
Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.
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Jogos eternos #58: Flamengo 3×3 Racing 1992

Como no último jogo eterno aqui, a final de ida do Brasileirão contra Botafogo, vamos ficar hoje em 1992 e avançar de alguns meses para enfrentar o Racing, clube argentino de Avellaneda. A competição não era a Copa Libertadores, mas a Supercopa Libertadores, onde só os campeões da Libertadores podiam jogar a competição. Flamengo passou na primeira fase do Grêmio, campeão em 1983, e nas quartas de final de Estudiantes, tricampeão entre 1968 e 1970. Por sua vez, o Racing eliminou o grande rival Independiente e aproveitou da desistência do Nacional para alcançar a semifinal.
Por causa do acidente no jogo de volta da final do Brasileirão contra Botafogo, que matou 3 pessoas, o Maracanã foi impossibilitado e Flamengo jogou o resto da temporada em vários estádios. Para a semifinal da Supercopa Libertadores, Flamengo optou pelo Pacaembu de São Paulo e o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar; Fabinho, Júnior Baiano, Rogério, Piá; Uidemar (Cláudio), Marquinhos, Júnior, Djalminha; Paulo Nunes, Gaúcho (Luís Antônio).
No Pacaembu, um publico pequeno para uma semifinal continental, apenas 7.951 espectadores na noite do 4 de novembro de 1992, mas que iam assistir a um jogaço, e já um golaço, uma falta bem na esquerda com o pé direito de Júnior, diretamente no gol do Carlos Roa. Júnior, agora de cabelos bem grisalhados, jogou demais no Brasileirão e continuava assim nesse fim de temporada de 1992.
O gol de Júnior foi o único do primeiro tempo e o Racing empatou no início do segundo tempo, Júnior deixando Turco García cruzar para o gol de cabeça de Alfredo Graciani. O Racing empatou, e virou dois minutos depois, agora com gol de Turco García, depois de um drible sobre o goleiro Gilmar. Flamengo reagiu rapidamente e Rogério empatou depois de um escanteio de Júnior.
Fim do jogo foi bem animado, com expulsões de Rogério e Jorge Reinoso, pênalti de Matosas para o Racing, expulsões de Luís Antônio e Distefano, pênalti de Djalminha para Flamengo. No final um 3×3, que será finalmente insuficiente para o Flamengo, derrotado 1×0 na Argentina uma semana depois. Deixo aqui os gols do jogo com a narração de Sílvio Luiz, provavelmente meu comentarista preferido do futebol brasileiro.
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Times históricos #16: Flamengo 1936

O ano 1936 é um dos mais importantes da história do Flamengo, graças ao maior presidente do Flamengo, que deu seu nome ao estádio da Gávea que ajudou a construir, José Bastos Padilha. E José Bastos Padilha foi muito além do estádio, ele transformou Flamengo. Escreveu Roberto Assaf no Jornal do Brasil em 2002: “Foi Padilha quem convenceu os companheiros de diretoria a abandonarem o regime amador e embarcarem em 1933 no trem do profissionalismo no futebol, a realidade que sócios românticos insistiam em ignorar. Foi Padilha quem abriu as portas do Flamengo para os jogadores negros, delicadamente afastados do clube até 1934, por uma maioria racista que frequentava o clube. Graças à compra dos passes de craques como Domingos da Guia, Médio, Fausto, Waldemar de Brito e principalmente Leônidas da Silva, o Flamengo, até então apenas um clube popular, tornou-se um fenômeno das massas. Logo, trouxe da Europa o húngaro Dori Krüschner, o técnico que revolucionou taticamente o futebol brasileiro. Padilha foi o primeiro “marqueteiro” do futebol, empreendendo campanhas de adesão ao rubro-negro, baseadas em slogans que criou, como “Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”, que veiculava no Jornal dos Sports, o diário que adquiriu para transformar, disfarçadamente, no jornal do Flamengo, algo fabuloso para a época”.
O grande jornalista Mário Filho, que deu seu nome ao estádio do Maracanã que ajudou a construir e que nesse mesmo ano de 1936 tornou-se o redator-chefe do Jornal dos Sports, escreveu na sua obra clássica O Negro no futebol brasileiro: “Indo em busca do preto, o Flamengo ia de encontro ao gosto do povo. Queria ser o clube mais querido, mais popular do Brasil”. O ano de 1936 é o terceiro ato do nascimento do Flamengo: 1895 e o remo, 1911 e o futebol, 1936 e o povo. José Bastos Padilha começou a contratar os melhores jogadores do momento, na maioria jogadores negros. Fausto foi o primeiro a chegar no clube, depois ainda teve Newton Canegal, Médio, Jarbas, Waldemar de Brito, mas sobretudo Leônidas da Silva. Foi ele que ajudou a transformar Flamengo, o time dos ricos dissidentes e rebeldes, advogados e médicos, se tornava o clube do povo.
Mais do que a imprensa escrita e o Jornal dos Sports, meio dos alfabetizados, foi o rádio que também ajudou a transformar o Flamengo. Nesse mesmo ano de 1936, foi inaugurado o Radio Nacional no Rio de Janeiro, que passou a retransmitir todos os jogos do Flamengo, no Brasil inteiro, para o povo todo. E Flamengo era o povo, se construiu, como em 1911, em oposição ao Fluminense. O time das Laranjeiras gosta de se orgulhar de ter no seu time o mestiço Carlos Alberto, filho de fotografo, já em 1914. Como se Fluminense lutou contra racismo, contra preconceitos, contra a desigualdade social. Carlos Alberto era rico, por isso era aceito no Fluminense, que lutou durante muito tempo contra a profissionalização, que permitia a inserção dos pobres no futebol da elite. Pobre nas Laranjeiras, nem pensar.
Flamengo abriu as portas do clube para os pobres e os negros, Fluminense abriu as portas para os italianos e os paulistanos. Chegaram Romeu, Tim, Demósthenes ou Hércules. Em 1912, Flamengo passou das regatas ao futebol, e em 1936, Flamengo passou da elite ao povo, sendo como maior exemplo o centroavante e ídolo Leônidas. E o Fla-Flu se transformou mais uma vez em 1936, virou a elite contra o povo, o pó-de-arroz contra o pó-de-carvão. O pobre, o favelado, o negro, tinha um time para torcer, tinha Flamengo para amenizar a dureza da vida, para colocar alegria no dia a dia.
Como o calendário gregoriano, Flamengo começou o ano de 1936 no 1° de janeiro. Começou em Curitiba, no Couto Pereira, com uma vitória 3×2 sobre Coritiba, dois gols de Caldeira, um de Jarbas. No time, tinha também um futuro grande treinador, Zezé Moreira. Depois de outros amistosos no Paraná, Flamengo voltou a jogar contra Coritiba, agora para a Taça João Viana Seiler. E Flamengo conquistou a taça, goleou Coritiba 7×2, com dobletes de Nelson, Jarbas, Caldeira e mais um gol de Alfredinho. E no time, mais um futuro grande técnico, o então goleiro Dorival Knipel, chamado de Yustrich pela semelhança com outro goleiro, o argentino Juan Elias Yustrich.
Flamengo ainda jogou dois amistosos contra a Portuguesa, o primeiro no estado de São Paulo e o segundo no Rio de Janeiro, nas Laranjeiras. No primeiro jogo, o arbitro da partida era bem conhecido, Arthur Friedenreich, maior jogador brasileiro da era do amadorismo e que tinha pendurado as chuteiras um ano antes, no próprio Flamengo. Outro nome conhecido é Flávio Costa, técnico do Flamengo, que tinha 30 anos na época. Como jogador, Flávio Costa fez toda a carreira no Flamengo, entre o time titular e o time reserva. Era um meio-campista jogando na base da raça, chamado de Alicate por sua capacidade a correr em campo e recuperar bolas. Em 1934, ainda jogador, começou a treinar o Flamengo. Revolucionou a profissão de técnico e ainda hoje, certamente para sempre, é o técnico que mais dirigiu Flamengo, 777 jogos em 5 passagens entre 1934 e 1965. Uma lenda rubro-negra.
