Francêsguista

Francês desde o nascimento, carioca desde setembro de 2022. Brasileiro no coração, flamenguista na alma. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

  • Jogos eternos #309: Flamengo 3×0 Criciúma 1988

    Jogos eternos #309: Flamengo 3×0 Criciúma 1988

    Flamengo volta hoje no Brasileirão, que agora virou obrigação. Para a última rodada do primeiro turno, Flamengo joga contra Mirassol, um adversário que nunca enfrentou na história. Vou então para a lembrança de dia de um outro jogo contra um adversário inédito, que também joga em amarelo, Criciúma em 1988.

    Depois de um início bem mediano no Brasileirão de 1988, com apenas duas vitórias em 7 jogos, Flamengo trocou de técnico e chamou o que é para mim o maior técnico da história do futebol brasileiro, Telê Santana. E Telê estreou com estilo no Flamengo, com vitória 5×1 sobre Guarani, onde o próprio Telê passou como jogador. Cinco dias depois, era a estreia do Telê no Maracanã, contra Criciúma, adversário contra Flamengo nunca tinha jogado, a não ser um amistoso em 1982 com uma derrota 4×2. No 28 de outubro de 1988, o técnico Telê Santana escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Xande, Aldair, Darío Pereyra, Leonardo; Luvanor, Delacir, Zinho, Zico; Sérgio Araújo, Bebeto. Alias, o 28 de outubro é um dia especial para o Flamengo, sendo o dia do flamenguista celebrando o São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo.

    E no dia do Flamenguista, brilhou um jogador, um dos líderes da Seleção de Telê, o maior ídolo do Flamengo, Zico, “maestro e mais que maestro”. Aos 35 anos, Zico vivia com lesões, tanto que o jogo contra Criciuma valendo pela 10.a rodada do Brasileirão, foi apenas o quarto de Zico. Mas quem sabe nunca desaprende. Porém, sua primeira falta, pertinho da grande área, faltou de potência e o goleiro fez a defesa fácil. Zico não era só batedor de faltas, era maestro do time. Uma embaixadinha para vencer dois adversários no meio de campo e um passe preciso, milimétrico na profundidade para Sérgio Araújo, para Bebeto, para o fundo da rede.

    Era só o início do show de Zico. Dribles, passes curtos, longos, até extra-longos, Zico não errava nenhuma. Uma pedaladinha e um drible seco para tirar um zagueiro, o passe e já solicitando a tabelinha, recebendo e já jogando de outro lado de calcanhar. Zico tinha tudo, extra-tudo. O segundo gol foi quase um replay em câmera invertida, Zico no meio do campo, o passe preciso, milimétrico na profundidade, agora para Zinho, de novo para Bebeto, de novo no fundo da rede.

    No segundo tempo, de novo Zico no início da jogada, no meio do campo. E já sabe, um passe, mesmo com o pé esquerdo, preciso, milimétrico na profundidade. Bebeto pegou na velocidade e fez a finta para esperar um pouco. Zico não era tão rápido que Bebeto, tão rápido que ele mesmo anos antes, mas sabia tudo da bola. Chegou na entrada da grande área, chutou de primeira. Um chute poderoso, preciso, que passou em baixo do travessão por centímetros. Um chute indefensável, o gol da vitória certa. Um gol do maior ídolo, que mesmo no crepúsculo da carreira, iluminava o coração do torcedor, no dia do flamenguista e em cada dia do ano.

  • Jogos eternos #308: Flamengo 2×0 Atlético Mineiro 2022

    Jogos eternos #308: Flamengo 2×0 Atlético Mineiro 2022

    Flamengo joga hoje contra o Atlético Mineiro no jogo de volta da Copa do Brasil, depois de perder 1×0 na ida. Em 2022, Flamengo também jogou contra o Atlético Mineiro nas oitavas da Copa do Brasil, também perdeu de um gol de diferença na ida, também precisava virar na volta.

    Verdade que em 2022 o jogo de volta era no Maracanã, assim a virada parecia mais fácil. Ainda no Mineirão, depois da derrota 2×1 no jogo de ida, Gabigol prometeu aos atleticanos: “Quando eles forem para lá, vão conhecer o que é pressão e o que é inferno”. Mas ainda precisava de um jogão, de um Maraca lotado, o que foi o caso, com 62.624 pagantes, 68.747 presentes, e mais, contando os que invadiram o estádio sem ingresso. E o Maracanã virou um inferno mesmo, com uma das festas mais lindas dos anos recentes, uma festa que conquista até quem não torce para o Flamengo, mas apenas gosta de shows de torcidas em estádios de futebol. No Maraca, muita fumaça e um mosaico obvio e anunciador: “bem-vindo ao inferno”. O Flamengo começou a virar o jogo neste momento, sem os jogadores ainda em campo, apenas a Nação na arquibancada, cantando, gritando, infernizando.

    No 13 de julho de 2022, o técnico Dorival Júnior escalou Flamengo assim: Santos; Rodinei, Léo Pereira, David Luiz, Filipe Luís; Thiago Maia, João Gomes, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Gabigol, Pedro. Flamengo entrou em campo com tudo. Aos 12 minutos de jogo, número da torcida, Éverton Ribeiro fez grande passe para Arrascaeta, que cortou do pé direito, fez uma finta e chutou com o pé esquerdo. O Maracanã esperou, suspirou, Éverson salvou com grande defesa de uma mão só. O clima era tenso, David Luiz e Hulk se desentenderam e o juiz precisou intervir. O clima em campo se acalmou, o Maracanã não.

