Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #21: Vasco 1×1 Flamengo 2011

    Jogos eternos #21: Vasco 1×1 Flamengo 2011

    Por causa da Copa do mundo, a temporada do futebol acabou mais cedo do que costume, que geralmente se fecha mais ou menos nesse período do ano. Como foi o caso em 2011, com um jogo contra Vasco. Inclusive, a CBF teve a ideia de programar oito clássicos na última rodada do Brasileirão. Não gosto da ideia, prefiro ver clássicos regularmente durante o ano, e não todos decisivos, ou não, com times que não têm mais nada a ganhar, a menos um clássico, que já é muito.

    Mas a última rodada do Brasileirão de 2011 era decisiva, com dois dos maiores clássicos do país, o Clássico dos Milhões e o Derby Paulista, Flamengo x Vasco e Corinthians x Palmeiras. E vejam como as coisas podem mudar em dez anos, em 2011, Vasco brigava pelo título da Série A. Para o Vasco ser campeão, precisava vencer Flamengo e torcer para uma derrota do Corinthians contra Palmeiras.

    4 de dezembro foi um dia muito triste para o futebol brasileiro, com a perda de um craque eterno, o Doutor Sócrates, que merece nesse blog uma crônica na categoria dos ídolos, apesar de ter jogado muito pouco com o Manto Sagrado. Fez muita mais história no Corinthians e sua morte era mais um motivo para desejar a vitória do Corinthians no Brasileirão 2011. Por seu lado, Flamengo precisava pelo menos de um ponto para ficar na frente do Internacional e se classificar na pré-Libertadores.

    No Engenhão, para um publico de 34.604 pessoas, Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Welinton, Alex Silva, Júnior César; Willians, Fierro, Renato Abreu; Thiago Neves, Ronaldinho, Negueba. Um time limitado, para quem uma classificação na Libertadores já era uma satisfação.

    O Vasco de Diego Souza, Alecsandro e Felipe, precisando da vitória, começou melhor a partida. Com meia hora de jogo, Gonzalo Fierro foi facilmente driblado pelo Nilton, que cruzou para Diego Souza fazer valer a lei do ex. Vasco estava na frente e agora dependia de uma vitória de Palmeiras para ser campeão. Era para ver qual união era a melhor, entre Vasco e Palmeiras ou Flamengo e Corinthians.

    No início do segundo tempo, Vasco também começou melhor. Mas, Flamengo tinha um craque que Vasco não tinha. Ronaldinho, que apareceu muito pouco durante o jogo, recebeu no campo do Flamengo uma bola de Renato Abreu, resistiu ao contato do Dedé, e com uma facilidade impressionante mas não surpreendente, fez um lançamento com o pé esquerdo de 50 metros em profundidade para o Deivid. De forma surpreendente, Deivid pedalou e achou Renato Abreu, chegando na grande área em velocidade. Um domino, um drible curto para abrir o ângulo, e um chute esquerdo para empatar. Gol do Flamengo, agora Vasco nem precisava olhar o que acontecia no Pacaembu, não ia ser campeão brasileiro.

    Depois, foram lances perigosos, expulsões, uma de cada lado, Jumar e Renato Abreu, mas nada de gol. E no Pacaembu, também foi empate sem gol e expulsões. No final das contas, Corinthians campeão, Flamengo na Libertadores e para o Vasco, a resposta vinha da torcida flamenguista nas arquibancadas do Engenhão: “Ôooo, vice de novo”.

  • Ídolos #6: Andrade

    Ídolos #6: Andrade

    De volta com os ídolos, depois de um bom tempo. O último era Júnior, camisa 5. Vou seguir a combinar número de cronicas e número de ídolos, e vou continuar com um jogador da geração de ouro, Andrade.

    Andrade nasceu no 21 de abril de 1957 em Juiz de Fora, terra flamenguista. Mas nesses tempos, Andrade era botafoguense. Acontece. Depois foi na base do Flamengo, estreou com o Manto Sagrado, e logo depois foi emprestado na ULA, na Venezuela. Voltou no Flamengo em 1979, fez parte do maior meio-campo da história do Flamengo, e um dos maiores da história do futebol, talvez só atrás do Barcelona de Busquets-Xavi-Iniesta e do Real de Casemiro-Modric-Kroos. Pode ser também, sem clubismo, o maior da história, porque Andrade-Adílio-Zico era coisa de outro mundo. Andrade escreveu o primeiro grande capítulo de sua carreira em 1980.

    Data, 1° de junho de 1980, palco, Maracanã, adversário, Atlético Mineiro, publico, 154.355 pagantes. Em jogo, o título do Brasileirão. Nunes abriu o placar, Reinaldo empatou no minuto seguinte. Nosso Rei Zico marcou, Reinaldo empatou de novo. No fim do jogo, Nunes desempatou, Flamengo era o virtual campeão. E no finalzinho do jogo, no fim do fim do jogo, o desconhecido Manguito, zagueiro do Flamengo, substituindo um Deus da Raça Rondinelli lesionado, fez um passe atrás, para o goleiro Raul, um passe muito curto, Pedrinho teve tempo de interceptar a bola. Se fizesse o gol, título era do Galo. Mas Andrade voltou a tempo, salvou o Flamengo, salvou o Manguito também: “Salvei a carreira do Manguito. Ele sairia crucificado do Maracanã”, falou Andrade no livro 20 jogos eternos do Flamengo de Marcos Eduardo Neves.