Em 1936, três anos depois da oficialização do profissionalismo, Flamengo jogou o Torneio Aberto, um torneio em mata-mata criado um ano antes e onde quase todos os times, amadores ou profissionais, de Rio de Janeiro ou do Minas Gerais, podiam participar. Em 1936, 47 times participaram do torneio e Flamengo começou contra Modesto, time de Quintino, terra do Zico. Flamengo começou sem modéstia, com goleada 6×2, 3 gols de Jarbas, 2 gols de Alfredinho, 1 gol de Caldeira. Em seguida, goleou Villa Joppert 9×2, com dobletes de Sá, Jarbas e Engel e um hat-trick de Alfredinho, e goleou Bandeirantes 8×2, destaque para os 5 gols de Alfredinho, ídolo um pouco esquecido na história gigante do Flamengo, mas que, depois de brilhar no Fluminense, foi artilheiro do Flamengo em 1934, 1935 e 1936, antes de voltar ao Fluminense. Uma lenda do Fla-Flu.
Entre dois jogos do Torneio Aberto, Flamengo jogou alguns amistosos, único meio de ganhar dinheiro no início do profissionalismo, o marketing ou a televisão ainda eram muito longe do futebol. No 21 de maio de 1936, teve o primeiro Fla-Flu do ano, muito longe de ser o último, com um empate 2×2, com 2 gols de Alfredinho, lenda do Fla-Flu. Em amistosos, Flamengo venceu tanto o Atlético Mineiro que o Cruzeiro. Ainda em amistosos, Flamengo também goleou tanto Bonsucesso 7×1, com 4 gols de Alfredinho, que Estrela do Norte 8×2, com 6 gols de Alfredinho, igualando o recorde de mais gols num jogo de um jogador do Flamengo, que pertencia a Nélson, que fez 6 gols em 1933 num 16×2 contra River. Nesse jogo contra Estrela do Norte, o técnico Flávio Costa disputou em campo seu único jogo do ano, o último de sua carreira com o Manto Sagrado, e até fez um gol.
De volta no Torneio Aberto, Fla começou com mais uma goleada, 8×2 contra Bandeirantes, 5 gols de Alfredinho, mais o caminho foi mais difícil depois: vitórias 2×0 contra Engenho de Dentro e 2×1 contra Bonsucesso com um gol no último minuto da prorrogação de Alfredinho, sempre Alfredinho. Depois, mais dois amistosos contra times mineiros, uma derrota 4×2 contra o América nas Laranjeiras, e um empate 2×2 contra Cruzeiro no estádio Juscelino Kubitschek em Belo Horizonte. O primeiro jogo marcou a primeira partida de Leônidas com o Manto Sagrado, o segundo marcou o primeiro tento de Leônidas com o Maior do Rio. Sem dúvida, uma nova Era para o Flamengo, que via o início de quem será seu maior ídolo na primeira metade do século XX, um ídolo imortal e já eternizado nesse blog.
De volta no Torneio Aberto, agora no quadrangular final, com Fluminense, America e Bonsucesso. E Flamengo começou com um Fla-Flu, o segundo do ano, que, como o primeiro, acabou num 2×2. Mas esse Fla-Flu do 16 de agosto de 1936 nas Laranjeiras é ainda mais histórico. Pela primeira vez, Flávio Costa escalava os três maiores jogadores brasileiros da década, três pretos, Domingos na zaga, Fausto no meio e Leônidas no ataque. Ainda tinha Médio, irmão de Domingos, e Jarbas, que chegou no clube em 1933 e é considerado o primeiro jogador negro do Flamengo. O clube rubro-negro tinha 5 jogadores no seu time que eram negros, um time metade negro, metade rubro, cem por cento Flamengo. Uma nova Era para o Flamengo, uma nova Era para o Fla-Flu, uma nova Era para o futebol brasileiro.
Ainda no Torneio Aberto, Flamengo venceu o America 2×1, 2 gols de Leônidas, e empatou 1×1 contra Bonsucesso, gol de Alfredinho. O novo e o antigo artilheiro para um Flamengo que talvez, provavelmente, nunca tinha sido tão forte. Flamengo precisava de uma vitória no último jogo para ser campeão, abriu o placar contra o Bonsucesso com gol de Alfredinho, mas cedeu o empate e teve que ir numa decisão extra em dois jogos contra… Fluminense obviamente. No jogo de ida, 1×1, gol de Jarbas para Fla, gol de Hércules para Flu. No jogo de volta nas Laranjeiras, um Flamengo poderoso, com Domingos na defesa, com Fausto no meio, com Leônidas no ataque, com 17.393 espectadores, publico muito bom para a época, com gol de Sá, o único gol da partida. Flamengo campeão, em cima do Fluminense.
Quatro dias depois, Flamengo estreava no campeonato carioca, disputado entre apenas 6 equipes numa época ainda de conflito no Rio sobre o profissionalismo. O ano de 1936 também foi o último ano de dois campeonatos cariocas distintos, o da LCF, com Flamengo e Fluminense, e que defendia o profissionalismo, e o da FMD, com Botafogo e Vasco, ligada a CBD e ainda defensor de uma Era sem mais sentido do amadorismo. Flamengo começou o campeonato carioca com vitória 2×1 sobre Bonsucesso, com 2 gols de Alfredinho, um artilheiro nato. Depois, um empate contra America e goleadas contra Jequiá e a Portuguesa, depois, mais um Fla-Flu, mais uma vitória rubro-negra, gols de Leônidas e Nelson. Depois, de novo, um empate contra America e goleadas contra Jequiá e a Portuguesa, com dois hat-tricks de Leônidas nos dois últimos jogos. Flamengo perdeu o sexto Fla-Flu do ano, apesar de um gol de Ladislau, também preto, também irmão de Domingos, e que tinha jogado no Flamengo para uma excursão no Uruguai em 1933, primeira abertura do Flamengo aos jogadores negros.
E veio uma vitória 4×0 contra Bonsucesso, com doblete de Jarbas e, claro, gols de Leônidas e Alfredinho. Como o campeonato carioca tinha apenas 6 times, a LCF organizou um terceiro turno, todos jogando contra todos. Para Flamengo, derrota contra America, vitória contra Bonsucesso e empate para mais um Fla-Flu, 1×1, gols dos ídolos, o negro do subúrbio carioca Leônidas para Flamengo, o italiano de São Paulo Romeu para Fluminense. Mais um capítulo para a lenda do Fla-Flu. Flamengo ainda venceu a Portuguesa, goleou Jequiá 8×1 com 4 gols de Sá e chegou empatado com Fluminense no topo da tabela: 10 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. Os dois times tinham 16 gols contra, mas Fluminense marcou 57 gols, contra 44 para o Flamengo. Mas nessa época, não tinha esse critério de desempate e o campeonato carioca 1936 se decidiu com 3 jogos em finais, com 3 Fla-Flu.
Antes da final, dois amistosos para Flamengo contra Villa Nova, time mineiro. No estádio Presidente Antônio Carlos de Belo Horizonte, um empate 3×3, e nas Laranjeiras, a Nação ainda não tinha a Gávea, outra obra do presidente José Bastos Padilha, Flamengo venceu Villa Nova 4×2 com 2 gols de Leônidas. No 20 de dezembro de 1936, começou a final do campeonato carioca, com o oitavo Fla-Flu do ano, o Fla-Flu 70 da história, com um retrospecto equilibrado: 25 vitórias do Flamengo, 23 empates, 21 vitórias do Fluminense. E em 1936, deu mais um empate, com gols de ídolos, Jarbas e Leônidas para Flamengo, Russo e Hércules para Fluminense. Infelizmente, no segundo jogo, Russo e Hércules voltaram a marcar, agora um doblete para cada um e Flamengo foi goleado. Precisando da vitória no terceiro jogo, Flamengo viu Leônidas ser expulso e Fluminense conquistou um título que não ganhava desde 1924.