    No final do primeiro tempo, num bom cruzamento de Rodinei, Pedro cabeceou, Éverson fez outra grande defesa num estilo atípico. E no finalzinho do primeiro tempo, Pedro agora no estilo garçom, usando o corpo para segurar a bola e puxar o ataque, servindo Arrascaeta na profundidade. O craque uruguaio chegou antes do Éverson, tocou de carrinho e a bola, lentamente, delicadamente, suavemente, foi morrer na rede. O Maracanã explodiu.

    O placar estava empatado na soma dos dois jogos, mas como o Gabigol e toda a Nação prometeram, o Maracanã virou um inferno. Com uma hora de jogo, de novo os protagonistas principais do jogo. Falta de Éverton Ribeiro, cabeceada de Pedro, e na segunda trave, Arrascaeta tocando na bola com o cabeção, caindo no chão. Everson fez a defesa, a bola flirtando com a linha de gol. Depois de hesitação, o juiz apitou o gol. Depois de consulta ao VAR, o gol foi confirmado. Era a segunda explosão do Maraca, o segundo gol do Arrasca, o gol do ídolo, o gol da classificação. Do inferno ao paraíso, o Flamengo virou e, meses depois, conquistou o tetra da Copa do Brasil.

  • Jogos eternos #307: Ceará 0x3 Flamengo 2018

    Jogos eternos #307: Ceará 0x3 Flamengo 2018

    Hoje líder, Flamengo joga no Ceará contra um adversário que não vence em Fortaleza desde 2019, já um jogo eterno no Francêsguista com um golaço inesquecível de Arrascaeta. Vamos então para o jogo um ano antes, que valia liderança bem no início do campeonato.

    Flamengo começou bem o Brasileirão de 2018 com um empate e uma vitória, mas o clima era tenso. Flamengo foi eliminado na semifinal do campeonato carioca e tinha a ameaça de cair ainda na fase de grupos da Copa Libertadores. Também ainda tinha o peso de perder duas finais no final de 2017. O time não jogava bem e pior, jogava sem raça. No embarque para Fortaleza no Galeão, o time foi hostilizado por membros de torcidas organizadas, que jogaram pipocas neles, e Diego quase foi agredido. As imagens eram impressionantes e quase era um motivo para pedir saída do clube, ou ao menos cogitar uma saída. Achei a ação dos torcedores um exagero, apesar de ficar frustrado com as atuações decepcionantes de Diego.

    No 29 de abril de 2018, sob muita pressão, o técnico Maurício Barbieri escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rodinei, Réver, Juan, Renê; Cuéllar, Lucas Paquetá, Diego; Éverton Ribeiro, Vinícius Júnior, Henrique Dourado. No início do jogo, a partida foi equilibrada, Arnaldo chutou de longe e quase abriu o placar para Ceará. Lutando com o zagueiro, Henrique Dourado conseguiu chutar desequilibrado, mas não achou o caminho do gol. Diego puxou um ataque e chutou, também fora do gol. Lucas Paquetá, um dos poucos poupados pela torcida, chutou de voleio, Éverson se esticou bem e salvou o 0x0. Numa falta, Lucas Paquetá, ainda ele, chutou preciso, mas faltou força para vencer o goleiro.

    E finalmente, no final do primeiro tempo, Cuéllar fez bom passe na profundidade para Vinícius Júnior, que antecipou a saída de Éverson com um lindo toque de cobertura para abrir o placar. No início do segundo tempo, uma jogada ensaiada, ou ao menos parecia, Rodinei tabelou com Lucas Paquetá e achou na segunda trave Vinícius Júnior, sozinho, para o gol fácil, para o segundo gol dele. Um gol quase igual que aquele gol que Vini faria na final da Liga dos campeões de 2022 contra Liverpool, que menino estrelado e consagrado.

    Vinícius Júnior, o garoto de ainda não 18 anos, era demais, com dois gols e muito mais dribles, mas o protagonista do jogo acabou ser um jogador bem mais experiente. Num escanteio na metade do segundo tempo, Lucas Paquetá desviou de cabeça, até a segunda trave, até a cabeçada sagrada de Diego Ribas, que fez o terceiro gol do Flamengo. E teve uma reação foda, muito foda, percorreu os 100 metros do campo em direção ao numeroso setor visitante, apontando o escudo do Flamengo, se jogando nos braços da torcida do Flamengo. Só a camisa do Flamengo é capaz disso, só a Nação rubro-negra, só um jogador de classe como Diego, encerrando assim mesmo, ainda no campo, um episódio difícil para todo mundo.

    Na entrevista pós-jogo. Diego ainda mostrou classe, falou que não era uma “quase agressão” mas uma agressão sim, mas que não podia generalizar ou esquecer tudo que os torcedores lhe proporcionaram, que a torcida do Flamengo era maravilhosa, que em momento nenhum cogitou uma saída do clube, que realizava um sonho jogando aqui. Ainda falou, merece aspas, “se tiver que andar escoltado, eu e meus familiares, para vestir essa camisa, vou me sentir cômodo”. Uma frase marcante para uma reação de um líder, de um capitão, de um ídolo do Flamengo.