    Andrade, como toda uma geração de ouro, foi campeão carioca, campeão brasileiro, campeão americano (com o primeiro cartão vermelho de sua carreira numa final violenta contra Cobreloa), e enfim campeão mundial. Mas deu o maior orgulho a torcida flamenguista contra o seu time de infância, Botafogo. Em 1972, Botafogo goleou Flamengo por 6×0. Doí, mas acontece. A torcida do Flamengo pediu vingança por muitos anos. Teve várias goleadas, mas nada de um 6×0. Até 1981, um ano histórico para o Flamengo. No campeonato carioca, no Maracanã, um jogo eterno. No intervalo, Flamengo 4×0 Botafogo. Mas a torcida do Flamengo queria mais, pedia o 6×0. Zico fez o quinto de pênalti. Faltava mais um. E no final do jogo, Andrade abriu no lado esquerdo para Adílio, que cruzou na grande área. A bola voltou nos pés do camisa 6 Andrade, para um chute poderoso, para um gol inesquecível, para o gol do 6×0, para uma goleada completa, para uma vingança inteira, para um momento único na carreira de Andrade: “Tive a sensação de ter saído do ar por alguns instantes. Deu um branco, tanto que na hora do gol corri para o lado errado”. Depois de 9 anos, o Flamengo era vingado, e o Botafogo tinha que esperar uma revirada, um outro 6×0. Até hoje, nunca aconteceu.

    Em 1982, foi bicampeão brasileiro, contra Grêmio. No jogo de desempate, uma polêmica, uma confusão na grande área do Flamengo, com uma bola na mão de Andrade para os gremistas, com uma bola no punho do goleiro Raul para os flamenguistas. E para Andrade, “ficou aquele bate-rebate e eu estava em cima da linha quando a bola subiu. Em fração de segundos, pensei, esses caras vão me jogar com bola e tudo pra dentro do gol e o juiz vai correr pro meio, não vai nem querer saber se foi falta ou não. Pensei em colocar a mão. Mas a coisa aconteceu tão rápido que, naquele tumulto, nem sei se tirei com a mão ou de cabeça”. Vendo o lance de novo, eu também não sei, apenas sei que o Flamengo foi campeão esse ano.

    O Tromba, como era chamado no vestiario do Flamengo, não é apenas bicampeão brasileiro, nem tri, depois do título contra Santos em 1983. Foi tetra em 1987, agora como veterano, sempre decisivo, com uma assistência para Bebeto no gol do título: “As pessoas esperavam que eu chutasse. Eu batia bem de fora da área, estava numa posição boa. Mas conduzi a bola de cabeça erguida, vi a movimentação do Bebeto na diagonal e a defesa saindo. O Bebeto era um jogador que, no olhar, entendia tudo. Quando meti, ele arrancou. O Taffarel tentou sair, mas hesitou. No que hesitou, o Bebeto chegou antes e deu o toquinho. A mesma alegria que ele teve com o gol, eu tive com o passe. Saí correndo que nem maluco naquele campo enlameado. Era um passe que significava o título”. Obrigado, Andrade, que honrou muito o Manto Sagrado.

    Depois, foi penta em 1989, com a camisa do Vasco. Vamos esquecer essa breve passagem ainda mais rapidamente. Mas Andrade não é só penta, é hexacampeão brasileiro. Agora técnico, no início interino depois efetivado, montou um time que tinha como craques Petkovic e Adriano. No final do primeiro turno, perdeu 4×1 contra o Grêmio e depois de duas mais derrotas, o cargo estava ameaçado. Mas Andrade ficou, o Petkovic brilhou, nosso Didico brocou, o Flamengo goleou. E no jogo decisivo, contra Grêmio, que esperava uma derrota, o Flamengo estava atrás no placar. No intervalo, o Tromba deu bronca. “No intervalo, pela primeira vez vi o Andrade chateado. Concordamos com ele. Tinha que ser na raça. Precisávamos pressionar de alguma forma”, relembra o herói Ronaldo Angelim. O segundo tempo é conhecido, um jogo eterno, o Flamengo campeão, Andrade hexacampeão particular. “Foi talvez, a conquista mais importante de minha carreira. Acho que fizemos uma grande campanha e o nosso grupo foi forte. Sou uma pessoa positiva e de fé. Acho que o título estava escrito. Deus botou a mão e nos deu de presente”, emocionou-se nosso Andrade.

    Para fechar, voltamos a uma injustiça. Jogou apenas 13 jogos com a Seleção. Em 1982, contra a Alemanha Ocidental no Maracanã, Telê escalou para o Brasil o meio do campo do Flamengo: Adílio, Zico e… Vitor, reserva do Andrade com o Flamengo. Uma loucura. Toninho Cerezo era craque, mas para mim, na Seleção de 1982 tão bonita, o meio-campo devia ser Zico, Sócrates, Falcão e Andrade. Talvez isso era a chave para o Tetra que o Brasil merecia.

    Andrade fez apenas um gol com a Seleção, mas um autentico golaço, desfilando sua classe no meio da zaga da Áustria em 1988. Um gol que para Andrade deve ser lembrado: “Mas daqui 100 anos, as pessoas só vão falar do gol do 6×0”. Tá certo, Andrade.