Mesmo sem o título no final, o ano de 1936 foi um grande ano para o Flamengo, principalmente para a chegada de novos ídolos negros, Fausto, Domingos e Leônidas, que ajudou também a mudar o Fla-Flu, que voltará a ser o grande jogo das edições seguintes do campeonato carioca, agora único, entre 1937 e 1941. Para seu primeiro ano no clube, Leônidas fez 22 gols e o artilheiro do ano foi Alfredinho, com números impressionantes: 45 gols em 39 jogos. Alfredinho batia assim o recorde de Nonô, também às vezes considerado como o primeiro jogador negro do Flamengo por ser mulato. Nonô fez 30 gols em 1925 e morreu jovem, da tuberculose em 1931, um ano depois de pendurar as chuteiras com 31 anos de idade. Nonô foi o primeiro jogador do Flamengo a alcançar os 100 gols com Flamengo, Alfredinho o segundo. Alfredinho ainda fez em 1937 um jogo, e dois gols, com o Manto Sagrado, e voltou ao Fluminense, clube onde tinha jogado entre 1926 e 1933, e escreveu novos capítulos do Fla-Flu.
Fecho essa crônica com o grande presidente rubro-negro José Bastos Padilha, que mudou a história do Flamengo e que fez do Flamengo o mais popular do Brasil. Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.
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Jogos eternos #57: Flamengo 3×0 Botafogo 1992

Nasci no 7 de julho de 1992, exatamente 80 anos depois do primeiro Fla-Flu da história. E para a lembrança de hoje, vamos de um Flamengo (quase) campeão e de um jogo que aconteceu no 12 de julho de 1992, 5 dias depois de meu nascimento.
O Flamengo de 1992 tinha um time muito bom, com muitas promessas que tinham conquistado a Copinha em 1990, alguns jogadores experientes e um craque veterano, o Vovô-Garoto, o Maestro Júnior. Mas Flamengo não era o favorito do Brasileirão numa época diferente do futebol brasileiro, onde tinha times como São Paulo e Palmeiras entre outros. Na campanha, Flamengo foi irregular, o Mestre Carlinhos foi criticado, mas Flamengo arrancou no final. Fala Júnior no livro 6x Mengão de Paschoal Ambrósio Filho: “A química aconteceu no momento certo. Tínhamos problemas de salários atrasados e combinamos que a galera que ganhava pouco receberia, enquanto quem ganhava mais aguardaria o final da competição. Este gesto de alguns foi o bastante para se criar um clima favorável e de fraternidade entre os jogadores. Quando chegamos para jogar a final, já estávamos com os salários e bichos em dia, devido às vitórias anteriores, principalmente porque o Maracanã lotava em quase todos os jogos”.
Um dia depois de meu nascimento, Flamengo jogou no Maracanã, com 29.149 espectadores e 29.150 almas flamenguistas, venceu Santos e se classificou para a final contra o Botafogo de Renato Gaúcho. O time botafoguense ainda tinha Márcio Santos, Carlos Alberto Dias, Valdeir e Válber, e era o favorito da final do Brasileirão de 1992. Fala ainda Júnior, agora na sua biografia Minha paixão pelo futebol: “Alguns jogadores adversários passaram a falar como campeões, na semana do jogo, e deram declarações menosprezando o Flamengo, time conhecido mais do que tudo por sua imensa raça. Estavam todos, do outro lado, se achando campeões. Esse veneno foi mortal. Recortei as entrevistas dos jornais e as colei no quadro de avisos de todos os jogadores do Flamengo. Eu as deixei ali para que lessem e arrumassem dentro da alma a motivação para a primeira partida”.
No 12 de julho de 1992, o Flamengo entrou com tudo no Maracanã, com o apoio da maioria dos 102.547 espectadores no estádio, nas arquibancadas e na geral. Carlinhos escalou Flamengo assim; Gilmar; Fabinho, Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Piá; Uidemar, Júnior, Zinho, Júlio César Garcia; Gaúcho, Nélio. Nos vestiários, Júnior deixou um recado para os jovens talentos do time: “Qual é o maior desejo de um jogador quando inicia a carreira? Não é comprar uma casa para a mãe? Então, façam de conta que nesse jogo vocês vão comprar os primeiros tijolos de uma casa que vai ficar pronta muito em breve”. E Júnior inflamou a torcida com apenas 8 minutos de jogo e um drible curto do interior do pé direito para deixar no chão Renato Gaúcho, que (quase) se recuperou, voltou de novo em cima do Júnior, e tomou de novo um drible seco, agora da parte exterior do pé direito, para voltar ao chão. Impressão na geral foi de um gol do Flamengo.
O verdadeiro gol do Flamengo não demorou a chegar. Com 15 minutos de jogo, Zinho na esquerda para Piá que cruzou atrás. Com inteligência, Gaúcho, criticado durante o ano pelo nível em campo e as festas fora do campo, deixou para Júnior, chutando de carrinho na raça, estufando as redes com um tijolo quente, fazendo a alegria da geral flamenguista. E a própria alegria dele, comemorando o gol com dois socos no ar, como Pelé, comemorando com os jovens companheiros, como o Vovô-Garoto que era. Flamengo 1×0 Botafogo.
O segundo gol, vinte minutos depois do primeiro, nasceu com a raça de Fabinho, que recuperou a bola e, chutando a bola com um solto, lançou para Nélio na esquerda. Nélio dominou e deixou a bola entre as pernas do goleiro Ricardo Cruz. Flamengo 2×0 Botafogo.
E o terceiro gol do Mengo chegou ainda no primeiro tempo. Falta na esquerda, Júnior hesitou a lançar a bola na grande área, mais deixou a bola ao seu lado para Piá, que foi na velocidade até a linha do fundo e cruzou alto. O timing e o salto do Gaúcho são perfeitos, o timing e o salto do goleiro Ricardo Cruz são os opostos da perfeição, gol de cabeça, gol de raça, gol de Flamengo. Flamengo 3×0 Botafogo.
O jogo estava (quase) ganho, a final também. A atuação do time era magistral, todos os jogadores foram em grande forma. Fala de novo Júnior: “Deu tudo certo naquela partida. Muita gente neste dia jogou o que não tinha jogado em todo campeonato, como, por exemplo, o Piá, que participou de todos os gols do time. A chuteira dele rasgou notes de entrarmos em campo e emprestei uma das minhas para ele. A galera brincava, dizendo que a que eu havia emprestado tinha ido com um ‘pouco de jogo’”. No segundo tempo, não aconteceu muitas coisas, a não ser os cantos “É campeão” da torcida flamenguista.
Todos os jogadores eram de parabéns, mas esse time tinha um líder, um Maestro, um Vovô-Garoto, que cogitou a pendurar as chuteiras depois do campeonato carioca 1991, mas continuou a vestir o Manto Sagrado em 1992. No dia seguinte, podia se ler no Jornal dos Sports: “O Flamengo ontem, foi um time de destaques. Toda a equipe mostrou um futebol de alto nível técnico. Um homem, porém, e mais uma vez, merece destaque especial. Júnior provou sua condição de líder nato, apresentando um futebol limpou, técnico e, principalmente, vigoroso, na plenitude de seus 38 anos. Como na maioria dos jogos em que o Flamengo deu início à sua recuperação neste Campeonato Brasileiro, ele voltou a ser impecável. Quis o destino que fosse dele o gol que abriu caminho para a memorável vitória. De frente para a meta, ele bateu firme, com convicção, sem chance para o goleiro Ricardo Cruz. Como um iniciante, Júnior vibrou correndo com os companheiros para os braços da galera. Foi dele ainda o primoroso lançamento para o gol de Nélio, o segundo do jogo, que praticamente definia a partida. Inacreditável? Não para o velho Júnior, que, mesmo nos piores momentos do Flamengo no campeonato, acreditou no time”. Acreditou, liderou e, uma semana depois, conquistou mais um título do Brasileirão.
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Na geral #14: Fla virou e a Fla Paris comemorou

Minha chegada no Rio no fim do ano de 2022 foi um sonho, não apenas com Flamengo, mas foi um sonho ainda mais bonito com Flamengo. Ganhei a Copa do Brasil no próprio Maracanã, ganhei a Liberta com a Roça Fla. E o início de 2023 em relação ao Flamengo foi um pesadelo. Perdi a Supercopa do Brasil, e tive a maior desilusão de meu maior sonho, a derrota no Mundial dos clubes, antes da hora do Real Madrid chegar. Um pesadelo.