  • Jogos eternos #306: Flamengo 3×1 Atlético Mineiro 2024

    Jogos eternos #306: Flamengo 3×1 Atlético Mineiro 2024

    Flamengo retomou a liderança do Brasileirão com vitória sobre o Atlético Mineiro, e já reencontra o Galo hoje, para o quinto capítulo entre os dois times na história da Copa do Brasil. Deu Flamengo em 2006, 2022 e 2024, deu Atlético Mineiro em 2014. Eu já eternizei aqui o primeiro jogo, com goleada 4×1 em 2006, eu vou de hoje para o último capítulo no Maracanã, na final da Copa do Brasil de 2024.

    Na verdade, já escrevi sobre esse jogo, na categoria da geral, porque tive a sorte de assistir ao jogo no Maracanã. Eu já tinha vivido uma decisão da Copa do Brasil no Maraca, na hora de conquistar o tetra em 2022, e agora de férias no Rio de Janeiro, ia para meu último jogo da temporada, no jogo de ida da final, sonhando com o penta. Por ser uma decisão, por ser o último jogo, a emoção era decuplada. Cheguei muito cedo ao Maraca, por uma vez no setor este. Como sempre, cantei muito alto, com meu Manto Sagrado e mosaico na mão, com lágrimas no meu rosto. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

    No 3 de novembro de 2024, o ainda novo técnico Filipe Luís escalou Flamengo assim: Rossi; Wesley, Léo Ortiz, Léo Pereira, Alex Sandro; Evertton Araújo, Gerson, Arrascaeta; Plata, Michael, Gabigol. Já ídolo como jogador, o jogo podia eternizar Filipe Luís como técnico. Também era um novo capítulo para Gabigol, provavelmente um dos últimos no Flamengo. O atacante vivia um ano conturbado, com suspensão preventiva por doping, foto privada com camisa do Corinthians, perda da camisa 10 e muito tempo no banco, às vezes sem entrar em campo. Com a lesão de Pedro e a chegada de Filipe Luís no banco, Gabigol passou a jogar mais, e quebrou um jejum de 12 jogos sem fazer gol no jogo precedente, de pênalti contra o Juventude, já comigo no Maraca, já com alegria e alívio no meu coração.

    Na decisão da Copa, o Atlético Mineiro teve a primeira oportunidade com Hulk, mas Léo Pereira defendeu perfeitamente. Na sequência, Gustavo Scarpa chutou de longe, Rossi defendeu. De contra-ataque, Michael driblou, preferiu o chute ao passe para o bem posicionado Plata, e a bola apenas flirtou com a trave. Jogo era animado, aos 11 minutos, Wesley puxou mais um ataque rápido e abriu na esquerda para Michael. Essa vez Michael fez o passe na ultrapassagem de Gabigol que chutou de primeira, Éverson defendeu parcialmente, Arrascaeta chegou, voleiou, golaçou.

    Flamengo abria o placar e passou a dominar o jogo, Gonzalo Plata chutou, mas abriu demais o pé e não achou a rede. Léo Pereira chutou de muito longe, bola pegou a direção da gaveta, mas Éverson fez grande defesa. E chegou o momento dos ídolos. No banco, o técnico Filipe Luís cobrou severamente Gabigol por seu posicionamento em campo. Na sequência, a bola longa de Léo Ortiz foi desviada pela cabeça de Plata até Gabigol, no limite do impedimento. Gabigol chegou no cara a cara com Éverson, abriu o pé e claro, fez gol. Era a hora do predestinado. Comemorei duas vezes esse gol, uma vez como cada gol do Flamengo, outra vez por ser Gabigol o autor do gol, um de meus maiores ídolos no futebol. Comemorei, mas achei que Gabigol estava impedido e o gol ia ser anulado. Depois de consulta ao VAR, o gol foi confirmado e comemorei uma segunda vez, com gritos enlouquecidos, com os irmãos não conhecidos na Este. Não sei quantas vezes comemorei esse gol, comemoro mais uma vez agora, assistindo de novo ao gol eterno.

    O segundo tempo foi menos animado, apesar de o Atlético Mineiro ameaçar a meta rubro-negra uma ou duas vezes. Faltando 15 minutos para o final do jogo, o Galo perdeu uma bola no meio de campo, e Flamengo partiu para mais um ataque rápido, agora com Alcaraz, que abriu na esquerda para Gabigol, que dominou de pé esquerdo. O desfecho era conhecido, quase antevisto, pressentido pela arquibancada. Gabigol abriu o espaço com a perna esquerda, chutou com a perna esquerda, sem força, mas com muita precisão. Éverson se estendeu no chão, sem tocar na bola, sem impedir a bola chegar na rede, no seu destino. Era a hora do predestinado, era a hora do doblete do camisa 99, era a hora de gritar de loucura, de amor no Maraca para a Nação, de chorar de alegria para mim. Gabigol fazia dois, Flamengo fazia três, e mesmo com o gol de Alan Kardec para o Atlético, Flamengo estava perto do penta, perto da taça, com mais uma vez essa certeza: o Gabigol, mesmo contestado, é imortal no Flamengo.

  • Jogos eternos #305: Flamengo 2×1 Vasco 1971

    Jogos eternos #305: Flamengo 2×1 Vasco 1971

    Há um ano, eu encontrava Deus, Nosso Rei Zico, pela segunda vez, depois de Rio em Paris, aproveitando as Olimpíadas e sua presença na Cidade Luz. E a data, como escrevi na crônica da geral, era especial, 29 de julho de 2024, completando os 53 anos da estreia de Zico no Flamengo. Assim, hoje faz 54 anos que Zico estreou com o Manto Sagrado, com estilo, num clássico contra Vasco.