  • Jogos eternos #20: Flamengo 2×1 Colorado 1981

    Jogos eternos #20: Flamengo 2×1 Colorado 1981

    No 25 de setembro de 2022, alias aniversario de meu irmão, Flamengo não jogava. Então fui de um jogo eterno de 1981, um time histórico, contra Uberaba. No início, estava na dúvida com o jogo contra Uberaba dia 1o de abril de 1981, ou contra Colorado, dia 4 de abril. Então fui de ordem cronológica, com o jogo contra o Uberaba, sabendo que um outro dia tera oportunidade para o jogo contra Colorado. E agora, com a temporada infelizmente, muito infelizmente, acabada, tem tempo para o jogo contra Colorado.

    Vamos voltar ao tempo, 4 de abril de 1981, com um jogo no Maracanã, Modesto Bria escalando Flamengo assim: Raul; Carlos Alberto, Luís Pereira, Marinho, Júnior; Vitor, Adílio, Zico; Tita, Ronaldo Marques, Nunes. Um timaço, que fez muita história em 1981, apesar de não ganhar o Brasileirão. Até tinha esquecido que Luís Pereira, um verdadeiro craque, ídolo do Palmeiras e do Atlético de Madri, tinha jogado num time tão histórico.

    No Brasileirão de 1981, Flamengo passou na primeira fase no segundo lugar, atrás apenas do Santos. Na segunda fase, estava num grupo com Atlético Mineiro, Uberaba e Colorado. Ganhou do Galo, depois empatou contra Uberaba e foi surpreendentemente goleado contra Colorado, uma derrota 4×0. Nos jogos de volta, empatou contra o Atlético Mineiro e ganhou de 4×2 contra Uberaba. No 4 de abril de 1981, era hora de vingança, contra Colorado, um time de Curitiba que foi extinto em 1989.

    No Maracanã, com um publico de 61.749 pagantes, Flamengo jogando de branco de novo, Colorado abrindo o placar, Aladim na recepção de um cruzamento de Buião. Nem tenho comentários a fazer sobre os nomes dos jogadores.

    Flamengo só reagiu no final do jogo, no minuto 33 do segundo tempo. Júnior para Marinho. Marinho para Adílio, que dominou de peito, acelerou de calcanhar, tabelou com Fumanchu. Adílio passou entre dois defensores, deixaoupara Zico de trivela entre mais dois defensores. Zico, claro, fez o gol e comemorou com a geral.

    Dois minutos depois só, Zico, no meio de campo, achou Tita. Tita achou o melhor jogador do mundo, Zico. O Rei Arthur fez uma finta, passou entre dois jogadores, e antes da chegada de mais dois defensores fez o gol, o gol da virada, o gol da vitória. Quatro defensores não eram suficientes para parar o Flamengo de 1981. Flamengo 2×1 Colorado, Flamengo nas oitavas de final. Depois, Flamengo perdeu nas quartas contra Botafogo mas é outra história. No 4 de abril de 1981, o Mengo fez mais um show num ano dourado.

    E esse jogo é ainda melhor do que dois meses atrás, porque agora encontrei Deus, nosso Rei, Arthur Antunes Coimbra, Zico.

  • Times históricos #6: Flamengo 2008

    Times históricos #6: Flamengo 2008

    O Flamengo deu muitas alegrias desde 2019. Mas antes, já fomos muitos felizes, com times de menos qualidade. Mas o Manto Sagrado era o mesmo. Ou quase, o fornecedor era outro. Acho a camisa de 2008 a mais bonita da história recente do Flamengo, gosto também muito do Manto dos anos 1980. E o ano de 2008 foi bom, um dos primeiros onde acompanhei religiosamente o time.

    O Flamengo de 2008 estava bem de ídolos. O goleiro Bruno não é mais ídolo por causa do que ele fez, mas era um grande goleiro, um dos melhores que vi no Flamengo com Diego Alves. Na zaga, Ronaldo Angelim fez muita história no clube, mas confesso que gostava ainda mais do Fábio Luciano. Era nosso capitão e achava ele muito carismático. A dupla de laterais Léo Moura – Juan era incrível, de um apoio de sempre no ataque. Não foi melhor do que a dupla Filipe Luís – Rafinha, mas eram outros tempos. Era um prazer de ver eles jogar.

    No meio de campo, Flamengo contratou um campeão do mundo, Kleberson. Tinha ainda Ibson, que fez uma temporada de 2007 incrível, era o melhor jogador de meus tempos ainda recentes de torcedor assíduo do Flamengo. Depois chegou outro craque, que eu gostava muito na Europa já, Marcelinho Paraíba. A passagem foi rápida, mas honrou o Manto Sagrado. E tinha também o craque da casa, o primeiro da base que vi crescer, Renato Augusto. No ataque, outra dupla carismática, Souza e meu primeiro ídolo, Obina. Os dois eram limitados, mas eram outros tempos. Deram muita alegria aos flamenguistas. Até de técnico, Flamengo tinha alguém limitado, mas carismático, Joel Santana. Adorava o Papai Joel.

    No campeonato carioca, Flamengo jogou a final da Taça Guanabara contra Botafogo. Wellington Paulista abriu o placar e Ibson empatou de pênalti. Foi um jogo de polêmicas, de brigas, de expulsões, de chororô também. Diego Tardelli fez um golaço no fim do jogo para a alegria dos flamenguistas e o choro dos botafoguenses. Eu não era um grande fã de Diego Tardelli, mas ele melhorou muito o ataque e fez um dos golaços mais icônicos da história do Flamengo. E no jogo seguinte, Souza, fez uma das comemorações mais icônicas, o chororô, que voltou depois a ser eternizado pelo Hernane, Vinícius Júnior e Gabigol.