Também perdi a Recopa Sudamericana dentro do próprio Maracanã, ainda perdi no Maracanã a Taça Guanabara com uma derrota contra Fluminense, e ainda pior, perdi a final do campeonato carioca com uma vergonha contra Fluminense. Muitas desilusões no Maraca e, um pouco magoado com o time de meu coração, eu tinha decidido não ir no jogo de volta contra Maringá na Copa do Brasil, para salvar um pouco de dinheiro nesse fim de temporada no Brasil, para acalmar um pouco os nervos vermelhos e pretos bem solicitados nesses últimos jogos.
Mas meu Mengo, até no pior momento vou te apoiar até o final. E Flamengo está bem longe de viver o pior momento de sua história. Então eu estava no Maraca para a estreia do Brasileirão contra Coritiba. E eu vivi um dos meus melhores momentos no Maracanã com o gol de Ayrton Lucas no minuto 12. No minuto 10, no Maracanã dia de Flamengo, é sempre a hora de cantar para os Garotos do Ninho, para 10 estrelas a brilhar no céu do Mengão. Essa tragédia nunca vai passar, essa Nação jamais vai esquecer. Sempre arrepio nesse canto, com pele de galinha, lágrima no olho, oração no céu. E o gol de Ayrton Lucas aconteceu justamente no fim desse canto, o gol caiu como uma homenagem aos filhos rubro-negros. De arrepiar. Depois, os gols de Gabigol e Pedro só serviram para a vitória fácil e aliviar a frustração dos últimos jogos no Maracanã.
Mas já o dia antes do jogo contra Coritiba, eu tinha finalmente decidido ir ao Maraca para o jogo de volta na Copa do Brasil, depois de mais uma vergonha com essa derrota 2×0 contra Maringá no jogo de ida. O motivo era simples, tinha a Fla Paris no RJ. Ou ao menos, dois fundadores, Cidel e Waldez, ambos morando em Paris, mas de passagem na cidade mais bonita do mundo. A ocasião era de pura sorte, como falou Cidel, se a gente tinha combinado isso, não teria conseguido. Então, comprei mais um ingresso para o Maracanã, dia do Flamengo.
E o reencontro com Waldez também foi de pura sorte. Achava que ele chegava na segunda-feira, mas no domingo, dia do Flamengo, mais uma frustração na manhã com a derrota contra o Internacional, numa samba na tarde no centro do Rio, apareceu Waldez no canto da rua, pronto para festejar. Um abraço, duas cervejas, ou mais, e na segunda, mais festa, na Pedra do Sal, mais caipirinhas. Isso aqui é Rio. E no dia seguinte, de ressaca leve, se juntou Cidel na galera dos fundadores do consulado Fla Paris no Rio de Janeiro. Já escrevi sobre a fundação da Fla Paris, dia 19 de setembro de 2019, e só faltava Felipe para ter todos os fundadores. O local, se não era o Maracanã, não podia ser outro, a Gávea, sede do Flamengo.
Depois dos abraços e das fotos obrigatórias com a estátua do Rei Zico, fomos recebidos pelo Pedro, que cuida do projeto das embaixadas e dos consulados. A visita foi completa, do escritório das embaixadas, onde ganhei copo do último encontro entre as embaixadas, até o treino do time multicampeão de basquete, onde vi Olivinha repetir os lances livres com muito sucesso. Entre os dois momentos, algumas histórias do Flamengo, do gol do Valido no primeiro tri do Flamengo, da oração do Padre Góes no segundo tri do Flamengo. Também muitas fotos, perto de muitos esportes do Flamengo, natação, tênis, ginástica, e perto, ou não tão perto, de muitas belezas do Rio, o Corcovado, a Pedra da Gávea, e até minha Rocinha. Isso aqui é Rio, isso aqui é Flamengo.
A visita foi top e faltava uma coisa, jogo do Flamengo, no Maracanã, marcado pelo dia seguinte. Outro motivo para finalmente pagar o ingresso para o jogo era o jogo mesmo, contra Maringá, numa quarta-feira, as 21h30. A expectativa não era de uma casa cheia, mas às vezes no Maracanã, o clima é inversamente proporcional ao nível da importância do jogo, ao nível do adversário. Um jogo assim, quem vai no estádio é só quem realmente quer torcer, cantar, vibrar e virar. Porque Flamengo precisava de uma virada depois do 0x2 no jogo de ida. No meu roteiro de sonho, Flamengo fazia um gol nos 15 primeiros minutos, o Maracanã virava inferno, Flamengo fazia mais um gol nos 25 primeiros minutos, e depois de um tempo com menos lances, menos emoção, Flamengo fazia mais dois gols na metade do segundo tempo para uma vitória meio tranquila, meio bonita. Isso era o roteiro do sonho. Mas Flamengo é além dos sonhos.
Para o jogo, Cidel, como presidente da Fla Paris, foi nas cadeiras cativas e os outros membros da diretoria, eu e Waldez, tiveram que ir na arquibancada. Brincadeira, só tem um lugar no Maraca onde quero ficar, minha Norte. Já pensei a assistir a um jogo no Maracanã Mais, mas eu sei que vou ter inveja de quem está na Norte. Infelizmente, não deu para se encontrar com Cidel antes do jogo e foi só com Waldez que fui beber as primeiras cervejas no bar dos Chicos para testar o clima, alias bem tranquilo no momento. Depois, foi momento de encontrar Tom, outro francês que foi ao Maracanã nesse jogo pela primeira vez na vida, e que dividia a agitação com Waldez, que voltava ao Maracanã depois de 5 anos sem poder ir. Eu, com meu 13o jogo na Norte desde o Fla-Flu do 18 de setembro de 2022, quase fui um guia para chegar o mais rápido possível no setor 43, lugar da Fla Manguaça, também meu lugar.
O pré-jogo e a entrada dos jogadores em campo foram, de um ponto de vista do clima na Norte, normais, razoáveis. Esse jogo poderia virar sonho ou pesadelo, eram os jogadores que precisavam fazer a diferença, virar o jogo, fazer o gol rapidamente. Esperava um gol rápido, mas não tão cedo, com Thiago Maia que abriu o placar com apenas dois minutos de jogo. Mas Flamengo ainda estava eliminado, precisava de mais, e deu mais. Num escanteio no mesmo lugar do que o primeiro gol, Pedro fez o primeiro dele do dia. Flamengo agora empatou no placar agregado, e, como previsto, o Maracanã virou inferno. Era difícil de respirar, e depois de muitos cantos e gritos, eu precisava parar um pouco para recuperar. Minha camisa estava molhada como se eu estava no meio de campo, lutando pela bola, mas eu estava na Norte, lutando pelo Flamengo.
O jogo aproximava-se de meu roteiro de sonho, só que Flamengo não parou aqui, Flamengo continuou a atacar. Dez minutos depois, um pênalti obtido pelo Gerson, e festa na Norte, e o pênalti transformado pelo Gabigol, ainda mais festa na Norte. Eu adoro a Norte após um gol, e essa possibilidade de compartilhar a alegria com o vizinho mais próximo. Abracei Waldez, abracei Tom, e nesse jogo, eu abraçava também o desconhecido ao meu lado, que não parava de cantar igual eu, abraçava os caras na frente, as minas atrás, abraçava todos os flamenguistas. E ainda mais incrível, reconheci um cara na Norte, bem na minha frente. Eu sabia que o conhecia, mas não relembrava de onde, e quando Waldez também o reconheceu, eu entendi, era Matheus, o cara com quem nos falamos durante um bom tempo no samba do domingo com o amigo dele, Guilherme, falando de futebol, de Flamengo e da Rocinha, onde Guilherme morou. Isso aqui é Rio, isso aqui é Flamengo.
No fim do primeiro tempo, um gol de Maringá, ou, mais exatamente, um gol contra do Flamengo. Tomar um gol sempre é ruim, mas adoro a tradição de cantar o hino depois de um gol do adversário, porque já não mais paramos de cantar, já voltamos a apoiar, a vibrar, a cantar. E, para esse gol especifico, eu pensava que deixava o jogo vivo, que ia ter emoção até no segundo tempo, sem Flamengo já matar o jogo. E Flamengo quase matou o jogo antes do final do primeiro tempo, com mais um gol, de Gerson que fez um grande jogo. Na Norte, uma loucura total e agora falta palavras para descrever quanto mágico foi o primeiro tempo.