    Fazia tempo que Zico era anunciado como craque, até pela família, família de craques de futebol. Em 1965, perguntado sobre quem era o melhor entre ele e Antunes, o craque e irmão de Zico, Edu, respondeu: “Eu acho que o cobra da minha família vai ser o Zico, que está jogando peladas e futebol de salão no Inharé. É também atacante, e todo mundo anda empolgado com ele. Perguntem só ao Antunes”. Daqui o roteiro foi perfeito, Zico ingressou no Flamengo, se esforçou muito, se destacou com os juvenis. Explica o próprio Zico no livro Zico, 50 anos de futebol, de Roger Garcia e Roberto Assaf: “Quando vesti a 10 pela primeira vez eu já era um nome muito falado, por ser irmão do Antunes e do Edu e, é claro, por eles terem tido notoriedade no futebol. Tinha aquele negócio deles sempre falarem de mim, ser apontado por eles como o melhor da família e daí começava a cobrança, mesmo porque eu tinha uma história no amador muito boa. E eu sabia que eles falavam do fundo do coração, porque acreditavam de fato, não era por causa de parentesco. Mas havia, sem dúvida, uma expectativa grande quanto a tudo isso. Eu tinha que chegar e mostrar tudo isso no profissional também. Então comecei a fazer as preliminares dos jogos principais e meter gols sem parar, no Fluminense, no Botafogo, no Bangu, no Olaria…”.

    Zico conquistou o campeonato carioca juvenil, com gol contra Botafogo, no Maracanã, de pênalti, no mesmo lugar em que Pelé tinha feito o gol mil. Pouco depois, Zico estava de novo no Maracanã, agora no preliminar da despedida de Pelé na Seleção em 1971. E onze dias depois, Zico estava lançado no time principal do Flamengo pelo técnico paraguaio Fleitas Solich. Escreve Marcus Vinícius Bucar Nunes no livro Zico, uma lição de vida: “Se a equipe titular não andava bem, os juvenis do Flamengo estavam com a corda toda. Zico era o artilheiro, disparado, da temporada e estava sendo observado pelo Feiticeiro Don Fleitas Solich, que tinha um sonho: encontrar uma fórmula mágica que pudesse trazer de volta ao Flamengo os bons tempos do tricampeonato. Mas o rolo compressor daqueles anos maravilhosos contava com Joel, Moacir, Dida e Zagalo. Aí, ficava difícil mexer na caixinha mágica dos segredos do futebol, que o transformaram no ‘Velho Feiticeiro’, como era chamado pelos torcedores do Flamengo e pela imprensa brasileira, na segunda jornada do tri. Agora, o Flamengo era outro. Estava mal, praticamente desclassificado da Taça Guanabara. Solich tinha que conviver com a realidade de sua equipe”.

    Tinha um novo craque, precisava um palco, o Maracanã, e um rival, o Vasco. Fleitas Solich tinha um pouco de medo de lançar o jovem Zico, ainda franzino. “Não posso correr o risco de queimar um jogador precipitando sua escalação no time titular. Mas eu acho que não tenho outra alternativa a não ser lançar Zico porque não tenho outro” explicou Fleitas Solich para o Jornal dos Sports. Fleitas Solich deixou se convencer com a atuação de Zico no coletivo, fazendo um gol na vitória 4×3 dos reservas sobre os titulares. Agora o Jornal do Brasil, um dia antes do jogo contra Vasco: “Ontem houve treino individual pela manhã e coletivo à tarde. Um grande número de torcedores que foi ver Rogério e Zé Eduardo acabou aplaudindo com muito entusiasmo ao ex-juvenil Zico, autor de um gol e de ótimas jogadas. Zico mostrou no coletivo entre os profissionais que, dentro de pouco tempo poderá ser o titular. Marcado por Fred e Washington, não evitou às jogadas de corpo a corpo e passou sempre pelos dois, sendo que no gol que fez, pulou mais alto que os zagueiros”.

    No 29 de julho de 1971, que poderia ser o 1.o de janeiro do ano 1 de um outro Flamengo, ou 26 de abril de 18 do calendário zicoano, o técnico Fleitas Solich escalou Flamengo assim: Ubirajara Alcântara; Murilo, Washington, Fred, Tinteiro; Liminha, Tales, Nei Oliveira; Zico, Rodrigues Neto, Fio Maravilha. Um time bem mediano, meio ruim, com um craque completo e absoluto apesar dos 18 anos, Nosso Rei Zico. “Embora seja indiscutivelmente um craque, pode, talvez, não estourar de saída, levando a torcida a reações negativas. Por isso pedimos a todos que tenham paciência com ele” implorava o técnico Fleitas Solich, chamado de Feiticeiro e que lançou 17 anos antes, já contra Vasco, o ídolo de Zico, também até esse 29 de julho de 1971 o maior ídolo do Flamengo, Dida.