    Na Libertadores, Flamengo ficou no primeiro lugar de seu grupo, e no segundo lugar da classificação geral, atrás apenas de um rival, Fluminense. O Fla-Flu é meu clássico favorito desde sempre, desde o início de tudo, ou melhor, meu amor pelo Fla-Flu nasceu 40 minutos antes do nada. Tínhamos perdido 4×1 no campeonato carioca e já estava louco para um Fla-Flu na Libertadores. Revelação do início do ano foi Marcinho, um jogador de muita velocidade, ousadia e gols também. Adorava ele, adorava o elenco de 2008.

    Na final do campeonato carioca, de novo contra Botafogo, Flamengo perdeu o jogo de ida e também levou o primeiro gol do jogo de volta, com um frango de Bruno. Mas esse Flamengo era time de desafio, de superação, de virada. No segundo tempo, Obina empatou e no fim do jogo, com outros gols de Tardelli e de novo de meu ídolo Obina. Flamengo campeão. Campeão da Copa do Brasil 2006 contra Vasco, campeão carioca 2007 contra Botafogo, campeão carioca 2008 de novo contra Botafogo, meus inícios de torcedor flamenguista acompanhando o time eram quase perfeitos. E a festa no Maracanã foi de novo muita linda. Se eu tenho saudade do time de 2008 apesar do time de hoje ser bem melhor, a saudade do Maracanã é diferente, é uma saudade que não passa, ou que passa para sempre voltar. Só o antigo Maracanã não pode voltar. Foi destruído para sempre.

    Eu estava cheio de alegrias mas a vida do torcedor é de altos e baixos, da alegria mais pura a decepção mais absoluta, do grito de campeão ao grito de desespero. Nas oitavas de final da Libertadores, Flamengo era quase classificado depois de ganhar 4×2 no México. Quase. Sem alguns titulares, Flamengo perdeu 3×0 no Maracanã. Um outro Maracanaço. Não assisti ao jogo ao vivo e não relembro bem onde estava quando soube da tragédia. Como um choque traumático. Ainda hoje não dá para entender. Achava e ainda acho que o time tinha possibilidade de ganhar a Libertadores. E eram outros tempos, o peso ainda era diferente de hoje, onde a diferença entre os times brasileiros e os outros é muito maior, e Flamengo é quase já semifinalista antes do início do torneio. Pior que o Fluminense foi na final esse ano e tinha a possibilidade de dois Fla-Flus na semifinal. Pelo menos Flu perdeu a final. Mas para o Fla, a temporada já estava meio perdida. Talvez esse outro Maracanaço contra o América é minha maior decepção no Flamengo, só a final do Mundial contra Liverpool pode competir, num outro tipo de decepção. Nem mesmo a perda da final da Libertadores 2021 contra Palmeiras foi tão dolorida.

    Mas ainda tinha o Brasileirão a jogar, agora sem Renato Augusto e Marcinho. Passei até a odiar eles, eram outros tempos e eu era ainda bem jovem, não entendia a escolha de vestir outra camisa quando tinha a possibilidade de vestir o Manto Sagrado. No Brasileirão, Flamengo foi bem, foi até líder após uma goleada 5×0 contra Figueirense na quinta rodada. E depois ficou sete jogos sem vencer. Isso aqui também era Flamengo. Voltou a ganhar, goleou Coritiba e Palmeiras no fim do campeonato, com de novo Ibson jogando de terno. Contra Palmeiras, Ibson fez três, num Maracanã cheio, com a esperança de um hexa. Mas Flamengo ganhou apenas um ponto nos três últimos jogos e ficou até de fora da Libertadores.

    Um ano de 2008 marcante, um elenco que ainda está no meu coração, mas um ano muito frustrante. Eram outros tempos e tempos melhores vão vir.

  • Na geral #10: Encontrei Deus

    Encontrei Deus, Nosso Rei, O Galinho de Quintino, Arthur Antunes Coimbra. Zico. E como a vida é bem-feita, essa crônica da categoria da Geral, é a número 10, como a camisa que Zico eternizou com o Manto Sagrado.

    Encontrar Zico fazia parte das coisas que eu queria fazer durante minha temporada no Brasil. Imaginava ser no Centro de Futebol Zico, o CFZ lá no Recreio dos Bandeirantes, mas quando soube que ele estava no Leblon para o lançamento do livro A história com o Flamengo, de Luís Miguel Pereira, não perdi a ocasião. Eu ia encontrar Zico, ainda sem acreditar, sem ousar sonhar.

    Realizei o sonho de muitos flamenguistas, encontrar Zico. Mas também um sonho que muitos flamenguistas já realizaram. Porque Flamengo é uma Nação, tem muita muita gente, e é o maior sonho de muitos flamenguistas de encontrar nosso maior ídolo, e porque Zico é muito muito acessível. Então ele já realizou o sonho de muita gente, e continua a fazer isso para minha alegria.

    A humildade de Zico é bem conhecida. Uma coisa que me marcou é que, claro, todo mundo queria sua foto como o Nosso Rei. Servi três vezes de fotografo para as pessoas na minha frente. E a cada vez, Zico olhava o celular, claro, mas não por 3 ou 4 segundos e depois voltava a assinar os livros, e tinha muitos livros. Não, Zico olhava o celular até o fotografo baixar o celular. Assim, ele tinha certeza que teve tempo para a pessoa tirar uma foto legal. Parece pequena coisa, mas não é.