No segundo tempo, troca de lado de ataque, e agora o Flamengo atacando na frente da Norte. Gosto muito de Sampaoli, porque ele não para de atacar. Gosto da personalidade e gosto do estilo do jogo, bem ofensivo, bem no ADN do Flamengo. E Flamengo não parou de atacar no segundo tempo, ao contrário, fez sonhar ainda mais o Maraca, da Norte até as cativas onde tinha os pequenos filhos de Cidel, que imaginava como eu, muito, muito felizes. E Gabigol, que também fez um grande jogo, fez um passe digno de um camisa 10 para Everton, que fez mais uma vez a pura alegria da Norte. Mais uma vez, depois de abraçar todo mundo, o Maracanã virou inferno. Estava muito feliz para Waldez, e também para Tom, que conhecia de muito perto a loucura do Flamengo.
Eu já tinha perdido a conta dos gols, e com um pouco de sorte, Maringá fez um gol, o gol do 5×2, que mais uma vez deixava o jogo vivo. O hino não veio nesse momento, mas teve muitos cantos, de festa e de terror. Isso aqui é Flamengo. Flamengo não tremeu, Flamengo fez tremer o adversário, e Flamengo fez mais um gol depois de uma jogada coletiva, com Ayrton Lucas, com Gabigol, com Everton, com Gerson, com Pedro. Nessa hora, o abraço com todo mundo perto de mim já era tradição e eu tinha certeza que ia ter ao menos mais um gol, longe da vitória meio tranquila, meio bonita que eu tinha previsto. Foi cem por cento bonito, foi pura festa.
E no final do jogo, Gabigol, que só fez um gol de pênalti, fez mais uma jogada mágica, digna de Zico, com uma bola na cabeça de Vidal, para a cabeça de Pedro, que podia pedir a música, pedir a bola do jogo, fazer a reverência, fazer a alegria do Maraca, a alegria da Nação flamenguista. E três minutos depois, a três minutos do final do jogo, Pedro, com um chute cirúrgico, deixava o quarto gol dele e fazia um das suas atuações mais marcantes com o Manto Sagrado. Um jogo marcante não só para o Pedro, mas para todo o time, um jogo já eterno. Na volta no metrô, relembrava que Flamengo já atropelou um time 8×2, Minervén, só não relembrava o ano, que foi o ano histórico de 1993.
Na volta no metrô, muita felicidade com Waldez e o francês Tom, que já quer comprar a camisa do Flamengo. Depois, me aproximei da galeria mais animada do metrô, que cantou até São Conrado, estação de descida da Rocinha. Eu, já cansado de cantar para 8 gols e 16 guerreiros durante 90 minutos, não participei dos cantos, mas voltei em casa com o sorriso e uma certeza: não posso faltar um jogo do Flamengo quando tenho possibilidade de ir, porque o Maracanã sempre é especial, a Norte sempre é excepcional. Isso aqui é Rio, isso aqui é Flamengo.
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Jogos eternos #56: Flamengo 3×1 Internacional 1996

Mais um jogo contra o Internacional, agora de Copa do Brasil. Depois do vexame contra Maringá na Copa do Brasil, Flamengo precisa de uma virada, de uma remontada como se chama na Europa. Em 2023, tem dois gols de diferença, em 1996, só tinha um gol de atraso, mas contra um adversário com mais tradição, o Internacional. Na época, Flamengo tinha perdido 3×2 no Beira-Rio contra o Inter de Sergio Goycochea, Carlos Gamarra, Paulo Isidoro e Leandro Machado. Um resultado entendível, hoje seria mais uma grande vergonha em 2023 de ser eliminado pelo Maringá.
No 16 de maio de 1996, Joel Santana escalou Flamengo assim: Roger; Zé Maria, Valber, Ronaldão, Gilberto; Márcio Costa, Mancuso, Marques (Pingo); Nélio (Amoroso), Sávio (Iranildo), Romário. Precisando da vitória, Flamengo partiu no ataque, com Marques na direita, que cruzou para Sávio, que abriu na esquerda para Romário. O Baixinho fez uma finta sensacional de letra e voltou atrás para Mancuso. O argentino chutou, o companheiro argentino Goycoechea defendeu, defendeu mal, Nélio só teve a empurrar a bola nas redes para abrir o placar. Com 20 minutos de jogo, Flamengo já empatou no placar agregado.
Mais um ataque do Flamengo, agora na esquerda. No seu estilo particular, Sávio invadiu a grande área e foi mais rápido que Argel, obrigado a conceder o pênalti para parar Sávio. O juiz avisou Romário de não fazer paradinha, Romário bateu diretamente, bateu mal, Goycoechea defendeu. No final do primeiro tempo, Flamengo virou no geral com um gol de Sávio, que aproveitou das falhas de dois gringos, o zagueiro paraguaio Gamarra e o goleiro argentino Goycoechea, para fazer o gol depois de um lindo drible seco. Flamengo precisou de apenas 45 minutos para fazer a diferença e inflamar o Maracanã e seus 43.725 torcedores.
No início do segundo tempo, de novo Sávio, ainda Sávio, sempre Sávio. Num longo lançamento de Ronaldão, Sávio foi mais rápido que Goycoechea e o juiz marcou mais um pênalti. O juiz avisou de novo Romário de não fazer a paradinha, Romário fez a paradinha, fez o gol. Flamengo 3×0 e muito perto de uma classificação na semifinal da Copa do Brasil. O torcedor menos confiante teve medo no final do jogo, Sávio se machucou num lance que deveria valer mais um pênalti e o Internacional fez um gol a 3 minutos do fim, aproveitando de um frango de Roger. No final, sem consequência, Flamengo virou no Maracanã e seguia vivo na Copa. Mais uma vez, aprende, Flamengo de 2023.
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Jogos eternos #55: Internacional 2×3 Flamengo 1982

Antes do jogo de hoje, uma volta num jogo de um Flamengo campeão, contra o Internacional, o grande time brasileiro do final da década de 1970. Mas o início da década seguinte era rubro-negro. Flamengo ganhou o Brasileirão 1980, a Libertadores e o Mundo em 1981, e queria mais título em 1982. Um título que quase não veio.
O Brasileirão 1982 começou de maneira tranquila, com 8 grupos de 5 times, onde os três primeiros de cada grupo passavam na segunda fase. Tinha até repescagem para os quartos colocados. Apesar de ter São Paulo no grupo, a primeira fase não foi um problema para Flamengo que ganhou 7 de 8 jogos e cedeu o empate em casa contra Náutico. Zico já estava em grande forma com 9 gols.
A segunda fase do Brasileirão já era mais difícil, com apenas os dois primeiros de grupos de quatro que se classificavam para a terceira fase. E foi ainda mais difícil para Flamengo, que foi no grupo da morte. Tinha o Corinthians de Sócrates e Casagrande, campeão paulista nesse ano, o Atlético Mineiro de Reinaldo e Éder, campeão mineiro nesse ano e finalista do Brasileirão 1980, e o Internacional de Mauro Galvão e Rodrigues Neto, campeão gaúcho nesse ano e campeão brasileiro em 1979. Para dar uma ideia dos outros grupos, Vasco jogou contra o America de Rio, Operário e Internacional de Santa Maria, Botafogo contra Londrina, São José e Treze, e Fluminense contra Anapolina, Cruzeiro e Moto Clube. O mesmo torneio, mas uma competição completamente diferente.
E o início da segunda fase foi difícil para Flamengo, que começou com um empate contra o Corinthians no Morumbi. Depois venceu o Atlético Mineiro no Maracanã, empatou contra o Internacional, de novo no Maracanã, e perdeu contra o Atlético Mineiro no Mineirão. Quatro jogos e 4 pontos, pressão em cima do Flamengo. O próximo jogo, contra o Inter, no Beira-Rio, era imperdível.