    Com poucos jogadores de classe até então conhecidos, com muito frio, com dois times já eliminados, foram poucos os testemunhos privilegiados que presenciaram a estreia de Zico, tinha apenas 18.603 pagantes no Maracanã. No Clássico dos Milhões, Flamengo começou melhor o jogo. “No Flamengo, as melhores jogadas foram quase sempre de Tales, eficiente no meio de campo, e Fio e Zico, que apesar de poucos entrosados, procuraram jogar sempre de primeira” escreveu o Jornal dos Sports. Aos 30 minutos, Zico, camisa 9 nas costas, já era decisivo com o Manto Sagrado, já inscrevia seu nome na grande história do Flamengo, se eternizava no Mengão. Agora a edição do dia seguinte do Correio da Manhã: “A jogada foi muito bonita. Começou com uma tabelinha entre Nei e Zico, que fez uma boa estreia. No último toque, Zico colocou Nei frente a frente com Andrada. A defesa parou pedindo impedimento e Nei marcou como quis”. O Zico, artilheiro como ninguém na história do Flamengo, começou sua própria história como assistente, símbolo de todos os recursos e sabidos do Galinho.

    No final do primeiro tempo, o zagueiro rubro-negro Washington falhou e Rodrigues aproveitou para empatar. O segundo tempo, segundo o Jornal do Brasil, “foi uma cópia do primeiro. Alguns lances individuais, falhas clamorosas dos zagueiros e falta de objetividade dos atacantes”. Salvando um gol certo, Batista se machucou e deixou Vasco com apenas 10 homens em campo. Flamengo aproveitou só no final do jogo, aos 45 minutos, “Fio foi lançado. Na corrida ganhou de Renê e Moisés e, quando Andrada deixou o gol para ir ao seu encontro, Fio chutou violentamente desempatando”. Flamengo vencia Vasco 2×1, por coincidência, talvez homenagem, o mesmo placar do que na estreia de Dida, 17 anos antes.

    A estreia de Zico precisava de uma vitória, um lance decisivo, um elogio. “Zico estreou com uma boa atuação: apesar de franzino, é rápido e envolvente, toca a bola com elegância, se mexe bem e tem fome de gols” escreveu o Globo quando o Jornal dos Sports avaliou a atuação de Zico: “Jogou com a bola no chão e fez uma estreia positive. Não se intimidou com Renê e Moisés e cavou boas jogadas de gol. A tendência é subir de produção pois futebol demonstrou que tem”. Futebol Zico tinha, personalidade também, e a Nação tinha agora seu maior ídolo e representante.

  • Jogos eternos #304: Flamengo 4×1 Atlético Mineiro 2011

    Jogos eternos #304: Flamengo 4×1 Atlético Mineiro 2011

    Eu considero a temporada do Flamengo de 2011 frustrante. Começou muito bem, com contratação de Ronaldinho e título carioca invicto. Perdeu apenas um dos 42 primeiros jogos da temporada, numa eliminação da Copa do Brasil, competição na época não tanta expressiva. Teve claro o inesquecível 5×4 conta Santos, um jogo eterno que completa hoje exatamente 14 anos. O final da temporada, com um 4.o lugar no Brasileirão e uma eliminação na Copa Sudamericana com goleada sofrida, foi decepcionante, mas teve outros grandes jogos.

    Para o jogo contra o Atlético Mineiro, ainda era o início do Brasileirão, Flamengo ainda era invicto, com uma vitória e já quatro empates. Assim, o Atlético Mineiro, mesmo com uma derrota no campeonato, estava na frente na tabela, com um ponto a mais. No 25 de junho de 2011, o técnico Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Felipe; Léo Moura, Welinton, Ronaldo Angelim, David Braz, Júnior César; Luiz Antônio, Renato Abreu, Ronaldinho; Thiago Neves, Wanderley.

    O primeiro tempo foi de poucos lances. Renato Abreu chutou de longe, mas a bola apenas flirtou com a trave. Léo Moura invadiu a grande área e chutou cruzado, mas sem precisão. De contra-ataque, Thiago Neves não conseguiu o drible, nem o pênalti. Para o Atlético Mineiro, Guilheme chutou de voleio, mas Felipe defendeu. No finalzinho do primeiro tempo, Ronaldinho chutou de bico, mas muito no goleiro. E o primeiro tempo acabou assim, sob vaias do Engenhão. Quase um incentivo para Ronaldinho, jogador de tantos jogos eternos, infelizmente um pouco menos com o Manto Sagrado.

    E pior ainda para Flamengo, no início do segundo tempo, Serginho cobrou uma falta, Dudu Cearense cabeceou e abriu o placar para o Galo. Vanderlei Luxemburgo mexeu e mudou o sistema tático, entrando em campo Negueba e Deivid, no lugar de David Braz e Wanderley. Ronaldinho acordou, quase empatou de cabeça num cruzamento de Léo Moura, mas bola passou pra fora. Na metade do segundo tempo, Flamengo fez uma jogada rápida, de passes curtos e precisos. Renato Abreu para Thiago Neves para Deivid, que abriu na direita para Negueba, que cruzou. Bola foi desviada e voltou para Ronaldinho, craque de todos os domínios e recursos. O Bruxo dominou meio de barriga meio de quadril, e sem deixar a bola cair, pegou de voleio, mandou a bola na gaveta. Golaço.

    Na sequência, Thiago Neves fez quase o mesmo domínio, meio de barriga meio de quadril, e mandou a bomba, que passou por muito perto do gol atleticano. O jogo tinha mudado, Thiago Neves quase virou, mas Réver salvou em cima da linha. Ainda na mesma jogada, um cruzamento de Léo Moura, bola voltou para Ronaldinho quase nas mesmas condições do primeiro gol. Essa vez o Bruxo dominou de sola e chutou cruzado, mas a bola apenas flirtou com a trave. O jogo era do Mengo, mas o placar ainda era de empate.