    Zico brincou também com um garoto, falando do gol de Rondinelli contra Vasco em 1978. “E pesquisa quem bateu o escanteio!”. E depois o momento de minha maior emoção, meu encontro com Zico. Falei que era francês, mas o nome para a assinatura era “Marcelino”, porque para os brasileiros “Marcelino” é mais fácil que “Marcelin”. Então Zico brincou comigo também: “Francês e se chama Marcelino? Quer nos enganar, é francês paraguaio!”. Zico é de uma simplicidade extrema, te deixa a vontade apesar de o momento ser irreal. Mas sim, sou bem francês, sou flamenguista e sou fã de Zico.

    Já falei que Flamengo tem muita chance de ter uma torcida assim. E Flamengo, e a torcida, têm muita chance de ter um ídolo maior como o Zico. É a personificação do Flamengo, de Quintino até o Mundo. Nunca desrespeitou o clube, nunca se colocou acima do clube, apesar de representar tanto para o Flamengo. A relação entre Zico e o Flamengo é única no Brasil, não tem outro clube que tem um ídolo como Zico é ídolo no Flamengo.

    Já falei também que meu melhor momento no Rio com o Flamengo desde minha chegada foi o AeroFla, um momento único da demonstração do que é a torcida do Flamengo. Em segundo, tem que ser um momento no Maracanã, o pré-jogo da final da Copa do Brasil contra o Corinthians. Terceiro, provavelmente um título, o da Libertadores, vivido na Rocinha. Tem também o Fla-Flu e o reencontro com Gabriel, cantando o hino juntos depois do gol do Ganso que não calou o Maracanã. Tem também claro a recepção dos campeões no Centro do RJ, um momento único entre os jogadores e a torcida. Mas acho que o encontro com Zico supera todos esses momentos. Esses outros momentos, eu sei que estava lá, mas não conheço a data. Vou ter que aprender a data do Tri sim, mas a data do encontro com Zico, o 18 de novembro de 2022, fica marcada na história. E acho que agora todos os 18 de novembro, até o fim de minha vida, vou relembrar que nessa data encontrei Deus.

    No 18 de novembro de 2022, Zico conseguiu fazer mais uma proeza, ele conseguiu se tornar ainda mais ídolo do que ele era antes para mim.

  • Na geral #9: Um fim de semana inteiramente rubro-negro

    Ontem era o aniversário do Flamengo, 127 anos de glória e de luta, de raça, amor e paixão. As festividades para mim começaram no sábado com o encontro das embaixadas e dos consulados na sede do clube. Tinha bandeiras de todos os lugares do Brasil, de Roraima até cidades da Baixada Fluminense. E bandeiras de fora do Brasil, do Miami de Ramon, do Washington de Bernard, outro gringo flamenguista, e claro da Fla Paris. Nenhum outro clube do Brasil é capaz de fazer isso.

    Eu estava com Toni, filho do nosso presidente Cidel. Era a primeira vez que o encontrava, mas a gente se falava antes e tinha essa impressão de se conhecer já. O Flamengo permite isso também. Bebemos cervejas, fizemos amizade com os Flamigos de Natal, depois Tiffany, que estava comigo no AeroFla, me falou que o irmão dela estava lá, com a Fla Unidos de Campo Grande. Encontrei ele com muita alegria. E a Fla Unidos estava com a Fla Oceânica, de Niterói. E a Fla Paris apoia uma ONG de Niterói, a Associação Amor ao Próximo. Pegamos contatos da Fla Oceânica para organizar ações juntos. Se tem um outro clube do Brasil que é capaz de fazer isso, não o conheço.

    Depois, era a hora de ir no Maracanã, infelizmente para a última vez do ano. Assisti a 7 jogos esse ano, com muito amor e muito orgulho. No calor do Maracanã, perdi meus óculos no pré-jogo. Fui pedir no bar se alguém tinha deixado os óculos aqui, mas o irmão desconhecido flamenguista ao meu lado era mais sensato: “Já era irmão, aproveite o jogo”. Então fui aproveitar, mas com uma visão fraca, mudei de lugar na arquibancada. Sempre vou com a Fla Manguaça, um pouco em cima do grupo mais animado e das bandeiras. Sem óculos, fui um pouco em baixo na Fla Manguaça. Não sei se é a troca de lugar ou é porque era o último jogo, mas o ambiente, no primeiro tempo, foi um dos melhores que vivi esse ano. Todo mundo, ou quase, cantava. Frustrante que o segundo tempo foi menos animado, talvez por causa da derrota. Mas o Flamengo já deu muitas alegrias esse ano de 2022, meu primeiro no Brasil.

    Domingo é dia de torcer pro time que sou fã. Não no Maracanã, mas no Centro do Rio, para a recepção dos jogadores. Desde que eu sei que estarei no Brasil para a final da Copa Libertadores, eu estava louco para viver a recepção, como foi em 2019 com imagens incríveis. Em 2022, já duas semanas depois do título e não o dia seguinte, o ânimo foi um pouco menor. Estava com a Roça Fla, o grupo de torcedores da Rocinha, e acho que o AeroFla foi mais impressionante. No AeroFla, era a torcida, na recepção era a ligação entre a torcida e os jogadores. E o Flamengo é muito bem servido de ídolos. Claro essa torcida merece. Em 2019, foi Bruno Henrique, em 2022, David Luiz e Arturo Vidal. Como gringo flamenguista, me identifico com o Arturo Vidal, que deve viver um sonho incrível. Mas o ídolo maior dessa geração é sem dúvida Gabigol. Decisivo, provocante com os ex-rivais, Gabigol continua a fazer história num time da favela. E agora meu ídolo veste a camisa 10. Por muitos anos eu espero.