E o pré-jogo começou com uma polêmica. No mesmo dia, Telê Santana anunciou uma das últimas listas de convocações antes da Copa do Mundo. E tinha uma surpresa. Telê chamou Leandro, Júnior, Adílio, Zico, sim, mas não Andrade. Nunca entendi porque Telê não gostava de Andrade. Acho que ele teria sido ótimo na Seleção de 1982 e, apesar de eu considerar Toninho Cerezo como craque também, acho que a história poderia ter sido diferente com Andrade no meio de campo, ao lado de Falcão, Sócrates e Zico. Mas, enfim, Telê não chamou Andrade, e ainda mais constrangido, chamou Vítor, craque também, mas menos craque, e reserva do próprio Andrade no Flamengo.
Até o técnico do Flamengo, Paulo César Carpegiani, tinha suas dúvidas entre Vítor e Andrade, ainda recuperando de uma pancada, na hora de escalar o Flamengo para o jogo decisivo contra o Internacional, mas no 17 de março de 1982, ele foi assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Anselmo, Lico. Vantagem para Andrade e, no Beira-Rio, para Flamengo. Com 23 minutos de jogo, Flamengo recuperou a bola no campo do Inter com o esforço combinado de Leandro e Júnior. Os dois craques laterais ainda tabelaram antes de Júnior lançar a bola no peito de Adílio, que dominou e achou Zico com um olhar de craque e um toque rápido. Zico chutou, Gilmar Rinaldi defendeu, mas em seguida, Zico abriu o placar de cabeça.
O Flamengo estava bem, mas ainda no primeiro tempo, o Inter empatou, com gol de cabeça de Mauro Pastor, chamado assim porque era evangélico. E no segundo tempo, o Inter virou, com gol de cabeça de Geraldo, sozinho na grande área. Agora o Flamengo estava mal, quase eliminado do Brasileirão 1982. Pior ainda, Flamengo jogava sem Andrade, que teve que ser substituído no intervalo. Entrou no seu lugar… Vítor.
Num contra-ataque, Lico entrou na grande área, fixou um zagueiro, deixou para Adílio, para Zico, com o olhar do craque e o toque rápido, para Reinaldo, que tinha entrado no lugar de Anselmo. Com força, Reinaldo empatou de trivela. Melhor para o Flamengo, mas o empate ainda deixava a situação complicadíssima para passar na terceira fase.
E no minuto 42 do segundo tempo, o milagre. Adílio de novo, para Vítor, no meio de campo. Para Zico, já na direção do gol, que abriu na esquerda para Tita, um lance similar ao segundo gol. Tita na grande área para Vítor, que dominou de pé direito e chutou cruzado de pé esquerdo. O chute, bem colocado, foi nas redes coloradas. Flamengo contra-virou, com um gol do recém-convocado e reserva de sempre, Vítor. Nessa hora, vantagem para Telê e vantagem para Flamengo, que seguia vivo no Brasileirão com essa vitória no Beira-Rio, onde ainda não tinha ganho em 4 jogos no Brasileirão.
No final, Vítor foi titular na Seleção para o amistoso contra a Alemanha, vencido 1×0 com golaço de Júnior. Vítor não foi chamado para a Copa, Andrade também não, e o Brasil não foi campeão. Mas Flamengo foi bicampeão brasileiro em 1982, com durante a campanha um gol não muito conhecido, mas um dos gols mais importantes da história do Flamengo, o gol do reserva Vítor contra o Internacional.
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Ídolos #15: Romário

Romário é o ídolo de uma geração. Para quem assistiu a uma Copa do Mundo pela primeira vez em 1994, difícil não ter Romário como maior ídolo. Uma pena que a Bola de Ouro só se abriu aos jogadores não-europeus em 1995 porque a de 1994 era dele. Minha primeira Copa do Mundo foi em 1998, aquele Copa que Romário foi injustamente descartado. Acho que com ele o Brasil poderia ter ganho a Copa. Mas enfim, mesmo assim, Romário é meu ídolo.
Relembro que na frente de minha bicicleta quando era criança, eu tinha colado a figurinha Panini de Romário. Na época, Romário ainda jogava, mas longe de meus olhos de criança que só tinha a televisão e revistas francesas para ter notícias sobre o futebol. Romário jogava em vários clubes, até vários continentes. Jogou no Brasil, Catar, Estados Unidos, Austrália. Longe, muito longe. Mas mesmo assim, Romário era meu ídolo. Eu tinha uma cassete VHS sobre as Copas do Mundo, e Romário me maravilhou com seu futebol maravilhoso. Tinha classe, técnica e era goleador.
Em 2005, comecei a acompanhar o futebol brasileiro de clubes na Internet. Romário tinha 39 anos, mas ainda era o maior artilheiro do Brasileirão, na frente de Carlos Tévez. E continuou a jogar quando comecei a assistir aos jogos. Jogava no Vasco, mas mesmo assim, era meu ídolo. Tinha esse objetivo do gol 1000, e apesar de ter jogos duvidosos na conta, ele conseguiu essa marca, como Pelé, num pênalti, como Pelé. Foi um grande momento para a história do futebol brasileiro e gostei de acompanhar essa época.
Romário jogou durante mais de 20 anos, então já é ídolo de uma ou duas gerações. E com o futebol que ele tinha, foi também ídolo dos mais velhos, de quem já tinha visto vários craques em campo, mas ninguém tão matador do que Romário na grande área. E para quem não acompanhou essa época, mas tinha cassete VHS ou ainda tem YouTube, Romário pode ser ídolo, modelo como centroavante. E não foi só o artilheiro da grande área, o Baixinho sabia fazer tudo com a bola, na grande área e no meio de campo, o gol e o passe, o drible e a finta. Romário deu ao Brasil o Tetra depois de 24 anos de espera e desespero. E seis meses depois, voltou no Brasil, no Maior do Mundo, Flamengo. Ainda hoje parece incrível que Romário, com tudo que ele jogava no Barcelona, voltou no Brasil, com 28 anos de idade, em plena auge. Mas a saudade do Rio e a vontade de vestir o Manto Sagrado foram maiores.
Romário chegou no Flamengo que tinha um time limitado e muita instabilidade. Chegou como já ídolo da Nação, que queria um título para comemorar o centenário do clube. Mas a diretoria errou feio, se focalizou em ter o “melhor ataque do mundo”, quando era melhor contratar bons jogadores em todas as linhas para acompanhar a dupla Sávio – Romário. Mesmo assim, Romário fez muito com o Flamengo. Foram muitos gols, artilharias, jogadas de gênio, e também, polêmicas, faz parte do personagem. Deveria ser muito bom para quem cresceu como flamenguista na década de 1990 de ter Romário como ídolo. Gênio da grande área como ele era, é possível para o pequeno garoto, mesmo numa casa pequena, cheia de móveis, com uma bola de papel ou de meia, imaginar ser Romário, fazer um gol como Romário.
Romário tem a alma de carioca. Quando Adriano é o carioca da favela, da Zona Norte, Romário, apesar de também crescer na Zona Norte, é carioca mais geral. Festa, praia, samba, mulherada, irreverência. Romário também é ídolo para isso, essa liberdade de ser do brasileiro e ainda mais, do carioca. Romário se colocava acima dos clubes onde ele jogava, criticando até Zico quando ainda jogava no Flamengo. Já falei que para mim isso é a característica do anti-ídolo. Mas Romário talvez é a excepção disso. Por isso que ele é ídolo no Flamengo e também no Vasco. Não maior ídolo, mas ídolo, porque tem que aceitar Romário como ele é, com as polêmicas, a irreverência e a arrogância. Porque no campo, mesmo depois de uma noite sem dormir, ele vai resolver, fazer o gol da vitória, com um toque de gênio só.
Acho que outro erro da diretoria do Flamengo, depois de não construir o time em função de Romário, foi de liberar o contrato do Baixinho por mais uma festa, depois da eliminação no Brasileirão 1999. Romário perdeu a oportunidade de jogar uma final continental com o Flamengo, a Copa do Mercosul de 1999, que ele jogou, e venceu, um ano depois com Vasco. Romário merecia esse título com o Flamengo, ele merecia grandes campanhas na Libertadores ou no Brasileirão, e apesar de todos os gols, fica essa dor de não ter um time melhor quando Flamengo tinha um dos melhores jogadores do mundo. Finalmente, as melhores lembranças são os gols, o mais emblemático, o gol contra o Corinthians, com um elástico sobre Amaral, que até hoje procura a bola.