    Faltando quinze minutos para o final do jogo, Deivid brigou por uma bola, que saiu na direita para Negueba, que cruzou forte de primeira. Na segunda trave, Thiago Neves apenas botou o pé para fazer o gol da virada. Flamengo continuou a dominar inteiramente o jogo, sem fazer outro gol, até com gol perdido inacreditável de Deivid, era acostumado com isso. Faltando 5 minutos para o final do jogo, Murulha, que tinha acabado de entrar no jogo, puxou mais um contra-ataque e deixou para Deivid, que chutou com força na gaveta para fazer o gol da vitória.

    Nos acréscimos, Ronaldinho dominou de peito e fez jogar o time, que multiplicou os passes sob olés do Engenhão. Bola saiu até o incansável Léo Moura, que invadiu a grande área, fez a finta do cruzamento e finalmente cruzou para Deivid, sozinho na pequena área. Essa vez, Deivid fez o gol, também era acostumado com isso. Era o gol da goleada, de uma vitória empolgante do Flamengo de Ronaldinho Gaúcho, que tinha condições para ir mais longe do que realmente foi.

  • Jogos eternos #303: São Caetano 2×2 Flamengo 2006

    Jogos eternos #303: São Caetano 2×2 Flamengo 2006

    Flamengo joga hoje em Bragança Paulista contra o Bragantino mas vou para a lembrança do dia em outra cidade de São Paulo, contra um time que quase sumiu da mapa do futebol brasileiro, São Caetano.

    São Caetano joga hoje na quarta divisão do campeonato paulista, mas já sacudiu a hierarquia do futebol brasileiro com presença na final do Brasileirão em 2000 e 2001 e até da final da Copa Libertadores em 2002. Em 2006, ainda era um bom time do Brasileirão, antes da última rodada do primeiro turno, estava na 10.a colocação, com 24 pontos em 18 jogos. Flamengo estava logo atrás com 22 pontos. No 23 de agosto de 2006, o técnico Ney Franco escalou Flamengo assim: Diego; Léo Moura, Fernando, Ronaldo Angelim, André Lima; Paulinho Jaú, Léo Medeiros, Renato Abreu, Renato Augusto; Sávio, Fabiano Oliveira.

    Esse jogo é sobre um ídolo do Flamengo, já eternizado no Francêsguista, o Renato Abreu. Vamos então esquecer do início do jogo, dominado quase inteiramente pelo São Caetano, com Flamengo salvo pelas defesas de Diego ou pela trave, para o primeiro lance decisivo do jogo. Uma falta de 30 metros, um pouco na direita, um lugar perfeito para um canhoto, perfeito para Renato Abreu. Com sua corrida característica, Renato Abreu chutou forte, chutou colocado. Com um rebote que enganou o goleiro, a bola morreu na rede, Flamengo estava na frente.

    Apesar de tomar o primeiro gol do jogo, São Caetano continuou a dominar o jogo, empatou no final do primeiro tempo, virou no início do segundo tempo, graças a um doblete de Gustavo Papa. Mas esse jogo é sobre um ídolo do Flamengo. Se no primeiro tempo, foi a promessa Renato Augusto que cravou a falta, no segundo tempo, foi a vez do veterano e também ídolo Sávio de cravar a falta. O cobrador claro, ainda era Renato Abreu, sempre Renato Abreu. Agora, com ainda mais corrida, ainda mais força, ainda mais precisão, Renato Abreu colocou a bola na gaveta, golaçou e ofereceu o empate ao Flamengo.

    Na verdade, Renato Abreu fazia mais do que oferecer um empate, colocava seu nome na história do Flamengo, fazendo parte da Santa Trinidade dos cobradores de falta no Flamengo, com Zico claro, e Petkovic evidentemente. Fazer 2 gols de falta é um feito de poucos jogadores, de craques só, internacionais como Messi e CR7, brasileiros como Hulk recentemente, também Neymar, Rivaldo, Rogério Ceni, Marcos Assunção, Juninho, e claro Zico, num jogo contra America em 1979. Renato Abreu está neste patamar, e mais, repetiu a façanha semanas depois, num Fla-Flu também eterno, com goleada 4×1, com dois golaços de falta do Urubu-Rei.

  • Jogos eternos #302: Flamengo 3×0 Fluminense 1982

    Jogos eternos #302: Flamengo 3×0 Fluminense 1982

    Em 1957, o eterno Mário Filho, o pai do Fla-Flu, escrevia: “Com o Fla-Flu sucede isso: parece que a gente os viu a todos, pelo menos os mais importantes. O que se poderia chamar as datas históricas do Fla-Flu. Não se dá o mesmo com os outros jogos. Pode-se lembrar um desses outros jogos. Quem não se recorda do Flamengo x Vasco de 23, do América x Vasco de 29? Mas os outros jogos se separam em lembranças esparsas, isoladas, que não se ligam. O Fla-Flu dá a impressão de que é o único match com história”. Assim, antes do Fla-Flu de hoje, vou para outro Fla-Flu, ao mesmo tempo um qualquer Fla-Flu e o único Fla-Flu. E como fazia um tempinho que não fui na melhor Era do clube, volto para um jogo de 1982.