    Segunda-feira fui no CT Ninho do Urubu, com outros sócio-torcedores e membros de consulados. Outras amizades, mas uma visita um pouco rápida, do lugar da base até o dos profissionais. Para mim, momento mais emocionante talvez foi um pouco inusitado. Foi quando o guia mostrou o lugar onde o ônibus fica para esperar os jogadores antes de ir no aeroporto dia de jogo fora de casa, ou no Maracanã dia de jogo em casa. Imaginei a mistura de excitação e de ansiedade dos jogadores antes de um jogo importante. Não dá realmente para perceber, mas muitos momentos importantes do clube aconteceram nesse lugar. Também uma decepção, não vi nenhuma homenagem aos 10 garotos do Ninho, com se essa tragédia não existiu. Mas aconteceu, e eles merecem ser lembrados, como a torcida lembra durante todos os jogos no Maracanã.

    Terça-feira era dia do aniversario, dia de todos os flamenguistas. Cheguei um pouco tarde na Gávea e faltei a inauguração do busto de Lico, homenagem bem-merecida, e da maior parte do show da Charanga Rubro-Negra. Mas cheguei a tempo para encontrar de novo pessoas que estavam comigo na visita do CT, ver de novo o americano Bernard, ser entrevistado pelo Alan do canal Urubu 81, tirar uma foto com o Adílio, e comprar a biografia do Mozer, que me fez o prazer de dedicar o livro. Um dia lindo para quem é flamenguista, cheio de alegria e de saudade já, porque vou sentir muita falta do Flamengo até o ano próximo, eu espero, outro ano de ouro para meu Flamengo.

  • Jogos eternos #19: Flamengo 6×1 Avaí 2019

    Jogos eternos #19: Flamengo 6×1 Avaí 2019

    Para o último jogo do ano, vamos de um outro Flamengo x Avaí num fim de temporada, de uma temporada de ouro, a de 2019. O Flamengo de 2019 foi incrível, era certeza de futebol bem jogado, alta probabilidade de golaços, possibilidade forte de goleada. Jogo contra Avaí, o último do ano no Maracanã, foi o jogo das faixas de campeão da Libertadores e do Brasileirão. E não só dos profissionais. Flamengo ganhou em 2019 também o Brasileirão sub-17 e o Brasileirão sub-20. Realmente, um ano de ouro.

    No 5 de dezembro de 2019, Flamengo entrou em campo contra Avaí num clima de festa, com um time misto: César; Rafinha, Thuler, Rhodolfo, Renê; Piris da Motta, Diego, Éverton Ribeiro, Arrascaeta; Lincoln, Gabigol. No Maracanã, um dia de chuva, mas mais um dia de festa com 3 troféus, o do campeonato carioca nas mãos de Juan, o do Brasileirão nas mãos de nosso Didico, o da Libertadores nas mãos do Adílio. Flamengo é gigante.

    Gigante e bonito é o Flamengo do Jorge Jesus. Com 10 minutos de jogo, numa falta de Arrascaeta, Rafinha se movimentou bem na direita e recebeu a bola. Cruzou no chão para Lincoln, que de pivô deixou para Arrascaeta. A jogada começou com Arrascaeta de falta, dois toques rápidos de Rafinha, dois toques rápidos de Lincoln, e finalização de primeira de Arrascaeta. Do início até o fim, um golaço na construção. O Mengo do Mister realmente era bonito.

    Quatro minutos depois, outra falta, agora de Everton Ribeiro, no travessão. Calma torcedor, a chuva de gols só não vai ser maior do que a chuva no Rio nesse 5 de dezembro de 2019. Avaí empatou com um chute de longe de Lourenço. Acordou o gigante. No fim do primeiro tempo, um chute colocado de Diego no ângulo, bem no ângulo, indefensável para o goleiro. Outro golaço. Sem dúvida um dos gols mais bonitos do Diego com o Manto Sagrado. Dois minutos depois, um chute de Gabigol de fora da área, um rebote na frente do goleiro, mortal com a ajuda da chuva. Esse Flamengo de 2019 é imortal, não tinha piedade, sempre buscava fazer mais um gol. No intervalo, 3×1 para o Flamengo.

    No início do segundo tempo, quase mais um golaço. Bola alta de Diego, Lincoln quase conseguiu fazer o chapéu no goleiro, concluir de bicicleta, mas não deu. O golaço veio um pouco depois. O Flamengo de 2019 era incrível na movimentação. Piris da Motta achou Arrascaeta, de trivela para Gabigol, de calcanhar para completar a tabelinha com Arrascaeta. Arrascaeta pedalou, e a bola foi com a ajuda de Deus nos pés de Lincoln. Deus ajudou porque a jogada era bonita, e merecia se transformar em gol para a alegria da arquibancada. Flamengo 4×1 Avaí.