Para fechar, acho que Romário é subestimado na Europa. Na hora de definir o melhor centroavante da história, Gerd Müller, van Basten e Ronaldo são mais lembrados quando no Brasil, o debate é sobre quem foi melhor entre Ronaldo e Romário. Eu não sei escolher, acho que Ronaldo é um pouco mais na frente, mas prefiro a carreira do Romário, mesmo jogando tanto no Vasco. Porque prefiro a liberdade e o jeito carioca de Romário, prefiro jogar no Flamengo do que recusar o Flamengo, prefiro fazer 204 gols em 240 jogos com o Manto Sagrado, ser ídolo da Nação, ídolo das crianças e dos idosos, da Zona Sul e da Zona Norte, eu prefiro, sempre, como Romário, ser ídolo do Flamengo.
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Jogos eternos #54: Flamengo 4×1 Unión La Calera 2021

Fazia tempo que eu queria escrever sobre o jogo de Unión La Calera, na Copa Libertadores de 2021. E com o jogo de hoje contra Ñublense, outro time chileno, na segunda rodada da Liberta, no Maraca, parece o momento ideal.
Em plena pandemia de Covid-19, Flamengo recebeu Unión La Calera, num Maracanã vazio. No 27 de abril de 2021, Rogério Ceni escalou Flamengo assim: Diego Alves; Isla, Bruno Viana, Willian Arão, Filipe Luís (Léo Pereira); Gerson, Diego (João Gomes), Éverton Ribeiro (Vitinho); Arrascaeta (Michael), Bruno Henrique (Pedro), Gabigol.
Relembro bem que comentei esse jogo para o canal francês Lucarne Opposée. E com apenas dois minutos, Flamengo já levava o perigo no gol chileno, com um chute de Bruno Henrique de fora da área. Numa bela jogada coletiva, Diego teve uma oportunidade de voleio, mas bola foi longe do gol. Depois, Gerson chutou para fora, Gabigol chutou nas mãos do goleiro. Apesar de um domínio no jogo do Flamengo, o placar ainda estava de 0x0.
E com meia-hora de jogo, uma tabelinha na esquerda entre Arrascaeta e Gerson, Arrascaeta em um toque para Gabigol, Gabigol em um toque para o gol. Um golaço coletivo e Flamengo estava, já ou enfim, na frente no placar. E três minutos depois, Éverton Ribeiro recuperou a bola perto do gol do Flamengo, girou e deixou para Arrascaeta puxar o contra-ataque. Arrascaeta para Bruno Henrique para puxar o contra-ataque com ainda mais velocidade. Bruno Henrique para Arrascaeta de novo para fazer o passe certo na frente do gol. Ou diretamente o gol. Arrascaeta dominou a bola com classe, chutou com categoria, mais um golaço, agora de contra-ataque.
No início do segundo tempo, La Calera aproveitou de um erro de posicionamento da zaga do Flamengo para fazer o gol da esperança. E apesar de chutes dos craques Arrascaeta, Everton Ribeiro e Diego, Flamengo não conseguiu fazer o gol do 3×1, o gol da vitória certa. Até o 34o minuto do segundo tempo, com Bruno Henrique que recuperou a bola no campo de Calera, Gabigol abriu o espaço na direita, recebeu, dominou e chutou cruzado de pé direito, para fazer, talvez o gol menos lindo do Flamengo durante o jogo, mas o gol da vitória certa. Rogério Ceni podia mexer, entraram, entre outros, Vitinho e Pedro.
Vitinho deixou a desejar durante muito tempo, mas já estava numa melhor fase nessa época. E numa das primeiras bolas dele no jogo, a 80 metros do gol chileno, Vitinho fez o drible da vaca e partiu em velocidade. Conduziu a bola uns 40 metros, Gabigol chamou a bola na grande área, abrindo um espaço para Pedro um pouco atrás. No domínio, Pedro já demostrou que era craque. Fintou um, fintou outro, deixando até o defensor no chão, e a finalização foi de outro mundo. Um toque leve, um doce, um beijo na bola para matar o goleiro. Foi sem dúvida um dos gols mais bonitos que eu vi ao vivo do Flamengo, até porque faltei o gol de bicicleta de Arrascaeta contra Ceará. E era só para esse golaço, essa pintura, do artista Pedro, que queria escrever sobre o jogo contra Unión La Calera.
Na época, Pedro era reserva e eu tinha medo de uma transferência. Porque merecia muito uma vaga de titular. Conseguia jogar com as ausências de Gabigol, mas muitas vezes só jogava 15 minutos ou menos no jogo. E nesse jogo eterno contra La Calera, mostrou em apenas 2 minutos que era e ainda é um dos maiores centroavantes da história do Flamengo.
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Jogos eternos #53: Flamengo 3×0 Coritiba 2009

Flamengo reestreia no Brasileirão com um jogo em casa contra Coritiba. E para começar o Brasileirão de pé direito, uma ótima lembrança de 2009, com um jogo eterno, que pode ser chamado “O jogo dos 3 golaços”.
Na época, o Brasileirão já estava quase na rete final. Flamengo estava bastante irregular durante o campeonato e conheceu 4 derrotas em 5 jogos entre o fim do primeiro turno e o início do segundo turno. Mas melhorou um pouco e conquistou 7 pontos nos últimos três jogos. Depois de uma vitória 3×0 contra Sport, dois gols de Adriano, um de Zé Roberto, Flamengo fechou a 24a rodada na 8a posição e recomeçava a sonhar com um G-4 e um vaga na Copa Libertadores. Na época, o hexa, nem sonhar.
No 20 de setembro de 2009, o ídolo Andrade escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim, Éverton; Maldonado, Aírton, Fierro (Willians), Petkovic (Erick Flores); Denis Marques (David), Adriano. O adversário era Coritiba, Flamengo precisava da vitória. Vale a pena lembrar que no time do Coritiba tinha um dos meus ídolos quando ele ainda desfilava sua classe nos gramados europeus, e que depois honrou o Manto Sagrado em 2008, Marcelinho Paraíba.
Os gols são tão bonitos que nem precisa falar dos lances perigosos, dos chutes ao gol sem ir nas redes, dos quase gols. Hoje, só golaços. Começou com uma falta de Petkovic na grande área, a zaga de Coritiba não consegue afastar o perigo, Éverton recupera a bola, nova falta. Agora, com 18 metros de distância, bem no centro do gol. Quase foi um pênalti. Mas para Petkovic, uma falta é quase um pênalti, quase um gol. Um passo e a bola nas redes, com a ajuda da trave. Golaço.
No segundo tempo, um contra-ataque. No meio de campo, Adriano deixa de trivela para Petkovic e vai em profundidade. O passe de Petkovic é de uma perfeição perfeita. A bola fica um pouco nos pés de Adriano, mas o chute de cobertura é perfeitamente cobrado, com muita categoria, para fazer seu 13o gol do Brasileirão e igualar Jonas na artilharia do campeonato. Golaço.
Mas ainda tinha um momento de alegria para a maioria dos 47.921 no Maraca. No 82o minuto, de novo Petkovic, ainda Petkovic, sempre Petkovic. Para Adriano, que domina mal, mas a bola volta nos pés de Willians, que chutou com força e precisão para fazer seu primeiro gol no campeonato. Golaço.
No final, um jogo eterno para continuar a sonhar com a Liberta, e para os mais ousiados, a sonhar com o Hexa. Um 3×0 contra Coritiba, o jogo dos 3 golaços.