    A competição era o campeonato carioca, mas precisamente o primeiro turno, a querida Taça Guanabara. Flamengo era então tetracampeão da Taça e ainda andava bem em 1982: 6 vitórias e uma derrotinha contra o Americano. Com um jogo a mais, Vasco era o líder, com um pontinho a mais, e Fluminense estava logo atrás, com 5 vitórias, um empate e uma derrota. Era um dos períodos de ouro do futebol carioca, ainda mais para o Flamengo. No 29 de agosto de 1982, para mais um Fla-Flu decisivo, o técnico Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Cantarele; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Vítor, Andrade, Zico; Wilsinho, Adílio, Tita.

    Para o Fla-Flu, o Maracanã lotou com 122.142 presentes e uma renda de mais de 66 milhões de cruzeiros, recorde do campeonato. No campo, Flamengo era superior e concretizou a superioridade aos 17 minutos, com um reserva tão bom que era cotado para jogar a Copa de 1982, Vítor. O meia recebeu de Leandro, fintou do pé esquerdo, acelerou e deixou para Adílio. O chute de Adílio foi desviado e voltou nos pés de Vítor, que fintou mais uma vez de pé esquerdo e mandou com o pé direito a bola na rede, indefensável para o goleiro tricolor. “Vítor, o futebol de raça, técnica e elegância” elogiou no dia seguinte o Jornal do Brasil, que elegeu Vítor o melhor do jogo.

    “A partir dos 18 minutos, quando Vítor marcou o primeiro gol, o Flamengo ficou absoluto em campo e fez o que bem entendeu com o adversário. Um futebol alegre, rápido, descontraído e envolvente. Foi assim que o Mengão levou a sua galera ao delírio, tal a facilidade com que passou a superar a defesa do Flu” escreveu agora o Jornal dos Sports. Dez minutos depois do primeiro gol, mais uma grande jogada do Flamengo, iniciada por Leandro, que invadiu a grande área no lado direito e cruzou alto. Adílio cabeceou e a defesa do Fluminense defendeu parcialmente. A bola voltou nos pés de Adílio, que acionou o trio magico no meio de campo. Adílio de trivela para Zico, um domínio e mais um passe de trivela, para Andrade, de dois toques também. Andrade dominou e arriscou de longe, o chute saiu bem e morreu na rede.

    E sete minutos depois, ainda no primeiro tempo, Lico, que entrou no lugar do machucado Wilsinho, invadiu a grande área, passou entre dois defensores, e deixou na direita para o gol fácil de Marinho. Três gols em 17 minutos, era muito fácil para o Flamengo. “A superioridade do Flamengo foi tão grande que na metade do primeiro tempo, o Fluminense já era um time desesperado, inteiramente entregue e derrotado. Se forçasse, em vez de 3 a 0, a vitória do Flamengo poderia ter sido por um resultado bem maior” escreveu o Jornal do Brasil.

    No segundo tempo, a superioridade do Flamengo foi igual, porém essa vez sem os gols. “Flamengo manteve o domínio técnico e tático e prosseguiu no seu show de bola. Com 3 a 0 no placar, o time do Flamengo aproveitou para dar mais uma exibição de técnica, alta categoria e virtuosidade de seus jogadores, com jogadas de alto nível. Não fossem as várias oportunidades de gol perdidas, poderia até aumentar a goleada” prosseguiu o Jornal dos Sports. No meio do segundo tempo, Zico mandou um chutaço de fora da área, mas a trave salvou o Fluminense. Sem importância no placar final, Flamengo vencia “um dos clássicos mais fáceis da historia do futebol carioca” segundo o Jornal dos Sports, vencia o Fla-Flu de tantas datas históricas, o único match com história.

  • Jogos eternos #301: Santos 0x1 Flamengo 2020

    Jogos eternos #301: Santos 0x1 Flamengo 2020

    Na penúltima crônica, para a volta do Brasileirão, escrevi sobre um Flamengo x São Paulo de 1992, ano do pentacampeonato, para trazer sorte. Hoje, na hora de reencontrar Santos e o Vila Belmiro, vou de um jogo do último campeonato brasileiro conquistado pelo Flamengo, espero o penúltimo no final do ano.

    Apesar da conquista no final, Flamengo começou muito mal o Brasileirão de 2020, com apenas uma vitória em 5 jogos e uma vergonhosa 15.a colocação. No jogo anterior, Gabigol evitou um vexame maior, empatando no clássico contra Botafogo aos 90+11 minutos do jogo. E agora era para Gabigol a hora de reencontrar o ex, Santos, ainda mais no dia do aniversário. Era quase escrito que Gabigol faria gol, restava a saber se seria suficiente para o Flamengo. No 30 de agosto de 2020, o conturbado técnico Domenec Torrent escalou Flamengo assim: Diego Alves; Renê, Gustavo Henrique, Rodrigo Caio, Filipe Luís; Thiago Maia, Gerson, Arrascaeta; Michael, Bruno Henrique, Gabigol.

    Na Vila Belmiro, Flamengo começou muito mal o jogo, Santos fez dois gols, o juiz anulou os dois gols depois de consultar o VAR. Quase por milagre, o placar ainda estava de 0x0. Santos continuou a dominar o jogo, e era a vez do Diego Alves brilhar, com boas defesas contra Marinho, Felipe Jonatan e Raniel.

    Flamengo reagiu com contra-ataques, Bruno Henrique serviu Michael para um chute, defendido pelo João Paulo. No final do primeiro tempo, era a vez de Michael de puxar o contra-ataque, e servir Gabigol na direita. Era a hora do predestinado, Gabigol dominou e chutou de pé esquerdo, era o gol do Gabigol. Era o presente dos 24 anos, era mais uma vez a lei do ex que não falhava, era a estrela de Gabigol, que fez uma comemoração em homenagem ao Chadwick Boseman, ator da Pantera Negra, falecido dois dias antes.