    No fim do jogo, outro golaço. Gabigol para Reinier, outra promessa do Mengo. Com um toque só para Diego, que devolveu também com um toque para Reinier. Reinier dominou com um toque rápido, e achou de novo de calcanhar Diego, agora com perigo na grande área do pobre Avaí. Com um toque do pé esquerdo, Diego deixou em condição ideal ninguém mais que Reinier. Já não era mais tabelinha, virava tabelão. Reinier dominou a bola e chutou cruzado. Golaço, no puro estilo do Mengo do Mister. E ainda tinha outro gol, de novo com Reinier, na recepção de um cruzamento de Rafinha, para fazer o gol do 6×1.

    Por isso que acho o Flamengo de 2019 maior do que o de 2022. Porque o futebol exibido era melhor. Muitas goleadas, muitos golaços, muitos jogos eternos. Mas para fechar o ano de ouro de 2022, também quero uma goleada contra Avaí.

  • Jogos eternos #18: Juventude 0x2 Flamengo 1995

    Jogos eternos #18: Juventude 0x2 Flamengo 1995

    Por mais incrível que parece, Flamengo é freguês do Juventude no campo deles. Flamengo ganhou os dois primeiros confrontos no Brasileirão, em 1995 e 1997, e depois nos dez últimos confrontos, o Mengo não ganhou nenhum jogo! Vamos então da primeira vitória, em 1995.

    Na abertura do Brasileirão de 1995, Flamengo venceu o Bragantino, já um jogo eterno no Francesguista. Depois, foi bem mais difícil, um 0x0 contra Guarani, uma derrota 0x2 contra Paysandu, e outras duas derrotas, contra os rivais Palmeiras e Corinthians, as duas vezes pelo placar de 1×2, as duas vezes com gol de Romário. Flamengo já precisava de uma reação.

    O técnico do Flamengo era o jornalista Washigton Rodrigues, o Apolinho, que escalou Flamengo assim para o jogo contra Juventude: Paulo César; Agnaldo, Cláudio, Ronaldão, Leonardo Inácio; Pingo, Márcio Costa, Djair, Nélio; Sávio, Romário. Apesar da qualidade do ataque, era um time bem mediano. No outro lado, o técnico Emerson Leão estreava no Juventude e tinha no meio de campo o Cuca, em fim de carreira. No Alfredo Jaconi, tinha 15.690 torcedores no 17 de setembro de 1995 para ver o jogo entre Juventude e Flamengo.

    Com 16 minutos, uma bola longa de Agnaldo para Sávio, pronto para a jogada do craque que ele era. Dominou a bola, girou, pedalou, fintou, fintou mais uma vez, o defensor já meio perdido. Depois, um drible curto, um chute cruzado, um golaço. Mais um golaço de Sávio, que apesar de estar no começo da carreira, já tinha brilhado tanto com o Manto Sagrado.

    Ainda no primeiro tempo, Sávio fez um belo cruzamento para Romário pegar de primeira, mas o goleiro defendeu. No segundo tempo, lançamento de Ronaldão para a velocidade de Nélio. A bola no meio de campo, a meia altura. Com esse tipo de bola, às vezes quem ganha o lance é quem tem mais raça. E às vezes quem ganha o lance é quem conhece mais o jogo, é o jogador que sente o que deve ser feito, é quem tem mais visão de jogo, é o craque. Romário chegou primeiro e de um toque só, perfeitamente executado, deixou Sávio em condição ideal. O Anjo Loiro também não perdeu tempo com a bola, já no domino da bola, driblou o goleiro. Depois, só tinha a empurrar a bola no fundo das redes para fazer um outro golaço no jogo.

    Uma atuação marcante, porém não tanto conhecida do craque Sávio, um ídolo da Nação, também já um ídolo no Francesguista. Que essa bela lembrança ajuda o Mengão a trazer, enfim, uma vitória no campo do Juventude.

  • Jogos eternos #17: Coritiba 2×2 Flamengo 1988

    Jogos eternos #17: Coritiba 2×2 Flamengo 1988

    Antes de um dos últimos jogos do ano, vamos relembrar de um jogo entre Coritiba e Flamengo, de 1988. Por uma vez, o campeonato brasileiro, depois do muito polêmico de 1987, era relativamente simples. Duas fases, dois grupos, dois classificados por grupo para as quartas de final. Mas CBF é CBF e tinha que fazer alguma coisa esquisita. O jogo valia agora 3 pontos e não mais 2 pontos. O jogo sim, e não a vitória. A vitória valia 3 pontos sim, mas em caso de empate, tinha uma disputa de penalidades para obter um ponto bônus!

    Flamengo perdeu sua primeira disputa de penalidades no campeonato, contra Santa Cruz, mas depois ganhou três em seguida, contra Botafogo, Grêmio, Cruzeiro, aquela um jogo antes da partida contra Coritiba. O jogo contra Coritiba era o último da primeira fase, Flamengo já sem chance de se classificar. No Couto Pereira, para um publico de 45.458 torcedores, Flamengo foi escalado assim: Zé Carlos; Xande, Rogério, Darío Pereyra, Leonardo; Delacir, Luvanor, Zinho, Zico; Sérgio Araújo, Bebeto. Um time com craques, como o veterano uruguaio Darío Pereyra na zaga, Zico no meio e Bebeto na frente, e jogadores mais desconhecidos. Técnico também era craque, Telê Santana, que chegou no Mengão duas semanas antes.