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Times históricos #15: Flamengo 2005

Em mais de 100 anos de futebol, Flamengo passou por várias fases, momentos de glória e momentos ruins. E um dos momentos mais difíceis do clube foi nos meados dos anos 2000, com vários riscos de rebaixamento, a maior vergonha possível para um gigante. O ano 2005 também foi o ano que comecei a acompanhar o futebol brasileiro de clubes, com um site francês sobre a seleção e os jogadores brasileiros jogando na Europa, mas também algumas notícias dos clubes brasileiros. E tinha a revista France Football, onde tinha a tabela de todos os campeonatos do mundo. Flamengo estava mal, muito mal, mas não sabia nada das regras do campeonato e do risco de rebaixamento.
O ano de 2005 do Flamengo começou com a Copa Fita Internacional, um campeonato internacional, mas com quase nenhuma relevância. Tinha só três times, e junto com o Flamengo, tinha Volta Redonda e Joe Public, time do Trinidad e Tobago. Flamengo começou o ano com uma goleada 5×0 sobre Joe Public, com 2 gols de Dimba e 2 ídolos no time titular: Ibson e Zinho. Depois, no 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade de Rio de Janeiro, Flamengo perdeu o título com uma derrota 1×0 contra Volta Redonda. O ano mal começou e Flamengo já conhecia uma decepção.
No campeonato carioca, Flamengo estreou de uma maneira horrível no Maracanã, 45.279 torcedores viram o Flamengo sofrer uma derrota 3×0 contra Olaria. Em seguida, venceu 1×0 Madureira mas perdeu contra Cabofriense e Americano e já era o fim para o técnico Júlio César Leal, que tinha chegado no clube no início do ano. O interino e ídolo de sempre, Andrade, conseguiu um 2×2 contra Fluminense, mas não conseguiu impedir o Flamengo de terminar na última colocação de seu grupo na Taça Guanabara!
O novo técnico Cuca estreou sem brilhar com um empate 1×1 contra River na Copa do Brasil, também jogo da estreia do Flamengo na competição. Conseguiu classificar o Flamengo no jogo de volta, com apenas 1.560 espectadores no Maracanã, e classificar o time na semifinal da Taça Rio depois de terminar a fase de grupos na 2a colocação, com 6 pontos a menos do que Fluminense, Flamengo não conseguindo vencer nem o Botafogo nem o Vasco. Eliminou Volta Redonda pelo placar mínimo, mas na final da Taça Rio, levou uma goleada 4×1 contra Fluminense, o gol de Zinho no 92o minuto não salvando a honra rubro-negra. O sonho do bicampeonato carioca acabava ali.
E a trajetória de Cuca no Flamengo quase acabava ali também. Depois de 10 dias sem jogos, Flamengo perdeu contra Ceará na Copa do Brasil em casa, uma casa inusitada, o jogo acontecendo no estádio Pedro Pedrossian, o popular Morenão, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Flamengo perdeu 2×0, Cuca foi demitido, mas jogo foi importante: foi o jogo da estreia do ídolo Obina. No jogo seguinte, de novo contra Ceará na Copa do Brasil, o interino Andrade conseguiu mais um empate 1×1, mas não conseguiu a classificação. Mas jogo foi importante: foi nesse jogo, em Fortaleza, que Obina fez seu primeiro gol com o Manto Sagrado. O resto é história…
Flamengo estreou no Brasileirão com um empate 1×1 contra Cruzeiro, com gol de outro ídolo, o zagueiro Júnior Baiano, que eu já adorava durante a Copa do Mundo 1998 com a Seleção. O novo técnico, Celso Roth, estreou com uma vitória pelo placar mínimo no campo de Figueirense, mas depois foi só sofrimento, ou quase. Até a 14a rodada, Fla conseguiu ganhar do Santos e do Vasco, mas foram as duas únicas vitórias, se não conta a no amistoso contra Tupy para conquistar o Troféu da Paz. Destaque negativo para as derrotas 3×4 em casa contra Brasiliense e Juventude. E pior ainda, Flamengo estava agora sem casa. O Maracanã fez uma pausa para uma reforma antes do Pan-Americano de 2007 e deu adeus a geral. A geral nunca mais. O fim definitivo de uma Era, de um certo futebol e de uma pura alegria no Maraca.
Logicamente, Celso Roth caiu depois de mais uma derrota, contra Coritiba. E o técnico interino e ídolo de sempre Andrade foi efetivado como técnico pela primeira vez. Junto com ele como auxiliar, um outro ídolo, que fazia com Andrade uma dupla de ouro no meio de campo, Adílio. Ganhou do Botafogo com gol de um futuro ídolo, que tinha chegado no Flamengo nesse ano de 2005 depois de passar pelo todos os outros grandes clubes de Rio, Léo Moura. Outro ídolo que chegou em 2005, Renato Abreu, que fez gols importantes, nas vitórias contra Paysandu e São Caetano, nos empates contra Figueirense e Fluminense. O 2×2 no Fla-Flu também foi o início de uma nova crise no Flamengo. Entre uma vitória contra o Brasiliense de Marcelinho Carioca e Joel Santana, foram 5 derrotas, as três últimas no Rio: um 2×1 contra o Atlético Mineiro, também ameaçado pelo rebaixamento, um vergonhoso 6×1 contra o time reserva de São Paulo e um novo 2×1 contra o arquirrival Vasco no São Januário. Logicamente, foi o fim, não um adeus, de Andrade no Flamengo. Na verdade nem foi um fim, porque Andrade voltava a sua posição de auxiliar-técnico.
Antes do jogo contra Vasco, Flamengo estreou em uma nova competição, a Copa Record, organizada pela Ferj com a ajuda da Rede Record. O torneio tinha só times do estado do Rio de Janeiro, sem a participação de Fluminense e Vasco. Flamengo jogou com reservas e juniores e estreou com uma vitória 4×0 contra Bonsucesso. Mas a preocupação era o Brasileirão. Flamengo estava na zona de rebaixamento, na 20a colocação, na época tinha 22 times no Brasileirão. O rebaixamento era uma possibilidade real. Espero que o Flamengo nunca vai ser rebaixado, o que é a maior vergonha para um gigante. Alguns times ainda ampliaram a vergonha, caindo na Série C ou caindo 4 vezes na Série B. Mas o Flamengo nunca caiu, junto com apenas Santos e São Paulo. E acho que o Flamengo será o último a nunca ter sido rebaixado, que nunca vai conhecer essa vergonha.
Mas quase foi em 2005, e Flamengo foi para mais uma troca de técnico. Essa época foi foda, entre 2002 e 2006, sem contar os técnicos interinos, Flamengo conheceu 20 trocas de técnico! Mas o momento em 2005 era de urgência máxima e Flamengo precisava de um técnico capaz de criar um grupo coerente e coesivo em pouco tempo, precisava de um técnico que conhecia a casa, que já tinha vencido no Flamengo. E chamou Joel Santana, que tinha sido demitido pelo Brasiliense alguns dias antes. O Papai Joel chegava na Gávea para salvar o Flamengo da maior vergonha de sua história.
E Joel Santana quase começou com uma derrota, no campo de Juventude, que vencia 2×0 até o minuto 44 do segundo tempo. Mas Flamengo conseguiu um empate com gols de Renato Abreu e Júnior nos minutos finais do jogo. E Joel Santana não perdeu com Flamengo no Brasileirão de 2005. Foram 6 vitórias, destaques para a vitória em virada contra Botafogo com um a menos durante 60 minutos, e para o gol salvador do ídolo Obina em Paraná no minuto 47 do segundo tempo para quase assegurar a permanência na Série A. Também teve 3 empates, destaque para o 0x0 morno contra Goiás, mas que garantia Flamengo na elite do futebol brasileiro, que livrava o clube da maior vergonha possível. Destaque para o fim da temporada para Renato Abreu e Léo Moura, que fizeram gols decisivos, e acabaram a temporada com um doblete para cada um na goleada 4×1 contra Paysandu.
Dois dias antes, Flamengo ainda conseguiu vencer a Copa Record na final contra Olaria, na disputa de penalidades. Mas o Flamengo de 2005 é conhecido pelo livramento do rebaixamento, uma época que todos esperam não conhecer mais, mas que também permite de avaliar a paixão pelo Mengo. E Flamengo, eu juro que no pior momento, vou te apoiar até o final, porque sou Flamengo com muito orgulho e muito amor.