    No segundo tempo, Gabigol quase dobletou de voleio, mas João Paulo mandou para escanteio. Num chute de Raniel, Diego Alves defendeu, mas saiu machucado e faltou dois meses de competição. Gabigol ainda teve duas chances de gol, a última claríssima, mas perdeu gol feito e saiu de campo com dores. Santos ainda tentou o empate, Jean Mota de bicicleta, mas estava escrito antes do jogo: a vitória era do Mengo, a estrela era do ex, do aniversariante, o eterno Gabigol.

  • Jogos eternos #300: Flamengo 3×2 Botafogo 1995

    Jogos eternos #300: Flamengo 3×2 Botafogo 1995

    Para a crônica #100, escrevi sobre um Flamengo x Vasco de 1983 e para a #200 sobre um Fla-Flu de 2006. Para a crônica #300 dos jogos eternos, vou então do terceiro rival e vou cortar os anos 1983-2006 no meio, hoje eu vou de um Flamengo x Botafogo de 1995.

    O ano de centenário do Flamengo começou bem, samba da Estácio de Sá no Carnaval, contratações de Branco e sobretudo de Romário, o maior jogador do mundo. No campeonato carioca de 1995, o Baixinho estava em grande forma, com 11 gols em 11 jogos, mas por causa de uma contusão no cotovelo, quase ficou fora da decisão da Taça Guanabara contra Botafogo. O atacante botafoguense Túlio Maravilha, nesta hora artilheiro do campeonato com 17 gols, provocou: “Essa dor de cotovelo dele é porque está perdendo espaço para mim”. Romário respondeu de forma ainda leve: “Ele não é ninguém para tirar onda com a minha cara” e partiu para o jogo, com uma proteção no cotovelo.

    No 23 de março de 1995, valendo título da Taça Guanabara e mais um ponto para o octogonal final, o técnico Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Emerson; Fabinho, Agnaldo, Jorge Luiz, Marcos Adriano; Charles Guerreiro, Válber, Marquinhos, William; Sávio, Romário. O jogo no Maracanã começou num ritmo alto, Márcio Theodoro quase abriu o placar para Botafogo, que vinha de 7 vitórias consecutivas. Aos 7 minutos, Romário usou a inteligência e o corpo para lutar contra Wilson Gottardo e conseguir o pênalti, que claro, cobrou ele mesmo. No seu estilo particular, com calma e tranquilidade, com raça e habilidade, Romário colocou a bola no cantinho e abriu o placar.

    Botafogo teve uma oportunidade de empatar, mas Túlio chutou para fora. Quem colocava dentro do gol era o maior artilheiro, o melhor centroavante, o Baixinho. O lance decisivo começou com matada de peito de Romário, que tabelou com Marquinhos e abriu de trivela na esquerda. A bola chegou até Sávio, que cravou a falta, mas com inteligência, o juiz deixou o jogo seguir. William cruzou, o Baixinho pulou, cabeceou e aumentou a dor de cabeça para os botafoguenses, agora dois gols atrás. Romário partiu para comemorar com a geral ainda antiga e raiz, mandou calar a torcida do Botafogo ou o próprio Túlio. Com apenas 22 minutos de jogo, a taça estava quase nas mãos rubro-negras.

    O jogo mudou uma primeira vez aos 33 minutos, Agnaldo e Túlio se desentenderam e o juiz expulsou os dois. No final do primeiro tempo, Romário quase fez o terceiro, depois de aplicar dois dribles desconcertantes sobre Márcio Theodoro, mas a bola passou em cima da trave. Ainda não era a hora do hat-trick. No início do segundo tempo, Botafogo passou a dominar quase inteiramente o jogo, porém sem fazer gol. Ainda não era a hora de esquentar completamente o jogo.

    No gramado do Maracanã, um urubu aparaceu, o jogo se equilibrou, mas o 2×0 no placar permaneceu. Até a entrada no jogo do botafoguense Adriano. Faltando 15 minutos para o final do jogo, num tiro indireto, Adriano venceu a barreira flamenguista e o goleiro, e colocou fogo no Maraca. Pior ainda para o Flamengo quatro minutos depois, quando o juiz assinalou um pênalti para Botafogo. Adriano cobrou e empatou. O destino era a prorrogação, mas pelo roteiro, pela fisionomia do jogo, a vitória do Botafogo talvez era ainda mais provável.

    Romário apareceu muito pouco no segundo tempo, a não ser uma falta bem batida, mas bem defendida pelo Wagner. Nélio, que como Adriano também entrou no jogo, lançou Romário na profundidade. O zagueiro Márcio Theodoro interveio na primeira vez e se atrapalhou na segunda vez, oferecendo a bola para Romário. Claro, o Baixinho não perdoou, fintou uma vez, uma segunda vez, e colocou a bola no cantinho, para o terceiro gol dele, o terceiro do Mengo. O geral e as arquibancadas explodiram.

    No finalzinho, Adriano cobrou muito bem uma outra falta, mas Emerson espalmou para escanteio. Depois de última falta sobre Romário, o juiz pegou a bola e apitou o fim do jogo. Com uma atuação tenebrosa de seu artilheiro do dia e da eternidade, Flamengo conquistava a Taça Guanabara. O ano do centenário começava muito bem, uma pena que acabou tão mal.

O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”