o Ajax de Cruyff, o Milan de van Basten, o Barça de Messi, o Real de Cristiano. Mas pelos movimentos coletivos, a maneira de jogar na frente, com passes curtos, toques rápidos, dribles bonitos, o jeito complicadíssimo de jogar simples, o Flamengo 1978-1983 era muito especial. E claro, tinha Zico.
E Zico foi o autor do segundo gol do jogo contra Goiás. Jogada começa nos pés de Adílio, uma tabelinha com Zico, um drible de Adílio no goleiro, um chute na trave. A bola volta nos pés de Baltazar, que não consegue fazer o gol, volta nos pés de Zico, que consegue fazer o gol. Flamengo 2×0, uma vitória tranquila para estrear na terceira fase do terceiro título do Brasileirão do Flamengo.
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Jogos eternos #59: Athletico Paranaense 0x2 Flamengo 2019

Mais um jogo de 2019, mas uma evidencia antes do jogo contra o Athletico Paranaense na Arena da Baixada. Em 2019, Flamengo vinha de um tabu de 45 anos contra o Furacão. A última vitória do Flamengo no Brasileirão no campo do Athletico era de 1974, um 2×1, gols de Zico e Paulinho. Depois, foram alguns empates e muitas derrotas, 7 seguidas entre 2001 e 2008.
E o desejo de vingança era dobro, três meses antes do jogo do Brasileirão, o Athletico Paranaense tinha eliminado Flamengo nas quartas de final da Copa do Brasil, após uma disputa de penalidades. E em 2019, a missão era ainda mais difícil com vários desfalques no Flamengo: Rodrigo Caio e Gabigol convocados na Seleção, Filipe Luís e Arrascaeta lesionados. Ainda recuperando da lesão no tornozelo, Diego era outro desfalque. Jorge Jesus teve que improvisar um pouco e escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rafinha, Pablo Marí, Rhodolfo, Renê; Willian Arão, Gerson, Lucas Silva; Éverton Ribeiro, Vitinho, Bruno Henrique. E o time do Furacão também era muito bom, com Thiago Heleno e Léo Pereira na zaga, Lucho González no meio de campo e uma dupla Marcelo Cirino – Rony no ataque.
No 13 de outubro de 2019, 25.473 espectadores na Arena da Baixada para ver o fim de um tabu de 45 anos. Nas camisas do Flamengo, os números e nomes foram desenhados por crianças de institutos de caridade, uma iniciativa linda que o clube poderia repetir. Primeira oportunidade foi para Willian Arão, mas chutou fraco. No mesmo minuto, Vitinho chutou fora do gol. Lucas Silva, que aproveitava dos desfalques para ter seu primeiro jogo como titular depois de sete meses, provocou um pênalti na grande área athleticana, mas o juiz anulou após o VAR. O Athletico Paranaense tomou o controle de jogo, e Diego Alves fez uma grande defesa numa cabeçada de Thiago Heleno. Mais uma grande defesa de Diego Alves contra Thonny Anderson e Vitinho quase abriu o placar para Flamengo com uma bola batida com o joelho, que passou muito perto do gol de Léo.
Um minuto antes do intervalo, no estilo bem particular de Thiago Nunes, os zagueiros e goleiro do Athletico Paranaense trocaram passes arriscadas na grande área. No estilo particular de Jorge Jesus, Everton Ribeiro, Willian Arão e Bruno Henrique fizeram a pressão, o goleiro Léo errou o passe para Wellington, Bruno Henrique recuperou e deixou sem chance para Léo. Flamengo estava na frente na Arena da Baixada, como foi o caso por exemplo em 2017 e 2014, antes da reação do Furacão.
No segundo tempo, o Athletico dominou a partida, sem conseguir fazer o gol. Bruno Henrique teve a oportunidade de fazer o gol do 2×0, mas o chute cruzado passou perto da trave. Um minuto antes do fim do jogo, um toque de gênio de calcanhar de Éverton Ribeiro para Renê, que podia cruzar na pequena área, e com outro toque de gênio de calcanhar, uma Madjer com é chamado na França, Bruno Henrique fazia o doblete, fazia o gol da vitória, fazia a alegria da torcida rubro-negra. Com esses dois gols de BH, uma atuação brilhante na função de Gabigol, e a vitória 2×0, Flamengo acabava com um jejum de 45 anos sem vitória na Arena da Baixada no Brasileirão, e ficava com 8 pontos de vantagem na liderança do Brasileirão.
Acho que essa vitória foi fundamental para o fim da temporada do Flamengo, afinal jogo aconteceu 10 dias antes do Cincum. Depois, Flamengo não conseguiu ganhar no campo do Furacão no Brasileirão, com derrotas em 2020 e 2022, e um empate concedido em 2021 no minuto 95, depois de abrir 2×0 com doblete de Gabigol no primeiro tempo. Mais uma vez, aprende Flamengo de 2023.