    No Coritiba, treinado pelo Valdir Espinosa, que passou pouco tempo depois no Flamengo, o craque era Tostão e tinha o japonês Kazu Miura, inspiração para o mangá Captain Tsubasa. Detalhe, com agora 55 anos, Kazu ainda está jogando num nível profissional no Japão! No 9 de novembro de 1988, Flamengo começou melhor mas levou o primeiro gol, marcado por Osvaldo, com 32 minutos de jogo. Flamengo reagiu rapidamente, com Zico mais uma vez. O toque de calcanhar foi bloqueado pelo zagueiro Everaldo, mas Zico não desistiu e empatou de pé esquerdo.

    No segundo tempo, Xande cruzou e Bebeto fez o gol da virada. Zico e Bebeto faziam os gols, uma dupla que foi pura magia para o Flamengo em 1987. Coritiba voltou bem no jogo, e depois de uma bola na trave, fez o gol do 2×2 com Tostão. Empate no final, o que não existia em 1988. O herói da disputa de penalidades foi o goleiro de Coritiba, Rafael, que fez defesas nas tentativas de Zico e Luvanor, e fez o dele, no contrapé de Zé Carlos. Bebeto e Leonardo fizeram para o Mengo, mas no fim, Zinho achou o travessão e Coritiba ganhou o ponto bônus. Pelo menos, hoje, também num jogo sem importância, não teria disputa de penalidades.

  • Jogos eternos #16: Flamengo 5×1 Corinthians 1983

    Jogos eternos #16: Flamengo 5×1 Corinthians 1983

    O último jogo entre Flamengo e Corinthians no Maracanã foi um jogo eterno, com o tetra na Copa do Brasil. O jogo de hoje também vai ser eterno, com a recepção dos tricampeões da Libertadores. Vamos então de um outro jogo eterno, também num ano histórico, em 1983.

    Na primeira fase do Brasileirão 1983, Flamengo ficou no segundo lugar, atrás do outro finalista daquele Brasileirão, Santos. Na segunda fase, ficou de novo no segundo lugar, de novo atrás de um time paulista, Palmeiras. Eram muitas fases, três antes das quartas de final, muitos times, 44, muitos grupos, até a letra T! O grupo T era justamente o do Flamengo na terceira fase, com Goiás e outros dois times paulistas, Guarani e Corinthians.

    Flamengo começou o grupo T com vitória contra Goiás no Maracanã, gols de Robertinho e Zico. Depois, empatou por 0x0 contra Guarani no Brinco de Ouro. Zico estava nos momentos finais de sua primeira passagem no Flamengo, sem ninguém saber. No 17 de abril de 1983, o Rei Arthur estava em campo, o saudoso Carlos Alberto Torres escalando Flamengo assim: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Vitor, Adílio, Zico; Júlio César, Elder, Baltazar. Um time cheio de craques e o Corinthians, bicampeão paulista em 1982 e 1983, também estava bem de craques, com Emerson Leão, Wladimir, Zenon e Sócrates para o jogo no Maracanã, com 91.120 presentes.

    O Corinthians começou melhor, com uma cabeçada de Sócrates, que não foi no gol só graças a intervenção de Júnior na linha do gol. Depois, Zenon bateu uma falta no travessão de Raul, que ficou só olhando. Num contra-ataque, Vidotti bateu, mas Raul fez a defesa. Corinthians não fazia o gol, Flamengo fez. O cruzamento do pé direito de Leandro foi bloqueado, a bola voltou no Leandro, que cruzou com o pé esquerdo. Julio César Barbosa, a não confundir com o craque Júlio César Uri Geller que vestiu o Manto Sagrado algumas temporadas antes, fez uma autentica jogada de craque, um desvio de calcanhar para Zico, que não teve dificuldades para fazer o gol. Flamengo 1×0 e era só o início.

    Antes do fim do primeiro tempo, uma falta para o Flamengo. Todo mundo já sabe o que vai acontecer. Zico bateu e fez o gol, com um rebote mortal para o Leão. Flamengo 2×0 Corinthians. No início do segundo tempo, um golaço, bem ao estilo desse Flamengo 1978-1983. Uma falta provocada pelo Leandro depois de um drible curto, no campo do Flamengo. Zico joga rápido, no outro lado, o esquerdo, para o desvio de cabeça de Júnior. Bola para Adílio, que mata no peito, acha Elder, que mata no peito, acha Baltazar. Baltazar, um giro, um segundo giro, um Wladimir meio perdido, um cruzamento. De cabeça, Adílio completou o golaço coletivo. Flamengo 3×0 Corinthians.

    O jogo foi um pouco mais equilibrado depois, mas Adílio quase fez o quarto. Num escanteio, Zico cruzou para Mozer, que cabeceou, deixando Emerson Leão sem reação. Flamengo 4×0. Virava goleada. Depois, Zico recebeu a bola, e como tinha feito três minutos antes, dominou com a sola do pé, uma pisada digna dos melhores jogadores de futsal. Assim, o craque pode esperar a pressão dos adversários, pode ver os movimentos dos companheiros. Magicamente, perfeitamente, O Galinho achou Elder na profundidade, que conseguiu fazer um drible de vaca sobre o pobre Emerson Leão, batido pela quinta vez no jogo. Flamengo 5×0 Corinthians, virava uma goleada humilhante.

    No fim do jogo, outro craque, Sócrates, fez o gol de honra para os corintianos, mas mesma assim foi um jogo eterno, a maior goleada em favor do Flamengo no Clássico do Povo. Com uma atuação mágica de Zico, que fez dois gols no primeiro tempo e deu duas assistências no segundo tempo, o povo do Brasil estava feliz.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”